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sábado, 23 de julho de 2022

A sutileza da normalização do divórcio

INTRODUÇÃO

É de vital importância ao cristão estudar sobre as sutilezas de Satanás, pois a Palavra de Deus diz que os últimos dias seriam tempos difíceis, marcados por uma intensa ação maligna contra a Igreja [2 Timóteo 3.1-5]. É necessário conhecer aquilo que as Escrituras revelam sobre o maligno e a forma como ele age, para sermos capazes de nos proteger. Quando o apóstolo Paulo escreve aos crentes em Corinto, faz um alerta para que eles não ignorem os "maus desígnios" de Satanás, pois o inimigo das nossas almas é habilidoso ao atuar dissimulando suas más intenções [2 Coríntios 2.11]. 

Após a conversão a Cristo como Salvador e Senhor, a decisão de se casar é a segunda decisão mais importante de uma pessoa, porque a Palavra de Deus nos informa que o casamento é para toda a vida [Gênesis 2.24].

I - O DIVÓRCIO NO CONTEXTO BÍBLICO

1. O divórcio no contexto do Antigo Testamento.

Deus planejou o casamento para ser duradouro, deseja que as pessoas vivam juntas até que a morte os separe, desfrutando de uma relação estável e saudável. Mas, Deus conhece a natureza humana, que insiste em pecar, e por este motivo Ele tolera o divórcio em situações específicas. 

O texto de Deuteronômio 24.1-4, refere-se ao novo casamento depois do divórcio, com ênfase na frase "por ele ter achado coisa indecente". Apesar dessa permissão de divórcio, Deus não incentiva a prática. A "coisa indecente" não pode ser compreendida como ato de adultério, pois para o adultério havia a pena de morte [Deuteronômio 22.22]. É provável que a ação indecente fosse o comportamento  exibicionista em público e outras vulgaridades diferentes. Nestas situações, o marido poderia dar carta de divórcio para a esposa.

Quanto ao novo casamento após o divórcio, também mencionado em Deuteronômio 24.1-4, vemos que Deus é misericordioso com o cônjuge que é abandonado após seu ato falho. Se a outra parte rejeita a reconciliação, o Senhor oferece uma nova chance de vida conjugal para a pessoa desprezada. E no caso da mulher divorciada casar-se com outro homem, e este falecer ou divorciar-se dela, o primeiro marido não recebia o direito de reatar o matrimônio. Muitas pessoas se arrependem por haver dado fim ao seu casamento. Este veto bíblico é um sinal de alerta a todos os indivíduos que sentem dificuldade em perdoar e estão propensos a optar precipitadamente pela separação.

O profeta Isaías, em 54.5, ao mencionar o futuro glorioso de Sião, compara o casamento com o relacionamento entre Deus e Israel [Isaías 54.5]. A nação israelita é comparada com uma esposa abandonada por um marido, por ter sido infiel a ele. A figura empregada por Isaías é a do marido fiel perdoando a esposa adúltera e restaurando-a ao seu lugar de honra.

A nação israelita havia simbolicamente se casado com Jeová no monte Sinai, quando foi estabelecido um pacto de fidelidade e amor eternos, ao qual não foi fiel ao se voltar para outros deuses, obrigando o Senhor a abandoná-la temporariamente. Por causa da sua infidelidade ao seu "marido", a nação israelita permaneceu em Babilônia por 70 anos, mas, a mensagem que Isaías apresenta no capítulo 54 é o anúncio que a sua esposa seria restaurada no advento do Messias. Por meio da amargura e dos sofrimentos, o povo de Deus tem a oportunidade de voltar a ouvir a voz divina que o chama ao arrependimento de seus pecados e a voltar aos braços do Senhor.

2. O divórcio no contexto do Novo Testamento.

Os fariseus perguntaram a Jesus se podiam se divorciar e ainda assim ficarem bem aos olhos de Deus [Mateus 19.1-9]. Então Cristo deu uma resposta longa, explicando o que o Criador pensa sobre o assunto, na perspectiva da Nova Aliança. Lembrou-lhes o projeto original de Deus para o casamento: que duas pessoas tornassem parte uma da outra, de tal maneira que o casamento não pudesse ser rompido sem lhes causar mal. 

Jesus respondeu aos fariseus dizendo que os divórcios aconteciam entre eles porque possuíam corações duros [Mateus 19.8]. A pessoa casada precisa ter bondade com relação ao seu cônjuge, a origem de diversas crises conjugais reside no fato de que o marido ou esposa não vê o ponto de vista da companheira ou companheiro, não tem disposição para se colocar no lugar da outra pessoa e assim torna-se difícil compreendê-la. Cristo conclama aos casais alimentar o matrimônio com amor, mesmo naqueles momentos em que fazer isso seja difícil.

Vemos que o Senhor não abre precedente para o divórcio por motivos banais, divorciar-se nunca foi uma válvula de escape traçada por Deus [Mateus 5.32; 19.9]. As cláusulas de exceção no divórcio, segundo o Novo Testamento, são:

Mateus 5.32. Jesus cita a exceção para o divórcio no caso da prostituição ["porneia", em grego, cujo sentido significa o adultério e outras práticas de imoralidade sexual]. É importante lembrar que no Antigo Testamento, nos casos da traição conjugal, os adúlteros eram penalizados com a morte. Então, em viuvez, a vítima da infidelidade passava a estar livre para contrair novo matrimônio. Sob a Nova Aliança, o crente vítima de deslealdade conjugal tem o direito de se casar novamente [Romanos 7.2; 1 Coríntios 7.39]. 

1 Coríntios 7.10,11,15. Em muitos casamentos, os cônjuges não se tornam crentes ao mesmo tempo. Às vezes, um deles jamais se torna cristão. Em um casamento assim, o apóstolo Paulo instrui o cristão a agir com amor, porque a vontade de Deus é que todos vivam em paz  e aquele que ainda não é salvo venha a conhecer a Cristo como seu Salvador e Senhor. Porém, Paulo não defende a permanência do matrimônio se a parte não crente decidir se divorciar [1 Coríntios 7.15]. 

Embora o adultério seja um pecado muito cruel contra o cônjuge inocente, e este tenha o justo direito de colocar fim no casamento por meio do divórcio, e após isso tenha a liberdade para contrair um segundo matrimônio com uma pessoa crente [1 Coríntios 7.27,28], aquele que deseja ser um imitador de Deus, segundo o exemplo de Deus em Isaías 54.5, precisa pensar na hipótese de perdoar dando continuidade ao casamento, no caso da pessoa adúltera manifestar arrependimento pelo ato falho que cometeu.

No Novo Testamento, a Igreja é chamada de Noiva de Cristo [Efésios 5.23,24; Apocalipse 19.7,8]. A vontade de Criador é que o relacionamento seja uma união permanente, monogâmica e baseada no amor. O casamento é uma aliança firmada diante de Deus e não convém ser quebrada [Hebreus 13.4].  Quando uma pessoa casada afirma que o desentendimento com seu cônjuge é irreconciliável, está afirmando que Deus não é capaz de promover reconciliação e restauração. Mas, tudo é possível para Deus [Jeremias 32.27]. O orgulho, o ressentimento, a vaidade e o egoísmo são os fatores que impedem a volta da harmonia no lar.   

II - A SUTILEZA DA NORMALIZAÇÃO DO DIVÓRCIO

1. O divórcio no seu aspecto legal.

A compreensão da sociedade em relação à aliança matrimonial, uma das mais importantes da Bíblia, mudou drasticamente. Os casais modernos estão muito exigentes. Quando acontece um conflito, tanto o homem como a mulher, cogitam em avaliar se sua realização pessoal, ou a valorização de seu potencial, podem ser colocados em risco. Se a conclusão a que chegarem demonstrar que sim, eles passam a pensar em divórcio como uma solução totalmente justificável. 

Existe no Brasil, desde 2007, o divórcio extraconjugal em cartório. Também existe a versão online, que possui as mesmas exigências do divórcio extrajudicial. Nas duas situações, é preciso o acompanhamento de um advogado, que poderá ser compartilhado pelas duas partes, podendo estar presente ou apenas por videoconferência. No caso de a mulher estar grávida, haver pessoa menor de idade ou dependente maior em condição de incapacidade, o divórcio não poderá ser efetuado sem o acompanhamento do Ministério Público. Em caso de não existir consenso em todos os detalhes da ruptura, é necessário a intervenção de um juiz.

Houve a publicação da Emenda Constitucional 66, em julho de 2010, quando entrou em desuso o instituto da separação judicial no Brasil. A medida coloca fim a longos prazos para dissolução do casamento civil, que antes só era possível depois do período de um ano de efetiva separação ou se fosse comprovado o fim da união há pelo menos dois anos.

Nenhuma crise entre marido e mulher, nenhum desentendimento na vida do casal, por maiores que sejam,  justificam uma separação precipitada. Diante deste panorama da legislação civil brasileira, é um enorme desafio ao crente que deseja seguir a Jesus fielmente não banalizar a prática do divórcio. 

2. O divórcio no seu aspecto moral.

O modelo comportamental oposto àquele defendido pela cultura judaico-cristã esforça-se para destruir o que a igreja cristã crê e pensa. Nesta situação, estão aqueles que procuram descontruir a família cristã, todos que desejam transformar o divórcio uma prática normal e os que vulgarizam a graça de Deus.

A família tem sido alvo de constantes ataques por parte de ideologias disseminadas em filmes, novelas, desenhos animados, internet, livros, revistas e outros meios de comunicação. Diante disso, o cristão precisa considerar, antes de tudo o mais, o que a Bíblia determina sobre o crente e o divórcio, em segundo lugar, sobre a questão moral e, em último lugar, pensar sobre o estado legal quanto a este assunto.

Não apenas da parte dos maridos, as esposas que solicitam o divórcio por motivos banais, em busca de um marido mais jovem ou em condição financeira melhor, são pessoas moralmente censuráveis. Divorciar-se por motivos egoístas, sem considerar o sofrimento psicológico dos filhos, é demonstração de falta de sensibilidade e falta de ética cristã. Ai daqueles, homens e mulheres, que produzem escândalos, colocam pedra de tropeço no caminho daqueles que ainda são neófitos da fé, e não pensam no bem-estar da sua família [Mateus 18.6; 1 Timóteo 5.8].

O profeta Malaquias, em 2.13-16, aborda a hipocrisia dos israelitas, que choravam e reclamavam no templo por não terem suas orações respondidas. Este texto esclarece que o crente que descuida do seu relacionamento conjugal tem interferência negativa no seu relacionamento com Deus, repudiar o cônjuge por motivo banal e usar de violência, atitudes consideradas cruéis no círculo familiar, são condenadas pelo Criador. 

III - O DIVÓRCIO E A PRÁTICA PASTORAL

1. A pessoa do divorciado.

Todos os ataques feitos pelo diabo à igreja são com o propósito de causar danos para a humanidade, não apenas aos servos do Senhor, pois o cristão avivado é a luz do mundo e o sal da terra [Mateus 5.13-14]. Dependendo da época e lugar, o maligno se vale de meios e formas diferentes para atacar o povo de Deus, com vista a fazê-lo luz apagada e sal insipiente. O que percebemos nas últimas décadas é que o tentador tem se valido da cultura secular, permeada pela imoralidade sexual e outras práticas condenadas pelas Escrituras, para se contrapor à realidade cristã. 

Temos conosco a Palavra de Deus, a nossa bússola que garante ao cristão seguir pelo caminho certo em meio aos altos e baixos e às densas trevas deste mundo turbulento, que de maneira sutil difunde a mensagem diabólica da normalização do divórcio. 

O padrão bíblico para a Igreja de Cristo é que o matrimônio seja heterossexual, monogâmico, indissolúvel e honrado [Gênesis 1.27,28; 2.22-25; Mateus 19.4-6; Hebreus 13.4]. As Escrituras Sagradas ensinam que a casamento é um compromisso entre um homem e uma mulher, perante o Senhor, e deve ser mantido por toda a vida.

O divórcio nunca fez parte do plano original de Deus para a família. Mas há pessoas que apresentam qualquer justificativa para adentrar pelo caminho da separação, elas enxergam nas discordâncias ou incompatibilidade de temperamento a oportunidade para aderirem ao divórcio. É nesse ponto que se inicia o processo da banalização.

É impossível separar o que Deus une. O divórcio sempre traz prejuízos para os cônjuges e para os filhos, e jamais poderá ser banalizado pela Igreja do Senhor. Os casamentos que terminam em divórcio entristecem a Deus, prejudicam e decepcionam profundamente os filhos, que acabam sendo separados de um dos pais, e sofrem com a necessidade de afeto não atendida.  

2. O divorciado como cristão.

Quem passou pela experiência do divórcio, ou testemunhou de perto alguém que experimentou uma separação, sabe que o divórcio é uma situação cruel. Cabe ao pastor esclarecer as ovelhas de Cristo, ainda solteiras, sobre a importância de buscar a sabedoria divina quanto ao seu futuro como marido ou esposa. Este ensinamento está relacionado à questão de criar prioridades corretas. Quando as pessoas priorizam o reino de Deus e a sua justiça, o Pai celeste promete que todas as demais coisas, necessárias, lhes serão acrescentadas. A provisão do Senhor não se restringe aos vestuários e alimentos, também diz respeito ao lar feliz [Josué 24.15; Salmos 128.3; Provérbios 31.28].

Ninguém, depois de viver um namoro e noivado cheios de promessas e ações românticas, se casa planejando se divorciar. Portanto, também é necessário cuidar, conforme indica a doutrina de Cristo, das pessoas que sofrem com o divórcio. 

Infelizmente, existe muitos cristãos que estão divorciados por causa da dureza de coração do ex-cônjuge, estes, além do sofrimento causado pela separação que não foi ocasionada por sua iniciativa, sofrem com a discriminação de uma parcela da membresia da igreja. 

Lembra-se com facilidade da passagem bíblica Malaquias 2.16, em que o profeta esclarece que  Senhor odeia o divórcio. Porém, é  importante esclarecer que Deus ama os divorciados, é misericordioso em favor daqueles que são vítimas de ato de adultério. abençoa todas as almas que se arrependem de seus erros e está de braços abertos para aqueles que foram desprezados por um alguém com quem um dia se casou. 

CONCLUSÃO

Durante as fases que antecedem o matrimônio, é difícil prever os acontecimentos traumáticos que levam à decisão de se separar. Apesar disso, duas pessoas que amam o Senhor e estão em momentos de desentendimentos entre si, não podem e nem devem pensar em uma separação, quanto mais um divórcio. 

A vida conjugal não está blindada quanto às dificuldades [1 Coríntios 7.26-28]. Enquanto vivemos neste mundo, estamos sujeitos a encontrar desafios a serem superados nos relacionamentos. Apenas se quisermos fazer uso da sabedoria de Deus, viver conforme as diretrizes bíblicas no que compete ao procedimento como marido ou esposa, tanto em  tempo de paz como de crises, teremos condições de usufruir de todas as bênçãos que o Senhor tem reservado aos lares cristãos.

E.A.G.

Bíblia da Família. Edição 207, página 174. Barueri - SP [Sociedade Bíblica do Brasil - SBB].

Ensinador Cristão. Ano 23, número 90, página 38.

Mensageiro da Paz. Ano 92, número 1645, junho de 2022, página 11

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