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terça-feira, 27 de setembro de 2022

Os cristãos e a perspectiva das Escrituras Sagradas sobre o envolvimento com a política

Visão de Jerusalém a partir do Monte das Oliveiras

O Brasil atravessa um momento em que o brasileiro está exposto ao seu direito e dever de escolher representantes políticos para cinco cargos: presidente da República, governador, senador, deputado federal, deputado estadual. No meio cristão, há quem sinta repúdio ao interesse de crentes por suas preferências por determinados candidatos e chegam até a dizer que e predileção seria prática idólatra. Será? Talvez para alguns, mas jamais para todos.

"O diabo não seria tão perigoso se se mostrasse como realmente é. Por isso ele precisa se mostrar como anjo de luz. Irmão, você consegue, por um momento, fazer uma análise crítica com base bíblica para si mesmo e dizer com plena certeza que isso não é idolatria?" - indagou determinado cristão evangélico em uma rede social. Esta pessoa recebeu minha resposta, e tive o incentivo para escrever o que está a seguir.

Dentro do cenário político brasileiro, damos graças a Deus por existir o regime que dá liberdade de o povo escolher autoridades do Executivo e Legislativo, nas esferas federal, estadual e municipal. Os crentes se  posicionam na condição de eleitores, pois a eles está delegado o poder de escolher pelos votos da maioria dos cidadãos quem serão seus representantes. A ação de votar é uma questão obrigatória no Brasil, vai além do prazer, todos os brasileiros alfabetizados e maiores pode 18 anos de idade devem fazê-lo até completar 70 anos. Aliás, para aqueles que amam sua família e amigos, além do dever legal existe uma dose de alegria em participar da eleição, pois é perceptível que dessa forma é possível criar um futuro melhor para todas as pessoas que amamos - se votamos bem informados.

1. Deus referiu-se a Nabucodonosor, chamando-o de "meu servo". Nabucodonosor foi o fundador do Império Babilônico, o maior entre os reis da Babilônia, aquele que apossou-se das terras que o Senhor descreveu como terra que mana leite e mel e havia dado aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó e sua descendência. Era um rei que exigia ser adorado como um deus, situação esta que vai de encontro com o que o Senhor deseja de todos seres humanos. 

"Eu fiz a terra, os seres humanos e os animais que estão sobre a face da terra, com o meu grande poder e com o meu braço estendido, e a dou a quem eu quiser. Agora eu entreguei todas estas terras nas mãos de Nabucodonosor, rei da Babilônia, meu servo. Até os animais selvagens eu entreguei a ele, para que o sirvam. Todas as nações servirão a ele, a seu filho e ao filho de seu filho, até que também chegue a vez da sua própria terra, quando muitas nações e grandes reis o fizerem seu escravo" - Jeremias 27.5-7.

2. Ciro, o fundador do Império Persa, também chamado Artaxerxes [interpretado no filme 300 por Rodrigo Santoro], no sentido do exercício da fé ao Criador, jamais foi uma pessoa que serviu a Deus reverentemente. No tempo em que estava vigente o Decálogo, com "não terás outro deus além de mim", submetia as nações sob seu domínio cobrando altos impostos mas não interferia na forma de culto de nenhuma nação dominada. Apesar disso, o Criador fez referência a ele como "meu pastor" e "meu ungido".

"... que digo acerca de Ciro: Ele é meu pastor e realizará tudo o que me agrada; ele ordenará acerca da Cidade de Jerusalém: ‘Tu serás reedificada!’, e quanto ao templo: ‘Eis que teus alicerces sejam lançados!'" - Isaías 44.28 NAA.

"Assim diz o SENHOR ao seu ungido, a Ciro, a quem tomo pela mão direita, para submeter as nações diante dele, para desarmar os reis, e para abrir diante dele os portões, que não se fecharão" - Isaías 45.1.

3. Quando Jesus era humilhado e torturado com açoites, Pilatos disse-lhe que tinha autoridade para soltá-lo, então Cristo respondeu a ele: "O senhor não teria nenhuma autoridade sobre mim se de cima não lhe fosse dada" [João 19.11].

Em carta destinada aos membros da igreja em Roma, Paulo repercute o que Jesus disse a Pilatos. O apóstolo recomenda aos cristãos que não se rebelem contra as autoridades, pois rebelar-se contra elas é fazer rebelião contra o próprio Deus que as instituiu como seus ministros para o nosso bem. Aos governos, o cristão é ensinado a pagar impostos; a prestar respeito e honraria [Romanos 13.1-7].

Escrevendo para Timóteo, Paulo recomenda a ele que ensine aos cristãos na igreja em Éfeso o seguinte: "Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade" [1 Timóteo 2.1-2].

4. Sobre o episódio do sepultamento de Jesus, encontramos em Mateus 27.59; Marcos 15.43; Lucas 23.51 e João 19.38-40 o relato sobre José de Arimateia, comerciante rico, político, senador e discípulo oculto de Jesus Cristo. Usando seu prestígio na esfera política, não hesitou em abandonar seu segredo e confessar sua fé para evitar que o corpo de Jesus fosse jogado no campo para ser devorado pelas feras, como acontecia com os cadáveres de pessoas crucificadas. Ele foi até Pilatos, solicitou autorização para ter acesso ao corpo do Mestre e dar-lhe um sepultamento honroso. Ao agir assim, este senador cumpriu uma profecia proferida 740 anos antes de Jesus nascer. 

Está escrito em Isaías 53.9: "Designaram-lhe a sepultura com os ímpios, mas com o rico esteve na sua morte, embora não tivesse feito injustiça, e nenhum engano fosse encontrado em sua boca".

O cumprimento desta profecia está registrada assim no Evangelho de Cristo escrito por Mateus 27.57-60: "Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que era também discípulo de Jesus. Este foi até Pilatos e lhe pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo lhe fosse entregue. E José, levando o corpo, envolveu-o num lençol limpo de linho e o depositou no seu túmulo novo, que ele tinha mandado abrir na rocha; e, rolando uma grande pedra para a entrada do túmulo, foi embora."

5. É importante fazer uma exegese dos termos adoração [lá no grego koiné "latria"], veneração [grego: "dulia"] e devoção [hiperdulia]. Vejamos:
• Latria: Só Deus e Jesus devem ser adorados, se "latria" não estiver focado no Criador e em Cristo não precisamos dizer que são atitudes pecaminosas.
• Dulia. Prestação de honra.
• Hiperdulia: Junção dos termos "hiper" e "dulia". Hiper tem a conotação "acima de" e "dulia", como já mostrado, é "devoção". Refere ao coração totalmente dedicado, e se for a Deus e Cristo, não há nada de condenável.
Estas três atitudes, principalmente a prestação de honrarias [dulia], muitas vezes são confundidas com idolatria ["latria" e "hiperdulia"]. Mas nenhuma das três atitudes, embora pareçam ser, de fato o são. Quando o ser humano as pratica tendo em vista obedecer a orientação de Deus, ele faz o seu papel de adorador de Deus submetido à Sua vontade soberana e não de um idólatra.

6. Observando atentamente o contexto histórico em relação aos governantes do passado, Nabucodonosor, Ciro e Pilatos, dentro da narrativa bíblica e através dos comentários de historiadores seculares, fica claro que em sua soberania o Senhor fez com que essas autoridades fossem movidas com o objetivo implementar seus planos de abençoar o povo judeu. 

Conclusão: As menções sobre os adjetivos que Deus usou para descrever esses dois monarcas, o comentário de Jesus para Pilatos e os ensinamentos de Paulo aos cristãos, mostram que cabe ao cristão tratar as autoridades contemporâneas como instrumentos de Deus, e respeitá-las, obedecê-las e honrá-las. Ao agir assim, não estamos atribuindo aos seres humanos características sobre-humanas que produzem meios de nos garantir a provisão necessária somente pela força do homem na esfera terrestre. Ao agir assim, através dos nossos atos expressamos fé e toda nossa confiança em Deus, pois sabemos que Ele desempenha seus planos de provisão com misericórdia, é capaz de usar todas as autoridades que instituiu aqui na terra em nosso benefício, sem que mereçamos as bênçãos que nos envia através deles. Acreditamos que Deus age salvando um indivíduo, inumeráveis grupos, povos e nações por meio das autoridades que estabelece neste mundo. 

Respondendo de maneira direta e suscinta: idolatrar é trocar a entronização de Deus no coração por alguém ou algo. Pode existir isso no meio político, tanto pelo lado de quem defende a ideologia de direita como de esquerda. Neste atual cenário de eleição, líderes religiosos orientam os membros das igrejas a orarem pelos candidatos e por quem está no exercício de cargos públicos. Note, se oramos por todos os políticos, eles não são alvos de idolatria, são tratados dentro dos parâmetros circunscritos pela Palavra de Deus. 

O Todo Poderoso está  no centro dos nossos corações. Toda honra e glórias a Deus e apenas a prestação de honra aos que Ele institui como autoridades e instrumentos para o nosso bem-estar.

E.A.G.

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

2 Coríntios 12.9 - a graça de Deus e as orações respondidas satisfatoriamente

O que o cristão precisa fazer para ter orações respondidas satisfatoriamente sem tratar Deus como se fosse o gênio da lâmpada de Aladim ou um empregado?


"E, para que eu não ficasse orgulhoso com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de Satanás, para me esbofetear, a fim de que eu não me exalte. Três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então ele me disse: 'A minha graça é o que basta para você, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza.' De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Por isso, sinto prazer nas fraquezas, nos insultos, nas privações, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então é que sou forte" - 2 Coríntios 12.7-10 [NAA].

sexta-feira, 1 de julho de 2022

Joquebede e o nascimento e educação de Moisés

Joquebede casou-se com Anrão, da tribo de Levi, durante os anos que o povo de Israel foi escravo no Egito. Ela viveu numa época em que a carga de trabalho dos israelitas era muito pesada, e a vida tornou-se amarga e de dura servidão [Êxodo 1.8-13]. 

Joquebede ficou grávida pela terceira vez quando já tinha Miriã e Arão. Moisés nasceu num momento de grandes

segunda-feira, 7 de março de 2022

O relacionamento de Jesus com mulheres

Tão logo Jesus ressuscitou, seu primeiro contato foi com Maria Madalena, pediu a mulher que contasse aos homens que estava vivo. Naqueles dias, uma testemunha feminina no tribunal não era aceita da mesma forma que uma masculina. Mesmo assim Jesus concedeu a Maria Madalena o privilégio de entrar para a História como a primeira testemunha das boas novas da ressurreição. Disse-lhe Jesus: [...] "Vá até os meus irmãos e diga a eles: 'Subo para o meu Pai e o Pai de vocês, para o meu Deus e o Deus de vocês.' Então Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: 'Eu vi o Senhor!' E contava que Jesus lhe tinha dito essas coisas'" - João 20.17b-18.

quarta-feira, 2 de março de 2022

O apóstolo Paulo e a ordenança do batismo nas águas

"E agora, o que está esperando? Levante-se, receba o batismo e lave os seus pecados, invocando o nome dele" - Atos 22.16. 

A realidade e o símbolo estão estreitamente associados entre si nas páginas do Novo Testamento (Atos 2.38; Tito 3.5; 1 Pedro 3.21).  O batismo nas águas representa a morte e ressurreição de Cristo (Romanos 6; Colossenses 2.11-12); o sinal externo de uma obra interior da graça, manifestada pelo arrependimento (Mateus 3.1-12) e pela conversão do crente (Mateus 28.16-20).

quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Lições sobre o naufrágio do apóstolo Paulo na ilha de Malta

O apóstolo Paulo havia passado por cinco julgamentos, e estava em Cesareia aguardo sua viagem para Roma. Após tantas lutas, esperávamos um pouco de alívio, mas em Atos 27, vemos que no lugar de conforto ele recebeu uma nova tempestade, não provocada por ele.

Algumas informações importantes sobre a viagem:

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

A regeneração do apóstolo Paulo

Como é possível explicar a conversão ao cristianismo de um perseguidor de cristãos? Essa mudança radical só pode ser compreendida pela ação sobrenatural do Espírito de Deus, pois com a luz de Sua Palavra, o Senhor remove toda a cegueira espiritual que em trevas encobre o entendimento do ser humano. E até aqueles que têm os corações mais duros , quando ouvem a voz de Deus, se derretem como cera diante do fogo. Portanto, uma experiência sobrenatural com Deus é tão marcante quanto o ferro em brasa, aquecido na fornalha, quando encosta no corpo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

A divindade de Jesus Cristo na vida dos cristãos

Deus disse a Moisés: Eu Sou o Que Sou. Disse mais: Assim você dirá aos filhos de Israel: "Eu Sou me enviou a vocês." Deus disse ainda mais a Moisés: Assim você dirá aos filhos de Israel: "O Senhor , o Deus dos seus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vocês. Este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em geração." Êxodo 3.14,15.

A expressão "Eu sou" dá o nome transliterado Jeová (Yahweh), explica o nome pessoal do Deus de Israel e indica Sua natureza. Com toda probabilidade, o nome de Deus

segunda-feira, 21 de junho de 2021

A Igreja e o Evangelho Verdadeiro

Por Edson Rebustini

Jesus estava há cerca de seis meses da sua morte. Ele ensina em Jerusalém e uma multidão ia ouvi-lo, causando grande inveja e raiva nos fariseus e sacerdotes.

Os sacerdotes trazem a Jesus uma mulher que acabara de cometer adultério. Eles queriam condená-la e ao mesmo tempo tentar persuadir Jesus a tomar uma atitude contrárias as Escrituras Sagradas.

Jesus poderia responder sobre o que deveriam fazer com ela de acordo com a Lei de Moisés e, dessa forma, aqueles homens iam matá-la apedrejada. Se Jesus mandasse não apedrejá-la, estaria descumprindo a Lei que Ele mesmo disse que tinha vindo para cumprir. 

Jesus fala com a mulher de forma carinhosa e misericordiosa. Ele não a condenou: "Se algum de vocês não têm pecado, que atire a primeira pedra" (João 8.11).

A consciência pesada dos homens e o claro entendimento do que Jesus havia dito, fez com que eles deixassem de lado as pedras e pouco a pouco se retirassem dali. 

O fato de Jesus perdoar o adultério não quer dizer que Ele ignora o pecado cometido. Jesus não aprovou o adultério, mas Ele agiu com misericórdia. Deus nos conhece e nos alerta. Quando Ele fala para não fazermos algo é porque Ele sabe que aquilo pode destruir s nossa vida e essa não é a sua vontade.

A postura que aqueles religiosos tiveram ainda continua presente nas igrejas. As pessoas gostam de julgar e enfatizar o erro de outros, porque dessa forma, elas conseguem lidar melhor com seus próprios erros. Essa é uma postura contrária aos ensinamentos do mestre. 

A igreja é para ser diferente. Lugar de amor, de reconciliação, de oração e de ajuda. A intenção dos fariseus era condenar, destruir, matar, envergonhar. Mas Jesus queria curar, levantar, ajudar. 

Todos nós precisamos de perdão e misericórdia. E todos nós precisamos enxergar o erro dos outros da mesma forma que Deus enxerga. O Evangelho verdadeiro se comunica com o perdão e a restauração.


Edson Rebustini é pastor e fundador da Igreja Bíblica da Paz.
Fonte: Revista Proclamai. Ano 6, número 6, edição abril - maio de 2017, página 4.

sexta-feira, 28 de maio de 2021

A mulher do fluxo de sangue: o toque com fé na orla das vestes de Jesus


Por Eliseu Antonio Gomes

O que é considerável no milagre da mulher com um fluxo de sangue, que moveu três evangelistas a contarem o mesmo milagre? Todas as intervenções sobrenaturais do Senhor narradas no Novo Testamento, têm a função essencial de motivar os homens a crerem que Cristo é o Filho de Deus e através da fé fazê-los conquistar a vida eterna (João 20.30-31).

Sobre a impureza cerimonial

Em Israel, os fluidos corporais, tais como sêmen e sangue menstrual, estavam intimamente relacionados à vida. Quando o potencial de vida que eles representavam não era aproveitado, passavam a representar a morte e, consequentemente, a impureza cerimonial. Havia situações que dificilmente poderiam ser evitadas, incluindo as impurezas de ordem sexual, as relacionadas a doenças e aquelas decorrentes do contato com um cadáver ou carcaça de animal. 

Nem toda impureza podia ser evitada, e muitas vezes era causada por algo que de modo algum poderia ser considerado pecado. Rituais de purificação eram exigidos para remover esse estigma e restaurar a pessoa ou grupo à participação na comunidade. Referências bíblicas: Números 5; Levítico, capítulos 12 e 15.

No que implicava uma mulher sofrer hemorragia constante àquela época?

De acordo com a lei judaica, quando alguém ou grupo era considerado impuro, o resultado era a proibição de participar de atividades religiosas. Todas as mulheres durante o período menstrual deveriam permanecer isoladas, porque eram consideradas cerimonialmente impuras.

Nem mesmo no conforto de seus lares poderiam abraçar seus familiares, quanto mais pensar em participar de festas religiosas nas sinagogas ou cogitar irem ao Templo em Jerusalém. Tudo aquilo que mexessem se tornaria impuro. As peças de roupas que vestiam, qualquer pessoa que tocasse, também se tornaria impura. O vínculo social era interrompido por sete dias em consequência da fase de menstruação  (Levítico 15.19,25-33).

Quem era a mulher do fluxo de sangue?

Segundo o relato em Marcos 5.25,26, uma mulher havia procurado os médicos, gastando seus recursos, porém, nenhum tratamento estancou o seu incômodo vazamento sanguíneo. Sua doença desagradável só piorava com o passar do tempo. Ela padecia em desespero com uma hemorragia por longos doze anos.

Seu nome não é citado, não sabemos se era solteira ou casada, pobre ou rica. É descrita apenas por seu problema de saúde, e por seu comportamento motivado pela fé em safar-se do angustiante problema. Os detalhes da história desta pessoa cheia de esperança se resumem em demonstrar que ela provavelmente era uma moradora de Cafarnaum. 

A verdadeira fé supera barreiras e manifesta o milagre. 

Os registros bíblicos de Marcos (5.26) e de Lucas (8.43) relatam que essa mulher infeliz já havia gasto todos os seus bens com médicos, porém, os médicos não puderam curá-la. Após viver por mais de uma década sob tortura emocional e física, alguém - que a Bíblia também não revela o nome - contou para ela sobre o Messias e suas curas e libertações. Assim, ela entendeu que a chance de mudar sua triste condição de vida estava nEle. Considerou em seu coração que se apenas tocasse na orla da veste do Salvador receberia o milagre. Pensou consigo mesma: "Se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã" (Mateus 9.21). 

Mas, como sair de sua casa e aproximar-se de Jesus, arriscando-se em ser vista por seus vizinhos religiosos, que, com base em Levíticos 5.3, poderiam recriminá-la? E o que faria a multidão se descobrisse que naquele estado ela havia transitado no meio do povo, propositalmente, criando o risco de se esbarrar e tornar outros também cerimonialmente imundos?

Cheia de confiança no poder que há em Jesus, a mulher do fluxo hemorrágico aproximou-se de Cristo quando Ele estava a caminho da casa de Jairo na cidade de Cafarnaum, cercado por uma grande quantidade de pessoas, muitas delas também buscavam curas ou curas para seus parentes. Acreditava que Jesus não notaria sua presença, pois estava em meio a agitação de uma multidão. Embora ciente dos riscos de ser surpreendida, padecendo com o sofrimento físico, rompeu seu isolamento e entrou no meio da multidão. Ao chegar por trás, tocou na orla das vestes de Cristo, neste momento dEle saiu virtude, e imediatamente a perda de sangue cessou. Em contrapartida, seu toque fez com que fosse notada por Jesus. 

Foi quando Ele perguntou: "Quem é que me tocou?" Provavelmente, apreensiva por saber que havia contrariado a Lei de Moisés, que determinada que Jesus fosse recolhido em sua casa por causa do seu contato, permaneceu em silêncio por alguns instantes (Números 5.2). E junto com a multidão, Pedro com outros discípulos tentaram dissuadir a Cristo, argumentando: "Mestre, a multidão te aperta e te oprime e dizes: Quem é que me tocou?" (Lucas 8.45).

A mulher, aproximou-se envergonhada, contou porque o havia tocado e prostrou-se diante de Cristo. Então, Jesus, que já sabia que sua intenção era receber cura, que seu ato era em consequência da verdadeira fé, quis acalmá-la despedindo-a em paz: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal" (Lucas 8.48).

Conclusão

Entre todas as pessoas da multidão, com certeza muitos haviam esbarrado em Jesus, porém, ninguém o havia tocado com fé e intenção de receber sua virtude. Se esta mulher não houvesse depositado sua fé em Cristo não superaria nenhum obstáculo, jamais iria tocá-lo e ficar livre do mal que a afligia. Seu contato físico seria igual ao de muitos presentes ao redor do Salvador. Ela permaneceria enferma, pois estaria presa ao pensamento de que poderia contaminá-lo. Porém, a confiança em Cristo, deu-lhe condição para refletir que a medicina e a religiosidade não trariam a solução que Jesus tinha para seu problema, e que deveria colocar sua fé em ação. 

O mundo precisa de crentes que queiram visitar os solitários, os doentes, os excluídos da sociedade, aqueles que estão cansados de sofrer, desanimados, cheirando mal, sem esperança de dias melhores. O fato de um alguém anônimo ter a disposição de anunciar Jesus para a mulher que sofria com fluxo sanguíneo irregular, provocou a cura milagrosa. Cabe a todo cristão falar sobre o amor de Deus às almas aflitas.  

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

A Ressurreição de Dorcas - Atos 9.36


Por Eliseu Antonio Gomes

"Em Jope havia uma discípula chamada Tabita, nome este que, traduzido, é Dorcas. Ela era notável pelas boas obras e esmolas que fazia" - Atos 9.36 (NAA). 

A mulher cada vez mais conquista seu espaço na sociedade atual. E qual era o espaço da mulher nos tempos bíblicos? Ao ler a Bíblia e observarmos as personagens femininas, encontramos uma variedade de pessoas e situações em relatos marcantes, momentos de alegria e dor, paixão e amor, astúcia e sagacidade. E percebemos que Deus se importa e cuida de cada um de seus filhos e filhas.

Jope, uma bela cidade costeira, situada  a quase 60 quilômetros de Jerusalém, era o principal porto marítimo da Judeia e o mais próximo de Jerusalém (2 Crônicas 2.16; Atos 10.5 e 11.5). Hoje é chamada Jafa, comunidade residencial em Tel-Aviv. Era comum que as mulheres perdessem seus maridos em naufrágios no alto-mar, havia muitas viúvas e órfãos em estado de carência.

Ali, morou uma mulher cristã chamada Dorcas, muito piedosa, dedicada às boas obras e a dar esmolas. Não se sabe se Dorcas era uma judia entre os gregos ou uma helenista convertida ao cristianismo. O seu nome grego, cujo correspondente em aramaico ou hebraico é "Tabita", significa "gazela" nos dois idiomas. Tal definição, talvez, possa ser em alusão aos belos olhos do quadrúpede.

A narrativa de  Lucas a descreve apenas como discípula. Esta é a única vez que encontramos no Novo Testamento uma mulher descrita com este título.  Ao chamá-la de "discípula", a intenção do escritor de Atos dos Apóstolos era enfatizar que Dorcas de fato era uma pessoa praticante dos ensinamentos de Jesus.

Bondade, Dorcas usava seu talento com mãos de costureira habilidosa, criava vestimentas para ajudar o próximo e, por consequência, mostrar a todos que amava a Deus e seguia os passos de Cristo. Ao socorrer as pessoas confeccionando peças de roupas e doá-las, cumpria a vontade do Mestre, que disse: "Estava nu, e vestiste-me" (Mateus 25.36).

Em um determinado dia, essa mulher, muito doente, veio a falecer rodeada por inúmeras pessoas que havia ajudado. Como a cidade de Lida ficava perto de Jope, onde Pedro se achava naquela ocasião, os discípulos mandaram-lhe dois mensageiros, com o pedido de vir urgentemente para a casa de Dorcas. O apóstolo Pedro, sabendo do ocorrido, pôs-se à caminho; ao chegar; levaram-no até o lugar em que estava o corpo. Rodeou-o grande número de viúvas, mostrando-lhe, em lágrimas, as roupas que Dorcas tinha dado a elas. Pedro mandou sair todos do quarto e pôs a orar ajoelhado. Voltando-se ao corpo, proferiu as palavras: "Tabita, levanta-te". E assim Dorcas teve sua vida restaurada. Abrindo os olhos, assentou-se. Amparada pelo apóstolo, imediatamente levantou-se. Em seguida, Pedro chamou as viúvas e os discípulos, ao vê-la revivida todos se admiraram e depois testemunharam em toda a cidade que ela havia ressuscitado e muitos creram no Senhor por causa da obra que Deus fez por meio do apóstolo.

Segundo as práticas judaicas em Jerusalém, o corpo devia ser sepultado no mesmo dia que a pessoa morresse. Mas fora de Jerusalém, na comunidade cristã permitia-se um período de três dias para o sepultamento. Quando havia a circunstância de atraso, os judeus e os gregos tinham em comum o hábito de colocar o corpo em num quarto do andar superior, após lavá-lo. Foi exatamente isso que os irmãos de Jope fizeram com o corpo de Dorcas, cheios de fé eles tiveram a ideia  de trazer o apóstolo para que orasse a Deus e apresentasse aquela situação. 

Por que Deus concedeu a Pedro que fizesse esse milagre impressionante? O milagre da ressurreição de Dorcas causa perplexidade, pois, tantos líderes importantes da igreja morreram e ninguém os trouxe de volta  à vida para que prolongassem os seus serviços. Pode ser que Deus tenha permitido tal ressurreição para que os habitantes de Jope fossem alcançados através da inquestionável evidência do poder de Cristo sobre a morte. Restituir-lhe a vida era a maneira de Deus dizer para a sua igreja o quão importante era para Ele o trabalho que Dorcas desenvolvia.

Oferecer-se para cuidar dos filhos de alguém quando este alguém vai ao estudo bíblico, visitar um enfermo no hospital, dar atenção ao idoso solitário, ser voluntário no serviço de distribuição de sopa aos carentes desabrigados e desempregados, doar roupas usadas, que ainda estão em bom estado e nã o usa mais, é o que Deus espera que façamos como gente crente em Cristo. Se, sem nenhum interesse de receber algo em troca, a nossa vida transborda de amor em atos de beneficência, nos tornamos eficientes em revelar aos outros o caráter amoroso de Jesus em nós. Mais do que palavras, as nossas ações falam poderosamente do amor de Deus pelas criaturas. A vida marcada pelo altruísmo e pela prestatividade, exerce um poderoso impacto na vida das pessoas, não apenas sobre as que recebem os benefícios de ajuda, mas também sobre aquelas que observam o nosso dia a dia.

O episódio de Dorcas nos faz lembrar que um dia Deus ressuscitará todas as pessoas, que viveram em todos os lugares e em todas as gerações. E todas as pessoas que se dedicaram em demonstrar por suas atitudes o caráter bondoso do seu Salvador, serão levados ao Céu a lá permanecerão para sempre livres de sofrimentos, dores, doenças e tristezas.

E.A.G.

Compilação:
Bíblia da Mulher. Edição 2009. Barueri - São Paulo (Sociedade Bíblica do Brasil).
História Sagrada do Antigo e Novo Testamento. Bruno Heuser. Edição 1965. Petrópolis - Rio de Janeiro (Editora Vozes).
Minidicionário Bíblico Difusão. David Conrado Sabag. Páginas 125 e 126. Cultural do Livro

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Ananias e Safira e a mentira ao Espírito Santo


Por Eliseu Antonio Gomes

É comum encontrar alguns cristãos manifestando o desejo de ter nascido na época da Igreja Primitiva. Talvez, tal ideia esteja baseada na impressão errada de que a geração apostólica fosse melhor do esta em que estamos vivendo, no engano que os crentes do passado não viviam entre problemas como estamos envolvidos hoje.

Pensar que na Igreja Primitiva havia convívio perfeito entre os irmãos, pode ter fundamento em textos bíblicos isolados, na leitura de trecho fora do contexto. Por exemplo a narrativa de Lucas descrevendo como os novos convertidos tiveram uma bela convivência. Atos dos Apóstolos, capítulo 2.42 a 47, relata o seguinte:

"E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por meio dos apóstolos. Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, o Senhor lhes acrescentava, dia a dia, os que iam sendo salvos" (NAA).

Atos 4.32 tem a seguinte descrição sobre a comunidade cristã contemporânea dos apóstolos: "Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum" (NAA).

Se ficarmos com a atenção focada apenas neste cenário ideal, faz todo sentido acreditar que sempre houve um ambiente agradável na fraternidade cristã do primeiro século. Mas o livro Atos dos Apóstolos é composto de 28 capítulos, aborda outras situações além da inicial, dando um relatório mais amplo daquela realidade, mostrando que os primeiros cristãos eram tão imperfeitos como são os cristãos nascidos nos séculos 20 e 21.

Os fatos registrados na Bíblia mostras pontos altos e baixos da conduta humana, as fraquezas e quedas revelam o poder e a misericórdia do Altíssimo sobre todos que reconhecem o Salvador Jesus Cristo como Senhor. O objetivo das Escrituras Sagradas ao expor a verdade da primeira era cristã é impedir que o inimigo da alma humana encontre estratégias eficazes para desanimar os salvos e desapontá-los com a busca vã de tentar encontrar a salvação por méritos próprios.

Vejamos uma passagem importante sobre este tema:

O casal Ananias e Safira.

"Entretanto, certo homem chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas reteve uma parte do dinheiro. E Safira estava ciente disso. Levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então Pedro disse: Ananias, por que você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, para que você mentisse ao Espírito Santo, retendo parte do valor do campo?" - Atos 5.1-3.

Ananias era uma pessoa que viveu durante o tempo dos apóstolos e possivelmente tenha visto a Jesus Cristo durante sua itinerância anunciando o Evangelho, curando enfermos e libertando os cativos de Satanás. O texto bíblico que conta o seu comportamento e punição, provavelmente pode ter ocorrido em data aproximada ao Pentecoste, quando o Espírito Santo batizou os crentes de então, pois os primeiros fiéis ainda estavam concentrados em Jerusalém e arredores.

Havia ali gente convertida que era dona de posses materiais e disposta a oferecer sua propriedade para favorecer os crentes pobres.

Neste ambiente fraternal de generosidade, Ananias e Safira, eram membros da Igreja Primitiva, deviam ter descido às águas batismais e podem ter experimentado o batismo no Espírito Santo. Contudo, desejosos de fixar no senso comum daquela sociedade o pensamento de que ambos eram pessoas desprendidas de bens materiais, tomados pela falta temor ao Senhor, cometeram o pecado contra Deus.

Não nos passa desapercebido que no começo da história da humanidade o diabo tentou Eva e ela, juntamente com Adão, cedeu ao pecado; e no começo da história da igreja a serpente atacou outro casal e atingiu o seu objetivo outra vez.

Aquele que usa de engano não ficará na casa do Senhor.

Esse pecado desconsidera o propósito do sofrimento e da morte de Cristo e revela falta de temor ao Senhor, ausência de respeito e honra ao Espírito Santo (Efésios 1.4, Hebreus 13.12). Assim sendo, o Senhor repudia a todos que se beneficiam da duplicidade de sentidos, para confundir o semelhante, não se apraz da conduta de quem age fraudulentamente (Salmos 101.7). E por este motivo, Deus feriu com severidade a Ananias e Safira, manifestando sua aversão ao engano, mentira e desonestidade (Atos 5.10-11)

Rejeitemos a mentira. 

A pessoa que se converte, renasce do Espírito para ter um novo estilo de vida. Ela não apenas se "reveste" uma vez, mas é conclamada a se "revestir" a cada dia na prática como cristã. É preciso despojar-se dos hábitos do velho homem, daquilo que fazíamos antes de aceitar a Cristo e ter disposição para revestir-se do novo homem, que é submeter-se voluntariamente ao que Cristo indica como novo jeito de viver.

Da mesma maneira como se trocam roupas sujas por limpas, assim também o cristão é instruído pelo Espírito a renunciar diariamente aos hábitos maus e viver de acordo com as regras do reino de Deus (Gálatas 3.27; Efésios 4.24-25; Colossenses 3.9-10. 12-14).

Tal troca de roupas, remete-nos à armadura do soldado, apresentada em Efésios 6.10-17: é necessário estar cingido com a verdade, protegido com a couraça da justiça, estar com os pés calçados com o Evangelho da paz, sempre embraçado com o escudo da fé, protegido com o capacete da salvação e ter firme na mão a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus.

Conclusão.

Tenha sempre em viva lembrança que Deus se agrada daqueles que possuem coração sincero. É preciso perseverar em seguir os mandamentos do Senhor e ser um servo íntegro e com coração voluntário ao realizar a sua vontade, pois Ele esquadrinha o coração humano (1 Crônica 28.7-9). É importante estar consciente que tudo vem do Senhor; dEle recebemos e a Ele devolvemos tudo que nos tem dado (1 Crônicas 28.7-9, 17; 29.1). Como seres criados, tudo o que temos e somos vem do Pai, e não há nada que possamos fazer para retribuir por seu imenso amor e infinita bondade. Resta-nos adorar ao Altíssimo com coração sincero.

E.A.G.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Os endemoniados gadarenos. A exegese dos textos bíblicos e breve comentário sobre possessos e oprimidos


As ruínas da antiga cidade de Gadara.
Umm Qays - Jordânia,

Por Eliseu Antonio Gomes

O dilema das narrativas dos dois endemoninhados de Gadara.

Não poucas vezes, formula-se questionamentos sobre as histórias narradas na Bíblia Sagrada. Seja a indagação feita pela motivação da simples curiosidade ou com a intenção nefasta de confrontar nossa crença, é importante estar preparado para a situação.

Se há da parte alguém o desejo de conhecer mais o conteúdo da Bíblia, será sempre recomendável responder de pronto, mas se não houver condição para a resposta imediata, que se vá pesquisar a respeito e passar a informação o mais rápido que puder. Afinal, quando existe sinceridade, no coração de quem deseja aprender sobre o conteúdo bíblico, a sede e s fome de justiça devem ser respeitadas.

E na segunda circunstância, quando possivelmente possa haver vontade de escarnecer o povo cristão, penso que não existe necessidade de levar adiante a conversa, pois, quem decide levantar temas polêmicos com o objetivo de discutir conosco sobre assuntos das Escrituras Sagradas, é uma pessoa que a Palavra de Deus diz que precisa ser mantida longe de nós. Não convém ao cristão se assentar em roda de gente dessa espécie, é o que nos orienta o Salmo 1 e 1 Coríntios 15.33.

Existirão vezes em que uma observação rápida sobre o objetivo do interlocutor será suficiente, mas poderão ocorrer circunstâncias que exigirão do crente calma para conseguir discernir quais são as reais intenções de quem questiona. O entorno dá sinais importantes, mas Jesus Cristo ensina que não devemos nos guiar pelas aparências (João 7.24).

Há contradições bíblicas entre os relatos de Mateus (8.28-34), Marcos (5.1-15) e Lucas (8.26-37)?

Aparentemente, o leitor encontra contradições em diversos trechos da Bíblia. Mas, se faz a leitura sem pressa em tirar conclusões, o indício da discrepância desaparece em face do estudo bíblico cuidadoso. Podemos tomar como exemplo as narrativas encontradas nos Evangelhos, uma delas é o relato sobre o caso do endemoninhado de Gadara. As aparentes diferenças entre os Evangelhos de Mateus e Marcos se aplicam ao de Lucas, também.

Resposta:

Gadara (que em hebraico é "fronteira", "cercado") era uma das dez cidades autônomas da Decápole, situadas a sudeste do mar da Galileia, na atual Jordânia, era luxuosa e rica, habitada principalmente por gentios na época de Jesus. A Mishná (uma das principais obras do judaísmo rabínico) afirma que Gadara data do período do Antigo Testamento. Atualmente, a região de Gadara é conhecida pelo nome árabe Umm Qais (a mãe de Qais). No local foi encontrado um grande sítio arqueológico, que tornou-se ponto turístico.

A única referência no Novo Testamento sobre Gadara, diz respeito ao episódio em que demônios são exorcizados e em seguida eles se apoderam de uma manada de porcos e faz com que os porcos se precipitem nas águas do mar. Cogita-se que a região estivesse próxima ao mar da Galileia. 

Em Mateus, lemos que após Jesus desembarcar à beira do lago de Genesaré, dois endemoninhados encontraram-se com Ele, ao invés de um, conforme as narrativas de Marcos e Lucas. Se Mateus escreveu que houveram dois endemoninhados, isso quer dizer que houve, mesmo. E, considere-se que a narrativa de que houve um homem possuído tem dois registros de origens diferentes.

Essa diferença se consiste em grande problema? Não.

Os evangelistas Marcos e Lucas em nenhum momento escreveram que havia apenas um endemoniado, apenas se ocuparam em falar sobre um deles. Em diversas circunstâncias da vida ocorrem situações semelhantes aos relatórios sobre os homens endemoninhados de Gadara. Muitas pessoas passam desapercebidamente na vida porquê possuem uma personalidade recatada. Se em uma sala de aula houver 40 alunos e apenas 25 são extremamente extrovertidos, daqui há trinta anos, caso seja feito comentário sobre essa classe, será mais fácil lembrar o nome daqueles alunos mais agitados. Mas isso não quer dizer que 15 deles não estudaram lá.

Entendemos que o evangelista Mateus foi um narrador mais detalhista sobre a passagem de Jesus em Gadara, enquanto os evangelistas Marcos e Lucas depositaram toda atenção apenas ao endemoninhado que era o mais agressivo dos dois.

Os espíritos demoníacos podem invadir e habitar corpos humanos? Sim.

Habitando numa pessoa, eles ganham uma vantagem maior no controle dessa pessoa do que se tivessem de agir fora do corpo dela. Quando espíritos malignos habitam no corpo humano, diz-se que tal pessoa "tem" espíritos imundos, que "está possuída" por demônios. No Novo Testamento, a palavra grega encontrada para descrever tal situação, é "daimonízomai" (Mateus 4.24; 8.16, 28, 33; Marcos 1.32;  5.15; João 10.21 etc).

A atitude correta a ser feita é resistir ao diabo (Tiago 4.7). Para determinar a necessidade de libertação, é preciso ter discernimento. Muitas vezes, Deus usa cristãos aos quais deu-lhes o dom de discernir espíritos para que o problema seja revelado (1 Coríntios 12.10; 14.26; 1 João 4.1). O termo grego para discernir é "diakrisis", cujo sentido é julgar, ter percepção para desmascarar e capacidade para descobrir a fonte e a motivação.

Muitas almas estão possuídas por demônios e outras vivem oprimidas. No estado de opressão, o demônio não consegue entrar no corpo, mas permanece ao seu redor causando diversas dificuldades. Alguns sintomas de que há demônios habitando em alguém ou que este alguém vive oprimido por eles, são:
• distúrbios emocionais persistentes;
• problemas de comunicação: blasfêmia, mentira, zombaria, mexerico, maledicência;
• sexualidade pervertida: prostituição, adultério; fornicação, incesto etc
• vícios em álcool, nicotina, cafeína, cocaína, maconha e outras drogas não legalizadas.
Deus criou o corpo humano para ser morada do Espírito Santo. O Espírito de Cristo só entra no coração da pessoa quando ela permite sua entrada: "Será que vocês não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo, que está em vocês e que vocês receberam de Deus, e que vocês não pertencem a vocês mesmos? Porque vocês foram comprados por preço. Agora, pois, glorifiquem a Deus no corpo de vocês" - 1 Coríntios 6.19-20 (NAA).

E.A.G.

Consulta:
Manual de Dificuldades Bíblicas - respostas para mais de 780 passagens polêmicas. Norman Geisler e Thomas Howe. Edição 2015. Página 274. São Paulo. Editora Mundo Cristão.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Lucas 10.42: Marta, Maria, uma pergunta e a resposta do Mestre Jesus


Marta e Maria.
Pintura de 1863.
Arte de Anton Laurinds Johannes Dorph.
Por Débora Novaes de Castro

O relato contido em Lucas 10.38-42 mostra uma situação um tanto quanto conflitante para nós. A passagem bíblica mostra história das irmãs Marta e Maria, que viviam no vilarejo de Betânia, com seu irmão Lázaro, e eram admiradores de Jesus de Nazaré- aquele amigo especial que costumavam hospedar em sua casa.

Com este amigo, compartilhavam as alegrias e as destemperanças de cada dia. Era um viver simples, pelo que se percebe nas estrelinhas. O vilarejo localizava-se nas encostas do Monte das Oliveiras, no qual Jesus orou e chorou lágrimas de sangue, pouco antes de ser levado preso, para ser julgado e crucificado.

Segundo nos relata João (11.5), Marta era muito amada por Jesus, e também seus irmãos. Era uma seguidora muito atenta aos ensinamentos do amigo nazareno, em quem cria, e tinha um enorme prazer em servir. Em Lucas 10.38-42, vamos encontrar Jesus passando por Betânea, e sendo hospedado por Maria, que se desdobrava nos afazeres doméstico, para que nada faltasse ao Mestre e visitante, especialmente querido, especialmente querido, que tinham o privilégio de receber em sua casa.

Sim, mas e Maria? Como se comportava Maria nessas ocasiões, quando da visita do amigo de Nazaré? Segundo Maria, ela nem se importava em ajudá-la na trabalheira da casa... Só queria mesmo era estar ao pé do Mestre, para escutar e aprender de Jesus. A bem da verdade, será que Marta não teria a sua razão?

Em determinadas situações, assemelhamo-nos às irmãs bíblicas, Marta e Maria. E então pensamos que, nos atropelando numa trabalheira sem fim, é receber bem o visitante que surge em nossa casa. E me vem à mente a pergunta: Meu comportamento se assemelha ao de Marta ou ao de Maria? Primeiro, nos apegamos em boas conversas, assentados ao sofá, ou antes da conversa o levamos para a cozinha e preparamos um café e outras coisinhas mais, com o propósito de agradá-lo? Se somos parecidos com Marta, damos tudo de nós, para que tudo saia a contento e em tempo hábil. Se Maria, deixamos um pouco de lado os outros cuidados, que não sejam a atenção, porque queremos o contato carinhoso e receber todas as informações que o visitante tem para comunicar.

Ao instigante questionamento, consideramos que Maria é figura do discipulado diligente, responsável, seriamente assumido. Desejava aprender, aprender mais, aprender sempre. E para isso, tantas outras coisas haveriam de ser desprezadas. Tenho conhecido muitos crentes do tipo Maria de Betânea. Apegam-se ao estudo da verdade divina e dela não se afastam, nem de dia, nem de noite. São aqueles que tiveram a ventura de escolher a melhor parte.

No livro de Lucas 10.41-42, Maria recorre a Jesus e pede que mande Maria ajudá-la. mas Jesus, ao contrário do que lhe foi pedido, condena o estresse de Maria, dizendo que Maria escolhera a melhor parte. A resposta desconcertante de Jesus para Maria, e para nós, resplandece na grandiosidade do propósito divino, que é o discipulado de Jesus na igreja.

Descoberta arqueológica:  a tumba de Lázaro.
Conclusão

Nota do Editor do blog Belverede:

Jamais se esqueça. Como crentes, devemos renovar a nossa mente dia a dia. E esperar em Deus, porque Ele tem a provisão certa e na medida certa da nossa necessidade que nos afronta. Vale lembrar que você vale mais do que o mundo inteiro para Deus. Ele tem provisão para você. Você vale mais do que os lírios, que embelezam os campos. Você tem mais valor do que os pardais, que voam na direção que quiserem ir. Na medida que desejar se aproximar da Palavra de Cristo, a revelação divina será descortinada para o seu coração.

Assim como as águas dos rios não sobem ladeira acima, têm o curso natural ao mar e compõem o volume dos oceanos, a conversão espiritual implica em decidir viver em novidade de vida, aceitar caminhar no Espírito e permitir que a insignificante vontade humana se dilua na importante e soberana vontade do Criador.

E.A.G.
A autora pertence às instituições Academia Cristã de Letras (ACL) e Academia Paulista Evangélica de Letras (APEL). Congrega na sede Igreja Metodista Renovada, situado em São Paulo-SP.
Fonte: Renovação da Fé. Ano 7, número 31. Janeiro a março de 2007. Páginas 41 e 42. São Paulo / SP. www.renovada.org.br

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Cuidado com o que a memória diz

A Negação de Pedro.
 Arte do dinamarquês Carl Heinrich Bloch no ano de 1873.
Há memórias fortes e memórias fracas; há memórias privilegiadas e memórias que não vão além do nível comum. Quando perfeita, a memória pode ajudar de modo surpreendente quem a possui. Mas a memória também pode trair o seu dono. O indivíduo que confia demasiadamente nela corre o risco de entrar em situação vexatória, se o apontamento da memória não estiver exato, se a clareza de detalhes não for integral. 

Assim sendo, tenham o máximo de cuidado com a memória, pregadores, quando fizerem citação de trechos das Escrituras Sagradas, pois não é sempre que a memória retém as coisas satisfatoriamente.

Um dos pontos que muitos tropeçam com muita frequência, por confiarem na memória, é a narrativa sobre a negação de Pedro, quando Jesus estava sendo julgado. Comete-se equívocos quanto ao número de vezes que Pedro faltou com a verdade, dizendo não conhecer o Mestre, e no número de vezes que o galo contou naquela ocasião.  Todos que confiam na memória e afirmam que o galo cantou três vezes, antes que Pedro mentisse, infelizmente, estão confundidos. 

Quantas vezes o galo cantou antes de Pedro negar o Mestre? A Bíblia não declara que o galo cantou três vezes e nem Jesus fez essa afirmativa quando advertiu a Pedro acerca do ato da negação. O que está escrito é o seguinte: "Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que, nesta mesma noite, antes que o galo cante, três vezes me negarás" - Mateus 26.34 (ARC). 

Três vezes se refere à negação e não ao cantar do galo. Observe com atenção a vírgula, antes da palavra "cante", e tudo estará esclarecido. O leitor apressado, que não respeita o sinal gráfico de pontuação que ali está, induz a memória a sugerir que o galo cantaria três vezes antes que Pedro cometesse seu ato falho.

O episódio que estamos comentando é um dos poucos que está registrado nos quatro Evangelhos: Mateus 26.31-35 e 26.69-75; Marcos 14.27-31 e 14.66-72; Lucas 22.31-34 e 22.54-62; e João 13.36-38 e 18.15-18, 25-27. Mateus e João relatam que antes que o galo cantasse uma vez, Pedro negaria o Senhor. Quem registra o número de vezes do canto do galo é o evangelista Marcos (14.72) e o faz nesses termos: "E no mesmo instante o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: “Antes que o galo cante duas vezes, você me negará três vezes.” E, caindo em si, começou a chorar" . 

O que acabamos de ler é exatamente o que está escrito nos Evangelhos. É claro que se tivéssemos que fazer uma recomendação aos que confiam em demasia na memória, diríamos que não convém confiar exageradamente. Confiar no que está escrito, sem alterar o lugar da vírgula.

Consulte a Bíblia antes de consultar a memória. Tome cuidado com os registros da sua memória.

E.A.G.
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Autor do artigo não identificado. Conteúdo extraído do periódico Mensageiro da Paz, ano 40, edição número 3, página 4, publicado em fevereiro de 1970 pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD), cidade do Rio de Janeiro, estado do Rio de Janeiro então denominado Guanabara. O conteúdo desta postagem é adaptado ao blog, com acréscimos de referências bíblicas, troca de vocábulos que caíram em desuso por outros agora em voga e uso das regras ortográficas da Língua Portuguesa que entraram em vigor em 1º de janeiro de 2009.

sábado, 20 de abril de 2019

O pedido de socorro que pode trazer libertação

O pedido de socorro que pode salvar você. Belverede. Eliseu Antonio Gomes https://belverede.blogspot.com.br
Uma reflexão sobre o caso da mulher anônima que sofria com um problema de fluxo de sangue.

Vagner Sandoval Marcelino

Quando você precisa de socorro, quem você procura primeiro?

Imagine que você é cardiologista internacionalmente estimado e conceituado e possui um filho adulto. Certo dia seu filho tem a sensação de que os batimentos cardíacos estão mais acelerados e, ao invés de procurá-lo e contar o que está sentindo, ele apressadamente procura um cardiologista que possa atendê-lo rapidamente. Qual o sentimento que você teria perante uma situação como essa? Se sentiria prestigiado ou ignorado? Valorizado ou insignificante? Importante ou desprezado? Ficaria feliz ou triste com este comportamento do seu filho?

Causa tristeza afirmar que na vida real esta história se repete centenas de vezes todos os dias. O pai da história citada é Deus, e o filho, somos nós. Imagine o tamanho da tristeza que Deus deve sentir vendo os seus filhos, ao sentirem a necessidade de serem curados, como primeira alternativa para voltarem a ter saúde, buscarem os recursos da medicina. Acredito que seja importante frisar algo: o objetivo deste artigo não é induzir as pessoas a não usarem os recursos da medicina, a intenção é provocar uma reflexão sobre as vantagens de procurar a Deus em primeiro lugar, quando precisamos reencontrar o estado de saúde. Na verdade, objetivamos provocar uma reflexão sobre as vantagens de procurar a Deus, em primeiro lugar, quando precisamos de socorro.

É vantajoso buscar a Deus em oração, orar e pedir ao pastor da sua igreja orar junto e ungir você assim que um mal lhe acomete. Há prontidão de atendimento, o domínio e poder completo de Jesus Cristo sobre qualquer doença.

Vamos usar um exemplo bíblico para explorar essas vantagens: a Bíblia nos informa no Livro de Marcos, capítulo 5 e versículo 25, que havia um mulher que há 12 anos padecia de um fluxo de sangue e que já havia padecido muito com os médicos e gastado tudo que tinha mas nada havia adiantado. Peço contrário, a situação piora cada vez mais. Porém, certa feita ela escutou que Jesus passaria pela cidade onde ela estava. Ela tomou a decisão de tocar nas vestes dEle. Sabia que, se conseguisse fazer isso, seria curada. E assim aconteceu; ela passou pela grande multidão e conseguiu tocar na orla do vestido de Jesus. No mesmo instante, a virtude que saiu de Cristo a curou.

Note o pronto atendimento nesta situação. Enquanto para acessar as soluções da medicina nós temos que pegar fila nos hospitais, nos consultórios, nos laboratórios e até nas farmácias, com Jesus o atendimento é imediato. Esta mulher só teve o trabalho de chegar perto de Jesus com fé e tocá-lo para ser curada. O mesmo nós podemos fazer a qualquer momento, seja durante, tao entardecer ou anoitecer. Basta buscarmos ao Senhor em oração que Ele imediatamente se apresentará para nos ajudar.

Observe também o domínio e o poder que Jesus tem sobre qualquer doença.A doença da mulher não tinha cura e, por mais que a medicina tenha tentado ajudá-la, todos os esforços foram em vão. O mesmo quadro pode ser observado nos dias de hoje: a medicina continua a ter limitação, não tem capacidade para curar todas as doenças. Porém, para a nossa alegria, Jesus continua com o mesmo poder ilimitado. Ele tem poder para curar todo e qualquer mal. É bem verdade que que não é sempre possível estar ficar imune de todos os males, de doenças, deste mundo, porém é possível estar todo tempo do lado e em contato com o nosso Pai Celestial, o dono do poder, o único que autoridade para eliminar qualquer mal.

Lembre-se, ao adoecer procure sempre em primeiro lugar o melhor, o mais rápido, o mais competente, o mais presente, o mais amoroso, o mais poderoso e o mais respeitado: Jesus Cristo de Nazaré! Além de valorizar, prestigiar, orgulhar e honrar o "médico por excelência que é teu Pai Celestial, a chance de você obter êxito na recuperação da sua saúde será infinita e real!

O poder de Deus prevalece sobre todas as coisas, não apenas sobre qualquer problema. seja ele de ordem espiritual. sentimental, física, material, financeiro, familiar ou judicial. Quando agimos com fé, as portas do Céu se abrem e alcançamos as bênçãos que buscamos, assim como fez a mulher do fluxo de sangue. Infelizmente, muitas vezes, só colocamos a nossa fé realmente em ação após termos esgotamos todos os recursos desse mundo, ou seja, quando a medicina diz que não tem mais jeito, quando o dinheiro se esgota, quando a justiça não resolve. Como seria mais simples e produtivo se a colocássemos em ação logo no primeiro momento.

Voltando a história do filho do cardiologista, citado no primeiro parágrafo, dependendo do problema o médico que ele procurou não teria condições de ajudá-lo e, possivelmente, iria indicar um especialista acima dele, possivelmente o pai dele. Você está diante de um problema? Encurte o caminho, não gaste tempo e dinheiro de modo desnecessário, vá direto ao Pai. Inicie a busca pela resolução do seu problema com o melhor de todos, com aquele que tudo pode, com aquele que é o nosso "refúgio e fortaleza, socorro bem presente na hora da angústia" (Salmos 46.1).

E.A.G.
Jornal IEADI, ano 17, número 180, julho de 2015, Assembleia de Deus Indaiatuba e filiais

sábado, 10 de março de 2018

Quem era Maria Madalena, segundo os relatos bíblicos?

O Arrependimento.
 Tela de Domenico Fetti
(Roma, 1589 † Veneza, 1623)

Eliseu Antonio Gomes

Maria Madalena, discípula de Jesus, era uma mulher extraordinária, amável e dedicada ao Senhor em sua vida, morte e ressurreição. Os autores dos quatro Evangelhos identificam-na como uma das mais fervorosas seguidores de Jesus, pessoa intrépida e testemunha ocular essencial dos momentos mais marcantes da vida de Cristo. 

Não se sabe se "Madalena" era seu sobrenome ou se representa Magdala, uma vila no litoral oeste da Galileia, três a cinco quilômetros de Tiberíades, local que provavelmente teria nascido.

Ela é mencionada em nove listas de mulheres que seguiam Jesus e encabeça oito delas, o que sugere que talvez exercesse a posição de liderança do grupo feminino das seguidoras de Cristo (Mateus 27.55, 56, 61; e 28.1; Marcos 15.40, 41, 47; e 16.1; Lucas 8.1-3; e 24.10; João 19.25).

Alguns acreditam que ela é a mulher, que ungiu os pés de Cristo e os enxugou com seus cabelos, citada em Lucas 7.37-50. É improvável, pois Lucas não a apresentaria nominalmente no capítulo 8, se realmente relatasse sobre ela no capítulo anterior. De igual modo, não há razão para pensar que tivesse vivido como prostituta em seu passado baseando-se no fato de ser liberta de sete possessões malignas. Em 591, o Papa Gregório afirmou que Maria Madalena era uma prostituta, e este erro sobre o estilo de vida dela, antes de conhecer Jesus, permanece na mente de muitos até os dias de hoje.

Jesus expeliu sete demônios de Maria Madalena

Referências textuais: Marcos 16.9; Lucas 8.2-3.

Antes de conhecer Jesus, o coração de Maria Madalena era reduto das forças malignas. As Escrituras não informam como foi possuída por demônios, quanto tempo viveu nesta circunstância desesperadora e como teve um encontrou com Cristo. Sabemos que sua vida era socialmente perturbada. Pode ter havido momentos estranhos, gritado muito e brigado com sua família por motivos banais, afastado todas as pessoas que tentassem ajudá-la, se atirado pelo chão, espumado pela boca, sofrido convulsões, exibido publicamente o corpo como fez o endemoninhado gadareno.

Sabemos que nenhum endemoninhado recorreu a Jesus em busca de ajuda, apenas os enfermos o procuravam. Normalmente, outro indivíduo recorria a Jesus para libertar parentes ou amigos vítimas de possessão. Às vezes, Jesus intervinha sem ser solicitado.

Não está escrito na Bíblia, mas de acordo com o contexto sobre possessões malignas, a história de Maria Madalena é a de o Pastor que foi atrás da ovelha e não o contrário. Sua existência inútil e autodestrutiva se transformou em uma vida cheia de graça a partir do momento em que Jesus a socorreu, restituiu sua capacidade de raciocinar com clareza e libertou-a do cativeiro demoníaco. Após liberta, em vez de despedir, Jesus a levou para junto de seus discípulos e ela passou a integrar o privilegiado grupo de mulheres da Galileia, que juntamente com os doze discípulos, caminhavam ao lado do Senhor de cidade em cidade.
  
Magdala, às margens do Mar da Galileia.
Foto de Daniel B. Sheep em 1894.
Wikipedia

Maria Madalena, a servidora

Referências textuais: Mateus 27.55; Lucas 8.1-3; Marcos 15.40-41.

Jesus, acompanhado por seus discípulos por diversas cidades, por um período breve de três anos de evangelismo, anunciava a salvação, curava os enfermos, libertava as almas cativas das trevas. Eles não tinham grandes recursos para a própria sustentação financeira durante toda aquela extensa missão, que demandava constantes viagens, pois se concentravam todo o tempo em benefício da obra espiritual. Os gastos com a alimentação, com a lavagem e a manutenção das suas roupas, e com a pousada, implicava em custos consideráveis. Então, Deus preparou corações voluntários; havia a ajuda e a hospitalidade de pessoas solidárias, e assim o ministério terreno de Jesus alcançou êxito pleno.

Entre as pessoas que comprovaram ter engajamento com a causa de Jesus, estão algumas mulheres, como Maria Madalena e Joana, apesar de que muitas outras também tenham colaborado nessa assistência e trabalho significativo para a subsistência de Jesus e seus discípulos. Elas se empenharam em servi-lo porque estavam extraordinariamente gratas pelas bênçãos que lhes foram concedidas por Jesus, transformaram gratidão em ação, como deveriam fazer todos aqueles que Ele abençoa com a sua salvação. 

Maria Madalena, nos episódios de tortura, julgamento, crucificação e morte

Nos episódios da crucificação, Maria Madalena deve ter se sentido totalmente confusa. Deve ter ouvido os diálogos tensos entre seu Mestre e os líderes religiosos. Jesus estava calado, não oferecia resistência aos que o maltratavam verbal e fisicamente. Os acontecimentos trágicos se desenrolavam sem que pudesse interrompê-los. Devota, ela e as mulheres da Galileia se arriscaram ao  acompanharem o julgamento e os sofrimentos de Cristo, pois o ambiente era hostil e violento, principalmente aos que se identificavam com o Mestre (Mateus 27.45-56; João 19.25; Lucas 23.55). Apesar de tudo, elas permaneceram próximas ao Senhor até o terrível momento da crucificação e testemunharam sua morte (João 20.15-16).  

Enquanto os discípulos fugiam e se escondiam, Maria Madalena ficou para trás para observar onde José de Arimateia o sepultaria (Marcos 15.44-45), pois planejava ungir o corpo de Jesus com especiarias e perfumes (Lucas 23.56).

A bem da verdade, mesmo que os discípulos tenham entrado em pânico quando Jesus se recusou a revidar os ataques, não entendessem que aquele momento era o clímax da Obra da Redenção, é preciso considerar que depois de tudo acontecido eles não omitiram a extraordinária coragem feminina neste episódio e não tentaram justificar a conduta vacilante. Eles registraram suas ações covardes e a valentia das seguidoras de Cristo nos Evangelhos.

A crucificação de Jesus Cristo.
Maria Madalena é uma das testemunhas oculares da morte do Salvador.
Fonte: FreeBibleImages.org

O relato bíblico sobre Maria Madalena no episódio da ressurreição

Referências textuais: Mateus 28.1-10; Marcos 16.1-10; Lucas 24.1-10; João 20.1-18.

Maria Madalena é figura proeminente no episódio da ressurreição.

Ainda era madrugada de domingo, o sol nem havia nascido quando as mulheres chegaram ao túmulo de Jesus, que julgavam ainda estivesse morto. Elas tinham o propósito de ungir o seu corpo, realizarem o ritual de preparação de cadáver, como era costume entre os judeus, pois isso não havia sido feito antes do sepultamento por causa da chegada do sábado. Ali, foram surpreendidas ao verem que a pedra usada para fechar o túmulo havia sido removida e encontrarem um anjo, anunciado-lhes a ressurreição de Jesus.

Pequenas diferenças ocorrem nos relatos sobre a chegada das mulheres no sepulcro. Maria Madalena acompanhou as outras mulheres, porém, conforme o relato de João nos versículos 1 e 2, em determinada altura do caminho deve ter seguido em passos mais rápidos que suas companheiras e chegou em primeiro lugar ao túmulo. Marcos (16.9) diz que Cristo apareceu primeiramente para Maria Madalena. Quando ela tomou ciência dos fatos, procurou a Pedro e ao discípulo amado e contou o que havia acontecido e depois foi alcançada pelas outras mulheres.

Depois disso, Maria Madalena retornou em companhia de Pedro e do discípulo amado e permaneceu ali chorando quando todos se foram. Não estava em condições de entender como aquEle que podia curar e ressuscitar pessoas, não salvou a si mesmo. Então, em meio ao desespero por ter encontrado o túmulo dEle vazio, pensando não restar nada mais a fazer, um dos dois anjos que apareceram ali perguntou-lhe qual era a razão das lágrimas, Maria Madalena quis saber sobre o paradeiro do corpo do Senhor (João 21.11-15). De súbito, no momento de sua intensa emoção, Cristo se fez presente, exclusivamente para ela, mas ela pensou que fosse o jardineiro. Só após Cristo gentilmente chamá-la pronunciando seu nome é que ela o reconheceu. Assim, estando pessoalmente com o Salvador, Maria Madalena é confortada pelo próprio Cristo ressurreto e depois da conversa conta aos discípulos que havia visto Jesus vivo (João 20.18).

Gli amici di Gesù. 
Coprodução: Alemanha e Itália (2000).
 Atriz Maria Grazia Cucinotta vive Maria Madalena.
 Roteiro sem fidelidade às Escrituras Sagradas.
O perfil falso de Maria Madalena (Bíblia não descreve)

Gente sem nenhum compromisso com o conteúdo da Palavra de Deus, faz interpretações sem respaldo bíblico sobre a biografia de Maria Madalena.

Feministas, com o suposto pretexto de elucidar quem realmente era a discípula de Jesus Cristo, descontentes com a identidade que a Bíblia apresenta, extraindo e distorcendo textos do Novo Testamento e também usando antigos textos extra-bíblicos - como o Evangelho de Filipe e o Evangelho de Maria Madalena - afirmam que Maria Madalena  era a líder escolhida para a Igreja. Além disso, afirmam que ela seria esposa de Jesus e mãe de um filho dEle.

O Código da Vinci, livro de autoria de Dan Brown, veiculou essas ideias equivocadas e alcançou enorme sucesso, inclusive através de uma adaptação ao cinema, filme produzido em Hollywood com atores consagrados na indústria cinematográfica. O enredo de Brown afirma, entre outras heresias, que o apóstolo amado não era João, o evangelista, mas Maria Madalena.

Roney Mara no papel de Maria Madalena

No próximo dia 15 de março, estreia nas telas de cinema do Brasil, o filme Maria Madalena, do diretor australiano Garth Davis e das roteiristas Helen Edmundson e Philippa Goslett. O longa conta com Rooney Mara, duas vezes indicada ao Oscar, como a atriz protagonista do filme; Joaquin Phoenix na pele de Jesus e Chiwetel Ejiofor como apóstolo Pedro. É produzido pela  empresa 360 WayUp, conhecida por apresentar grandes projetos no mercado cristão cinematográfico, e distribuído pelos estúdios Universal Pictures France.

Segundo o marketing dessa produção, a personagem central é a figura de uma mulher corajosa, temente a Deus, que se transforma em alguém melhor ao caminhar com o Senhor, a personagem desafia a sociedade retrógrada da época a se juntar a Jesus em sua jornada para espalhar a Palavra de Deus. E as mulheres da sociedade atual, acostumadas a tomarem decisões, situadas em posições nunca antes conquistadas nos âmbitos políticos e econômicos, se sentirão representadas por ela.

Só nos resta saber se o roteiro é ou não fiel aos relatos da Bíblia Sagrada.

Conclusão

Apesar do equívoco de interpretação dos textos bíblicos que muitos fazem sobre a identidade de Maria Madalena, sem dúvida alguma ela é uma das mulheres mais importantes do Novo Testamento. Entre todas que conheceram Jesus Cristo pessoalmente, apenas Maria de Nazaré é citada mais vezes que ela. Na galeria bíblica de exemplos femininos, seria uma perda irreparável não haver seu nome na lista. Aos estudiosos e propagadores do conteúdo da Bíblia, é um grande erro desprezar o estudo sobre esta mulher.

Maria Madalena, depois de ser libertada por Cristo da condição de escrava de sete demônios, servir ao Senhor por livre e espontânea vontade, sentir a dor de vê-lo preso, acusado injustamente, torturado, crucificado e morrer na cruz, foi a primeira testemunha ocular do surgimento do cristianismo no mundo.

E.A.G.

Compilações:
A Bíblia de Estudo da Mulher Sábia, páginas 1043, 1062 e 1063, edição 2016, Várzea Paulista - SP (Casa Publicadora Paulista).
Histórias de Mulheres da Bíblia, Eva Mündlen, páginas 119 e 120, edição 2010, Barueri - SP (Sociedade Bíblica do Brasil).
Mulheres Esquecidas da Bíblia - Encontre força e sentido em suas histórias, Carolyn James, páginas 195, 196, 197, 199, 204, edição 207, São Paulo- SP (Editora Vida)
O Novo Dicionário da Bíblia, volume 2, páginas 1006 e 1007, 4ª edição 1981, São Paulo- SP (Edições Vida Nova).
Quem é Quem na Bíblia Sagrada - A história de todas as personagens da Bíblia, editado por Paul Gardner, páginas 437 e 438, 19ª impressão 2015, São Paulo - SP (Editora Vida).