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quarta-feira, 11 de maio de 2022

O tentador no Éden

Romanos 16.20: "E o Deus de paz, em breve, esmagará Satanás debaixo dos pés de vocês".
Sou propenso a aceitar a ideia de alguns intérpretes da Bíblia, que explicam o seguinte: A serpente do Éden falava naturalmente, e Satanás usou a capacidade que o Criador deu ao animal para induzir Eva ao erro. 

Caso não falasse, a mulher teria dificuldades para aceitar a conversa. Por surpresa, por espanto, por perceber algo fora do normal. E o inimigo está usando o mesmo método hoje em dia... Suas induções ao pecado surgem das sugestões e confusões bíblicas trazidas por fontes que não estranhamos que falem conosco.

Artigo sobre o casal criado por Deus no Éden ► Eva: o primeiro ser humano feminino na face da Terra

terça-feira, 26 de abril de 2022

Calma no período de adversidade

Muitas vezes, vivenciamos na vida cristã momentos de provações, perdas, e ficamos desesperados.  Esperamos alegria, mas surge a tristeza. Tais situações acontecem porque Deus trabalha em nossos corações endurecidos usando o descontentamento para não nos afastemos dEle. 

Buscamos o amor de Deus num amigo, e talvez esse amor apareça em um inimigo. Os nossos olhos procuram o calor e a luz do sol, mas dia após dia o céu está nublado e o vento gelado nos faz tremer de frio. Desejamos ter contato com o

terça-feira, 22 de março de 2022

Vai ter com as forminhas


"Observa a formiga, ó preguiçoso, reflete sobre o trabalho que ela realiza e sê sábio! Mesmo não tendo um chefe, nem supervisor, nem comandante, armazena suas provisões no verão, e na época da colheita ajunta seu alimento, o preguiçoso, até quando ficarás deitado? Quando te levantarás da tua sonolência? Tirando uma pestana, cochilando um pouco, cruzando os braços para descansar, tua iminente pobreza te aterrorizará, e tua necessidade te assaltará como um ladrão armado" - Provérbios 6.6-11.

O comportamento de um homem preguiçoso é vergonhoso aos olhos de Deus e das pessoas em sua volta. É preciso imitar a disposição da formiga, ser frugal e diligente.

quinta-feira, 10 de março de 2022

O que são os Cânticos dos Degraus? E Salmos de Romagem?

Modelo do canto sudoeste do Monte do Templo,
 baseado em pinturas de L. Rotmeier.
[Exposição: Museu Torre de Davi]
Você já ouviu falar nos "Cânticos dos Degraus" ou "Salmos da Romagem"? Eles são os Salmos que formam uma coleção de 15 cânticos de peregrinação, que são os Salmos 120 a 135. Pode-se dizer que eles formam um tipo de pequena saltério, pois eles são, conforme a tradição judaica, divididos em cinco grupos de três Salmos cada.

Até hoje não se sabe com precisão a origem da designação "Cânticos dos Degraus", isto é, do uso da expressão "degraus" no título dado a esse conjunto de Salmos. Muitas teorias têm sido propostas para esclarecer essa questão. Há quem diga que seja uma referência ao retorno do exílio babilônico, quando os judeus subiram do cativeiro. Por outro lado tradições antigas ligam esses 15 Salmos aos 15 degraus que

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Quem pode encontrar uma mulher virtuosa?

Em Provérbios 31, encontramos uma pergunta bastante conhecida entre os cristãos: "Mulher virtuosa, quem a achará?" (versículo 10). Ao folhear as páginas das Escrituras, constatamos que Rute, a trisavó de Salomão, era uma mulher de valor, esposa virtuosa.  

Há muitas qualidades que poderíamos tentar associar a Rute para descobrir porque é que ela é elogiada como uma mulher de valor. Era corajosa, fiel, generosa e sábia; temia o Senhor e criou os seus filhos e netos para serem tementes a Deus também; Rute permaneceu fiel por toda sua vida. Mesmo quando a situação era inconveniente e as circunstâncias estavam contrárias, encontrou maneiras de anunciar a Palavra de Deus aos membros da sua família.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Arqueólogos encontram construções da época de Gideão

A Autoridade de Antiguidade de Israel (IAA) e a Fundação do Muro Ocidental anunciaram em 8 de julho que em breve será aberta ao público uma nova rota de túneis sob o Muro de Jerusalém, expondo assim, um dos "mais magníficos edifícios descobertos desde o período do Segundo Templo".

domingo, 14 de novembro de 2021

Jeremias 17.1 - os pecados gravados no coração

"O pecado de Judá está escrito com um ponteiro de ferro e com ponta de diamante, gravado na tábua do seu coração e nas pontas dos seus altares." - Jeremias 17.1.

A metáfora de Jeremias aborda a arte da xilogravura. Usando um ponteiro, o artesão desenha e escreve sobre o madeiramento, e assim cria marcas profundas e irreversíveis. Esta cena fala sobre o comportamento resistente e pecaminoso dos hebreus. A figura de tábuas de folhas vermelhas dentro do coração estampam atos de rebeldia nos altares idólatras e no coração de cada pecador impenitente.

sexta-feira, 30 de abril de 2021

Provérbios 1.20-22: A sabedoria clama e grita nas praças. Albert Einsten e o pedreiro Zé Ninguém

O Livro de Provérbios tem em seu capítulo primeiro esta observação importante:

"A sabedoria clama lá fora; pelas ruas levanta a sua voz. Nas esquinas movimentadas ela brada; nas entradas das portas e nas cidades profere as suas palavras. Até quando, ó simples, amareis a simplicidade? E vós escarnecedores, desejareis o escárnio? E vós insensatos, odiareis o conhecimento?" (1.20-22 - NAA).

Ao me converter a Jesus Cristo em minha mocidade, e conhecer o texto bíblico supracitado interpretava-o entendendo que se tratava apenas do ângulo espiritual, até ter contato com alguém que expandiu minha compreensão. A pessoa explicou algo que carrego ao longo dos anos, mais ou menos assim: o pedreiro não sabe qual a consequência de dividir o átomo e o físico nuclear não é capaz de levantar uma parede de alvenaria perfeitamente aprumada.

O resultado pode não ser dos melhores se o cientista, sem nenhuma instrução anterior, quiser misturar cal, cimento, pedras e areia e construir uma casa; assim como o pedreiro, provavelmente, fracassará se tentar se aventurar como professor de física e tentar explicar a fórmula E=mc2 sem se preparar intelectualmente, antes.

Através desta passagem bíblica, acrescida de interpretação, fiquei mais ciente que preciso dos saberes do mecânico de autos, do técnico em informática, da costureira, do confeiteiro, do contador, do economista. Cada qual em sua área tem a bênção de Deus para desenvolver e apresentar algo de bom para a sociedade. Se buscamos cada especialista da área em que precisamos de alguma ajuda, seremos abençoados por Deus.

Trago este ensino bíblico para cá, dizendo que valorizo os especialistas de cada área. Não desprezo o conhecimento acadêmico e nem o conhecimento adquirido pela a experiência de vida. Tudo conta para mim, a sabedoria em suas múltiplas formas é preciosa para mim.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

A Teologia de Eliú - o sofrimento é uma correção divina?

Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

O nome Eliú é hebraico e significa "Ele é Deus" ou "Ele é o meu Deus". Era o mais jovem dos amigos de Jó (32.2-6;  32.2-6; 35; e 36). 

Eliú surge no livro de modo inesperado, quando parecia que o debate teria um desfecho (32.15). Ele não é mencionado além desta aparição, nem sequer quando Deus pronuncia seu veredito sobre Elifaz e seus amigos (42.7). Tal situação leva alguns a pensarem que o conteúdo seria um adendo inserido no livro pelo autor, com o propósito de acrescentar algumas coisas à série de discussões.

A longa intervenção de Eliú interrompe a continuidade do poema. O desafio lançado por Jó (31.35-37) aguardava a resposta de Deus, que só é vista no capítulo 38. Eliú argumenta dizendo que Jó tentava justificar-se aos olhos de Deus. Ao fazer isso, Eliú demonstrou pensar que estava acima de todos os demais naquele debate teológico.

I - O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS

1. Deus é soberano

Por que Deus é soberano? Porque Ele é um ser onipotente, onisciente e onipresente.

Em sua onipotência, Deus faz tudo o que lhe apraz sem que suas ações ocorram em contrário à sua natureza justa e bondosa. Tal característica está registrada nas Escrituras Sagradas. Encontramos as expressões do seu poder infinito nas seguintes referências: Gênesis 1.1; Jó 26.14; Salmos 62.11; 89.8-13; Jeremias 10.12-13; Mateus 19.26;  Romanos 4.27; 8.31.

A onisciência de Deus, admirável atributo exclusivo da sua divindade, abrange todas as coisas. Engloba o passado, o presente e o futuro. Ele tudo sabe, contudo não interfere sobre a liberdade de escolhas do ser humano. A onisciência divina é claramente afirmada pelas Escrituras: Jó 34.21-22; Salmos 139.1-4, 12; e 147.5; Atos 15.18; Hebreus 4.13.

Por meio de sua onisciência, Deus é capaz de manifestar sua presença em todos os locais ao mesmo tempo. Não há outro ser capaz de estar presente simultaneamente em todos os lugares. O centro de Deus está em todo o espaço e nele não há circunferência limitadora. Através da onisciência, Deus manifesta sua justiça, bondade e sabedoria. Salmos 139.7-10; Provérbios 15.3; Amós 9.2-3; Atos 17.28; Efésios 1.23.

Como soberano, Deus pode se revelar e falar por meio do sofrimento. Ainda que Deus seja soberano no que diz respeito a tudo, o ser humano é responsável pelos seus próprios atos. Em sua soberania, Deus pode manifestar-se em períodos de grande aflição de espírito, padecimento físico, dificuldades diversas. Junto com a prova o Senhor fornece a estrutura para suportar a adversidade e meios de escapes, pois ama os aflitos e não sente alegria alguma ao presenciar pessoas sofrendo. Ver 1 Corintios 10.13.

2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus

O orgulho humano é um obstáculo que dificulta ouvir a Deus. Quando uma pessoa fica cheia de si mesma, está muito próximo de seu tombo. Não é em vão o alerta em Provérbios 16.18: "Antes da ruína vem a soberba, e o espírito orgulhoso precede a queda". A caída pode ser literal ou apenas figurativa. Perder ou diminuir prestígio, experimentar a decadência financeira e a cessação de influência em grupo podem ser tristezas pequenas se fizermos a comparação com a queda espiritual. "Aquele que pensa estar em pé veja que não caia" (1 Coríntios 10.12). 

Todo aquele que acredita que é possível viver muito bem sem ouvir a Deus está fadado ao fracasso. Exemplos não faltam. Tal atitude de arrogância provocou a Queda no Éden, fez Sara e Abraão tentarem contornar o problema da infertilidade com a presença de Agar. Etc. O orgulho nos torna cegos e surdos espirituais. Somos chamados a viver em humildade, a manter a confiança em Deus e a crer que Ele cumpri todas as promessas que empenha (Provérbios 3.5-6).

3. Uma ponderação importante

A oração é a melhor opção para vencer as provações, pois é a maneira de o espírito humano conectar-se ao Espírito Santo de Deus. Ao orar, consentimos com Deus nas suas realizações, colocamos a nossa fé em ação e atacamos o maligno.

Na Bíblia Sagrada, a oração é descrita como:

Invocar o nome do Senhor (Gênesis 4.26);

Invocar a Deus (Salmo 17.6);

Levantar a alma ao Senhor (Salmo 25.1)

Buscar ao Senhor (Isaías 55.6);

Aproximar-se do trono da graça (Hebreus 4.16);

Chegar perto de Deus (10.22).

Em momentos de aflição, muitas vezes Davi orou pedindo livramento; em profunda agonia, Jesus orou intensamente no Monte das Oliveiras (Salmos  119.153; Lucas 22.44).

II - O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR  A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS

1. A justiça de Deus demonstrada

Em sua soberania, Deus não exerce justiça desprovida de amor. Ele é justo e também misericordioso. O amor do Senhor é a base do plano divino para salvar o homem do pecado.

O Pai Eterno não é um carregador de malas, dizem alguns teólogos. É verdade. Mas qual pai amoroso, ou mãe afetuosa, permite que seus filhos arrastem bagagens pesadas, os vê cansados pedindo socorro e tapa seus ouvidos? É verdade que o  Pai Eterno não é o gênio da lâmpada de Aladim. Mas também é verdade que Isaías o descreve como um Deus cujas mãos estão estendidas para nos socorrer, um Deus cujos ouvidos estão atentos para as nossas orações. O profeta nos alerta que a vida em iniquidade e pecado impede o agir bondoso de Deus em favor do ser humano (Isaías 59.1-2).

2. O caráter justo e Deus

Deus não tem prazer no sofrimento, usa-o como meio para salvar o pecador. Os momentos de dificuldades são ocasiões de desenvolvimento das capacidades intelectuais, morais e espirituais. Ao sofrer a pessoa que está no pecado desperta de sua letargia espiritual, em meio à tormenta consegue perceber o valor da adoração e vida em comunhão com o Criador.

"Vocês pensam que eu tenho prazer na morte do ímpio? - diz o Senhor Deus. Não desejo eu muito mais que ele se converta dos seus caminhos e viva? (...) Livrem-se de todas as transgressões que vocês cometeram e façam para vocês um coração novo e um espírito novo. Por que vocês haveriam de morrer, ó casa de Israel? Eu não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Portanto, convertam-se e vivam." (Ezequiel 18.23, 31-32).

"O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento" - 2 Pedro 3.9).

3. A defesa da soberania de Deus

A soberania de Deus faz parte dos seus atributos absolutos, ou seja, pertence somente a Ele. "Pois o Senhor, o Deus de vocês, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não trata as pessoas com parcialidade, nem aceita suborno" (Deuteronômio 10.17).

Eliú enfatiza em seu discurso que é a criatura que depende do Criador e não o contrário (Jó 34.13-15). É um fato incontestável que o Senhor é maior do que o homem e não precisa dar contas de seus atos, porém, em sua superioridade quer dar-se a conhecer pelo homem. O Soberano tem enorme satisfação em que seus servos o conheçam que rejeitar tal conhecimento é o mesmo que rejeitá-lo (Isaías 1.2-3). Ele revelou-se no Éden, através da encarnação de Jesus, se revela continuamente por meio da criação, por intermédio das Escrituras Sagradas, e, diariamente, está pronto para revelar-se a todos nós executando a sua bondade. 

Não é sem um bom propósito que está escrito: "Agrade-se do Senhor, e ele satisfará os desejos do seu coração" (Salmo 37.5). Deus não se cansa de manifestar sua providência aos que nEle confiam.

III - O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS

1. O caráter pedagógico do sofrimento

O sofrimento serve como meio de abater o orgulho. Dependendo da maneira como é visto, produz gente consagrada ao Senhor ou ateus. Entender que o sofrimento pode ser usado por Deus como efeito pedagógico para a vida muda completamente a nossa perspectiva de fé. Assim como Jó, as pessoas tementes a Deus procuram saber a razão pela qual sofrem, enquanto os incrédulos não aceitam que um Deus justo e soberano permita o padecimento humano. 

Em seu discurso, Eliú fala sobre o caráter pedagógico que há no sofrimento (Jó 36.15, 19). Afirma que a prova é um chamado que Deus dirige ao pecador com a finalidade de livrá-lo da morte (33.29-30). Tal abordagem também é feita por Elifaz (5.17-27) e Zofar (11.13-19).

2. Adorando a Deus na tormenta

Jó foi moído pela dor, o que não significa que a soberania de Deus sobre sua vida foi um ato de tirania. É importante ter em mente que o sofrimento não significa que Deus nos abandona. É possível experimentar grandes provações agradando a Deus. Tudo passa nesta vida abaixo do sol, inclusive o tempo de sofrimento (Eclesiastes 3.2).

Jesus Cristo incentiva os cristãos a pedirem a Deus o livramento do mal (Lucas 11.4). Contudo, em tempos difíceis é importante agir como o profeta Habacuque (3.17-19). O triunfo da fé é revelado quando manifestamos a confiança de que Deus nos ama apesar de todas as circunstâncias. Jó é o maior exemplo bíblico sobre isso no Antigo Testamento e Jesus Cristo na Nova Aliança (Mateus 26.39).

CONCLUSÃO

Toda pessoa que vive a fé cristã genuína compartilha a experiência de Jó, pois o sofrimento é uma consequência da atual condição humana. Através do sofrimento o cristão fiel amadurece. Ninguém sai a mesma pessoa depois que experimenta momentos difíceis e ao orar encontra as respostas do Senhor. Quem verdadeiramente conhece a Deus como Pai, sabe que não é uma atitude de desrespeito clamar por ajuda em tempo de crises (Jeremias 33.3). 

 E.A.G.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

O Sopro de Vida

Por Eliseu Antonio Gomes

Que tipo de Deus você acredita? Existe no mundo três espécies de relacionamento com Deus: o teísmo, o ateísmo e o panteísmo.

O teísta, sem dificuldade alguma, diz: "Deus fez tudo". É a pessoa que crê no Deus pessoal, que é o Criador do Universo, mas não é parte do Universo. As principais religiões teístas são o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.

O ateu é alguém que diz: "Não há Deus". Ele não acredita em nenhum tipo de Deus. Os humanistas pertencem a essa turma.

A pessoa panteísta diz: "Deus é tudo". Eles creem num Deus impessoal, que é o Universo. Afirmam que Deus é a árvore e o fruto, o alimento e o excremento, a fera predadora e o animal perseguido como caça; o fogo e a água, sou eu e é você etc. Neste grupo, estão os adeptos da Nova Era, budistas e hinduístas.

O apologista Norman Geisler, em coautoria com Frank Terek, no livro Não Tenho Fé para Ser Ateu (Editora Vida), fez uma analogia interessante sobre a origem do Universo. Deus é o pintor, e sua criação é a pintura. O artista fez a arte, e seus atributos estão minunciosamente detalhados em sua obra de arte.

Assim, o crente reconhece que o pintor fez a obra de arte; o panteísta, em vez de acreditar que o pintor fez a pintura, acredita que o pintor é a pintura; e, os ateus são categóricos em afirmar que não há nada além do mundo físico, não há pintor responsável pela pintura e mesmo assim a pintura sempre existiu sem que ninguém a tenha criado.

No Antigo Testamento encontramos o vocábulo hebraico "ruach", cuja equivalência em português é “espírito”. Significa, vento, sendo que em muitas passagens o termo define o sopro.

Nos dois primeiros capítulos do Livro de Gênesis, temos o relato da criação. Depois que o Criador traz à existência todo o Universo através do poder da sua palavra, faz Adão, porém, Adão só é descrito como ser vivente quando Deus sopra o fôlego de vida em suas narinas. A partir deste instante, Adão passa a andar segundo a orientação divina. Tempos depois, Adão troca a orientação do seu Criador pela iniciativa humana, própria.

A vontade humana está descrita pelo apóstolo Paulo como "obra da carne": "Ora, as obras da carne são conhecidas e são: imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias, inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras, orgias e coisas semelhantes a estas. Declaro a vocês, como antes já os preveni, que os que praticam tais coisas não herdarão o Reino de Deus" - Gálatas 5.16-23.

Ainda hoje temos diante de nós o Criador. Ele sopra vida, mas há em nosso íntimo a iniciativa pessoal. Fazemos a seguinte escolha: nos guiamos pela vontade do alto ou vivemos conforme a vontade pessoal.

Viver de acordo com o sopro vivificante é o mesmo que andar no Espírito: "Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.  Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros" - Gálatas 5.22-25.

Tal qual um trompete, ilustração usada neste singelo artigo, somos nós: nas mãos do instrumentista profissional, tal instrumento de sopro pode apresentar melodias em uma excelente orquestra. Sem o Instrumentista, vivemos apenas como uma peça esquecida dentro da maleta ou encostada em algum canto escuro de um lugar qualquer.

Adão, o Primeiro Homem

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Adão, o Primeiro Homem

Eliseu Antonio Gomes

O livro de Gênesis, escrito por Moisés, mostra como surgiu o mundo e tudo que ele contém, com a finalidade de explicar o desejo do Criador de ter um povo separado para adorá-lo. Aborda a origem do mundo, humanidade, pecado, a nação de Israel, a soberania e fidelidade de Deus; fala sobre a obediência que tem como consequência muitas bênçãos.

Nesta postagem, apresentamos reflexões focadas somente no tema a criação do homem, ocorrida pela manipulação das mãos de Deus, após Ele ter criado o Universo pela autoridade expressada em sua voz. Tais narrativas são encontradas em Gênesis, no primeiro capítulo até o versículo 25 do capítulo 2.

O Conselho divino para a criação do homem.

"E Deus disse: 'Façamos o ser humano à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os animais que rastejam pela terra' " - Gênesis 1.26.

Neste acordo divino, encontramos a primeira indicação clara da triunidade de Deus, a segunda menção está em 3.22 e a terceira em 11.27. O vocabulário humano é incapaz de descrever Deus com exatidão. Deus é uma entidade singular (Isaías 45.5-6) e ao mesmo tempo plural (Isaías 6.8). A palavra hebraica para "Deus" ("Elohim", no primeiro versículo de Gênesis) é um substantivo cuja raiz no singular é "El". Este pronome indica o conceito de excelência e majestade divinas, o texto é a revelação inicial que destaca as três pessoas da Divindade: Pai, Filho e Espírito Santo.

A criação do primeiro homem.

"Então o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente" - Gênesis 2.7.

O sopro do Espírito de Deus tornou Adão uma criatura viva (Jó 33.4). O ser humano foi criado à imagem e semelhança de Deus (Tiago 3.9). No sentido moral, Adão era bom e sem pecado; no ponto de vista da vida racional, era parecido com seu Criador no aspecto de usar a inteligência, vontade e expressar sentimentos.

São usadas muitas palavras para relatar a criação do ser humano, quase todas são relativas ao trabalho de um artesão formando uma obra de arte à qual ele dá vida (1 Coríntios 15.45). Criado a partir do barro, o valor do ser humano não é encontrado nos componentes físicos que formam o seu corpo, mas na qualidade de vida que constituem a sua alma.

Adão foi formado como a coroa da Criação do Altíssimo, feito para governar o restante da criação. Ao atender ao mandamento de dominar e sujeitar toda a criação, o homem determinou de uma vez por todas seu relacionamento próprio e único com tudo que existe no Universo.
O sopro do Espírito de Deus tornou Adão uma criatura viva (Jó 33.4).
Adão corrompeu-se, caiu em pecado. Mas o Criador jamais desistiu da Humanidade e providenciou-lhe a salvação. O apóstolo Paulo revela que fomos criados conforme à semelhança do Filho, com o objetivo de o Filho ser o primogênito entre os muitos filhos do Pai celeste (Romanos 8.29); o pecado muda a aparência original do ser humano, mas a conversão ao senhorio de Cristo faz com que a pessoa convertida volte a ser semelhante ao seu Criador (Colossenses 3.10).

O lugar do homem na criação divina.

"Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, para que dele te lembres? E o filho do homem, para que o visites?" - Salmos 8.3-4.

Embora possamos qualificar, sem nenhum problema, o Salmo 8 como um salmo da criação, seus nove versículos fazem muito mais do que abrirem caminho para a reflexão sobre a criação. O primeiro e o último versículos deste Salmo sugerem que Davi o escreveu com o objetivo essencial de compor um hino de louvor, pois o início e o fim têm brados de glorificações ao Criador.

É importante notar que, na abertura e fechamento deste Salmo, as traduções bíblicas trazem duas vezes o vocábulo "senhor", sendo a primeira em letras maiúsculas e a segunda apresentado em fonte maiúscula apenas a primeira letra. Os dois nomes são usados para tratamento direto a Deus, porém, de maneiras distintas. A primeira vez (SENHOR) é relativo ao seu nome, que é Jeová (Êxodo 3.14); a segunda (Senhor), é Adonai, uma referência à sua pessoa entre o seu povo e a todos os seus atributos.

Alguém poderia pensar que existe contradições entre Gênesis 1.1 (que nos informa que Deus disse e tudo se fez) com o Salmo 8.3 (que nos informa que o Criador usou seus dedos em sua ação criadora). Porém, o texto de Gênesis não está em choque com este Salmo. As duas narrativas são figuradas, mostram o ato criador do Todo-Poderoso por ângulos diferentes mas com o mesmo propósito e desfecho. Gênesis alude ao poder de trazer a existência coisas a partir do nada; no Salmo 8 temos a comparação entre o tamanho do Senhor e a pequenez humana. Deus é Espírito, não possui corpo. Os escritores das Escrituras Sagradas, inspirados pelo Espírito Santo, recorreram à anatomia do ser humano em seus escritos visando facilitar a compreensão limitada da mente humana.

Os versículos 5 a 8 deste Salmo, subentendidamente, ratificam o relato de Gênesis. Entendemos que o salmista tem pleno entendimento que a Humanidade foi criada à imagem e semelhança do seu Criador, para, entre outros objetivos, exercitar domínio sobre o restante da criação (Gênesis 1.26-28).

Mas, além disso, este louvor abre caminho para a reflexão da criação de Adão, o primeiro homem e o último Adão, Jesus Cristo. Davi usa o recurso da linguagem antropomórfica e revela que o Universo inteiro é pequenino diante do Criador, que usou apenas os seus dedos para criar os céus (mais do que um), a lua e as estrelas. A mensagem aponta para a indescritível grandeza do Criador e faz comparação dessa dimensão extraordinária com a insignificância, transitoriedade e fragilidade do ser humano. E nos faz entender que, ainda assim, o Criador se importa com o bem-estar de todos, cuida daqueles que possuem a consciência de dependência da misericórdia divina e quer salvar a pessoa insensata, que dá margem para o sentimento de autossuficiência.

A encarnação de Cristo é a prova do amor de Deus e de sua consideração pela humanidade, Cristo foi enviado na forma de gente como a gente, obedeceu a Deus até a morte e em consequência disso Deus o exaltou de modo inigualável (Filipenses 2.8-9). Deus deu ao Salvador autoridade, assim, dentro da Trindade, "todas as coisas estão sujeitas a Cristo", Ele está exaltado sobre todas as coisas, incluindo a igreja, todas as coisas foram colocadas sobre os seus pés (1 Coríntios 15.27-28; Efésios 1.22; Hebreus 2.5-10).

E, Cristo, com todo este poder, está sempre disposto a estar presente na vida de todos nós. Jesus diz aos mortais: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo" - Apocalipse 3.20.

O homem é filho de Deus

"Ora, Jesus tinha cerca de trinta anos quando começou o seu ministério. Era, conforme se pensava, filho de José, filho de Eli (...), filho de Enos, filho de Sete, filho de Adão, filho de Deus" - Lucas 3.1,38.

O Evangelho de Cristo, escrito por Lucas, apresenta a lista dos antepassados de Jesus, remontando até Adão. Desse modo, destaca que Jesus se solidarizou com a raça humana em perspectiva universal. Quando o Novo Testamento utiliza o termo "Filho do Homem", referindo-se a Jesus, remete ao aramaico contido em Daniel 7.13, esta expressão tem implicações messiânicas, alude às profecias escatológicas.

Deus ama o ser humano

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" - João 3.16.

O evangelista João ressalta enfaticamente o valor de crer em Jesus Cristo. Ele esclarece que "crer" é a resposta do ser humano à missão salvadora de Deus por meio de Jesus Cristo, o Filho unigênito. É uma resposta com a mente, o coração, com toda a vida. Todo aquele que responde ao amor de Deus crendo, recebe a vida eterna. João 1.12; 3.14-16; 6.40; 11.25-26; 30.31.

Jesus, verdadeiro homem

"Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade, Cristo Jesus" - 1 Timóteo 2.5.

Deus, através da concepção de Jesus de Nazaré no ventre de Maria, por meio de sua vida sem pecado, da morte em julgamento injusto e através da ressurreição ao terceiro dia, manifestou sua vontade de salvar a humanidade. Cristo é eficaz como Salvador, manifestou sua missão redentora por feitos e palavras.

"Antes de tudo" (1 Timóteo 2.1). Isto é, nossa prioridade como salvos por meio de Cristo, é buscar a Deus realizando orações e ações de graças, pois a intercessão e a gratidão promovem reflexos em nível universal. A igreja necessita de um ambiente que permita a ela levar uma vida tranquila e pacífica, que só é possível vivenciar havendo um bom governo e a devida participação de todos na vida civil. Com este entendimento, Paulo instrui os crentes a buscar em Deus disposição e sabedoria para agirem de modo correto em relação às autoridades constituídas: Romanos 13.1-7; 2 Timóteo 2.1-4; Tito 2.12; e 3.1.

"Há um só Deus", é uma frase  que tem por base Deuteronômio 6.4, também usada por Jesus (registro em Marcos 12.29) e pelo apóstolo em outra carta (Romanos 3.30). Deus é único, no aspecto de unidade, não é um ser dividido em seu modo de ser e agir. Não existe outro igual, esta característica requer de nós dedicação e amor exclusivos ao Senhor.

"Um só Mediador". Além de Paulo, o escritor de Aos Hebreus apresenta Cristo exercendo o ministério da mediação entre Deus e os homens. Descreve tal nobre tarefa  como a "mais excelente" das tarefas, "de superior aliança", "com base em superiores promessas" (8.6); "a fim de que os que foram chamados recebam a promessa da herança eterna" (9.15).

Conclusão

Em Gênesis, além do relato da criação do mundo físico, os relatos de como Adão e Eva vieram a existir, o surgimento do pecado através desobediência, também temos a narrativa do surgimento do povo de Deus, por meio do qual o Criador introduziu o plano da redenção entre nós. Diante das ações de Deus em Cristo, o único Mediador capaz de favorecer toda humanidade, o crente deve permanecer disposto e pronto para cumprir sua responsabilidade no âmbito espiritual, que é anunciar e ensinar a verdade das Boas Novas de salvação a todos que puder alcançar.

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E.A.G.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Raquel, a esposa muito amada de Jacó

Por Eliseu Antonio Gomes

Raquel em hebraico significa "ovelha", cuja conotação é pacificadora e mansa. Ela era filha caçula de Labão, irmã de Lia e sobrinha de Rebeca. Mulher de grande beleza (Gênesis 29.17). Casou-se com Jacó; foi sua esposa favorita. Sua história está registrada no livro de Gênesis, dos capítulos 29.1 a 35.29.

O primeiro encontro dela com Jacó aconteceu quando ele se encaminhava à Padã-Arã, por orientação de Isaque, seu pai, para conhecer uma mulher que fosse sua esposa de entre os parentes de sua mãe (28.1-2). Na ocasião, ela conduzia o rebanho para beber água e ele a ajudou abrindo a tampa do poço e saciando a sede dos animais, e depois beijou-a, foi amor à primeira vista (29.2-10-11).

Jacó  ficou na casa de seu tio Labão um mês inteiro. Aí o tio lhe disse que não era correto ele trabalhar de graça, só porque era seu parente, e perguntou quanto ele queria ganhar. Como Jacó estava apaixonado por Raquel, não perdeu tempo, pediu a mão da moça em casamento a Labão. Ambos entraram em um acordo pitoresco, Jacó sugeriu trabalhar cuidado do rebanho de Labão por sete anos, para só depois desse tempo ter a permissão dele para casar-se com ela. E Labão aceitou a proposta, dizendo que preferia ver sua filha casada com ele do que com um estranho. O amor de Jacó por Raquel era realmente admirável, pois considerou esse tempo como se fosse poucos dias pelo muito que a amava (29.20).

Assim, Jacó trabalhou sete anos com o objetivo de casar-se com Raquel. Quando passou o tempo combinado, Labão agiu desonestamente com Jacó. Deu uma festa de casamento e convidou toda a gente da região. Mas naquela noite Labão pegou Lia e a entregou a Jacó, e ele teve relações com ela. Só na manhã seguinte foi que Jacó percebeu que havia dormido com Lia, que Labão não havia cumprido com a palavra empenhada. Tentando justificar-se, disse-lhe não era costume em sua terra dar primeiro a mão da filha caçula em casamento antes da filha mais velha. Talvez, tenha feito isso, para que Jacó continuasse cuidado de suas ovelhas. E Jacó aceitou aquele sacrifício. Quando terminou a semana de festas do casamento de Lia, Labão permitiu que Jacó se casasse com Raquel. Jacó relacionou-se intimamente com ela; e ele amava Raquel muito mais do que amava Lia. E ficou trabalhando para Labão, conforme havia dito que ficaria (29.15-26).

Duas irmãs casadas com o mesmo marido - isso não pode dar certo... Ainda mais quando o amor não é dividido de forma igual. Só mais adiante foi que se proibiu o casamento com duas irmãs durante a vida de ambas (Levíticos 18.18). Neste triângulo que se formou, Lia estava sobrando... A irmã mais velha, só se tornou esposa de Jacó porque, na noite de núpcias, ele foi enganado pelo pai da noiva com uma artimanha engenhosa.

Deus viu que Jacó desprezava Lia e que ela sofria muito com a situação em que foi envolvida. E se compadeceu dela, fazendo com que ela tivesse um filho atrás do outro. Pôs no primeiro filho o nome de Ruben; no segundo Simeão; o terceiro, Levi; o seguinte, Judá. Para cada nascimento, ela reconhecia que o Senhor a abençoava através da maternidade e nutria a esperança que seu marido a amaria mais, se aproximaria mais e louvava a Deus em cada gravidez.

De todas as maneiras as duas irmãs tentavam se destacar mais que a outra no quesito filhos. Raquel era estéril. Sendo assim ela se sentiu enormemente atormentada e decidiu usar a escrava Bila como  "barriga de aluguel", levou-a a Jacó e disse que ela seria sua concubina e todos os filhos que gerasse seriam considerados como se fosse dela. Então, a disputa entre as duas irmãs deslanchou de vez. Com Bila, Jacó foi pai de Dã, Naftali.

Lia percebeu que não seria mais mãe e entregou sua escrava Zilpa a Jacó como concubina também, e esta concebeu a Gade, Aser.

Quando viu que Rubem havia achado mandrágoras no campo e trouxe-as para sua mãe, quais algumas para si e foi pedir a Lia, que negou-se a dar-lhe. Para que mudasse de ideia, disse a irma que permitira que Jacó se deitasse com ela novamente, e elas entraram nesse acordo (Gênesis 31.19,34,35). Para sua surpresa, Lia veio a engravidar outras vezes, o próximo filho teve o nome Issacar e o sexto menino chamou-se Zebulom. E na sua última gravidez nasceu uma menina e a ela deu ao bebê o nome de Dina.

Raquel era capaz de ações sem princípios. Quando Jacó, depois de 20 anos explorado pelo sogro tomou a iniciativa de afastar-se definitivamente de Labão, sem o avisar que voltaria à casa de seu pai, Raquel aproveitando a ausência do pai, furtou dele uma imagem de culto idólatra, conhecida como terafins e "ídolos do lar" (Gênesis 31.19). Labão ao dar falta de Jacó, das filhas, dos netos o do objeto idólatra, perseguiu a Jacó para reclamar de sua saída às escondidas e reaver o objeto e o alcançou. Jacó permitiu que fizesse uma revista em todos os seu pertences. Ele não o encontrou, pois estava escondido na sela do camelo em que Raquel havia se sentado e recusou-se a levantar dando como desculpa estar no período menstrual. Ali foi o único lugar que não houve verificação, por certo porque Raquel gozava de toda confiança do pai e do marido. Jacó, sem saber da transgressão de Raquel, revoltado com o fato, amaldiçoou quem havia roubado seu sogro, para sua tristeza a maldição não demoraria a surtir efeito (Gênesis 31.22.42).

Raquel se sentia envergonhada e orava ao Senhor para que pudesse ter mais filhos, ao menos mais uma vez. Deus ouviu sua oração e fez com que ela engravidasse. E ela foi mãe de José. Depois, voltou a engravidar, teve problemas no trabalho de parto, quis chamar a criança de Ben-Oni (filho do meu sofrimento), suspirou e faleceu. Jacó preferiu que o filho se chamasse Benjamin (que quer dizer filho da minha mão direita). Enterrou-a em Belém e levantou ali um memorial de pedras em sua homenagem (Gênesis 35.16-20). José e Benjamin foram os filhos mais estimados de Jacó.

José, o primeiro filho de Raquel e Jacó

E.A.G.

Compilações:
História de Mulheres da Bíblia. Eva Mündlen. Edição 2013. Páginas 89 a 94. Barueri - SP (Sociedade Bíblica do Brasil - SBB).
História Sagrada do Antigo e Novo Testamento. Bruno Heuser. Edição 1965. Petrópolis - Rio de Janeiro (Editora Vozes).
O Novo Dicionário da Bíblia.  Volume 3. Quarta edição 1981. Página 1368. São Paulo - SP (Edições Vida Nova).

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Quando Jonas disse "não" a Deus


Como indicado em 2 Reis 14.25, Jonas era filho de Amitai e um nativo de Gate-Hefer, um vilarejo situado a 5 km em direção ao nordeste de Nazaré, dentro das fronteiras tribais de Zebulom. Profetizando durante o reinado de Jeroboão II e precedendo imediatamente Amós, ele foi um forte nacionalista que estava completamente consciente da destruição que os assírios haviam feito em Israel através dos anos. Jonas é indicado como o autor do livro que leva seu nome, que teria sido escrito por volta de 760 a.C. ou após 612 a.C.; a narrativa aborda a compaixão de Deus por todos os seres humanos e remete ao arrependimento e preparo ministerial dos servos do Senhor. 

A trajetória do profeta é bem conhecida por todos nós. A maneira pela qual ele tentou "fugir" da missão a ele confiada pelo Senhor, o terror do profeta quado se deu conta de que estava no ventre de um enorme peixe e o seu livramento. Mas a sua desobediência foi o fator que o conduziu a esta situação tão terrível.

O texto bíblico não deixa dúvida. " A palavra do SENHOR veio a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levante-se, vá à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença. Jonas se levantou, mas para fugir da presença do SENHOR, para Társis. Desceu a Jope, e encontrou um navio que ia para Társis. Pagou a passagem e embarcou no navio, para ir com eles para Társis, para longe da presença do SENHOR. Mas o SENHOR lançou sobre o mar um forte vento, e levantou-se uma tempestade tão violenta, que parecia que o navio estava a ponto de se despedaçar" (Jonas 1.1-4).

A narrativa prossegue e revela um panorama desesperador. Os passageiros e a tripulação corriam risco de vida: a iminência de um naufrágio avizinhava-se rapidamente. Entretanto, em meio àquele caos, os tripulantes descobrem o profeta que logo é convocado para clamar a Deus em busca de misericórdia. A tempestade amainou, logo os marinheiros decidiram lançar sortes para saber a causa de tão cruel tempestade.

Os tripulantes o interpelaram: "Agora nos diga: 'Quem é o culpado por este mal que nos aconteceu? Qual é a sua ocupação? De onde você vem? Qual a sua terra? E de que povo você é?' Jonas respondeu: 'Eu sou hebreu e temo o SENHOR, o Deus do céu, que fez o mar e a terra?'  Então os homens ficaram com muito medo e lhe perguntaram: 'O que é isso que você fez?' Pois aqueles homens sabiam que Jonas estava fugindo da presença do SENHOR, porque ele lhes havia contado (Jonas 1.7-10).

O texto é muito ilustrativo e esclarecedor. Jonas se conhecia e o Senhor também. O Senhor destacou o profeta fujão para realizar uma missão de impacto. Jonas estava identificado com aquela missão. Caso contrário, Deus não o escolheria, até porque leviandade não faz parte do caráter divino, e certamente não indicaria alguém incapaz, sem as características necessárias  para o cumprimento da tarefa.

O Criador conhece a nossa capacidade e nossas limitações. O Senhor analisa todos os pormenores e, então, convoca o mensageiro. Ele implanta no coração de seu servo a identificação com a sua vontade e, em parceria, Deus e homem trabalham juntos para fazer com que a missão avance vitoriosamente.

Mesmo quando Deus permanece "calado", Ele não está inerte. Mesmo assim, diversas vezes nós rejeitamos o seu chamado. Dessa forma, colhemos os frutos de nossa desobediência.

O profeta Ezequiel deixou registrado em seu livro no capítulo 33 e versículos de 7 a 9 a seguinte mensagem: "Quanto a você, filho do homem, eu o constituí por atalaia sobre a casa de Israel. Portanto, você ouvirá a palavra da minha boca e lhes dará aviso da minha parte. Se eu disser ao ímpio que ele certamente morrerá, e você não falar, para advertir o ímpio do seu mau caminho, esse ímpio morrerá na sua maldade, mas você será responsável pela morte dele. Mas, se você falar ao ímpio, para o avisar do seu mau caminho, para que dele se converta, e ele não se converter do seu caminho, esse ímpio morrerá na sua maldade, mas você terá salvo a sua vida." 

Os dois profetas, Jonas e Ezequiel, estavam identificados com seus respectivos ministérios. O povo hebreu identificava-os como profetas de Deus e deveriam agir como tal. A desobediência gera crise de identidade. Senhor e servo, cada qual é responsável em suas missões. A identificação entre os dois promoverá o êxito da operação. Devemos observar que a rejeição de Jonas quanto á tarefa outorgada por seu Senhor, refletiu o desprezo aos atributos que o identificavam com o seu Deus.

O Senhor desejava transformar o povo de Nínive, e o escolhido para realizar a missão foi o profeta Jonas. Tratava-se de uma honra tal distinção. Mas o profeta não analisou sob este aspecto. Simplesmente desprezou o poder de Deus sobre a criação e valorizou mais a crueldade praticada pelos ninivitas. Então, decidiu fugir.

Que tipo de atitude é esta? Por que Gideão temeu ir aos encontro dos midianitas opressores somente com 300 soldados? Ele desejava combater com os 32 mil homens à sua disposição. Todavia, Deus permitiu somente 300. E assim mesmo, divididos em três colunas de 100, munidos de trombetas, cântaros vazios e tochas. Gideão venceu os midianitas (Juízes 7.1-25). Gideão manifestou medo e insegurança, os mesmos sentimentos que acometera a Jonas. posteriormente, concordou em agir como Deus lhe falara. Jonas, de igual modo, arrependeu-se e aceitou aquele desafio, o que resultou em um quebrantamento total na cidade de Nínive.

A Igreja tem seu papel a desempenhar. O clamor da humanidade ecoa pela Terra. A estrutura política e econômica é ineficaz para preencher o interior do homem. Frustrações e questionamentos são constantes no cotidiano das nações. A ação restauradora deverá ser coordenada pela Igreja. A ela foi outorgada a incumbência.

A Igreja é a coluna e firmeza da verdade. Ela traz consigo a "pedra da esquina", a "pedra angular", que combate e aniquila todo o sistema escravizador do homem, seja de origem humana ou celestial: "Porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais" (Efésios 6.12). 

O comportamento de Jonas provocou uma crise naquela embarcação. Ele identificou-se como hebreu e seguidor do Deus vivo. Até aquele momento conseguira camuflar a sua identidade e provocado toda aquela balbúrdia. Quando assume a sua responsabilizar e orienta os tripulantes como proceder, a situação volta ao normal. De igual forma, quando a Igreja prima por sua identidade junto ao seu público-alvo, ela estabelece padrões de atuação no âmbito local, nacional e mundial, que consolidarão sua existência, trazendo reconhecimento e colheita dos frutos do seu trabalho.

Com firmeza em sua caminhada, estabelece procedimentos de conduta, de abordagem, de manifestações diversas, as quais desviarão, com toda a certeza possíveis crises de comportamento, pois a Igreja sabe quem é, quem a constituiu e a comissionou para atender aos reclames da Grande Comissão.

Não há meio termo, nem acomodações. Sua estrutura espiritual será consolidada. Seu avanço estratégico proporcionará maior capilaridade junto às comunidades e, assim, adentrará no comnbate pela busca do pecador perdido. Seu agir criterioso se anteporá a possíveis crises de omissão e acomodação, pois antes de tudo, a Igreja, sabe quem é, o que tem para fazer e o que lhe aguarda. Seu iminente rapto para uma eternidade de gozo com seu amado noivo. Que assim seja".

E.A.G.

Fonte:
Bíblia de Estudo Plenitude. página 885. Edição 2001. Sociedade Bíblica do Brasil / SBB.
Quando Jonas disse "não" a Deus. Artigo de Pedro Tadeu de Souza Maia. Extraído de A Seara, ano 15, número 56, janeiro a fevereiro de 2017. Casa Publicadora das Assembleias de Deus / CPAD. 

sábado, 5 de outubro de 2019

O Nascimento de um Líder Profético em Israel


Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

Nas Escrituras Sagradas, o vocábulo traduzido por profeta é "nabi" (hebraico) e "prophetes" (grego). O profeta do Antigo Testamento se identificava com as emoções do Senhor, reconhecido como porta-voz de Deus (Ezequiel 3.15), e tinha como uma das marcas ministeriais mais fortes o ato da intercessão (Êxodo 32.31; 32; 33.12-17; Números 14.13-19; 1 Samuel 7.8-9; 12.19,23; Salmo 99.6; Jeremias 15.1).

No período da composição dos livros 1 e 2 Samuel não havia diferença essencial entre os vocábulos vidente e profeta. A pessoa popularmente designada como profeta era chamada de vidente, sem que isso não significasse necessariamente que os termos profeta fosse desconhecido e nem que “vidente” se tornasse desconhecido em tempos posteriores (1 Samuel 9.9).

I - O AMBIENTE FAMILIAR DE SAMUEL

1. Onde Samuel nasceu?

Elcana era filho de Jeroão, neto de Eliú, era da linhagem de Levi, portanto, um levita. Esposo de Ana e Penina. Pai de Samuel e de mais três filhos e duas filhas. Um efraimita de Ramataim-Zofim, uma região tribal montanhosa da tribo de Levi em Efraim, que distava 8 quilômetros ao norte de Jerusalém. Elcana se deslocava com sua família a Siló, uma vez por ano para adorar ao Senhor (1 Samuel 1.1-8, 19, 21-31; 2.11, 20; 1 Crônicas 6.22-28, 34). Durante 400 anos Siló foi o centro religioso em Israel antes de Jerusalém, nela estavam o tabernáculo e a arca.

A definição do nome Elcana em hebraico é "possessão de Deus" Este nome era muito comum entre os israelitas. Além do pai de Samuel, as páginas bíblicas apresentam com esta mesma identidade um filho de Corá (Êxodo 6.24); um dos valentes de Davi (1 Crônicas 12.6); outros três levitas (1 Crônicas 6.23 e 9.16; 15.23); e um valente "segundo após o rei Acaz" (2 Crônicas 28.7).

Uma vez que Elcana, pai de Samuel, fez parte dos zufítas levíticos (1 Samuel 1.1; 1 Crônicas 6.33-35), pertencente ao ramo coatita da  tribo de Levi, tinha sua herança no território de Efraim (Josué 21.5; 1 Crônicas 6.22-26,35,66). Assim sendo, Samuel nasceu, residiu e foi sepultado em Ramá, localidade efraimita (1 Samuel 1.19; 7.17; 25.1).

No Novo Testamento uma das passagens que cita a cidade de Efraim é João 11.54, ao relatar o episódio em que Jesus deixa a Judeia e vai ao deserto, por causa da ameaça de violência proferida pelos sacerdotes após a ressurreição de Lázaro.

2. A bigamia presente.

O propósito do Espírito Santo ao inspirar os escritores da Bíblia nunca foi apresentar história sobre pessoas perfeitas que nunca cometem erros, mas mostrar o comportamento de pessoas que serviram a Deus e muitas vezes falharam em suas trajetórias de fé, e deste modo enfatizar a misericórdia divina sobre os seres humanos. A bigamia era tolerada pela Lei de Moisés mas apesar disso jamais foi registado nas Escrituras Sagradas que tal situação fosse a vontade de Deus para a estrutura do matrimônio (Deuteronômio 21.15-17; Gênesis 2.24; Mateus 19.5, 6).

Da mesma maneira que Ana passou por aflições pelo fato de Elcana ter simultaneamente ela e Penina como esposas, relatos bíblicos mostram que a bigamia e a poligamia sempre causaram problemas de relacionamento familiar (Gênesis 16; 21.9-16; 29.30-34; 30.1-23; 1 Reis 11.4-8).

O que a Bíblia diz sobre ter mais de uma esposa? Segundo o relato bíblico, Jacó casou-se com Lia e Raquel e teve relações sexuais com suas servas; Davi teve várias esposas, entre elas Mical, Abgail e Bate-Seba; e Salomão também foi homem polígamo, teve 700 esposas, incluindo a filha de faraó e as mulheres de Moabe, Amom, Edom, Sidom e dos hititas; e sustentou um harém contendo 300 concubinas. Tal procedimento não condiz com a vontade de Deus em relação ao casamento. Deuteronômio 17.17 afirma que o rei não deveria ter muitas mulheres, não deveriam acumular grandes quantidades de prata e ouro e nem cavalos, animais usados em batalhas de guerra.

Talvez pelo fato de Ana ter sido estéril, seu marido Elcana se casou com Penina, que lhe gerou filhos, ainda estando casado com ela. Entre os israelitas dos tempos bíblicos, a concubina era uma companheira conjugal de condição inferior a uma esposa. Uma concubina entre os povos polígamos era a esposa secundária, geralmente de nível inferior. 

O plano de Deus para o matrimônio é que homem e mulher vivam em sistema monogâmico. Isto é, que o cristão seja um homem para uma mulher e que a cristã seja uma mulher para um homem. Estabelecer casamento com mais de uma pessoa ao mesmo tempo é um procedimento que fere os princípios bíblicos em relação ao casamento aos moldes do padrão apresentado pelo Criador (Gênesis 2:24). O marido deve conviver com entendimento com sua esposa (1 Pedro 3.7). É importante relacionar-se com o cônjuge com amor e sabedoria (Efésios 4.2; Tiago 1.5).

3. Uma família piedosa.

A cidade de Siló localizava-se ao norte de Betel. O termo Siló vem provavelmente de um vocábulo que significa estar seguro, tranquilo, em descanso. Nesta região, sob o comando de Josué os judeus armaram a Tenda da Congregação, que ali esteve situada por todo o período dos juízes, que incluía os dias do sumo sacerdote Eli e Samuel, e dali a arca foi levada durante uma batalha contra os filisteus e não foi devolvida (Juízes 21.19; Josué 18.1, 1 Samuel 1.24).

Então uma vez por ano Elcana ia a Siló com sua família para adorar ao Senhor (1 Samuel 1.1-8, 19, 21-31; 2.11, 20; 1 Crônicas 6.22-28, 34). Foi em Siló que Ana orou por um filho, e para este lugar ela trouxe Samuel para ministrar na presença de Eli ((1 Samuel 1.3,11, 24). 

O profeta Aiás foi morador de Siló (1 Reis 14.2), que é mencionada até o tempo de Jeremias (capítulo 41 e versículo 5).

O lar de Elcana não era perfeito, porém, sua família era piedosa, e isto surtiu um efeito indescritivelmente benéfico para ele e toda a nação israelita. Tendo como base este exemplo de piedade, entendemos que o núcleo familiar pode ser o ambiente favorável para que Deus levante pessoas para a sua obra. A piedade é proveitosa para tudo. "Exercite-se, pessoalmente, na piedade. Pois o exercício físico tem algum valor, mas a piedade tem valor para tudo, porque tem a promessa da vida que agora é e da que há de vir" (1 Timóteo 4.7 b, 8).

Deus vocaciona os que serão usados por Ele para fazer sua obra. Apesar disso, tal circunstância requer o zelo da família, ensinando a criança sobre a importância de se manter no caminho do Senhor. É preciso que os pequeninos cresçam num ambiente em que a prática de oração seja habitual, que na casa haja a rotina da consagração sincera e o ensino da Palavra seja uma frequência no lar. Assim, ao longo dos tempos, Deus prepara o coração da criançada e quando estão na fase adulta os levanta como pessoas capazes de realizar sua obra. 

II - SAMUEL: FRUTO DE ORAÇÃO

1. A humilde Ana.

A história de Ana, mãe de Samuel, é encontrada em 1 Samuel, capítulos 1 e 2. Dentro do Antigo Testamento, sua esterilidade é comparável aos casos de Sara e Raquel, que resultaram na manifestação divina (Gênesis 16.2; 30.2).

Ana, diante de uma situação complicada em que estava, que era a impossibilidade de ser mãe e ser alvo de escárnio de Penina, a segunda esposa que gerou filhos a Elcana primeiro, zombava de sua esterilidade, tomou a decisão sensata ao levantar-se e ir buscar a Deus em oração. 

Neste mundo, o cristão está sujeito a passar ´por muitas adversidades, e em tempos difíceis deve seguir o exemplo de Ana. Precisa tomar cuidado para não seguir o conselho dos ímpios, não permitir que sua fé esfrie através da imitação do estilo de vida de pecadores e não se deixar ficar intimidado ou influenciado pela roda de escarnecedores. Para ser bem-aventurado pelo Senhor em momento de crise, conforme ensina o salmista no Salmo 1, tem que voltar-se com inteireza de propósitos para Deus. 

2. Ana e sua amargura de alma.

Apesar da incapacidade para engravidar, Ana era amada pelo marido, e este acreditava que seu amor pudesse preencher seu desejo de dar-lhe filhos. Constantemente, via-se atormentada por Penina, a outra esposa de seu marido e mãe dos filhos dele.  Neste ambiente, Ana vivia desapontada com Elcana, frustrada e amargurada e, consequência da hostilidade de sua rival.

Em sua aflição, Ana chorava muito e não comia, provavelmente fazia jejum por causa das provocações de Penina e incompreensão de Elcana quanto a sua infertilidade. Ela era uma mulher determinada e devotada a Deus. Ao invés de revidar as ofensas humilhantes da sua rival, decidiu corretamente humilhar-se debaixo das potentes mãos de Deus, pedindo atenção e cuidado especial do Senhor. As suas orações revelavam sua fé e a angústia de sua alma. 

É interessante notar que o vocábulo hebraico para o qual foi vertido ao português "provocava", que consta em 1 Samuel 1.6, 7 (tradução João Ferreira de Almeida) descrevendo o comportamento de Penina contra Ana, também tem a conotação "trovejar". A mesma expressão aparece em 2.10, revelando que o Senhor troveja contra os contenciosos e ampara os crentes fiéis.

2.1 - O nazireado

1 Samuel 1.9 traz a primeira vez em que Deus é identificado como Senhor dos Exércitos, e 1.11 é a segunda, quando Ana faz sua oração. O título ressalta a Deus como soberano sobre todos os poderes nos céus e na terra. Exército pode ser referência ao exército humano, corpos celestes ou criaturas celestiais (Êxodo 7.4; Deuteronômio 4.19; Josué 5.14).

Nas palavras suplicantes de sua oração, Ana prometeu ao Senhor dos Exércitos que caso a tornasse mãe, entregaria o filho para servi-lo estando aos cuidados do sacerdote Eli e nenhuma navalha seria usada na cabeça de seu filho. Isto significava que Ana havia feito o voto do nazireado, e que acreditava  plenamente no ato eficaz de reação divina em seu favor (Juízes 13.1-24; Jeremias 33.3). Elcana apoiou Ana nisso, pois após o nascimento da criança, ele fez sua oferta voluntária ao Senhor (Levítico 7.16).

A palavra voto expressa a ideia de uma promessa verbal e solene, geralmente feita a Deus, que nos obrigamos a cumprir. As Escrituras apresentam, além de Ana, outras pessoas que fizeram votos ao Senhor: Jacó (Gênesis 28.20; 31.13); Jefté (Juízes 11.31-39; Paulo (Atos 18.18); os quatro homens em Jerusalém (Atos 21.23). 

Na Bíblia, a palavra nazireu significa “consagrado”, “separado”. O termo tem origem no hebraico nazir, que deriva da raiz nazar, “separar”, “consagrar” ou “abster-se”. Nos tempos bíblicos, nazireu era um termo cujo significado indicava uma consagração especial de uma pessoa com Deus.

Geralmente, o voto do nazireado era feito em caráter voluntário, para ser exercido por um período específico de tempo. Mas existem referências em que os pais consagravam os filhos como nazireus por toda a vida, como aconteceu no caso de Ana. 

O indivíduo nazireu deveria cumprir algumas exigências, conforme mostra o capítulo 6 do livro de Números:
• Números 6.3,4 - Abster-se do vinho e de todas as bebidas levedadas A restrição também incluía  fruto da vide, a própria uva, tanto fresca quanto passas.
• Números 6.5 - Durante o período do voto de consagração, no qual os nazireu buscava auxílio divino, não tinha permissão para cortar seus cabelos.
• Números 6.6 - Não era permitido aproximar-se de cadáveres. A aproximação implicava em contaminação.
• Números 6.13 e 21 - Ao terminar o período de seu voto, o nazireu deveria passar por um processo cerimonial. Deveria oferecer ofertas e sacrifícios, previamente prescritos; raspar sua cabeça e queimar os cabelos cortados sobre o altar na presença do sacerdote.
1 Samuel tem seu primeiro versículo com os dizeres "houve um homem". A frase se assemelha à introdução da narrativa do nascimento de Sansão em Juízes 13.2. Entre os personagens da Bíblia, Sansão (Juízes 13) e Samuel (1 Samuel 1.9-11, 22 ) são os homens mais conhecido entre os nazireus. Mas a narrativa bíblica revela outros servos de Deus que se dedicaram nesta função. Nos dias de Amós os nazireus existiam em grande número e eram tentados a descumprir o voto ingerindo vinho (Amós 2:11,12). Outro personagem que também é considerado por muitos como tendo sido nazireu, por causa de seus cabelos longos, Absalão, o filho rebelde de Davi (2 Samuel 14.25-27). Encontramos em Atos dos Apóstolos o indício de que Paulo teria feito um voto temporário do nazireado e ter colaborado financeiramente para que quatro judeus em Jerusalém oferecessem sacrifícios que os habilitava a serem nazireus (Atos 18.18 e 21.23-24).

3. O pedido de Ana.

Somente uma mulher com esse nome aparece no Antigo Testamento. O equivalente grego está em Lucas 2.36. O significado deste nome é “graça” ou “benevolência”. 

Talvez pelo fato de Ana ter sido uma esposa estéril, Elcana tenha resolvido casar-se duas vezes, seguindo o exemplo de Abraão de se tornar pai do filho de uma concubina (Gênesis 16.1-8). Por outro lado, Ana parece ter se inspirado na história da família de Manoá, cuja esposa também era estéril e Deus abriu-lhe a madre e ambos tiveram o filho Sansão, um nazireu de Deus.

A súplica de Ana é identificada como o primeiro exemplo na Bíblia Sagrada de oração feita por uma mulher. Embora muitas outras servas do Senhor tenham se engajado na oração em tempos anteriores, a prece de Ana foi registrada apontando para a resposta. A fé que lhe dava convicção que era ouvida pelo Senhor dos Exércitos e a persistência em orar pedindo a capacidade de engravidar, são as características do perfil de Ana que tiveram como resultado a resposta que ela esperava. 

III - A DEDICAÇÃO DE SAMUEL

1. O nascimento de Samuel.

Passado algum tempo, Ana teve suas súplica atendida, concebeu e deu-lhe o nome de Samuel (1 Samuel 1.20). Literalmente, o nome Samuel significa em hebraico "nome de Deus" ou "um nome piedoso" (1 Crônicas 6.33). O nome soava como "ouvido por Deus", e parece que essa assonância foi o motivo de escolher tal identificação ao seu bebê.

Seu pedido teve como consequência o nascimento de um dos personagens bíblicos mais influente de Israel. Ela recebeu a providencial  gravidez na qual veio à luz Samuel, o fundador da monarquia, o elo entre a teocracia e a monarquia, o último dos juízes de Israel (Atos 13.20), o surgimento de um dos profetas mais importantes entre os judeus (2 Crônicas 35.18; Jeremias 15.1). 

Jesus nos encoraja a orar a Deus; "Peçam e lhes será dado; busquem e acharão; batam, e a porta será aberta para vocês. 8 Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, a porta será aberta" - Mateus 7.7-8. Veja Lucas 11.9-13.

Os filhos são herança do Senhor (Salmos 127.3). Ana compreendeu plenamente isso, mais do que muitos de nós, que seu filho era um grande presente do Senhor e quando ele nasceu ela demonstrou sua compreensão cumprindo o voto que havia feito. Quando os pais dedicam seus filhos a Deus ao nascer, tal atitude é muito mais do que a apresentação do bebê nos braços do pastor e da oração coletiva da congregação, algo que é de suma importante e  que todos os pais cristãos devem fazer. Porém, a ação só surte melhor efeito quando os pais compreendem o gesto. Dedicar significa separar e fazer o compromisso de treinar a criança em todas as etapas de seu crescimento, para que tenha o coração voltado inteiramente a Cristo como Senhor e disposto a viver segundo a vontade de Deus enquanto viver.

2. O cumprimento do voto.

O voto que Ana fez mencionava duas promessas: se ela desse à luz um filho, ele seria um nazireu de Deus e ela o dedicaria como levita aos cuidados de Eli, o sumo sacerdote. E, sem hesitar, quando Samuel nasceu ela cumpriu o prometido (1 Samuel 1.11). Na época de desmamar, Ana levou o menino para Siló com ofertas. O costume era que a criança fosse amamentada por dois ou três anos de idade. Quando Samuel foi apresentado a Eli juntamente com o animal do sacrifício, Ana fez questão de lembrar-lhe a sua oração e adorou ao Senhor.

Devemos cumprir os votos que fazemos a Deus: "Ofereça a Deus sacrifício de ações de graças e cumpra os seus votos para com o Altíssimo" (Salmos 50.14). Precisamos oferecer sacrifício vivo a Deus: "Portanto, irmãos, pelas misericórdias de Deus, peço que ofereçam o seu corpo como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Este é o culto racional de vocês" (Romanos 12.1).

O ponto a destacar é que Samuel, permaneceu e cresceu em Siló no serviço do Tabernáculo, ali ele teve oportunidade de aprender a adorar e servir ao Senhor. E mais tarde, Ana voltou a engravidar e foi mãe de mais três meninos e duas meninas (1 Samuel 2.21).

2.1. A bem-aventurança de Ana

O coração grato de Ana revela sua maturidade e visão espirituais e pode ser considerada profética. Ela demonstrou ser cheia de alegria e ser alguém que reconhecia a santidade, o poder, a soberania e a graça de Deus. Ao orar, menciona o poder sustentador do Senhor, e que Ele, algum dia, viria para “julgar as extremidades da terra”. Além de tudo isto, parece que, embora vagamente, ela previu o estabelecimento final do Ungido de Deus como Rei, uma profecia que começou a se cumprir através de Davi, um século mais tarde (1 Samuel 2.10; Salmos 18.50; 89.19-37). 

A oração de gratidão proferida por Ana é um cântico de louvor (1 Samuel 2.1-11). Ela manifesta agradecimento em forma de um salmo de ações de graças, poesia de muita beleza e profundidade, tal adoração tem como equivalência a veneração de Maria no Novo Testamento, que provavelmente deve ter se inspirado nela (Lucas 1.46-55). 

Agradeçamos a Deus por tudo que Ele dá: "Bendiga, minha alma, o SENHOR, e tudo o que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendiga, minha alma, o SENHOR, e não se esqueça de nem um só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as suas iniquidades; quem cura todas as suas enfermidades"  (Salmos 103.1-3). 

3. Dedicação de Samuel.

Após a realização dos atos cerimoniais judaicos próprios do momento, Samuel foi entregue por Ana e Elcana à presença de Eli. Ana lembrou ao sumo sacerdote que esteve perante em anos passados, orando ao Senhor dos Exércitos para que lhe desse um filho e que havia feito um voto de deixá-lo servindo no Tabernáculo por toda a vida (1 Samuel 1.10-18). Eli entendeu que Deus estava trabalhando naquela situação e aceitou cuidar do menino e Ana compreendia que o filho tinha uma missão importante a cumprir. Com certeza, a separação física deve ter sido doía, mas não foi absoluta, pois a família de Elcana continuou a prestar cultos naquele lugar e nada deve ter impedido que se reencontrassem em visitas cordiais de tempos em tempos que a saudade apertasse o coração.

Samuel foi uma pessoa que se dedicou a servir a Deus da infância até o dia em que aprouve ao Senhor recolhê-lo, já em avançada idade.

CONCLUSÃO

A Bíblia Sagrada não conta detalhes sobre os demais filhos de Elcana e Ana, mas em referência a Samuel temos dados suficientes para saber que estes pais foram pessoas privilegiadas como seus progenitores, pois o viram ungido ao ministério e foram testemunhas do quanto sua atuação interviu nos rumos da nação israelita para que o povo hebreu estivesse na direção proposta pelo Senhor dos Exércitos.


Compilações:
Comentário Bíblico Beacon. Volume 2 - Josué a Ester. 4ª impressão 2012. Página 181 (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
Dicionário Bíblico Wycliffe. 2ª edição 2007. Páginas 97-98; 1816, 2027. Rio de Janeiro, RJ, Brasil (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Capítulo 2: O nascimento de um líder profético m Israel. Osiel Gomes. 1ª edição 2019. Páginas 7 a 13, 15, 17 a 19. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD). 
Quem é quem na Bíblia. Martin H. Manser e Debra K. Reid.  Edição 2013. Barueri / SP. (Sociedade Bíblica do Brasil - SBB).
Teologia Bíblica da Oração - O Espírito nos ajuda a orar. Robert L. Brandt e Zenas J. Bicket. 4ª
ediçâo/2007. Página 83. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD.

Atualização: 06/10/19 às 16h59; 07/10/19 às 10h49 e 13h55

domingo, 29 de setembro de 2019

Conhecendo os Dois Livros de Samuel


Por Eliseu Antonio Gomes 

INTRODUÇÃO

1 e 2 Samuel são dois importantes livros do Antigo Testamento: seus relatos mostram que Deus usou homens para falar ao coração do povo israelita. Deixa claro aos seus leitores que Deus levanta pessoas para cumprir o seu propósito. Vale ressaltar sua importância, lembrando a citação feita por Jesus Cristo a eles, ver Lucas 24.44.

I - CONTEXTO HISTÓRICO DE 1 E 2 SAMUEL

1. A originalidade de Samuel.

Seu conteúdo dá sequência aos livros Josué e Juízes. As lições se iniciam quando Deus rejeita a Saul e escolhe para ser rei um homem segundo o seu coração. 

Originalmente, as duas seções atualmente separadas, compreendiam apenas um livro, tinha o título Livro de Samuel. A divisão em duas partes foi feita pelos tradutores da Septuaginta, a antiga e conhecida tradução que verteu o hebraico do Antigo Testamento ao idioma grego.   

Os dois livros de Samuel são os primeiros dos seis 'livros duplos' que originalmente não estavam divididos e que perfaziam um total de três: Samuel, Reis e Crônicas. Samuel e Reis são encontrados no cânon hebraico ao lado de Josué e Juízes em uma seção conhecida como 'Os Profetas Anteriores'. Juntos, estes livros contêm o registro histórico iniciado por Josué e a travessia do Jordão e estendem-se até o período do exílio babilônico.

2. Os personagens principais do livro.

Os livros de Samuel iniciam-se com um resumo da vida e obra de Samuel, o último dos juízes e o primeiro da ordem profética, considerado o maior personagem na história de Israel entre Moisés e Davi (Jeremias 14.1).

Há vários personagens importantes nas páginas de 1 e 2 Samuel, mas somente três nomes aparecem destacados: Samuel, profeta, sacerdote e juiz; Saul, o primeiro rei de Israel; Davi, o homem segundo o coração de Deus. O rei Saul foi, de modo geral, desobediente a Deus, por isso o Senhor pôs em execução seu plano de fazer de Davi o rei seguinte de Israel.

Apesar de haver maior ênfase à cobertura dos passos de Samuel até o capítulo quinze do primeiro livro, ainda assim ele é protagonista nos dois livros. No segundo livro ele não aparece, mas as atitudes tomadas no primeiro são claramente fatores influentes. A última referência a ele consta em 1 Samuel 28.20.

3. O propósito de 1 e 2 Samuel. 

Israel veio a existir como nação na terra por causa do concerto incondicional que Deus fez com Abraão. O Senhor implementou o concerto abraâmico quando Ele resgatou o seu povo do Egito. E os livros de Samuel cobrem um dos períodos mais formativos do desenvolvimento da nação do povo israelita. 

O propósito de 1 e 2 Samuel é relatar a história do reinado de Israel, partindo do estado de anarquia no tempo dos juízes, quando havia o regime teocrático, para a monarquia (Juízes 21.25; 1 Samuel 10.1). Os dois livros registram essa mudança, tendo como linha narrativa às histórias sobre o ministério de Samuel, e os reinados de Saul e Davi.

Os destinatários originais de 1 Samuel foram os israelitas que viveram durante os reinados de Davi e Salomão, bem como as gerações subsequentes. As histórias  destes livros são dirigidas aos israelitas que viveram enquanto a monarquia estava em fase de consolidação, particularmente,  à luz do fato de que a narrativa atesta a escolha divina de Davi como monarca (1 Samuel 16.13).

Encontramos em suas páginas a tensão entre a lealdade pactual para com Deus e a monarquia humana. Podemos interpretar tal cenário como a luta entre a carne e o Espírito. E ponderar sobre a decisão de colocamos o reino de Deus e sua justiça em primazia ou se nos envolvemos com os desejos desenfreados da carne, dos olhos e viver impregnados pela soberba da vida (1 João 2.16-17; Romanos 8.5-17; Gálatas 5.16-23).

II - AUTORIA E DATA

1. Título e autor. 

Sobre o autor 1 e 2 Samuel, a questão é variável, de acordo com alguns estudiosos do Antigo Testamento, ao observarem o aspecto externo dos livros, as duas obras são produções anônimas no que se refere à autoria, assim como os outros livros históricos.

Entretanto, de acordo com o elemento interno, é diferente. A saber, uma das funções do profeta era agir como historiador, e é possível que Samuel tenha deixado anotações ou registros que foram incorporados aos livros. Temos informações de um livro escrito por Samuel e colocado por ele “perante o Senhor” (1 Samuel 10.25); em 1 Crônicas 29.29 há uma referência ao relato dos atos de Davi num livro chamado “crônicas de Samuel, o vidente”, cujos relatos seriam de ações realizadas antes da coroação. Portanto, é provável que dos capítulos 1 ao 24 de 1 Samuel, o filho de Ana pode ser apontado como autor, e os demais capítulos, atribuídos aos profetas Natã e Gade. Além desses, não há qualquer menção a outros autores que pudessem ter escrito.

É plenamente aceitável a informação que o profeta Samuel não seja o autor do seu início ao fim, uma vez que a morte de Samuel é descrita em 1 Samuel 25.1, quando Saul ainda vivia. Assim sendo, ele não poderia ter escrito os livros da maneira como se encontram hoje. Além disso, o reinado de Davi não foi presenciado por Samuel.

O período de relatos contidos em 1 e 2 Samuel é de aproximadamente 100 anos, começa nos dias de Eli (1 Samuel e conclui ao final do reinado de Davi (2 Samuel 24), o que nos leva a entender que  um único escritor ou compilador não poderia ter vivido tempo suficiente para registrar todas as informações do livro como testemunha ocular.

2. A data dos livros.

A datação de 1 e 2 Samuel está parametrizada entre 970 a 722 a.C.

A data do livro é muito discutida, todavia, se levarmos em consideração que quem os escreveu foi Samuel, Natã e Gade, tais escritos foram feitos no período do reinado de Davi, ou tempos próximos. Não há afirmação categórica por parte dos pesquisadores, outra ala de estudiosos apontam os capítulos 9 a 20 de 2 Samuel como tendo sido escritos no século 10 antes de Cristo, e as demais porções como tendo sido redigidas depois do período pós cativeiro babilônico. Contrapondo tais afirmações, é lembrado que 1 Samuel 27.6 afirma que Ziclague pertence ao rei de Judá, argumento que provaria que o livro fora escrito durante a o período da monarquia de Davi. 

3. A situação espiritual.

O conteúdo dos livros aborda fatos culturais e espirituais apresentando explanação da mais excelente qualidade. Aqui temos o retrato de Davi, o grande rei salmista, uma figura  detalhada com minuciosas que enriquecem a narrativa da Bíblia Sagrada. Apesar de muito haver nesses livros que reflete os baixos padrões morais daquela época, há igualmente grandes picos éticos e espirituais.

1 e 2 Samuel registra o tempo em que começou a suceder a distinção enfatizada entre as formas visíveis de adoração e da realidade por detrás delas.

III - A TEOLOGIA NOS LIVROS DE SAMUEL 

1. Profecias cumpridas.

A linha teológica que perpassa Samuel e Reis é a escolha divina de um líder para representá-lo, enquanto o Senhor implementa os concertos com Israel.

É digno de nota que 1 Samuel termina e Davi, ungido a rei, ainda não tomou posse do trono. Daí, aprendemos a respeito das promessas, propósitos e programas cronológicos de Deus. O leitor atento aprende que apesar de haver recebido promessas divinas, muita coisa pode acontecer durante o período da apresentação das promessas e do cumprimento de cada uma delas, e que deve aguardar com toda paciência, pois tudo o que foi prometido se cumprirá integralmente. 

Outro ponto a se considerar com atenção é que a bênção de Deus era dada a Israel apenas quando havia disposição à obediência, como declaradamente lemos a proposta do Senhor apresentada em Deuteronômio, capítulos 30 ao 33. Deus não mudou, nos dias atuais a condicional para ser abençoado continua a mesma na relação do Senhor com o ser humano. 

2. Em busca de um rei. 

Os dias na nação israelita foram dias sombrios, até que Deus levantou a Samuel, que viveu  com muita piedade por toda a vida e era agradável aos olhos de Deus. Samuel, embora seja uma das pessoas mais piedosas da Bíblia Sagrada, tenha exercido a função de juiz, que significa ser líder sobre Israel, no capítulo 8, do versículo 1 ao 22 do primeiro livro, no entanto, parece relatar um de seus poucos erros; já idoso, nomeia os filhos como juízes em seu lugar. Em nenhum lugar se define a sua idade, porém, em 12.2 Samuel fala de si mesmo com os termos “envelheci e encaneci”. Os nomes dos filhos de Samuel expressavam sua devoção ao Senhor: Joel significa “O Senhor é Deus”, e Abias quer dizer “O Senhor é Pai”. Infelizmente, os nomes não corresponderam à esperança que reside em seus significados, pois os filhos de Samuel não eram pessoas apropriadas para julgar Israel, eles tinham comportamentos reprováveis.

O cargo de juiz não era herdado, Deus era quem chamava pessoas ao magistrado. Israel não tinha rei, e parece que não pensava em tê-lo até o momento em que Samuel quis transmitir o cargo aos filhos. Até então, Israel era governado ocasionalmente por juízes em eventos de crise, quando o momento difícil passava o juiz, muitas vezes, retornava à sua vida anterior. Na situação de tentativa de transferência de autoridade, os anciãos recusaram a má liderança sugerida por Samuel e lhe pediram a que constituísse um rei sobre a nação. Os israelitas demonstraram indignação e clamaram, com muita contundência: "Dá-nos um rei que reine sobre nós, assim como todas as nações têm" Ao clamar dessa maneira, rejeitaram a Deus como Rei, sem saber como seria viver numa monarquia. De início, a monarquia se consistiu em um reino unido, mas dividiu-se por causa da desobediência dos reis.

3. A situação da dinastia davídica.

Em 2 Samuel 7.1-17, há o estabelecimento profético da dinastia de Davi. Ela surge pela ordem do Senhor. É importante ter atenção especial às promessas do Senhor a Davi e o modo como Davi reage perante o Senhor (versículos 18-29).

Davi morava em seu palácio, depois de conquistar todas as nações ao redor de Israel, quis construir a Casa do Senhor, faz um comentário ao profeta Natã sobre isso e ambos não cogitam em consultar ao Senhor respeito da intenção. Natã incentiva o rei a pôr o projeto em prática, porém, o Senhor diz ao profeta a sua vontade com fins a redirecionar os pensamentos humanos do rei (2-16). Contrário às intenções e suposições de Davi, Deus não queria uma casa naquele momento e não queria que Davi a construísse (versículo 7). E de acordo com as informações contidas em 1 Crônicas 22.8; 28.3, Davi não foi escolhido para construir o templo porque ele era um guerreiro que havia derramado muito sangue. 

Contudo, apesar disso, Deus honrou a boa intenção de Davi fazendo-lhe promessas:
• 7.9 - Deu-lhe um grande nome.
O Senhor renovou em Davi a promessa dada a Abraão (Gênesis 12.2), de abençoá-lo nas esferas material (Gênesis 13.2; 24.35) e espiritual (Gênesis 21.22);  
• 7.10 - Designou um lugar para Israel;
• 7.11 - Designou a Davi "descanso" de todos os seus inimigos.
Durante o período englobado pelo livro. nenhuma superpotência eclipsava a região hoje conhecida como a Palestina. Por isso Israel, liderado por Davi, aproveitou todas as oportunidades para subjugar as outras nações de Canaã.
• 12-15 - Deu-lhe Salomão.
Um filho para se sentar em seu trono, a quem supervisionaria como pai e o disciplinaria com misericórdia quando fosse necessário;
• 12.16 - Prometeu-lhe firmar a sua casa, estabelecer o reinado eterno de sua descendência.
No contexto imediato, a profecia sobre Salomão se referia ao reino temporal da família de Davi na terra. Mas num âmbito maior e mais sublime, referia-se ao descendente maior que ele viria a ter na pessoa do Messias, de natureza divina, a Jesus Cristo (Hebreus 1.8). 
IV - SAMUEL: DIVISOR DE ÁGUAS

1. Um momento de crise espiritual. 

Em Israel, a idolatria e a imoralidade eram os pecados dominantes. No início de 1 Samuel, Israel encontrava-se espiritualmente deficiente. Os sacerdotes era corruptos (1 Samuel 2.12-17; 22-26), a arca da Aliança não estava no tabernáculo (1 Samuel 4.3 - 7.2), havia prática de idolatria (1 Samuel 7.3-4), os judeus eram desonestos (1 Samuel 8.2-3). Porém, mediante a influência de Samuel (1 Samuel 12.23) e Davi (1 Samuel 13.14), essas situações foram revertidas. O livro de 2 Samuel termina com final feliz, relata que a ira do Senhor se afasta de Israel (2 Samuel 24.25).

2. O líder Samuel.

O livro começa com o relato do nascimento de Samuel. A informação, sobre a história de sua família lança interessante luz sobre as práticas e o estado daquele período, como igualmente sucede com o relato acerca de Eli, o sumo sacerdote. 

Em um dos momentos mais sombrios da nação israelita, quando por um longo período os filisteus intimidavam os israelitas e ameaçava tragá-los, Ana, a esposa de Elcana, estava muito preocupada com o fato de não ter filhos. Ao adorar ao Senhor no Tabernáculo em Siló, rogava para que o Todo Poderosa desse um filho, o qual ela ofereceria para ser um nazireu de Deus (Números 6). Ana foi atendida. Este filho foi Samuel, aquele que ungiu reis, o último dos juízes, e o primeiro dos profetas depois de Moisés. O filho de Ana foi um dos maiores líderes de Israel (2 Crônicas 35.18; Salmos 99.6; Jeremias 15.1; Atos 3.24; Hebreus 11.32). Samuel surgiu em uma das horas mais sombrias da nação israelita.

CONCLUSÃO

Os livros de 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Crônicas, registram os dias dos reis em Israel. Os filhos de Deus que foram criados a fim de "ser um reino, e sacerdotes", a fim de "reinar sobre a terra (Apocalipse 1.6; 5.10), podemos aprender muitas lições valiosas ao estudar esses livros. O conceito amplo que absorvemos na obra é que Deus é quem dá ordem ao rei, aos povo, ao profeta. é quem exalta, escolhe e abate, pois Ele é soberano.


Compilações:

Comentário Bíblico Beacon - Josué a Ester - volume 2. 4ª impressão 2012. Páginas 175 e 192. Rio de Janeiro / RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD). 
Lições Bíblicas. O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Osiel Gomes. 4º trimestre de 2019. Páginas 5-9. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Capítulo 1: Conhecendo os Dois Livros de Samuel. Osiel Gomes. 1ª edição 2019. Páginas 7 a 13, 15, 17 a 19. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).   
Pastor Christian Mölk. 1 Sam 8:1-22; Israel begär en kung - https://www.christianmolk.se/2013/02/1-sam-81-22-israel-begar-en-kung/