Por Eliseu Antonio Gomes
Na sua velhice, Abraão pediu ao seu servo mais antigo que procurasse uma esposa para seu filho Isaque. O servo encontrou Rebeca, filha de Betuel, que por sua vez era sobrinho de Abraão. Rebeca saciou a sede dos camelos do servo de Abraão, sem saber que a atitude de dar água aos animais era resposta de oração à confirmação divina que era ela a pessoa escolhida por Deus para casar-se com Isaque Posteriormente ela foi enviada a Isaque, que estava na idade de quarenta anos quando eles se casaram. Por vinte anos Isaque e Rebeca não tiveram filhos. Isaque sabia tudo sobre a promessa de Deus de abençoar sua família e fazer dela uma grande nação. Então, pediu a Deus que lhes desse um filho. Logo, Rebeca descobriu através da predição de Deus que estava grávida, mas de dois bebês, e que ambos teriam destinos divergentes (Gênesis 25.20-26). Os gêmeos nasceram, primeiro Esaú; depois de alguns minutos Jacó veio à luz. agarrado firmemente aos calcanhar do irmão.
As crianças cresceram. O começo de uma tribulação familiar é avistado desde Gênesis 25.28. Rebeca amava mais a Jacó, que gostava de ficar na tenda em companhia da mãe, enquanto Isaque amava mais a Esaú, que frequentemente ia para o campo, para caçar animais selvagens. O resultado de tal favoritismo foi a desavença familiar entre os irmãos.
Comparando os dois filhos
Os gêmeos eram netos de Abraão pelo laço sanguíneo paterno, e de Betuel por parte da mãe; e sobrinhos de Labão.
Jacó
Jacó, cujo nome em hebraico significa "suplantador", "enganador", "o que segura o calcanhar", indicando o fato de haver segurado o calcanhar de Esaú ao nascer. O significado deste nome também aponta, figurativamente, para o seu caráter de pessoa dissimulada. Tornou-se conhecido como Israel depois de lutar com Deus em Peniel.
Era o filho favorito de sua mãe. Apesar de sua ambição desmedida, era perseverante e tinha compreensão espiritual, exibida nas experiências em Betel (Gênesis 28.10-13) e em Peniel (Gênesis 32.22-32). Mas pelo fato de não colocar a sua vida inteiramente nas mãos do Todo Poderoso, para que nela se operasse a perfeita e sublime vontade divina, sofreu muito.
Casou-se com Lia e Raquel. Além delas, teve filhos com Bila, serva de Raquel, e Zipa, serva de Lia. Foi pai de Rúben, Simeão, Levi, Judá, Dã, Naftali, Gade, Aser, Issacar, Zebulom, José e Benjamim (os patriarcas das doze tribos da nação de Israel), e de uma filha chamada Diná. Seu filho favorito era José, o que causou brigas em família. Jacó abençoou os filhos de José e seus próprios filhos antes de morrer. Seu corpo foi embalsamado por médicos egípcios e o luto por seu falecimento durou 70 dias. José dedicou uma semana à mais de luto por seu pai próximo ao Jordão. Jacó foi sepultado no campo de Macpela, próximo a Manre, onde também estavam os restos mortais de Abraão, Sara, Isaque, Rebeca e Lia.
Por toda a Bíblia, Jacó é mencionado juntamente com Abraão e Isaque como um dos patriarcas da fé, o pai de todo o povo israelita.
Esaú
Primogênito dos gêmeos, seu nome significa peludo, é descrito como peludo e vermelho (também é chamado de Edom, que significa vermelho).
Era o filho favorito de seu pai. Caçador habilidoso, Esaú gostava do campo, da vida ao ar livre, das iguarias; pois a sua vida era dominada pelos apetites e paixões sensuais. Com essa índole, era-lhe impossível avaliar devidamente as bênçãos e as promessas concedidas a Abraão e Isaque. Foi capaz de trocar o seu direito de primogenitura por um prato de lentilhas quando estava com fome. Devido a cor avermelhada da comida, pela qual ele trocou seu direito de primogenitura, passou a ser chamado também de Edom, que significa em hebraico "vermelho" (Gênesis 25.30 - 36.1).
Quando Isaque morreu, Esaú decidiu habitar em Seir, país dos horeus, povo idólatra, A extensão territorial de Seir localiza-se ao sul do abrangia ao mar Morto, no meio de um arenito avermelhado de um vale tectônico, ao mar Vermelho, limitado do oriente pelo deserto da Arábia, sendo a sua fronteira ocidental vizinha de Judá, território estreito e montanhoso, com 160 km de comprimento por 32 de largura, sendo a altura média acima do nível do mar uns 600 metros (Gênesis 14.6; Números 24.18; Ezequiel 25.8).
A linhagem de Esaú
Tanto Isaque como Rebeca ficaram entristecidos com o fato de Esaú ter se casado com moças estrangeiras. Esaú casou-se com Judite e Basemate, duas moças heteias que amarguram a vida de seus pais (Gênesis 26.34-35). Além de Ada e Oolibama, mulheres cananeias (Gênesis 36.2), Foi pai de Elifaz, Reul, Jeús, Jalão e Corá. A descendência de Esaú estabeleceu morada na região que veio a ser conhecida como Terra de Edom (Gênesis 36.16) ou Idumeia (Isaías 34.5-6), lugar montanhoso entre o Mar Morto e o Golfo de Acabá, estendendo-se para a Arábia Petreia. Petra era a sua cidade principal, conhecida também como Sela.
A descendência de Esaú era gente guerreira, fez de Seir a sua pátria, afugentou os horeus da região e habitou nas cavernas que outrora eles habitavam, e assim a região passou a ser reconhecida como a nação Edom ou Idumeia (Gênesis 36.1+19; Deuteronômio 2.12; Jeremias 49.16). Os edomitas, também chamados de idumeus, frequentemente hostilizavam os israelitas, proibiram que passassem por dentro de seu território quando estes peregrinavam pelo deserto após serem liberto da escravidão no Egito. Foram descritos como portadores de ódio contra os israelitas (Números 20.14-21 e 21.4; Ezequiel 25.12). Saul guerreou contra eles; Davi os venceu em uma batalha sangrenta e os obrigou a pagar tributos, a tributação durou até o reinado de Josafá (1 Samuel 14;47; 2 Samuel 8.14; 1 Reis 22.47). Também conheceu a derrota de guerra através do exército de Amazias (2 Crônicas 25.11-12). Finalmente, foram subjugados pelos assírios e, como nação, desapareceram.
A cruel hostilidade dos edomitas contra os israelitas trouxe sobre eles a justiça anunciada pelos profetas. Suas terras, outrora muito férteis, e de grande importância comercial, tornaram-se infrutíferas; as caravanas ali cessaram de negociar. Edom se tornou uma região desértica, composta de cidades e fortificações esfaceladas, restos de muralhas e estradas empedradas (2 Crônicas 28.17; Isaías 34.5-15; 63.1-6; Jeremias 49.7-12; Lamentações 25.14; Joel 3.19; Amós 1.11-12).
A principal fortaleza de Edom ou Idumeia era Petra (Sela), maravilhoso e inexpugnável lugar, talhado na rocha.
A primogenitura
Primogênito é o termo que faz referência ao filho mais velho de um matrimônio. O vocábulo "bêth' abh" (casa paterna) reflete o fato que no antigo Israel a herança era normalmente passada para a linhagem masculina.
O patriarca tinha autoridade sobre toda a casa, incluindo filhos, filhos adotivos, filhas solteiras e netos. Com a morte do patriarca, a primogenitura determinava que o filho primogênito recebesse vantagens especiais na partilha da herança, uma dupla porção da propriedade e porção dobrada dos bens da família (Gênesis 25.5, 31; Deuteronômio 21.15-17). Além disso, o primogênito obtinha autoridade absoluta para exercer o papel de liderança no núcleo familiar. Assim a linhagem paterna da família continuava através dele. Consequentemente, o primogênito tinha além dos privilégios responsabilidade singular, tanto na esfera civil quanto na espiritual.
Também, a lei da primogenitura previa que, em circunstâncias normais o irmão mais jovem de dois filhos poderia ser subserviente ao mais velho (Gênesis 25.23).
Mas antes que os bebês nascessem, Deus disse a Rebeca que, na sua gestação, o mais novo iria se tornar o cabeça, que por meio dele, as promessas de Deus a Abraão iriam se cumprir.
É importante lembrar que a inversão de idade nesta situação da bênção da primogenitura não é exclusiva aos irmãos Jacó e Esaú.
Quando Jacó, então Israel, já era avançado em idade, negou-se a abençoar Rúben em reação ao seu ato impetuoso de contaminar o seu leito ao se deitar com Bila, a sua concubina; o direito de primogênito foi transferido para José (Gênesis 35.22; Números 32.1-33; 1 Crônicas 5.1-2).
Vejamos outra circunstância excepcional. Se uma concubina gerasse o primeiro filho, o direito prioritário de receber a bênção poderia ser desconsiderado, caso a esposa gerasse um filho mais tarde, essa situação ocorreu no caso de Isaque e Ismael.
Assim como na era dos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó, na dispensação da Lei de Moisés, o primeiro filho do casal era consagrado ao Senhor (Êxodo 22.29). A Lei mosaica não permitia ao patriarca agir arbitrariamente ao conceder o direito de primeiro filho; o mais velho deveria ser o beneficiado, mesmo que abençoá-lo dessa forma não fosse a sua vontade (Deuteronômio 21.15-17). E além disso, o filho mais velho devia ser remido por meio de uma oferta de valor de até cinco ciclos, dentro de um mês desde o seu nascimento e era lhe dada uma porção dobrada da herança que lhe cabia. E entre a realeza, o primeiro filho tinha a prioridade sobre os demais irmãos como sucessor natural ao trono (2 Crônicas 21.3).
A troca da primogenitura pela sopa de lentilhas
Apesar de todo o conteúdo bíblico nos fazer saber que eram diversas as prerrogativas que o primogênito possuía, Esaú um determinado dia chegou em casa sentindo muita fome. Um cheiro apetitoso enchia a tenda, pois Jacó preparava uma sopa. Esaú pediu uma porção, Jacó pensou rapidamente em negociar o prato, e propôs uma troca com o direito dele de receber a primogenitura. E Esaú aceitou a proposta. Assim, Jacó entregou-lhe um prato fumegante, que em atitude profana e inconsequente ele bebeu vorazmente, e em seguida saiu sem pensar que acabara de cometer um sacrilégio.
A trapaça
Rebeca havia contado a Jacó sobre a mensagem de Deus anterior ao nascimento dele e de seu irmão. sobre a transferência da bênção da primogenitura, que o beneficiaria. E Jacó pensava em receber a primogenitura com frequência.
Por ser o filho favorito de sua mãe, foi ajudado por ela a enganar seu pai para conseguir conquistar a bênção reservada ao primogênito Esaú.
Em determinado momento, Isaque, já velho e com grave problema de visão, recolheu-se ao seu leito esperando a morte, e chamou Esaú para pedir-lhe que fosse ao campo caçar um cervo e preparar uma guisado. Não havia nada de que Isaque gostasse mais do que o delicioso guisado de veado que Esaú cozinhava. E Esaú saiu à caça, sem se lembrar que havia perdido o direito de ser o cabeça da família quando o trocou por uma porção de comida de lentilhas.
Rebeca ouviu a conversa, ela sabia que para Jacó vir a ser o cabeça da família, ele deveria receber a bênção especial proferida por Isaque. Então, astuciosamente ela arquitetou o plano para Jacó enganar seu marido, pediu-lhe que pegasse dois cabritos do rebanho da casa e trouxesse-os para que os cozinhasse. Quando os elementos estavam cozidos, recomendou-lhe que fingisse ser Esaú ao levar o prato ao pai, A estratégia de fingimento se consistia em vestir as roupas de Esaú, para que Isaque sentisse o cheiro dele, colocasse peles de cabrito ao redor dos braços e ao redor do pescoço, porque Esaú era peludo e Jacó não.
Impulsionado por ambição e egoísmo, contando com a indecente cumplicidade de sua mãe, Jacó aproximou-se de seu pai com o delicioso ensopado. Isaque perguntou quem ele era e ele mentiu dizendo que era o seu irmão gêmeo, seu pai estranhou sua voz e apalpou seus braços cobertos com as peles dos animais sacrificados. Confundindo-se sobre a identidade, Isaque ingeriu a refeição toda e ao terminá-la deu-lhe solenemente a bênção que lhe permitia ser o novo patriarca da família. Ao ser portador do benefício que via de regra era reservado aos primogênitos, retirou-se do local. Logo a seguir Esaú chegou trazendo a caça. Horrorizado, Isaque percebeu que havia sido vítima de uma mentira, contou a Esaú que Jacó obtivera a primogenitura em seu lugar usando a hedionda tergiversação. Ao saber, o filho mais velho chorou desapontado e o desapontamento não demorou a se transformar em ira, e irado jurou que mataria o seu irmão.
Rebeca ouviu a ameaça e se preocupou com a segurança do seu filho predileto. Algum tempo depois ela conversou com Isaque, sugerindo a ele que permitisse que Jacó viajasse à Padã-Arã, fosse para a casa de seus pais em busca de uma esposa entre os seus parentes, uma mulher que não fosse cananeia. Isaque o deixou partir, e Jacó saiu em longa viagem à Padã-Arã, onde residiam Betuel, o pai de Rebeca, e também Labão, o irmão dela.
Rebeca errou ao ser precipitada, deveria ser paciente e aguardar que Deus agisse conforme os seus desígnios para os seus dois filhos. Aparentemente.ela não viu mais a Jacó depois que ele seguiu em viagem. Ao falecer, foi sepultada no túmulo da família, adquirido por Abraão.
Sobre Padã-Arã
As Escrituras apresentam uma pessoa chamada Arã (em hebraico "serraria"), irmão de Abraão do qual descendem os sírios, ou arameus. Há também nas Escrituras outro homem chamado Arã, que foi filho de Sem, neto de Noé.
Naor, homem idólatra, casou-se com sua sobrinha Milca, filha deste Arã parente de Abraão (Gênesis 11.26, 27, 29; Gênesis 31.53; Josué 24.2). Após casar-se, viajou para uma localidade chamada cidade de Naor (Gênesis 24.10; 27.43) e ali se tornou o progenitor das doze cidades aramaicas que são alistadas em Gênesis 22.20-24).
No Antigo Testamento, Arã é o título que indica a Mesopotâmia e a Síria, às vezes usado só para a Síria. O povo de Arã ocupava uma parte da Mesopotâmia superior, conhecido como Arã-Naaraim (Arã dos dois rios) e Padã-Arã (planície de Arã). Temos narrativas bíblicas nomeando mais pontos geográficos da localidade: Gesur, região conquistada por Jair (Deuteronômios 3.14); Arã-Maaca (1 Crônicas 19.6); Arã-Bete-Reobe (2 Samuel 10.6) etc.
O aramaico era a língua do povo de Arã e se dividia em dois dialetos, o do nordeste, que era falado na Mesopotâmia, e o do sudeste, chamado também de idioma caldeu. As passagens bíblicas Daniel 2.4; 7.28; e Esdras capítulos 4 ao 7.12-26 foram escritas em aramaico. Na Asia ocidental, este idioma era usado pelo comercio, como hoje o inglês está difundido.
O Novo Testamento usa Esaú como exemplo para advertir o povo de Deus sobre as consequências a longo prazo de decisões precipitadas que demonstram desprezo às bênçãos do Senhor, é usado como comparação de pessoas que desprezam o plano redentor que Deus oferece através do sacrifício vicário de Cristo (Romanos 9.10-13; Hebreus 11.20; 12.16-17).
O início da fuga de Jacó à Padã-Arã
Por causa dos planos humanos, Jacó foi obrigado a fugir de casa, ir para o lar de seu tio Labão, que o tratou com astúcia igual a sua própria. Entretanto, no serviço para Labão, Jacó tornou-se rico e Léia e Raquel, filhas de Labão, tornaram-se suas esposas. Na sua volta de Padã-Arã para Canaã, após a luta misteriosa na escuridão da noite, à beira do rio Jaboque, o Todo Poderoso mudou-lhe o nome para Israel (Gênesis 32.28), nome este, expressivo do novo homem, pois ninguém pode passar a noite com Deus sem experimentar uma transformação espiritual. Após tal experiência sobrenatural, vários anos se passaram e ele teve a oportunidade para reconciliar-se com seu irmão Esaú.
Conclusão
Hebreus 12.15-17 traz ao crente um alerta, usando como exemplo o caso de Esaú. Seu interesse ímpio ou secular levou-o a uma condição desesperada. Ele trocou o bem-estar espiritual por uma momentânea gratificação carnal. Os crentes podem, pela descrença e pecado carnal perder o seu acesso a Deus por meio de Jesus Cristo quanto às promessas de bênção nEle. O chamado do crente é à busca da paz no sentido de segui-la constante e diligentemente (Salmos 34.14) e também é a busca da santidade. Os crentes devem viver a santificação presente, esforçando-se para viver separados do pecado, esforçando-se para não perder sua posição em Cristo, através da submissão ao Espírito Santo (Romanos 6.11-12).
E.A.G.
Compilação:
Bíblia de Estudo Arqueológica NVI, páginas 41 a 43, 3ª reimpressão agosto de 2014, São Paulo /SP (Editora Vida).
Conciso Dicionário Bíblico (Ilustrado). Por diversos autores americanos e ingleses. Traduzido e ampliado por D. Ana e Dr. S. l. Watson, Rio de Janeiro / RJ (Edição da Junta de Educação Religiosa e Publicações da Convenção Batista Brasileira (JUERP) páginas 256, 271 e 272). Anexo da Bíblia Sagrada 5ª edição, 2005, Santo André SP (Geográfica Editora).
Manual Bíblico Unger, Merril Frederick Unger com revisão de Gary N. Larson, página 630, edição 2006, reimpressão 2008, São Paulo/SP (Editora Vida Nova).
Quem é Quem na Bíblia, Martin H. Manser e Debra K. Reid, páginas 22, 23, 1ª edição 2013, Barueri / SP, Sociedade Bíblica do Brasil / SBB).