A Paixão de Cristo (o título em inglês é Passion) é uma produção cinematográfica americana de 2004. Drama épico. O ator Mel Gibson co-escreveu, dirigiu e produziu; teve Jim Caviezel interpretando Jesus Cristo. A maior parte foi filmado no estúdio italiano Cinecittà.
O filme foca as últimas doze horas de Jesus. Em algumas partes do filme aparecem cenas de momentos anteriores às doze horas, surgem como se fossem lembranças o tempo da infância e da juventude, durante o Sermão do Monte, em preleção particular ao seleto grupo de discípulos e o episódio da partilha do pão na Ceia.
A equipe de divulgação do filme alardeou que as falas dos atores aconteceram nos idiomas em que as pessoas da geração de Jesus se comunicavam, mas eruditos no aramaico e hebraico dos tempos bíblicos criticam a informação, alegando que os diálogos eram sofríveis.
Premiações e bilheterias
O ator Jim Caviezel recebeu três indicações de Melhor Ator. Sendo duas do MTV Movie Awards, nos Estados Unidos e México, mas só ganhou a do Movie Guide Awards - cerimônia anual de premiação para o entretenimento cristão e familiar, realizada todos os anos em Hollywood e transmitida no Hallmark Channel na mesma época em que é realizada a festividade de distribuição do Oscar.
Quanto ao Oscar, o mais popular entre os prêmios para a indústria de cinema em todo o mundo, o filme de Gibson concorreu nas categorias de Melhor Maquiagem (venceu Desventuras em Séries), Melhor Fotografia (o vencedor foi O Aviador) e Melhor Trilha Sonora (Em Busca da Terra do Nunca foi o premiado).
Segundo uma teoria publicada às vésperas da premiação pela revista Newsweek, os olhos de soslaio e a torcida de nariz, - feita pelos membros da Academia premiadora da estatueta do Oscar - contra A Paixão de Cristo, ocorreu porque entre os jurados haviam muitas pessoas de origem judaica, que consideraram o filme como veiculador de mensagem fundamentalista e de discórdia, desrespeitoso, preconceituoso, violento e o acusaram de anti-semita.
Em óbvia estratégia mercadológica, A Paixão de Cristo estreou nos Estados Unidos em 25 de fevereiro de 2004, na quarta-feira de cinzas e começo da Quaresma. Na primeira semana de exibição, alcançou $83,848,082, ficando em quarto lugar no ranking de lançamentos de filmes durante o período de sete dias. No total, lucrou $370,782,930 naquele país e continua a ser o filme restrito de maior bilheteria na história do cinema americano. No mundo, é o filme com fala não inglesa de maior arrecadação de todos os tempos.
De acordo com uma declaração de Rubens Ewald Filho, em 23 semanas em cartaz, o filme obteve a cifra de R$ 45 milhões.
Gibson versus comunidade judaica
A opinião negativa da comunidade judaica ocorre porque o roteiro original do filme trouxe a passagem de Mateus 27.24-25, referente ao episódio em que Pôncio Pilatos lava suas mãos e lança a maldição do sangue contra os judeus que incriminavam Jesus e queriam vê-lo morto. Pilatos diz que o sangue inocente de Cristo recairá sobre os judeus e os judeus respondem "o sangue dEle caia sobre nós e os nossos filhos".
Este texto bíblico é interpretado ao pé-da-letra por muita gente, que acredita que a Diáspora de 2 mil anos e o Holocausto aconteceram por causa do pedido de morte ao Messias. Se sim ou não, o fato é que ao lançar o filme em VHS e mídias mais modernas, Gibson extraiu as cenas mais violentas e a trecho bíblico sobre a maldição do sangue.
O Gêtsemani
O cenário de abertura é o Jardim do Getsêmani. As primeiras cenas de A Paixão de Cristo é composta por Jesus sendo tentado por Satanás, que aparece em forma humana, circunstância que não está registrada nas páginas da Bíblia Sagrada. Jesus está angustiado e os discípulos sonolentos ou a dormir sob o relento. Seu suor cai em gotas de sangue.
Mel Gibson, em nome da arte contemporânea, mostra Jesus pisando na cabeça de uma serpente ali naquele momento. Embora a situação tenha o seu sentido teológico, os Evangelhos não apresentam isso naquele lugar.
Na sequência, a deslealdade de Judas Iscariotes. De posse das trinta moedas, ele perpetua a traição com um beijo. Tentando evitar a prisão de seu Mestre, Pedro usa sua espada e corta a orelha de um dos guardas do templo. Então, milagrosamente, Jesus coloca o órgão cartilaginoso em seu devido lugar. A tropa prende-o e o conduz ao Sinédrio. Pedro segue-os de longe. E João avisa sobre a ocorrência para a mãe de Jesus e para Maria Madalena.
Jesus no interrogatório, perante Pilatos e Herodes
O Sumo Sacerdote Caifás toma para si o julgamento de Jesus e expulsa sacerdotes contrários ao tribunal religioso. Pergunta a Jesus se Ele é o filho de Deus e Ele responde "Eu sou". Em sinal de repúdio a resposta proferida por Cristo, Caifás rasga suas vestes, condena-o como judeu blasfemo e sentencia-o à morte.
Distante, Pedro assiste o desenrolar do drama sem se identificar, por três vezes perguntam a ele se seria um dos doze discípulos e ele mente sobre isso. Os olhares dele e do Mestre se encontram, e Pedro foge daquele ambiente em lágrimas.
Em outro lugar, amargurado com o que fez, Judas quer devolver o dinheiro recebido em troca da sua traição, os sacerdotes que o pagaram se recusam a ter as trinta moedas de volta. Ele é afligido de maneira deplorável por espíritos malignos, encontra uma corda amarrada em um animal morto e afastado do centro populacional de Jerusalém usa-a para dar cabo de sua vida por meio do enforcamento. A ação demoníaca não está relatada na Bíblia Sagrada.
Caifás envia Jesus para Pôncio Pilatos, para que ele endosse a pena capital contra Jesus, porém, ao interrogá-lo o governador da Judeia não reconhece nenhuma conduta errada nEle e manda à presença de Herodes com o objetivo de Herodes proferir a decisão definitiva, então Jesus é tido como inocente por Herodes e devolvido para Pilatos.
Então, Pilatos, pergunta ao povo se preferem a soltura de Barrabás, um criminoso, ou de Jesus, considerado um inocente. Em polvorosa, a multidão escolhe a soltura do malfeitor. Desolado, ordena que Jesus seja chicoteado mas não morto. Com as mãos presas em um pilastra e a pele das costas à mostra, um soldado lança as correias do chicote em Jesus, enquanto sua mãe assiste a tudo sem nada poder fazer. Soldados zombam dEle, colocando em sua cabeça a coroa de espinhos. Caifás não aceita apenas a tortura, quer vê-lo morto; apoiado pela multidão grita palavras de ordem: crucifica-o. Pilatos, com receio da reação da multidão não faz caso da liberdade de Cristo, não se importa em restabelecer a ordem e fazer justiça, lava as mãos diante dos olhos de todos os presentes, solta Barrabás e ordena a crucificação do Cordeiro de Deus.
A constituição da cena das chibatadas é realista e forte. e passam sensação de realismo; as tiras do instrumento torturante possuem peça cortante e realmente parecem machucar. Nesta altura do filme, eu vi pessoas na plateia da sala de cinema chorando.
O trajeto da Via Dolorosa
Ao carregar a cruz em direção ao Calvário, Jesus encontra-se com sua mãe, diz uma frase que não está registrada nos Evangelhos, apenas no Livro do Apocalipse: "Veja mãe, eu farei tudo novo", que alude à "Eis que faço novas todas as coisas". Dentro deste cenário, a sentença messiânica não parece ter o mesmo brilho escatológico em que está posta nos escritos de João.
Simão de Cirene é forçado a ajudar carregar a cruz.
Ainda na caminhada ao Calvário, uma mulher desconhecida enxuga o rosto de Jesus com seu véu. Tal situação não consta em nenhuma das quatro narrativas dos Evangelhos. Gibson faz uso do capítulo 7 do livro apócrifo Atos de Pilatos, escrito no quarto século e também do livro medieval Meditações Sobre a Vida de Cristo, escrito por volta de 1.380, atribuído a Pseudo Boaventura (sic). Segundo a lenda, a toalha utilizada teria ficado marcada com as feições do rosto do nosso Senhor, coisa parecida com a tradição católica, que defende o mesmo suposto em relação ao Santo Sudário. É dito que esta mulher seria a mesma pessoa a quem Jesus curou de um problema hemorrágico, embora os evangelistas não tenham citado seu nome (Mateus 9.20-22; Lucas 8.43-48). A tradição diz que depois ela teria usado a toalha para curar o imperador Tiberius; muitos católicos acreditam que este mesmo pano está preservado na Basílica de São Pedro. Católicos referem-se a ela como Santa Verônica.
No Calvário
Os pés e mão de Jesus são pregados ao madeiro. O madeiro é fincado ao chão e Ele agoniza entre dois bandidos, sendo que um deles é Barrabás. Cristo ora em favor de todos que lhe fazem tamanho mal, pedindo que os perdoe por aquela ignorância. Ele redime o criminoso que arrependido de seus pecados, anunciando que naquele mesmo dia estaria junto a Ele no Paraíso.
Em agonia, Jesus brada "nas tuas mãos entrego o meu espírito" e falece. Para este momento, Mel Gibson se dá ao direito de apresentar novamente uma licença artística: uma única gota de água cai do céu, talvez, como um simbolismo remetido ao choro de Deus. Quando o pingo encontra o solo, a natureza se agita: a luz do sol desaparece e a escuridão domina o entorno da crucificação, abalos sísmicos atingem o templo e rasga em duas partes, de cima abaixo, o pano que cobre o Santo dos santos.
Soldados quebram as pernas dos criminosos, um dos lados do corpo de Jesus é perfurado. O Novo Testamento não relata Satanás gritando, nada fala sobre a mãe e os amigos de Cristo abraçarem o corpo sem vida do Salvador, porém, o filme tem estas cenas.
A produção termina com Jesus ressuscitando e levantando-se do túmulo.
Conclusão
A licença artística em contagem de histórias bíblicas não é aceitável. Então, para muitos cristãos, A Paixão de Cristo é um filme controverso, pois não teve como base apenas os relatos de Mateus, Marcos, João e Lucas. Além dos Evangelhos, bebeu nas fontes A Dolorosa Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo, em Sexta-Feira das Dores, escritos da freira Anna Catarina Emmerich, entre outras, que já foram citados neste artigo.
E.A.G.
A Paixão de Cristo (2004), Rubens Ewald Filho - https://cinema.uol.com.br/resenha/a-paixao-de-cristo-2004.jhtm/