Por João Pereira de Andrade e Silva
"Eis que você também terá de lidar com Simei, filho de Gera, filho de Benjamim, de Baurim, que me lançou uma terrível maldição no dia em que eu ia a Maanaim. Porém ele veio ao meu encontro junto ao Jordão, e eu, pelo SENHOR, lhe jurei, dizendo que não o mataria à espada" - 1 Reis 2.8 a.
A Bíblia Sagrada comenta algumas características e fatos a respeitos de muitos personagens, fala de exemplos deixados por vultos do Antigo e do Novo Testamento, que formam o panorama de épocas de um passado bastante remoto para nós. Lemos: "Pois tudo o que no passado foi escrito, para o nosso ensino foi escrito..." (Romanos 15.4 a). Abordaremos um personagem cujo procedimento não é aconselhável tê-lo como inspiração. Apesar disso, não deixa de apresentar lições para nossa vida espiritual, principalmente para aqueles que desejam servir ao Senhor "guardando o mistério da fé em pura consciência".
Vamos falar sobre alguns aspectos da vida de Simei, filho de Gera, de Baurim - o homem que amaldiçoou Davi, o grande rei de Israel. Simei era filho de Benjamim. Portanto, um israelita. Não possuímos informação se era, ou não, da família de Saul. Pelo modo de agir, temos a impressão de que era um saudosista, pois ao amaldiçoar Davi, disse-lhe: "O SENHOR Deus o está castigando por todo o sangue derramado na casa de Saul, cujo reino você usurpou. O SENHOR já entregou o reino nas mãos de seu filho Absalão. Agora você caiu em desgraça, porque é um assassino!" (2 Samuel 16.8).
Como muitas pessoas em nossos dias, Simei não tinha visão ou revelações espirituais. Não aceitava e nem se incomodava com a direção de Deus, pois se atentasse para essas coisas, saberia, como o general Abner, e outros, que o Senhor havia escolhido e ungido Davi para que reinasse sobre Israel. Davi não era um usurpador, mas um homem chamado e constituído por Deus. Apesar disso, para homens carnais, ambiciosos e politiqueiros, essa questão de direção, revelação de Deus, não significam nada. Os "Simeis" não atentam ao fato de que na Obra de Deus, devem prevalecer a direção e revelação do Senhor.
Muitos vivem a procura de "um lugar a direita, ou a esquerda". Não importa, desde que tenham posição. E para consegui-la "amaldiçoam" companheiros, negando-lhes as qualidades espirituais que os capacitam. São como Simei, não reconhecem a unção nem a direção de Deus.
Simei foi injusto, cometendo grande erro ao chamar Davi de "homem de sangue", porque Saul foi muito mais sanguinário do que Davi. Senão, vejamos os fato:
• quando Saul fora avisado pelo seu criado Doegue (edomeu) do que o sacerdote Aimeleque havia dado a Davi e aos seus homens, os pa~es da proposição e a espada que pertencera a Golias, o gigante, isto foi o suficiente para que Saul fosse interpelar o sacerdote e ordenasse a morte de oitenta e cinco homens, que ministravam perante o Senhor (1 Samuel 22.17-19).
Sem motivo que justificasse vingança tão ignominiosa, Saul ordenou uma grande chacina, pois além dos oitenta e cinco homens ungidos, sacrificou todos os habitantes de uma cidade, incluindo as criancinhas que ainda era nutridas apenas com leite materno. Então o saudosista Simei não tinha razão para dar a Davi o qualificativo de "homem de sangue". Realmente, Davi havia derramado sangue. Mas não o sangue inocente. Porém, em "guerras do Senhor", para defesa e consolidação territorial do seu povo em lutas sérias e leais.
Há, todavia, outros ângulos a considerar. "Os criados de Saul", que eram israelitas, não quiseram estender suas mãos contra os sacerdotes. Respeitaram a unção que havia sobre eles. O Doegue, entretanto, que era edomeu, descendente de Esaú, alheio às promessas de Deus, arremeteu contra os sacerdotes e os matou.
Que Deus tenha misericórdia, que jamais haja em nós atitudes parecida com a de Doegue, homem que não possui temos de Deus, gente entranha à doutrina e princípios que norteiam a vida e "modus operandi" da Igreja e do ministério eclesiástico. Esses são sempre dispostos a usar a calúnia ou pressupostos discutíveis, contra "sacerdotes" ungidos do Senhor.
Doegues, não se esqueçam de que Deus cuida da sua Obra.
Enquanto o rei Davi estava firme no trono, e a Nação experimentava período de paz, o Simei não se manifestou. Quem sabe até visitava a corte, dando suas opiniões. Mas, bastou que Davi sofresse o impacto da revolução do filho Absalçao, que o obrigou a deixar o governo, para que Simei aparecesse, exteriorizando todo o fel do seu sentimento, do fingimento e da deslealdade. Não passou diretamente para o lado dos revoltosos, mas achava que os revoltosos tinham razão. Como muitos fazem em nossos dias, não entrou na linha de frente da batalha e nem se quer quis lutar, porém, deu apoio indireto para Absalão, como se Davi fosse um mal administrador, conivente com pecados, e outras coisas mais.
Simei cometeu muitos erros. Ele se enganou quando disse que Deus havia dado o reino para Absalão naquele ocasião e nem posteriormente. Deus não dá posto de liderança para rebeldes. Estes sempre tentam tomar os "reinos" usando estratégias malignas e subterfúgios vergonhosos e terminam fracassados em suas tentativas desleais.
Sabemos que após a derrota de Absalão, Simei foi dos primeiros a ir ao encontro de Davi, quando este voltara ao trono em Jerusalém. Pediu perdão, confessou o pecado, prometeu lealdade e até conseguiu que Davi o perdoasse e lhe poupasse a vida.
Passaram-se os anos, e antes de morrer Davi o "recomendou" a Salomão, seu filho sucessor. O novo monarca era homem sábio e prudente. Tratou dos casos de Adonias e Joabe, e quanto Abiatar, seguidor de Adomias, Salomão o mandou para Ananote, "para os seus campos". Chamou também a Simei, recomendando que viesse residir em Jerusalém e que não saísse da cidade. Simei, muito cordato e "humilde" aceitou e até considerou ser boa aquela palavra. Porém, se esqueceu da recomendação do rei, e saiu para buscar seus servos. Foi o último dos seus erros, pois este lhe custou a vida.
Assim acontece com todos que não andam em sinceridade; que usam de engano; que não "respeitam as dignidades alheias", que falam coisas perversas; que não temem a Deus e nem a sua Palavra.
Fonte: Mensageiro da Paz, ano 46, número 3, ano 1976, Rio de Janeiro - RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus).
Texto usado com adaptação ao blog Belverede.
Texto usado com adaptação ao blog Belverede.