Por Eliseu Antonio Gomes
A graça é maravilhosa. Todos somos pecadores por natureza, mas Jesus, que nunca pecou devido sua natureza divina, veio para nos salvar e pagou com sacrifício por nós a culpa de nossos pecados. Ele sofreu em nosso lugar, e dessa maneira reconciliou-nos ao Pai (Isaías 53.6; Mateus 20.28; Romanos 3.25).
A influência da Carta aos Romanos na vida do avivalista inglês John Wesley
O avivamento evangélico do século 18 teve na figura de John Wesley o seu mais eminente representante. Porém, nem todos estão cientes que a Carta aos Romanos foi responsável pela profunda renovação espiritual de Wesley. A renovação espiritual que moveu a Inglaterra, iniciou em 24 de maio de 1738, quando Wesley visitou uma comunidade cristã na rua Aldersgate. Naquela noite, estava sendo lido o Prefácio de Lutero referente a Epístola aos Romanos. Assim que Wesley se expressou em seu diário: "(...) enquanto ele estava descrevendo a mudança que Deus operava no coração pela fé em Cristo, senti meu coração aquecer-se estranhamente. Senti que confiava em Cristo, somente em Cristo, para a minha salvação. Foi me dada a certeza de que Ele tinha levado embora os meus pecados, sim, os meus. E me salvado da lei do pecado e da morte".
A definição de "graça" na Bíblia
Romanos 5.20 b: "...
onde o pecado abundou, superabundou a graça".
"Graça", no hebraico do Antigo Testamento, é “chen”. Significa curvar-se ou abaixar-se; é a aceitação e amor imerecidos da parte de um superior em valor e posição a um inferior. Atitude bondosa de Deus ou de um indivíduo em tempos de necessidade. Favor de Deus não merecido; salvação para os que merecem condenação (Romanos 3.24).
Outra palavra para "graça" encontrada no AT, mais de 250 vezes, é “hesed”. Esta palavra possui dois elementos essenciais. Primeiro: a ideia de força, lealdade, fidelidade. Segundo: a ideia de bondade, misericórdia. Ao associar estes elementos, captamos que "graça" tem a ver com "dedicação" e "verdade". É traduzida ao português como misericórdia, cujo significado é amor leal, firme e fiel, apontando ao auxílio divino.
Na definição do Novo Testamento, o termo "graça" é "charis" (grego), Significa bondade excepcional de Deus para com os seres humanos na condição de pecadores, para tornar possível o perdão e a salvação (João 1.14; Efésios 2.4-5). A palavra é usada cerca de cem vezes nas epístolas paulinas e vinte e quatro vez apenas em Romanos (1.5, 7; 3.24; 4.4, 16; 5.2, 15, 17, 18, 20, 21; 6.1, 14, 15; 11.5, 6; 12.3, 6; 15.15; 16.20, 24).
"Graça" é constantemente contrastada com a Lei, em que Deus exige justiça do homem (Tito 3.4, 5). Sob a graça, Ele concede justiça ao homem (Romanos 3.21, 22; 8,4; Filipenses 3.4).
A misericórdia imerecida está sempre disponível para aqueles pecadores que creem no Evangelho e obedecem ao Senhor (Atos 11.23; 20.32; 2 Coríntios 9.14).
Os cristãos primitivos usavam essa palavra quando se reuniam e se saudavam (Romanos 1.7; 1 Coríntios 1.3; Gálatas 1.3).
O combate de Paulo ao Antinomismo
Como pode um indivíduo ser justificado e não viver justamente? Como consegue receber amor e não amar? Como é capaz de ser abençoado e não abençoar? Como alguém que recebe a graça não vive graciosamente? Paulo refuta tal ensino e comportamento reprováveis, cuja filosofia é identificada como antinomismo ("anti": contra; "nomi": lei moral).
Antinomismo, ou Antinomianismo, é a doutrina de que, pela fé e a graça de Deus anunciadas no Evangelho, os cristãos são libertados não só da lei de Moisés, mas de todo o legalismo e padrões morais de qualquer cultura. Também, é o modo antagônico de manifestação contra a lei e a legalidade, pode tornar-se patente através da rejeição anarquística da autoridade legislativa do Estado.
O Antinomismo é um dos maiores obstáculos contra o ensino do apóstolo Paulo quanto à maravilhosa graça de Deus, pois os promotores dessa ideia veem a graça mais como um motivo para se praticar o mal, do que para fazer o bem. Tal modo de pensar, trata-se de confusão no meio cristão, pois promove a extinção de quaisquer espécies de preceitos morais em forma de lei a ser seguida; traz implicações imorais às vidas das pessoas; faz com que se qualquer cristão exigir o mínimo de um comportamento moral do outro, logo seja denominado moralista, no sentido mais depreciativo do termo.
No capítulo 5.12-21, o apóstolo descreve a libertação do crente a partir da ação salvífica originada na graça de Jesus Cristo. E no capítulo 6, versículos 1 ao 23, mostra que a graça é oferecia ao cristão, porém, este cristão precisa corresponder à realidade da nova vida em Cristo. A regeneração, cuja graça de Deus manifestou-se em sua vida, deve rejeitar o pecado e produzir fruto para a santificação e para a vida eterna (versículo 22).
A analogia entre Adão e Cristo
No capítulo 6 da carta aos crentes de Roma, o apóstolo Paulo aborda a questão da nova vida em Cristo; ensina que o crente não é mais escravo do pecado e que como nova criatura precisa viver para Deus, em obediência e santidade. Explica que o velho homem já foi crucificado com Cristo e, apesar disso, como nova criatura, o crente não alcança a perfeição, continua a ser tentado, mas desde o momento que decide viver pela fé, para Cristo, não é mais escravo do pecado, está livre pois Cristo habita nele.
Seja qual for o aprendiz consciencioso das Escrituras Sagradas, entenderá que Paulo não incentiva a vida em pecado. O apóstolo ensina sobre a universalidade dominante do pecado neste mundo, bem como o juízo e a morte; diz que ambos estão vinculados à pessoa de Adão (em quem o pecado superabundou). Paulo instrui sobre a entrada da justiça, o predomínio da graça, da justificação, retidão e da verdadeira vida, que estão ligadas a Jesus Cristo (em quem superabundou a graça).
O ser humano nascido de novo tem gerado dentro dele uma nova consciência que, mesmo quem não conheceu a Lei de Moisés, manifesta a ética e o comportamento baseado no Amor de Deus de maneira consciente e sincera (Gálatas 5.22-24). Ou seja, o Espírito Santo é quem convence este ser humano do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8-11).
Conclusão
A doutrina da maravilhosa graça de Deus nos mostra que o ser humano dominado pelo pecado só pode ser livre desse domínio pela graça divina. Pela fé, morremos para o pecado e como novas criaturas vivemos em um mundo que jaz no maligno, mas desde o momento que tomamos a decisão de viver para Cristo experimentamos a vitória da graça e seus frutos: a vida neste presente século de forma sóbria, justa e piamente (Tito 2.11, 12).
A graça de Deus é colossal. É santificadora. É transformadora. Libertadora. Ela é vida, pois destrói o reinado da morte; ela é eterna, pois faz o homem levantar-se da morte para a vida plena. Atua no crente possibilitando que tenha uma vida justa e piedosa diante de Deus e dos homens.
O favor imerecido de Deus, mediante o qual os homens são salvos por meio de Cristo, não concede licença para a prática do pecado. É capaz de livrar as pessoas do senhorio do mal. Quando cheio da graça de Deus, o crente evita a impiedade, as paixões mundanas e vive a vida sensata que o Evangelho recomenda.
E.A.G.
Compilações:
Belverede, Eliseu Antonio Gomes, O Evangelho da Graça, 5 de julho de 2015, http://goo.gl/4BeUus
Bíblia do Pescador, página 1207, 1ª edição 2014, Rio de Janeiro (CPAD).
Ensinador Cristão, ano 17, nº 66, página 38, abril a junho de 2016, Rio de Janeiro (CPAD).
Lições Bíblicas - Mestre: Salvação e Justificação - Os pilares da vida cristã, Eliezer Lira, 1º trimestre de 2006, página 33 a 40, Rio de Janeiro (CPAD).
Lições Bíblicas - Professor - Maravilhosa Graça - O evangelho de Jesus Cristo revelado na carta aos Romanos; 2º trimestre de 2016, página 35, Rio de Janeiro (CPAD).