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domingo, 17 de novembro de 2019

O Exílio de Davi

O povo de Israel passava por dias complicados. Davi, após ter sido ungido a rei, ser um servo de Deus, havia se exilado, pois Saul, dominado por sentimentos negativos queria matá-lo. O exílio de Davi, relatado em 1 Samuel 22.1-5, remete o cristão para a realidade de inúmeras situações difíceis que o seguidor de Jesus pode ser acometido. Este episódio faz com que entendamos que a permissão do Senhor, para que o crente vivencie o sofrimento, tem o objetivo de fazer com que este crente esteja, futuramente, apto para assumir missões que jamais teria competência para exercê-la se não experimentasse o tempo da provação.

A caverna de Adulão. 

A caverna de Adulão foi uma bênção para Davi e os homens que ali se encontravam. Buscando ficar fora do alcance e da vista de Saul, Davi refugiou-se em uma caverna na cidade canaanita chamada Adulão, no território de Judá, a meio caminho entre Jerusalém e Laquis. A cidade foi fortificada por Reboão visando dificultar o ataque dos egípcios (2 Crônicas 11.7); os judeus a habitaram após o exílio (Neemias 11.30).

Os Salmos 57 e 142 dão uma ideia do estado flutuante das emoções de Davi durante sua provação. As duas poesias abordam o período em que se escondeu na Caverna de Adulão. No Salmo 57, ele se mostra corajoso, animado, quase parece gostar da situação por causa da certeza do seu resultado vitorioso. No Salmo 142, deixa transparecer a tensão que há em sua alma por ser odiado e estar caçado, porém, continua reverente ao Senhor.

Compreendemos por meio de suas palavras que sua fé o sustenta, embora esticada até seu limite. Ao invés de se acovardar, por causa do círculo do inimigo que deseja seu mal, reconhece que está em vantagem contra eles, pois conhece o poder do Altíssimo, que o protege e lhe dá estratégias eficazes (1 Samuel 24.1-15).

O arqueólogo francês Charles Clermont-Ganneau visitou o local em 1874 e escreveu: "O local é absolutamente desabitado, exceto durante a estação chuvosa, quando os pastores se abrigam lá durante a noite". Na atualidade, o lugar é identificado como Ai el Ma e Tell esh-Sheikh Madhkur.

Uma entrada de caverna em Adulão.  Crédito: David Bena. 29 de dezembro de 2014.
 https://en.wikipedia.org/wiki/Adullam 

Os exilados da caverna de Adulão.

Haviam 37 guerreiros valentes em Adulão, segundo a lista em 2 Samuel 23.8-39, porém em 1 Crônicas 11.11-41, o número de homens chega a 53. Os relatos de suas façanhas encontram-se nestas referências bíblicas.

Cavernas naturais não são uma raridade nas regiões de Israel e da Palestina, visto que toda a região montanhosa a oeste do Jordão, excetuando um trecho de basalto ao sul da Galileia se compõe de pedra calcária e de giz. Tais cavernas eram usadas como habitações, esconderijos, túmulos.
• Abraão e sua família tiveram seus corpos sepultados em cavernas de Macpela (Gênesis 23).
• Lázaro ficou quatro dias dentro de uma caverna até ser ressuscitado por Jesus (João 11.38);
• Ló e suas filhas abrigaram-se em uma caverna após a destruição de Sodoma (Gênesis 19.30);
• Josué encurralou cinco reis, que se esconderam em uma caverna em Maquedá (Josué 10.16);
• Israelitas se esconderam de midianitas em cavernas (Juízes 6.2);
• Obadias escondeu de Jezabel 100 profetas em cavernas (1 Reis 18.4,13).
Juntaram-se a Davi três classes de pessoas: aqueles que se achavam em aperto, apuro, dificuldade ou perseguição. aqueles que deviam dinheiro a juros; e homens amargurados. Os amargurados eram considerados fora da lei e estavam insatisfeitos com o governo de Saul. E por se identificarem com a situação de Davi, perseguido por Saul, se uniram a ele formando um exército sob sua liderança.

O pequeno exército de homens fiéis a Davi combatiam tribos selvagens que exploravam os fazendeiros, protegendo-os de muitos perigos. Em troca, os protegidos de Davi separavam uma parte de seu lucro aos seus protetores. Um desses fazendeiros que receberam proteção era Nabal, marido de Abgail, que, não soube ser grato ao auxílio recebido (1 Samuel 25.32).

Há um propósito elevado quando Deus nos "exila."

"A seguir, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mateus 4.1).

Há um grande benefício em servir a Deus, em circunstâncias de adversidades e de bonança. Na geração do profeta Malaquias, o povo se queixava amargamente dizendo que não via nenhuma consequência proveitosa em servir ao Senhor, posto que - acreditavam eles -, não recebiam nenhuma recompensa especial. 

Em sua resposta, Deus não quis convencê-los de que os justos estavam em melhor situação. Disse-lhes que conserva um "memorial escrito" no qual Ele anota os feitos de todos que o temem, e que um dia virá como juiz para destruir os maus e preservar os que o temem. A fidelidade tem sua relevância, seu valor será óbvio neste momento de prestação de contas, embora não o seja para muitos nos dias atuais (Malaquias 3.1,14,16).

A fidelidade é o segredo para reinarmos com Cristo.

"Se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará" (2 Timóteo 2.12).

Toda provação tem a permissão de Deus (Gênesis 22.1). Tiago 1.12 revela que o crente será provado durante toda a sua vida, o crente é um bem-aventurado ao não desistir da sua fé durante as provações e quando provado e aprovado receberá a recompensa da vida eterna.

Ser cristão não nos isenta de sofrimentos e provações (João 16.33; Atos 14.22; Tiago 1.1-11). Todo cristão passa por adversidade de várias formas e intensidades (1 Pedro 1.6). Em meio aos tempos adversos, o crente pode encontrar alegria, pois a sua fé sustenta-o com a consciência que o Todo Poderoso o ama e é fiel, não permite que sobrevenha sobre ele lutas maiores do que sua capacidade de suportá-las e vencê-las (Hebreus 12.2; 1 Coríntios 10.13).

Por estar escrevendo a um amigo que o conhecia muito bem, Paulo sentiu necessidade de aconselhar Timóteo a ser perseverante, para isso fez a comparação do cristão com o serviço militar (2.3-2) e com o trabalho da lavoura (2.4). Ele o aconselha e pede que reflita sobre os aconselhamentos. Na ocasião, o apóstolo estava perfeitamente cônscio  das ameaças e perigos que pesavam sobre sua vida, e queria que Timóteo se exercitasse, preparando-se para qualquer dificuldade que tivesse no futuro. E de fato Timóteo sofreu grande perseguição e chegou a ser preso também, porém, o escritor do Livro aos Hebreus, no capítulo 13 e versículo 23, revela que ele foi posto em liberdade.

Na obra de Cristo, lutemos por Cristo.

"Não façam nada por interesse pessoal ou vaidade, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo, não tendo em vista somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros" (Filipenses 2.3-4).

Paulo estava preso por amor ao Evangelho quando escreveu a carta aos crentes de Filipos. Apesar da liberdade restringida, ressoa por toda a carta uma mensagem repleta de alegria. A alegria é tema mencionado dezoito vezes, a despeito das provações do apóstolo e das dificuldades que a igreja enfrentava (1.27-30). Em cárcere, Paulo demonstrava querer cuidar dos interesses de Cristo e não de seus interesses pessoais (Filipenses 2.21). Paulo estava preso por amor ao Evangelho quando escreveu a carta, corria o risco de ser sacrificado, porém, se isso servisse para edificar os irmãos em sua fé, não seria um fato entristecedor.

O cristão deve analisar o tempo da adversidade e entender que a caminhada cristã é uma situação em desenvolvimento no viver diário dos crentes, as lutas que enfrenta não podem se constituir em fator desanimador. Pois, todos os acontecimentos devem ser vistos como oportunidades de crescimento espiritual. Deus cuida de seus filhos e não os abandona jamais.

Os filhos devem cuidar dos pais em todos os momentos.

"Herança do SENHOR são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão"(Salmos 127.3).

Honrar os pais é mandamento da Palavra de Deus (Êxodo 20.12). No meio de toda aflição que estava passando, Davi cuidou especialmente de seus pais, deu-lhes amparo e proteção, pois não poderia jamais deixá-los ao alcance das mãos de Saul. Ele solicita ao rei de Moabe que conceda abrigo a eles. Talvez lembrando-se que Rute, bisavó de Davi, era moabita e sendo Saul inimigo de Moabe, o rei aceitou o pedido (Rute 4.17). Moabe era um país situado ao sul de Amon, a sudeste do Mar Morto, na Transjordânia. A região foi destinada por Deus aos descendentes de Moabe, filho de Ló (Gênesis 19.37).

O conselho dos pais quando são mais do que meros "não faça isso, não faça aquilo", mas orientações cuja base é a Palavra de Deus, têm potencial para desenvolver o amor pelas melhores coisas da vida. Este amor pelas melhores coisas, especialmente pelo conhecimento da vontade de Deus, começa quando alguém presta atenção aos conselhos dos servos do Senhor. Isto pode ocorrer na relação familiar, dos pais aos filhos. Quando as instruções começam a ser recebidas no período infantil, o amor pela sabedoria do alto se transforma numa busca de toda a vida, podendo tornar o filho até mais sábio que seu pai. Tal condição privilegiada faz com que a criança cresça e tenha a consciência lúcida para entender perfeitamente que precisa amar seus pais, e principalmente saber e ter disposição para cuidar muito bem deles no período da velhice avançada.

Deus sempre abençoa os filhos obedientes.

"Honre o seu pai e a sua mãe, para que você tenha uma longa vida na terra que o SENHOR, seu Deus, lhe dá." (Êxodo 20.12).

Os Dez Mandamentos, que aparecem no capítulo 20 de Êxodo e em Deuteronômio 5, formam o núcleo central da moralidade e da ética; e são um grande avanço sobre outros códigos legais da época. O Novo Testamento repete todos eles, à exceção do quarto mandamento. A expressão "ética judaico cristã", que às vezes se ouve nas cortes e nas câmaras legislativas, refere-se aos amplos princípios morais que são derivados das leis delineadas em Êxodo, Números, Deuteronômio e Josué.

Os cristãos devem honrar os que são colocados por Deus na obra.

"Lembrem-se dos seus líderes, os quais pregaram a palavra de Deus a vocês; e, considerando atentamente o fim da vida deles, imitem a fé que tiveram" (Hebreus 13.7).

Em seu formato, Hebreus é mais um livro de ensino teológico do que voltado para orientações da prática cristã, aos deveres espirituais do cristão neste mundo. Mas no décimo terceiro capítulo, o autor reúne uma lista de sugestões e recomendações específicas, dedica-se aos conselhos para a jornada de fé. Entre as orientações contidas no último capítulo, observa que visto que Cristo já cumpriu tudo o que era necessário para a nossa salvação, em gratidão ao Senhor devemos oferecer-lhe sacrifícios de louvor, que é confessar ao mundo a autoridade que há em seu nome (versículo 15).

O autor de Hebreus, em 13.1-25, encerra o livro exortando os leitores para uma vida de bom testemunho cristão. Alguém disse com bastante propriedade que "testemunhar não é algo que fazemos; é algo que somos". Nesta linha de raciocínio, o autor de Hebreus mostra que é preciso anunciar ao mundo a nossa crença no Altíssimo através do nosso comportamento, pois se o que falamos estiver em desarmonia com as atitudes, a pregação torna-se em sal insípido e luz apagada. Billy Graham certa vez disse que "a maior necessidade do mundo hoje é de cristãos com maturidade espiritual, que não somente tenham professado sua fé em Cristo, mas que vivam essa fé a cada dia".

Ainda, como um pastor que cuida do seu rebanho, o autor de Hebreus apresenta uma bênção (13.20-21). Esta bênção revela alguns dos muitos privilégios que temos como cristãos: nós temos o Deus da paz; nós temos um pastor grande e imortal; nós vivemos sob uma nova aliança; nós somos aperfeiçoados por Deus para cumprirmos a sua vontade; nós temos um Deus que opera em nós para vivermos de forma agradável em sua presença e para a sua glória. 


Artigo em desenvolvimento.

sábado, 16 de novembro de 2019

Tiago 3.13-18 - A sabedoria que só interessa aos cristãos espirituais

Alguém publicou o seguinte em seu perfil de rede social:

"Por mais inteligente que alguém possa ser, se não for humilde, o seu melhor se perde na arrogância. A humildade ainda é a parte mais bela da sabedoria."

Não discordei. E digitei o que está a seguir.

Quero dizer uma obviedade, antes da opinião: Sábios são aqueles que sabem, aqueles que absorvem informações. Quem consegue guardar mais conhecimento, é mais sábio do que aquele que guarda menos. E quem valoriza mais as informações mais úteis, é mais importante do que o sábio que não escolhe bem o que vale a pena saber.

A arrogância é o sinal de que a pessoa não é sábia, o quanto deveria ser. O arrogante não sabe ser modesto. Só demonstra humildade quando está na posição da superioridade, se tiver que ser submisso logo desaparece a capa da elegância e a fala cordial.

É sempre bom lembrar que a Carta de Tiago (3.13-18) descreve a sabedoria que devemos ter. O conhecimento bíblico nos faz saber o que Deus diz para nós e como Ele quer que a gente viva.

"Está escrito assim: Quem entre vocês é sábio e inteligente? Mostre as suas obras em mansidão de sabedoria, mediante a sua boa conduta. Se, pelo contrário, vocês têm em seu coração inveja amargurada e sentimento de rivalidade, não se gloriem disso, nem mintam contra a verdade. Esta não é a sabedoria que desce lá do alto; pelo contrário, é terrena, animal e demoníaca. Pois, onde há inveja e rivalidade, aí há confusão e toda espécie de coisas ruins. Mas a sabedoria lá do alto é, primeiramente, pura; depois, pacífica, gentil, amigável, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem fingimento. Ora, é em paz que se semeia o fruto da justiça, para os que promovem a paz."

O que temos neste texto para ser meditado?
• Nem todo sábio é inteligente. A inteligência é a capacidade de administrar bem o conhecimento. E nem todos conseguem fazer isso.
• Nem toda inveja carrega amargura; as pessoas invejosas e quem tem o hábito da competição, têm que tomar cuidado. Ser alguém assim indica falta da sabedoria do que Deus quer dela. Precisa conhecer mais a Palavra e querer mudar as atitudes.
• Viver invejando e rivalizando é um hábito aprendido em fontes da terra, copiado de comportamento humano e pode até ser o resultado de uma aprendizagem de demônios. Pesado isso, mas é a Bíblia ensinando!
O conhecimento da vontade de Deus vem através da revelação que está na Bíblia. A Bíblia mostra como é a sabedoria do alto. Ela é pura, pacífica, moderada, amigável, cheia de misericórdia, bons frutos, imparcial, sem fingimento. Deus é assim! Deus é puro, pacífico, tem autocontrole, é tratável, é misericordioso, é portador de todas as nove características do fruto do Espírito, não favorece um prejudicando outro, é sempre sincero. E devemos ser imitadores dEle e de Cristo.

Eu não pensava em tantas linhas... mas elas vieram... rsarsrs

Bom domingão.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

A Ressurreição de Dorcas - Atos 9.36


Por Eliseu Antonio Gomes

"Em Jope havia uma discípula chamada Tabita, nome este que, traduzido, é Dorcas. Ela era notável pelas boas obras e esmolas que fazia" - Atos 9.36 (NAA). 

A mulher cada vez mais conquista seu espaço na sociedade atual. E qual era o espaço da mulher nos tempos bíblicos? Ao ler a Bíblia e observarmos as personagens femininas, encontramos uma variedade de pessoas e situações em relatos marcantes, momentos de alegria e dor, paixão e amor, astúcia e sagacidade. E percebemos que Deus se importa e cuida de cada um de seus filhos e filhas.

Jope, uma bela cidade costeira, situada  a quase 60 quilômetros de Jerusalém, era o principal porto marítimo da Judeia e o mais próximo de Jerusalém (2 Crônicas 2.16; Atos 10.5 e 11.5). Hoje é chamada Jafa, comunidade residencial em Tel-Aviv. Era comum que as mulheres perdessem seus maridos em naufrágios no alto-mar, havia muitas viúvas e órfãos em estado de carência.

Ali, morou uma mulher cristã chamada Dorcas, muito piedosa, dedicada às boas obras e a dar esmolas. Não se sabe se Dorcas era uma judia entre os gregos ou uma helenista convertida ao cristianismo. O seu nome grego, cujo correspondente em aramaico ou hebraico é "Tabita", significa "gazela" nos dois idiomas. Tal definição, talvez, possa ser em alusão aos belos olhos do quadrúpede.

A narrativa de  Lucas a descreve apenas como discípula. Esta é a única vez que encontramos no Novo Testamento uma mulher descrita com este título.  Ao chamá-la de "discípula", a intenção do escritor de Atos dos Apóstolos era enfatizar que Dorcas de fato era uma pessoa praticante dos ensinamentos de Jesus.

Bondade, Dorcas usava seu talento com mãos de costureira habilidosa, criava vestimentas para ajudar o próximo e, por consequência, mostrar a todos que amava a Deus e seguia os passos de Cristo. Ao socorrer as pessoas confeccionando peças de roupas e doá-las, cumpria a vontade do Mestre, que disse: "Estava nu, e vestiste-me" (Mateus 25.36).

Em um determinado dia, essa mulher, muito doente, veio a falecer rodeada por inúmeras pessoas que havia ajudado. Como a cidade de Lida ficava perto de Jope, onde Pedro se achava naquela ocasião, os discípulos mandaram-lhe dois mensageiros, com o pedido de vir urgentemente para a casa de Dorcas. O apóstolo Pedro, sabendo do ocorrido, pôs-se à caminho; ao chegar; levaram-no até o lugar em que estava o corpo. Rodeou-o grande número de viúvas, mostrando-lhe, em lágrimas, as roupas que Dorcas tinha dado a elas. Pedro mandou sair todos do quarto e pôs a orar ajoelhado. Voltando-se ao corpo, proferiu as palavras: "Tabita, levanta-te". E assim Dorcas teve sua vida restaurada. Abrindo os olhos, assentou-se. Amparada pelo apóstolo, imediatamente levantou-se. Em seguida, Pedro chamou as viúvas e os discípulos, ao vê-la revivida todos se admiraram e depois testemunharam em toda a cidade que ela havia ressuscitado e muitos creram no Senhor por causa da obra que Deus fez por meio do apóstolo.

Segundo as práticas judaicas em Jerusalém, o corpo devia ser sepultado no mesmo dia que a pessoa morresse. Mas fora de Jerusalém, na comunidade cristã permitia-se um período de três dias para o sepultamento. Quando havia a circunstância de atraso, os judeus e os gregos tinham em comum o hábito de colocar o corpo em num quarto do andar superior, após lavá-lo. Foi exatamente isso que os irmãos de Jope fizeram com o corpo de Dorcas, cheios de fé eles tiveram a ideia  de trazer o apóstolo para que orasse a Deus e apresentasse aquela situação. 

Por que Deus concedeu a Pedro que fizesse esse milagre impressionante? O milagre da ressurreição de Dorcas causa perplexidade, pois, tantos líderes importantes da igreja morreram e ninguém os trouxe de volta  à vida para que prolongassem os seus serviços. Pode ser que Deus tenha permitido tal ressurreição para que os habitantes de Jope fossem alcançados através da inquestionável evidência do poder de Cristo sobre a morte. Restituir-lhe a vida era a maneira de Deus dizer para a sua igreja o quão importante era para Ele o trabalho que Dorcas desenvolvia.

Oferecer-se para cuidar dos filhos de alguém quando este alguém vai ao estudo bíblico, visitar um enfermo no hospital, dar atenção ao idoso solitário, ser voluntário no serviço de distribuição de sopa aos carentes desabrigados e desempregados, doar roupas usadas, que ainda estão em bom estado e nã o usa mais, é o que Deus espera que façamos como gente crente em Cristo. Se, sem nenhum interesse de receber algo em troca, a nossa vida transborda de amor em atos de beneficência, nos tornamos eficientes em revelar aos outros o caráter amoroso de Jesus em nós. Mais do que palavras, as nossas ações falam poderosamente do amor de Deus pelas criaturas. A vida marcada pelo altruísmo e pela prestatividade, exerce um poderoso impacto na vida das pessoas, não apenas sobre as que recebem os benefícios de ajuda, mas também sobre aquelas que observam o nosso dia a dia.

O episódio de Dorcas nos faz lembrar que um dia Deus ressuscitará todas as pessoas, que viveram em todos os lugares e em todas as gerações. E todas as pessoas que se dedicaram em demonstrar por suas atitudes o caráter bondoso do seu Salvador, serão levados ao Céu a lá permanecerão para sempre livres de sofrimentos, dores, doenças e tristezas.

E.A.G.

Compilação:
Bíblia da Mulher. Edição 2009. Barueri - São Paulo (Sociedade Bíblica do Brasil).
História Sagrada do Antigo e Novo Testamento. Bruno Heuser. Edição 1965. Petrópolis - Rio de Janeiro (Editora Vozes).
Minidicionário Bíblico Difusão. David Conrado Sabag. Páginas 125 e 126. Cultural do Livro

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Davi é Ungido Rei


Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

A narrativa de 1 Samuel é uma parte importante da história israelita, O livro 1 Samuel contém um drama psicológico dos mais intensos das histórias bíblicas. Neste livro, temos registros de fatos entre o término do período dos juízes até o estabelecimento do reino, sob o governo de Saul e de Davi, que o sucedeu no trono. Seus personagens são todos importantes, sendo Davi o maior destaque, pois foi o fundador da linhagem real que culminou em Jesus Cristo.

I - DAVI: O REI UNGIDO

1. Significado e propósito da unção.

Jacó ungiu uma coluna em Betel como forma de dedicação ou consagração do local (Gênesis 31.13); o ato da unção religiosa era tida como oficial e a Tenda da Congregação e a Arca do Testemunho foram ungidas (Êxodo 30.26-28). Na época dos juízes, estes eram separados por meio da unção, consagrando-se para propósitos específicos (Juízes 9.8-15). A unção era conferida, ao sacerdote (Êxodo 28.41; 29.36; 40.15; Números 3.3); sumo sacerdote (Êxodo 29.29; 40.13-15; Levítico 4.3; 16.32) e aos reis (1 Samuel 9.16; 16.1; 2 Samuel 2.4; 5.3; 1 Reis 34, 39).

A aplicação de unção de reis e sacerdotes acontecia para que desempenhassem sua missão conforme as normas divinas (Êxodo 40.13-15; 1 Samuel 9.16;1 Reis 19.16)

Jesus Cristo foi um servo ungido com o Espírito Santo (Isaías 61.1; Lucas 4.18; João 1.32,33; Atos 4.27; 10.38), e nesta unção foi feito por Deus profeta, sacerdote e rei, e descrito na Bíblia como o Ungido (Salmos 2.2; Daniel 9.25, 26) João 1.41; Atos 9.22); viveu sob a dependência do Espírito para fazer e realizou a obra do Pai, seu ministério foi marcado por milagres, curas, maravilhas, pregação e ensino poderoso (Atos 10.38).

O crente em Cristo recebe a unção divina para ser rei e sacerdote para com Deus (2 Coríntios 1.21; 1 João 2.20,27; Hebreus 1.9); seus olhos são ungidos com "colírio" para que possam ver a realidade espiritual (Apocalipse 3.18). Os apóstolos e os presbíteros ungiam os doentes com a finalidade de receberem a cura (Marcos 6.13; Tiago 5.14). 

2. O simbolismo da unção.

A aplicação de azeite ao corpo ou à cabeça era comum (Deuteronômio 28.40; Rute 3.3; 2 Samuel 12.20; Daniel 10.3; Miqueias 6.15). O uso de óleo ou unguento era prova de consideração (Salmos 23.5; Mateus 26.7; Lucas 7.38,46; João 11.2), até os mortos recebiam essências perfumadas (Mateus 26.12: Marcos 16.1).

No Antigo Testamento, no âmbito religioso, a unção indicava que alguém ou o objeto estava separado para algum ofício designado por Deus (Êxodo 30.28). A prática aconteceu antes mesmo do período monárquico. Nas páginas dos Evangelhos, a unção estava relacionada a Cristo e aos cristãos, no sentido de dotá-los de poder para testemunhar as verdades celestes (Atos 1.8; 1 João 2.20, 27). Paulo ensina sobre isso, afirma que o cristão está em Cristo, isto é, aqueles que aceitam a Jesus como Salvador e Senhor estão unidos com Cristo e Cristo transforma suas vidas colocando o Espírito em seus corações (2 Coríntios 1.21,22).

No simbolismo da unção, podemos ter dois sentidos específicos: o primeiro é relacionado à linhagem do rei Davi, tendo seu aspecto escatológico, pois, a partir da sucessão dessa linhagem, esperava-se o Messias redentor (Salmos 2.2; 18.50; 45.7).

A base da unção neotestamentária fundamenta-se no Antigo Testamento, como um ato ordenado por Deus, está ligada ao que já havia sendo antes vinha sendo sendo praticado pelos servos de Deus no passado. Simboliza o derramamento do Espírito do Senhor (1 Samuel 10.9; Isaías 61.1).

No ato da unção, declarava-se que a pessoa separada para um propósito especial e que em sua vida estava a presença do Espírito Santo de Deus, que a guiaria e orientaria para desempenhar com sucesso a missão para a qual estava designada.

No Novo Testamento, a unção é apresentada em vínculo com a fé em Cristo, apresentada juntamente com a sabedoria e a cura:
• 1 João 2.27 - "Quanto a vocês, a unção que receberam dele permanece em vocês, e não precisam que alguém os ensine. Mas, como a unção dele os ensina a respeito de todas as coisas, e é verdadeira, e não é falsa, permaneçam nele, como também ela ensinou a vocês."
• Tiago 5.14-16 - "Alguém de vocês está sofrendo? Faça oração. Alguém está alegre? Cante louvores. Alguém de vocês está doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará. E, se houver cometido pecados, estes lhe serão perdoados. Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros, para que vocês sejam curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo."

Na atualidade, algumas igrejas possuem a prática de ungir objetos e pessoas. Porém, é preciso lembrar que na Dispensação da Graça, os elementos não são mais indispensáveis para a manifestação da presença e do poder de Deus. A unção do cristão tem origem na fé Cristo. Sobre a unção entre os cristãos usando elementos, a única circunstância em que o Novo Testamento aconselha a prática de ungir é em casos de crentes acometidos por doenças, sendo que os agentes da operação do milagres são a fé manifestada com oração em nome de Jesus Cristo, nosso Senhor.

3. A unção sobre Davi.

Em um tempo caótico, o povo de Israel quis um rei e pediu para Samuel escolher um rei para eles (1 Samuel 8.1-22). Deus instruiu Samuel a ungir Saul para governar os israelitas, indicando a Saul, um rapaz da tribo de Benjamin, que foi ungido e se tornou o primeiro monarca dos judeus (10.1-27). Como soberano, Saul derrotou os amonitas, porque o Espírito era com ele, mas quando passou a agir impacientemente, ser teimoso e desobediente às orientações divinas, o Senhor o rejeitou e pediu a Samuel que ungisse o filho mais novo do belemita Jessé, neto de Boás e Rute, o garoto Davi, pastor de ovelhas, músico e poeta. (15.34 - 16.13; Rute 4.17).

1 Samuel 16.1-13 é uma seção bíblica que marca o final do livro, traz a história de Saul e Davi, mostrando que Davi se torna cada vez mais eminente enquanto Saul vai de mal a pior, terminado sua sua tragicamente. O decorrer dos capítulos mostra que ao reinar, Davi unificou as tribos de Israel em um só reino, trouxe paz a Israel e encontrou o favor de Deus. 

II - DAVI: O REI QUE ERA SERVO

1. O ungido servindo.

Um dos ensinamentos centrais do Antigo Testamento é que Deus é Rei. Esta metáfora é a principal usada pelo Senhor em seu relacionamento com o povo de Israel. E nesta perspectiva, Êxodo 15.18 proclama: "O SENHOR reinará eterna e perpetuamente". Porém, por meio da vida de Davi, o livro 1 Samuel nos revela que Deus não rejeitou a realeza humana. Em vez disso, há nas entrelinhas a expectativa que quando um rei humano "se assentar no trono do seu reino, mandará escrever num livro uma cópia desta lei, feita a partir do livro que está com os sacerdotes levitas. O rei terá esse livro consigo e nele lerá todos os dias da sua vida, para que aprenda a temer o SENHOR, seu Deus, a fim de guardar todas as palavras desta lei e estes estatutos, para os cumprir" (Deuteronômio 14.18,19).

Deus escolheu se relacionar com a humanidade por meio  de alianças.  O livro 1 Samuel mostra a aliança de Deus com Davi. Deus escolheu a Davi entre os filhos de Jessé, o belemita, neto de Boaz e Rute (Rute 4.17), para ser o sucessor de Saul como rei de Israel (Rute 4.17). Sendo uma pessoa humilde, após ungido a rei ele não abandonou sua posição de servo e fez isso até que chegasse o momento de assumir o trono. Por sua postura humilde, Deus fez aliança com Davi. Uma aliança implica um relacionamento com compromissos, promessas. A aliança que Deus fez foi a promessa de que seus descendentes estariam sobre o trono de Israel para sempre. E esta promessa cumpriu-se, pois da sua linhagem Mateus traz a genealogia de José, que foi um dos descendentes de Davi (Mateus 1.1-16). No versículo 16, está escrito: "E Jacó gerou José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus, que se chama o Cristo" (Mateus 1.16).

2. O Espírito do Senhor se retira de Saul.

Por causa do coração endurecido Deus rejeitou a Saul e buscou uma pessoa que lhe agradasse para ser o líder sobre seu povo. E assim sua linhagem não permaneceu no trono. Ele não perdeu o trono devido ao poder dos filisteus, mas sim por causa da arrogância que abrigava em seu coração (1 Samuel 13.14). O apóstolo Paulo, fazendo menção dessa história, disse: "E, tendo tirado Saul, levantou-lhes o rei Davi, do qual também, dando testemunho, disse: 'Achei Davi, filho de Jessé, homem segundo o meu coração, que fará toda a minha vontade'.” (Atos 13.22).

Não há fatalidades nas Escrituras, mas uma disciplina terna para que o indivíduo se converta e conserte seus erros. O leitor da Bíblia pode observar que tanto as promessas quanto as sentenças de condenação são condicionais. Se por acaso Saul se arrependesse e mudasse de atitude, seu arrependimento com toda certeza seria a oportunidade para receber o perdão do Senhor e ao ser perdoado seu futuro seria repleto de dias abençoados. Como exemplo, podemos mencionar a história contida no livro de Jonas.

Davi era reconhecido como bom músico, pessoa valente, bom soldado, pessoa que comunicava-se de maneira bem articulada, alguém com boa aparência e que possuía comunhão com Deus (1 Samuel 16.18; 18.12-14.28). Este é o perfil resumido da pessoa que o Senhor escolheu para assumir a monarquia de Israel no lugar de Saul. Entretanto, ele não foi um ungido do Senhor por causa de seus atributos pessoais ou pela aparência física. Deus apontou Davi a Samuel para que o ungisse como o próximo rei de Israel observando seu intelecto inclinado para o bem, seus desejo e suas vontades e emoções pautadas nas Escrituras Sagradas.

As motivações que geram as atitudes de um ser humano refletem o seu coração e são conhecidos do Senhor antes que se manifestem (1 Samuel 16.7; Mateus 12.34-35). Ao cristão, cabe refletir sobre isso, pois o Espírito Santo se entristece e como a chama que se apaga sem a combustão do oxigênio, o Espírito é extinto em definitivo na vida de pessoas, se estas cometem pecados de modo consciente e repetido. Para conferência: Marcos 3.28-30; Efésios 4.30-32; 1 Tessalonicenses 5.19.

3. Deus levanta autoridades.

Enquanto Jesus contava acerca do serviço para o reino de Deus e acontecimentos que antecederiam a sacrifício na cruz, Tiago e João pediram ao Mestre que lhes concedesse o direito de se assentarem um à direita e outro à esquerda dEle. Tais posições conferiam honra e caracterizava autoridade. Estar sentado à direita de um rei era o lugar de maior honra, indicando poder, prestígio e autoridade. O lugar esquerdo era reservado para a segunda pessoa mais importante depois do rei.

Então, o Senhor respondeu-lhes que não sabiam o que estavam pedindo, pois se desejavam tal privilégio, deveriam antes seguir o exemplo que Ele lhes tinha dado. Deus veio ao mundo para servir, dar a sua vida em resgate da humanidade. Não é certo alimentar tal desejo. Não importa a posição em que Deus nos permite viver, precisamos cumprir a missão que a nós foi confiada. O posto de líder e de liderado precisa ser exercido com humildade (Marcos 10.35-45; Colossenses 3.17, 23).

III - DAVI: O REI QUE ERA GUERREIRO

1. O gigante Golias.

Após ser ungido, Davi teve diante de si um grande desafio, o qual foi temido por todo a nação israelita: enfrentar um gigante filisteu. Por quarenta dias, pela manhã e á tarde, o gigante desafiou os israelitas a lhe apresentarem um homem para um duelo, e Israel teve muito medo. Davi, no entanto, ao escutar uma única vez o que dizia aquele homem, indignou-se e questionou como um incircunciso poderia afrontar daquela maneira os exércitos do Deus vivo. E, imediatamente, se prontificou a reagir, quis enfrentá-lo sob a unção de Deus.

A expressão enfática "Socó que estava em Judá" (1 Samuel 17.1) mostra que as tropas de filisteus avançavam dentro dos limites territoriais do povo de Deus. Eles acamparam no monte Socó e os judeus o mantinham sob observação acampados em Azeca, tendo entre ambos os acampamentos o vale de Elá. As duas regiões até os dias atuais têm suas denominações preservadas, situam-se a oeste de Belém.

O gigante, cuja origem era Gate, uma das cinco cidades filisteias sobreviventes de uma raça antiga denominada anaquins, derrotados por Josué,era chamado de Golias (Josué 11.21,22; 1 Samuel 6.17; 17.1-11). Era um grande guerreiro, imenso em estatura, com aproximadamente 2,97 metros de altura. Ele surge no cenário do desafio e gabando-se de ter matado Hofni e Fineias, e levar a Arca para a casa do deus Dagom e também de ter tirado a vida de muitos outros israelitas. É possível que Golias tenha sido escolhido para fazer o desafio de duelo por causa de sua elevada estatura, uma vez que Saul era uma pessoa, do ombro para cima, mas alto do que qualquer um do seu povo, e se esperava que ele respondesse ao desafio (1 Samuel 10.23). 

2. Davi, ungido e cheio de fé.

Do versículo 12 ao 37, Davi surge como o menor, ou seja, o mais novo da casa de seu pai. A narrativa bíblica o apresenta levando comida aos seus irmãos no acampamento dos israelitas. Davi revela-se como uma pessoa de grande zelo,  fé e valentia.

Seu amor a Deus, fé e coragem fazem com que ele se disponha a querer lutar contra Golias. Frente ao grande e temido gigante, ninguém ousava lutar mesmo diante das propostas oferecidas por Saul - a mão de sua filha e a isenção de impostos para a família do vencedor. Ele não teme as armas de Golias, seu tamanho, sua experiência de guerra; por isso, ele prontamente de dispõe a lutar contra o gigante.

Davi possuía duas experiências de perigo, havia lutado e matado um leão e um urso para proteger o rebanho de seu pai, e estas situações de vitória serviram para que tivesse disposição para enfrentar o ameaçador filisteu, que afrontava  o exército do Deus vivo.

3. As armas do garoto.

Quando Davi se prontificou a enfrentar Golias, não houve quem manifestasse acreditar na capacidade do rapaz que pastoreava ovelhas. Mas Davi era um crente fortalecido pela fé, a vitória que parecia impossível aos olhos humanos para ele não significava motivo para não levantar-se em nome do Senhor dos Exércitos e, por fim, naquele que insultava Israel e o Altíssimo. Então, apenas a atiradeira e uma pedra foram peças mortais contra a parafernália que aparentemente protegiam o gigante, pois "Deus usa os que não são para confundir os que são" (1 Coríntios 1.28).

Como em muitos outros momentos, foi Deus quem deu esta surpreendente vitória ao seu povo (1 Samuel 17.37; 2 Crônicas 32.8; Salmos 20.7; 28.7,8; 33.16-19; Zacarias 4.6).

4. O contraste entre Davi e Golias

Descobertas arqueológicas na cidade de Nuzi, do século 16 a.C., permitiram que a couraça de escamas metálicas, com aproximadamente 57 quilos, ficasse conhecida. Centenas de escamas eram presas a couraça com barbante ao pano ou couro.

A aparência de Golias e instrumentos de guerra assustavam tanto Saul quando o exército israelita. O equipamento de Golias era pesado:
• Couraça feita de escamas de metal. Tinha como propósito proteger o corpo, incluindo caneleiras para proteger as pernas.
• Capacete de bronze, servia como proteção para a cabeça.
• Escudo retangular, provavelmente carregado entre os próprios ombros ou por um escudeiro, proporcionava grande proteção
• Lança com ponta de ferro, pesava aproximadamente 8,5 quilos.
As armas que protegiam Golias eram todas feitas de bronze, mas as que ele usava para ataque eram de ferro. A espada tinha lâmina chata e curva, parecida com um foice; a lança era semelhante a um dardo, contendo ponta perfurante de ferro

Tudo isso evidenciava que Golias não era somente um soldado afamado, mas bem armado e preparado para qualquer batalha sangrenta. Confiando na superioridade de seu equipamento, assim como em sua força física  experiência de guerreiro em combates campais, desafiava os soldados israelitas, pedia que alguém se apresentasse para duelar com ele num confronto individual. Havia em seu coração a certeza da vitória, estava tão seguro disso que prometeu entregar seus compatriotas à escravidão em caso de fracasso. Mas quando a inesperada derrota aconteceu, os filisteus não honraram essa promessa.

Davi tinha consciência que era inútil usar couraça e capacete de bronze, oferecido por Saul, e foi à luta com aquilo que tinha costume usar:
• Um cajado;
• Uma funda de pastor;
• Cinco seixos do ribeiro.
O cajado era usado para enxotar lobos e cães ferozes; a funda, que era feita de tira de couro, contendo um bolso no fundo, era usada por pastores na Síria, os benjamitas eram hábeis em seu manejo (Juízes 20.16; 1 Crônicas 12.1-2). O alforge era uma pequena bolsa para ser colocado dinheiro, e foi ali que Davi guardou as pedras. Com o cajado, pedra, funda, habilidade e pontaria para usar esses objetos rudes, Deus usou a Davi, o servo segundo o seu coração, que arremessou uma pedra uma úncia vez e esta encravou na testa de Golias, atingido pela pedrada ele caiu e logo teve sua cabeça cortada com sua própria espada (1 Samuel 17.48-51).

CONCLUSÃO

Golias representava os filisteus; Davi o povo de Deus e o próprio Deus. Enquanto o poderio de Golias dava esperança aos filisteus, a vulnerabilidade de Davi causava medo aos israelitas. O contraste entre os dois era motivo maior para a expressão do poder do Todo Poderoso, que não precisa usar a força física ou instrumentos de guerra para livrar seu povo.

O sucesso na obra de Deus só acontece quando há a consagração, se houver disposição para depender  plenamente do Espírito Santo (Romanos 1.1) Esta é razão pela qual Paulo fala que precisamos estar cheios dEle (Efésios 5.18). Com o Espírito na vida, o crente tem capacidade para desempenhar com denodo a obra de Deus. Tudo o que realizamos tem de estar sob a direção do Espírito. O batismo no Espírito é a capacitação divina máxima para o empreendimento da evangelização com resultados agradáveis a Deus.

E.A.G.

Compilação
O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Osiel Gomes. 1ª edição 2019. Páginas 103-104, 106-109. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
Panorama da Bíblia. Sem autoria apresentada. 1ª edição julho de 2016. Páginas 54 e 55. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
Pequena Enciclopédia Bíblica - Dicionário, concordância, chave bíblica, atlas bíblicos. Orlando Boyer. 30ª impressão 2012. Página 534, Orlando Boyer. Rio de Janeiro (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
1 e 2 Samuel - Introdução e Comentário. Joyce G. Baldwin. Série Cultura Bíblica. Páginas 136, 137, 140 a 143. Edição 1996. São Paulo / SP (Vida Nova).

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A Rebeldia de Saul e a Rejeição de Deus


Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

Saul precisava aceitar que o culto verdadeiro era indicado pelo seu comportamento e não pelos seus sacrifícios. Precisava servir a Deus e não aos seus próprios caprichos, mas demonstrou que era uma pessoa que idolatrava a si mesmo e falhou quanto à necessidade de seguir ao Senhor e a mão do Senhor foi contra ele (1 Samuel 12.13-15).

I - DEFINIÇÃO DE REBELDIA

1. Conceito.

Rebeldia é o mesmo que insubordinação. No caso de Saul, registrado em 1 Samuel 15.1-31, a rebeldia está manifestada em sua decisão de não subordinar-se a Deus quando recebeu ordenanças com relação a executar o juízo divino sobre a hostil nação Amaleque e seu rei Agague.

2. O aspecto bíblico. 

O Livro de Oseias oferece ao leitor em linguagem vívida a descrição do que vem a ser a rebeldia contra Deus. Sacerdotes em Efraim, conhecedores da Palavra, impulsionados pelo fanatismo idólatra e depravada religião embriagante, deixavam de prestar culto ao Todo Poderoso e por seu péssimo exemplo e orientações equivocadas desorientavam o povo e, como consequência inevitável, receberam a reprovação de Deus.através dos oráculos do profeta.

A atitude de rebeldia dos sacerdotes é comparada com uma vaca teimosa que insiste em recusar as ordens de seu dono. Entretanto, mesmo em flagrante rebeldia, Deus quer ser o pastor de Israel e tratá-lo como cordeiro em lugar espaçoso. A contumaz desobediência de Israel também é comparada como uma bezerra que deixou de ser mansa e por abandonar a mansidão é posta para realizar o serviço pesado de puxar o arado, até que à semelhança de um pássaro trêmulo atenda o último chamado de Deus (Oseias 4.16; 10.11; 11.11).

Oseias (11.8 b) escreve de maneira especial sobre o amor de Deus aos israelitas que abandonam a rebeldia: "Meu coração se comove dentro de mim; toda a minha compaixão se manifesta. Não executarei o furor da minha ira; não voltarei para destruir Efraim. Porque eu sou Deus e não homem; sou o Santo no meio de vocês. Não virei com ira."

3. O cristão e a rebeldia. 

Quando o ser humano vive em rebeldia, não há em seu coração o sentimento de arrependimento. Na caminhada cristã, o sentimento de rebeldia é diametralmente oposto ao de arrependimento.

Podemos definir o arrependimento como uma mudança de pensamento e um sincero desejo de que alguma coisa que se fez seja desfeita. No sentido espiritual, arrepender-se é a convicção de pecado, tristeza por ele e o firme desejo de abandoná-lo. É uma tristeza divinamente operada no coração do pecador através do conhecimento da Palavra e pelo convencimento do Espírito quanto à necessidade de mudar de comportamento, pois as atitudes são ofensivas para Deus e nocivas para a alma. O arrependimento sincero é conhecido como conversão, visto que a pessoa arrependida dá meia-volta, troca o caminho do pecado pela aproximação e comunhão com Deus (Atos 20.21).

O arrependimento consumado é a cooperação entre os elementos divinos e humanos. A graça que nos é outorgada pela operação do Espírito é o início do arrependimento, mas para que este seja consumado é necessária a cooperação do homem. Uma vez concedida a graça e concedido o poder de nos arrependermos, a responsabilidade pela consumação recai sobre o próprio pecador (Marcos 1.15; Lucas 13.3; Atos 17.30). 

Amaleque, na tipologia do Antigo Testamento, é um "tipo da carne". A carne pertence à natureza humana que não reconhece a Jesus como Salvador e Senhor. Caracteriza os esforços próprios do ser humano para salvar-se por meio das obras, educação, religião, dinheiro, esforços próprios. Quem cede aos desejos carnais encontra a morte espiritual (Romanos 8.3).

Assim como Saul deixou vivo Agague, rei dos amalequitas, e destruiu todo o povo ao corte de espada (1 Samuel 15.8), muitos cristãos cometem o mesmo ato desobediente, que é obedecer a Deus apenas pela metade. As coisas desprezíveis e consideradas sem valor são destruídas, porém, o que é considerado "melhor" ou "bom" não é eliminado. Mas a ordem que Saul recebeu, o crente em Cristo também recebe e deve cumpri-la integralmente; as atitudes da velha natureza não podem reinar na vida de quem alega que se uniu a Cristo (Colossenses 3.5). 

Deus não se esqueceu da crueldade dos amalequitas e os puniu. Ele jamais esquece do acerto e do erro de ninguém, a menos que os pecados sejam lavados pelo sangue do Cordeiro. Apenas quando o pecador confessa e abandona o pecado é que recebe a misericórdia divina, que é imensa e se renova a cada novo amanhecer na vida do pecador arrependido (Provérbios 28.13; 1 João 1.9; Lamentações 3.22-23). 

II. A REBELDIA DE SAUL 

1. Não cumpria com a ordem divina.

Ao ler Êxodo 17.8-13 e Deuteronômio 25.17-19, somos informados que os amalequitas foram os primeiros a atacar Israel no deserto, após os israelitas saírem do Egito. A razão da enorme ira de Deus sobre os amalequitas foi porque eles atacaram Israel de maneira totalmente covarde, escolheram como alvos aqueles que não tinham possibilidade de reação de igual para igual, agiram com extrema crueldade contra os mais fracos e exaustos. Por conta desta covardia, Deus prometeu a Moisés que os puniria, faria com que fossem esquecidos na face da terra; determinou aos judeus que não esquecessem de cumprir esta responsabilidade assim que estivessem assentados em Canaã (Êxodo 17.14-15; Deuteronômio 25.19).

De fato, Deus deu a Amaleque oportunidade para se arrepender, mas foi em vão, a nação continuou resistente ao Senhor e tornou-se cada vez mais corrupta. Ao passar dos anos, os amalequitas permaneceram como inimigos perpétuos de Israel, empreendendo duros ataques. Ocuparam a região do Neguebe e Sinai, e tempos depois se uniram aos midianitas, para continuar a lutar contra o povo de Deus (Êxodo 17.8-13; Juízes 3.13; 6.33-40). 

Uma das tarefas iniciais dos israelitas, ao entrar na terra de Canaã, era a de expulsar os amalequitas (Êxodo 17.14; Números 24.20; Deuteronômio 25-19; Juízes 12.15). Uma vez após outra o povo de Israel era derrotado diante do poder superior e de suas táticas agressivas. A razão para os fracassos é explicada como consequência da desobediência de Israel (Números 14). O início da queda de Saul veio quando ele se recusou a aniquilar Amaleque, guardou o melhor do gado e das ovelhas, dizendo que serviriam em ritual ao Senhor como oferta de holocausto, e poupar a vida do rei Agague (1 Samuel 15.20-31).

2. Deus se "arrependeu" em relação a Saul.

Deus é Espírito, está acima das variações que atinge as emoções humanas. Quando a Palavra diz que Deus se arrepende, apenas faz uso da linguagem figurada, apresentando-o com características físicas e psicológicas do ser humano com o objetivo de fazer com que o leitor alcance a compreensão da mensagem que o Senhor quer nos entregar. Tal recurso linguístico é chamado de antropopatismo (no grego, "anthropos": homem; "pathein": sofrer), refere-se aos sentimentos humanos, objetos inanimados, poderes da natureza e  seres espirituais. Assim como o antropomorfismo (que refere-se às formas da anatomia do homem), o recurso faz uso de imagens e circunstâncias simbólicas para comunicar algo real. Serve de ponte facilitadora com o objetivo de estabelecer a condição de compreensão da mensagem do Senhor aos seus servos, pois o que o Senhor tem a dizer está acima do que o intelecto do homem é capaz de absorver sem que haja o emprego de expressões que a mentalidade humana conhece.

Deus é imutável porque Ele é perfeito. Toda mudança faz parte de um processo que diferencia o estado de uma condição pior para melhor ou em sentido contrário. Ele não muda de ideia porque Ele é um ser onisciente, tem controle de todas as informações, sabe de tudo que houve no passado, o que há no tempo presente e o que haverá no futuro, nada o surpreende, portanto, não existe situação que o faça arrepender-se (Salmos 147.5). 

Depois que Saul deixou de cumprir a ordem dada por Deus de destruir completamente Amaleque, Deus disse a Samuel "arrependo-me de haver constituído Saul rei" (1 Samuel 15.11). Tal declaração não significa que o Senhor havia mudado de ideia em ter escolhido a Saul como monarca sobre os israelitas, mas expressava o lamento por Saul optar em não cumprir a tarefa que possuía plenas condições de realizar com perfeição mas resolveu rebelar-se contra a vontade divina. Samuel esclarece esta situação ao dizer que "Deus não é homem para que se arrependa" (1 Samuel 15.29).

3. "A rebelião como pecado de feitiçaria."

Não sabemos se Saul decidiu manter Agague vivo porque queria expô-lo ao povo como um triunfo, e com isso tornar sua imagem pública mais popular, ou porque sendo ele próprio um rei, desejou mostrar compaixão a outro rei, dando-lhe o perdão em seu próprio nome, e através dessa atitude conquistar mais estima e fama. Não sabemos se os soldados pediram que poupassem os animais de melhor qualidade porque Saul havia poupado Agague. Mas temos por certo que no exercício de liderança o exemplo do líder influencia enormemente os liderados. 

Se atacar Amaleque fosse uma ação de guerra normal, o fato de os soldados israelitas se apropriarem de resíduos como troféus, pela vitória na batalha, não seria considerado um erro. Porém, o ataque tratava-se de um julgamento divino sobre os amalequitas, havia a determinação de destruir tudo, todos estavam cientes de como deveriam proceder, portanto, tomar do despojo vacas e ovelhas foi visto pelo Senhor como um ato de rebeldia.

Apenas quando a rebelião foi descoberta é que Saul, disse a Samuel que havia trazido à Israel as melhores ovelhas e as melhores vacas de Amaleque para usar como sacrifícios ao Senhor em Gilgal. Porém, o Senhor rejeitou tais ofertas tal qual desprezou a oferta de Caim (Gênesis 4.3-8; 1 João 3.12). 

III. SAUL: UM LÍDER SEM CRITÉRIOS

1. Não sabia esperar. 

Saul possuía uma personalidade vaidosa e era cheio de autoconfiança, ao chegar ao trono se esqueceu que foi Deus quem o exaltou. Desprezou o fato de que era rei apenas porque o Senhor havia sido bondoso com ele. Por causa de seu orgulho e ingratidão, não era um líder com disposição para fazer a vontade do Senhor, suas decisões não se pautaram tendo como base ordens de Deus, não considerou que era monarca sob Israel porque Deus o escolheu (1 Samuel 9.15-16).

Ao ser repreendido por Samuel, por não ter exterminado Agague, os amalequitas e todos os seus bens, sua reação foi lançar a culpa do pecado de desobediência que havia cometido sobre os israelitas, tal qual Adão culpou Eva, e Eva culpou a serpente e Arão ao povo (Gênesis 3.12 e Êxodo 32.22). Diante disso, a resposta de Samuel foi dizer-lhe que seria melhor que tivesse obedecido a determinação divina do que em desobediência se propor a fazer sacrifícios religiosos.

É uma verdade essencial que para Deus o obedecer é melhor do que o sacrificar. Está muito claro nas páginas do Antigo Testamento que o Senhor demonstrou mais prazer no coração obediente do que em qualquer sacrifício de animais. O sistema de sacrifícios nunca foi estabelecido com a intenção de substituir uma vida vivida em obediência, mas na verdade deveria ser uma expressão disso (Oseias 6.6; Amós 5.21-27; Miqueias 6.6-8).

1.2 Aprendamos a exercitar a espera em Deus.

Deus está perto de nós (Atos 17.27). Ele é o nosso Pai celeste e merece nossa atenção, reverência e obediência. Está constantemente presente exatamente onde estamos, sua presença é indiscutível, tanto quanto é indiscutível que há em nós o pulmão, o coração e os outros órgão vitais. Assim sendo, jamais será aceitável acordar todas as manhãs, entrar na rotina diária de cada dia sem buscá-lo em oração. É importante interceder pela família, amigos, pedir para estar sensível ao falar do Espírito Santo e com a mente aberta para entender seus propósitos e cumpri-los em todas as áreas da vida; agradecer por todas as bênçãos recebidas e render-lhe nossa adoração. 

Em oração, é preciso ter a humildade de aceitar sua vontade, rejeitar a disposição de tentar fazê-lo alinhado com os nossos desejos egoístas. Embora Ele nos conheça inteiramente, é importante apresentar nossos sentimentos, necessidades, sonhos e até as frustrações, tendo a certeza que Ele nos ouve e está disposto a nos dirigir aos melhores caminhos, Ele quer prestar socorro e nos fortalecer em momentos que a nossa energia estiver baixa. Como Pai, Deus atende as nossas orações com prazer, mas não devemos tentar fazê-lo "mudar de ideia", pois os seus planos são perfeitos e os nossos cheios de imperfeições.

Embora o ser humano tenha condição plena para exercer a sua vontade livremente, Deus é soberano. Em sua soberania, Ele dá ao ser humano a capacidade de fazer suas escolhas, inclusive pensar e agir como se fosse totalmente independente - embora nunca seremos independentes do Criador, pois o simples fato de precisar respirar é uma situação de dependência completa, é um ato divino encontrar o oxigênio que nos mantém vivos e ativos.

O Universo inteiro está sob a soberania de Deus, nada é executado sem a sua permissão. Quando relembramos o passado, podemos ter a certeza que os fatos ocorridos não saíram fora do seu controle; quando projetamos o que fazer no futuro, podemos ter a certeza que nossos planos só se concretizarão se Ele permitir que aconteçam.

Planejamos muitas coisas, porém, nem sempre pensamos em buscar a orientação dEle, e erramos quando agimos sem esperar conhecer a sua vontade. O fato de o Senhor permitir que sejamos bem sucedidos em alguns projetos, sem que busquemos antes conhecer a sua vontade, não significa que aquele projeto é a sua vontade absoluta. A conclusão do plano é apenas o resultado da vontade permissiva. Só somos realmente abençoados quando vivemos de acordo com sua vontade plena, pois este é o modo de viver que lhe agrada e gera a bênção que nunca acrescenta dores e desgostos (Provérbios 10.22).

2. Saul: o rejeitado.

Deus tem interesse no propósito que há no coração do ofertante (Marcos 12.41-44; Lucas 21.1-4). Ele vê quais são as intenções de cada um de nós. Seja a oferta financeira, a oferta de si mesmo em tempo de serviço em departamentos no templo, de apresentação litúrgica através do cântico ou uso de instrumentos musicais. No caso de Saul, a oferta que ele faria, além do fato estar em curso a ação de desobediência quanto ao uso dos animais, tinha como motivação ser agradável aos israelitas, seu objetivo não era agradar ao Senhor mas ser simpático aos homens (1 Samuel 15.24).

Saul rejeitou a Palavra de Deus e como consequência o Deus da Palavra o rejeitou. No momento em que teve a oportunidade de fazer seu conserto com o Senhor, as suas confissões não foram sinceras, caso fossem Deus o teria perdoado. Suas palavras não eram motivadas por arrependimento, ele pensava em escapar ao castigo e salvar sua honra.

O verdadeiro arrependimento é dirigido a Deus com o coração contrito. Quando Davi pecou, ele confessou "pequei contra Deus"; Saul disse apenas "eu pequei", inclusive não se referiu a Deus como o seu Deus, mas como Deus de Samuel (1 Samuel 15.15) e dirigiu seu pedido de perdão a Samuel e não ao Senhor (Salmos 51.1-19; Samuel 15.24-25).

2.1 Rejeição social e espiritual.

Não confunda humildade com humilhação. Ser humilde é se reconhecer de igual valor ao próximo e reconhecer o Criador como mais importante que tudo e todos; ser humilhado é sofrer contrariedades vexatórias e ser vítima de injustiças. 

Já aconteceu com você de estar em um ambiente e ao falar não ser ouvido ou ser tratado como se não estivesse no local? Já aconteceu de pessoas formarem uma roda de conversa e darem às costas para você, desprezando-o? Se sim, saiba que não deve aceitar este tipo de situação, reaja imediatamente com veemência, mas sem perder o controle emocional. Eu vi isto acontecer com algumas pessoas que abaixaram a cabeça, aceitando este descaso como se fosse natural. Não é. Quem o comete peca por falta de amor ao próximo e quem recebe este tratamento ruim sem reclamar também peca porque a ordem do Senhor é amar o próximo na mesma medida que se ama. Em Marcos 12.33, aprendemos que amar-se como ama o semelhante é uma atitude mais importante do que realizar sacrifícios. Por quê? Porque agir assim é ser um crente obediente ao mandamento do Senhor.

Quando alguém tentou ser humilhante comigo desta maneira, eu o envergonhei perante todos os presentes. Abri a palma de mão direita, em movimento lento e suave, fiz pressão com a palma da mão em suas costas, como se fossem tapas mas dando-lhe empurrões que o fizeram dar três passos para frente, e lhe disse: "por favor, repita o que disse, eu não ouvi perfeitamente." Faça igual, ame-se na mesma intensidade que ama o outro, devemos nos humilhar apenas debaixo da potente mão de Deus (1 Pedro 3.6).

Ora, tal depoimento é dado para que você analise seu comportamento de cristão, reflita se comete ou não este erro de desprezo contra Deus. Será que você não comete rejeição espiritual em determinados momentos de seus dias? Será que, inconscientemente, coloca o Espírito para fora de suas conversas e atividades, dando vazão aos apetites carnais? "O que despreza a palavra perecerá, mas o que teme o mandamento será galardoado" (Provérbios 13.13 - ARC).

CONCLUSÃO

O julgamento de Saul foi estabelecido no dia em que ele desobedeceu conscientemente a Deus com os amalequitas. Os atos de rebeldia de Saul levaram Deus a destituí-lo e a seus descendentes do trono de Israel para sempre. Através de seu comportamento obstinado, observamos com clareza que todas as pessoas que continuamente rejeitam a Palavra do Senhor um dia serão rejeitados por Ele, de modo irreversível.

Não se mede o sucesso de uma missão apenas pelas realizações. O sucesso de um líder não está apenas em suas obras, conquistas e realizações, mas sobretudo em guardar as ordenanças do Senhor e cumpri-las fielmente (1 Samuel 15.33). Como líder militar, a missão de Saul era executar o juízo divino contra o rei Agague e toda Amaleque e falhou, mas a sua volta do campo de batalha, segundo a perspectiva humana, era tida como vitoriosa. Ao falhar em sua tarefa, a vontade divina não caiu por terra, pois o Senhor usou o profeta Samuel para que sua determinação fosse cumprida à risca. Com isso, vemos que não existem pessoas insubstituíveis na Obra do Senhor.

E.A.G.

Compilações:
Manual de Dificuldades Bíblicas - Respostas para mais de 780 passagens polêmicas. Norman Geisler e Thomas Howe. Edição revisada janeiro de 2015. 1ª impressão 2015. Páginas 78 e 140 São Paulo - SP (Mundo Cristão).
Manual Prático de Teologia. Eduardo Joiner. Páginas 326 e 326. 2ª reimpressão março de 2008. Rio de Janeiro - RJ (Central Gospel).
Pastor Christian Mölk. 1 Sam 15:1-35 – Saul och amalekiterna - https://tinyurl.com/y5b24cjx
Quem é quem na Bíblia Sagrada - a História de todas as personagens da Bíblia. Paul Gardner. 19ª impressão. agosto de 2015, página 44. Liberdade/ São Paulo - SP (Editora Vida).