Em certa feita, chegou ao centro urbano de uma grande metrópole uma ratinho magro. Passava fome, estava desnutrido e procurava lugar melhor para continuar a viver. Ele veio do meio de um grande matagal seco, lugar de comida escassa e onde a existência era pela hora da morte.
Com firme decisão de encontrar dias melhores, se aventurou na cidade grande. E um dia encontrou por obra do acaso um rato gordo.
- Amigo, tudo bem?
- Sim, mas me parece que você não vai assim tão bem - foi a resposta, com uma passadela de olhos de soslaio sobre a silhueta quase cadavérica do rato do mato.
- Como faz para ter suas refeições fartas? - perguntou o ratinho faminto.
- Eu moro em uma casa onde não há impecilho para comer.
- Teriia a bondade de indicar este local?
Então, os dois foram para a residência; Mas, chegando lá o rato do mato levou um tremendo susto. Eis que bem perto de uma tigela de comida suculenta estava um gato gordo a dormir.
- Amigo, o que é isso? Disse-me que não havia problemas para se alimentar!
- E não existe. Olhe o gato. Ele está sempre de estômago cheio. Ele só come do bom e do melhor. Gosta de peixes e carne de primeira.
- É loucura fazer a aproximação - disse o rato do mato, acostumado a evitar predadores.
- Vou provar o que disse. Este bichano é dorminhoco, preguiçoso, ele não oferece nenhum risco.
Rapidamente, o rato gordo partiu das palavras à ação. E passou bem pertinho do gato gordo, quase entre seus fios do bigode, e sumiu para dentro da cozinha daquela casa. Ao retornar, trouxe um pedaço enorme de queijo, fez o mesmo trajeto, passando bem pertinho do focinho do bichano, que dessa vez abriu os olhos e acompanhou o caminhar do ratinho, mas sem se mexer um milímetro da sua posição confortável.
- Viu isso, caipira?! - disse o rato gordo.
- É inacreditável!
- Agora é sua vez, vá trazer o seu prato predileto.
- Não, não tenho coragem. Ele não deverá reagir bem se me ver. Vá você outra vez!
- Pois bem, covarde, lá vou eu!
Em desabalada carreira, o rato gordo foi pelo mesmo caminho. O gato abriu os olhos outra vez, e num lance muito rápido cravou suas unhas pontiagudas da pata esquerda sobre o rato confiante e o levou para dentro da boca.
Trêmulo, e bem longe da cena trágica, o rato do mato pensou:
- Mais vale ser um rato magro do que um rato gordo na boca do gato! - e saiu daquele lugar.
Moral da estória: não vale a pena abusar da sorte.
E.A.G