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terça-feira, 16 de novembro de 2021

A biografia de Mary Jones: garota inspiradora das sociedades bíblicas

Arte: Robert Oliver Rees (1879)
Arte: Robert Oliver Rees (1879)
A surpreendente determinação de uma menina galense em conseguir um exemplar da Bíblia inspirou a fundação da primeira Sociedade Bíblica. Conta-se que a Sociedades Bíblicas, entidade em atividades no mundo todo, dedicada à produção e distribuição do Livro Sagrado, teve sua origem motivada na bela história de uma menina. O lema da Sociedades Bíblicas - levar a bíblia a todos os povos, em uma língua que possam entender e a um preço que possam pagar - teria sido inspirado na humildade, determinação e coragem de Mary Jones, que viveu no País de Gales (Grã-Bretanha), durante o século 18. 

O exemplo de Mary Jones

Mary Jones nasceu por volta de 1785, no País de Gales, na Europa. Vivia com seus pais numa casa feita de pedras, numa vila rodeada de montanhas. Aos 8 anos de idade, começou a alimentar um sonho: ter a sua própria Bíblia. Ela queria ler em sua casa as histórias bonitas que costumava ouvir na igreja. Porém, esse desejo parecia impossível de ser realizado. Mary, que morava em uma pequena vila chamada Alan, ainda não sabia ler - e, infelizmente, não havia escolas nas redondezas. Além disso, naquele tempo, as Bíblias - assim como os demais livros - eram muito raras e caras. Só poucos privilegiados possuíam um exemplar das Escrituras Sagradas. E este não era o caso de Mary, cuja família era muito pobre. Mesmo assim, a menina fez uma promessa a si mesma: um dia teria sua própria Bíblia.

Arte: David Evans (1883)
Arte: David Evans (1883)
Primeiro passo

Ao completar 10 anos, a garotinha encontrou uma oportunidade de aprender a ler. Vendedor, seu pai foi vender tecidos numa vila próxima, chamada Aber, e soube que seria aberta uma escola primária naquela região. Quando a escola começou a funcionar, ela foi uma das primeiras crianças a se matricular. Muito empolgada, tornou-se uma das melhores alunas de sua classe. Em pouco tempo, estava alfabetizada.

Mary continuava firme em seu propósito de conseguir a sua Bíblia. Agora que já sabia ler, a grande dificuldade era conseguir a soma em dinheiro necessária para comprá-la. Para isso, fazia pequenos trabalhos, com os quais ganhava alguns trocados. Carregava lenha na mata para pessoas idosas e trabalhava como babá. E, com a intenção de ganhar um pouco mais, comprou algumas galinhas e passou a comercializar os ovos.

Ao completar o primeiro ano de economias, Mary abriu o cofre para contar quanto estava guardado. Então veio a uma triste conclusão: até aquele momento havia conseguido economizar apenas uma pequena parte do que precisava para comprar a sua Bíblia. Aprendeu a costurar durante o segundo ano em que estava juntando dinheiro. Com isso conseguiu guardar um valor maior, mas ainda não o suficiente para realizar o seu sonho.

Outros anos

Ao entrar no terceiro ano, Mary teve de enfrentar uma acontecimento imprevisto: seu pai adoeceu e parou de trabalhar. Então, a menina teve que entregar tudo o que havia economizado durante aqueles anos para sua família. Nesta época, não era possível colocar nada no cofre. Ela continuou trabalhando e, no final do quarto ano, conseguiu completar a quantia de que precisava para comprar a Bíblia. Nessa altura de sua vida, estava com 15 anos de idade.

Artes: John Morgan e William Morgan (1897)
Artes: John Morgan e William Morgan (1897)
Havia condição de comprar a sua tão sonhada Bíblia, mas onde iria encontrá-la? O pastor de sua igreja lhe informou que não era possível comprar Bíblias em Alan, nem nas vilas vizinhas. Ela só conseguiria encontrar um exemplar na cidade de Bala, que ficava a 40 quilômetros dali. Naquela cidade, morava o Reverendo Thomas Charles, que costumava armazenar em sua residência um pequeno estoque de exemplares das Escrituras Sagradas para vendê-los às pessoas da região.

Munida desta informação, Mary foi para casa e pediu a seus pais que a deixassem ir a cidade de Bala. Eles não queriam que a filha fosse sozinha, mas a mocinha insistiu tanto que acabaram concordando com a ideia.

Pés descalços

Pensando em poupar seus sapatos da dura caminhada, a fim de poder usá-los na cidade, a longa viagem de Mary Jones foi feita a pé. Depois de caminhar o dia todo descalça, por fim, ao anoitecer, ela chegou à casa do Reverendo Thomas Charles. Ali, no entanto, uma surpresa desagradável a aguardava:  Thomas Charles havia vendido todo o estoque de Bíblias. Ele mantinha alguns poucos exemplares, mas esses já estavam todos encomendados.

Mary começou a chorar ao receber essa notícia. Ao se acalmar, contou toda sua longa história ao religioso. O pastor comoveu-se, dirigiu-se até um armário, retirou de lá uma das Bíblias vendidas e entregou-a para Mary.

Thomas Charles não poderia menosprezar a história do esforço da jovem que durante seis anos havia se esforçado demais e tinha caminhado tanto para conseguir uma Bíblia no seu idioma. Impressionado, resolveu contar o que ouviu aos diretores da Sociedade de Folhetos Religiosos, uma entidade cristã local. Muito sensibilizados com a persistência de Mary para conseguir seu exemplar da Bíblia, os diretores daquela organização concluíram que experiências como a dela não deveriam mais se repetir. E assim decidiram fazer alguma coisa para tornar a Palavra de Deus acessível a todos. Após muito planejamento e oração, organizaram uma instituição, fundaram em Londres a instituição British and Foreign Bible Society (Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira), com a finalidade de traduzir, imprimir e distribuir a Bíblia. Foi assim que, no dia 7 de dezembro de 1802, surgiu a primeira entidade cristã dedicada a disseminar as Escrituras Sagradas.

A Bíblia de Mary Jones


A Bíblia de Mary Jones, que ela obteve em 1800 de Thomas Charles, está agora guardada nos arquivos da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira na Biblioteca da Universidade de Cambridge. É um exemplar da edição de 1799 da Bíblia Galesa, dez mil exemplares dos quais foram impressos em Oxford. Além do Antigo e Novo Testamento e dos Apócrifos, o volume contém o Livro de Oração Comum (em galês) e as versões métricas dos Salmos, em galês, de Edmwnd Prys. 

Mary Jones escreveu o seguinte (em inglês) na última página dos Apócrifos:

"Mary Jones nasceu a 16 de Dezembro de 1784. Comprei-a no 16º ano da minha idade. Eu sou filha de Jacob Jones e Mary Jones Sua esposa. o Senhor pode dar-me graças. Amém. Mary Jones. A Sua verdadeira Biblia. Comprada no ano 1800 aos 16 anos de idade."

Leitura, casamento, devoção, abelhas e filhos


Mary teve uma vida longeva e em pobreza. Casou-se em 1813. Em 1820, ela e o marido mudaram-se para  Bryn-crug perto de Tywyn. E foi lá que viveu o resto de seus dias. Deu à luz para seis crianças, cinco filhos faleceram na juventude e a criança sobrevivente migrou aos Estados Unidos quando adulta. 

A origem do seu sustento provinha do cultivo de abelhas, atividade comum para a época. Através da renda desse trabalho, foi colaboradora regular da fundação Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira para obra missionária e também contribuiu regularmente com o departamento de missões de sua denominação, a Igreja Metodista Calvinista. Atribuía a razão de suas contribuições generosas ao fato de que as abelhas eram produtivas, forneciam produtos de alta qualidade e não a picavam.
 
Apesar das adversidades, perseverou em sua fé até o final da sua vida. Faleceu em 1864 ao 79 anos de idade, viúva e cega. Seus restos mortais foram sepultados na capela da Igreja Metodista Calvinista. 

O Dia da Bíblia

O Dia da Bíblia foi instituído em 1549, na Inglaterra, quando o bispo Cranmer incluiu no livro de orações do rei Eduardo VI um dia específico para que os ingleses se dedicassem à leitura do Livro Sagrado.

A data escolhida foi o segundo dos quatro domingos que antecedem o Natal. Desde então, o segundo domingo de dezembro tornou-se o Dia da Bíblia. No Brasil, o Dia da Bíblia passou a ser celebrado em 1850, com a chegada dos primeiros missionários protestantes vindos da Europa e Estados Unido da América. 

Durante o período do Império, a liberdade religiosa era muito restrita, isso impedia que o povo se manifestasse publicamente. Por volta de 1880, esta situação foi se modificando e o Dia da Bíblia foi se popularizando. Hoje, o dia dedicado às Escrituras é comemorado em cerca de 60 países, sendo que, em alguns deles, a data é celebrada no segundo domingo de setembro, numa referência ao trabalho de Jerônimo, o tradutor da Vulgata, a conhecida tradução da Bíblia ao latim.

Fontes: 
A História de Mary Jones: o início do movimento das sociedades bíblicas. Edição 2008. Barueri - SP (Sociedade Bíblica do Brasil - SBB).
Bala and the Bible: Thomas Charles, Ann Griffiths and Mary Jones.  E. Wyn James. Cardiff University Prifysgol Caerdydd. - www.anngriffiths.cardiff.ac.uk/bible.html. Acesso: 15 de novembro de 2021
Hoje é o Dia da Bíblia. Saiba a razão lendo a história de Mary Jones, a menina que inspirou a criação da primeira Sociedade Bíblica - https:belverede.blogspot.com.br. Acesso: 15 de novembro de 2021
La Biblia Web. Sociedade Bíblia Unidas - http://bibliaweb.com.br. Acesso: 4 de dezembro de 2008.

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