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domingo, 20 de outubro de 2019

A Degeneração da Liderança Sacerdotal


Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

A vida cristã é uma trajetória de adversidades e tentações às práticas do pecado. É necessário fazer todos os esforços possíveis para evitar pecar. Em todo tempo somos atraídos às concupiscências da carne, dos olhos e pela soberba dessa vida. Com o objetivo de não ceder ao erro, é preciso viver em submissão à orientação da Palavra de Deus.

I - A DEGENERAÇÃO DOS FILHOS DE ELI

1. Quando não valorizamos o que Deus nos deu.

O missionário N. Lawrense Olson, como comentarista da revista Lições Bíblicas do primeiro semestre de 1970 (naquela época não havia a publicação trimestral), na lição número 4, cujo título é “Atitudes que se deve tomar para com o mundo”, nas páginas 18 e 19 faz uma reflexão muito interessante, que passo a relatar sem me ater ao seu estilo de plano sintático à escrita: 

Certa vez, um rapaz ficou incumbido de cuidar de um cavalo que pastava no campo. Em determinado momento ele sentiu cansaço e, incoerentemente, amarrou a corda do cabresto no próprio braço e deitou-se na relva para uma soneca; depois de algum tempo em que cochilava, o animal pôs-se a correr em grande velocidade. Durante a disparada o pobre garoto foi arrastado por muitos metros e só se viu livre quando o seu braço foi arrancado de seu corpo.

É necessário que o crente, da mesma maneira que tomou a atitude contra o pecado em sua vida, aceitando a purificação e a justificação de seus delitos, tome também atitude semelhante para com o mundo e suas sutis tentações. Devemos ocupar a mente com pensamentos lá de cima (Colossenses 3.1-4). Paulo instruiu os coríntios a não permanecerem preocupados com as coisas transitórias dessa vida, pois o tempo se abrevia. Estamos caminhando para o céu, não é conveniente apegar-se ao peso inútil que nos atrapalhe e arraste para longe da vontade de Deus (1 Coríntios 7.29-30).

2. Fazendo um troca.

O cristão precisa manter sua atenção voltada para coisas edificantes. Não ceder à concupiscência da carne, dos olhos e à soberba da vida (1 João 2.16). A licenciosidade da natureza carnal é capaz de atrair e vencer o crente por pensamentos e indução aos atos pecaminosos.

A concupiscência dos olhos nos remete para mais além da capacidade de enxergar o mundo físico, tem a ver com envolver-se em planos fora da vontade de Deus, atrelar-se em negócios não compatíveis com a vida cristã e distrair-se com a cultura da sociedade que não está em acordo com a vontade do Senhor. Por falta de vigilância, muitos se deixam influenciar por coisas que o mundanismo mostra e se esquecem do hábito diário de dedicação aos momentos devocionais e se afastam de ambientes em que se cultua a Deus.

Para dizer sobre o desejo de querer ser alguém maior do que é na realidade, o apóstolo João usa a terminologia “soberba da vida”. Infelizmente, viver em função de possuir fama, prestígio e fortuna tem sido “a corda do cabresto atada ao cavalo e ao braço” de muitos cristãos na atualidade. Não basta um veículo que responda às necessidades de locomoção, querem o último modelo que está na praça; há uma quantidade suficiente de mudas de roupas no armário, mas sente a necessidade de desfilar com o modelo que os estilistas sugerem para a presente estação. Age assim porque acredita que para ser valorizado como pessoa é necessário causar impressão impactante a cada dia, quando para muita gente este tipo de comportamento não passa de um jeito superficial e risível de se viver.

Somente o cristão que faz a vontade de Deus permanece para sempre (1 João 2.17). Portanto, o crente precisa tomar o máximo de cuidado para não ficar preso ao culto das coisas materiais que possui ou precisa possuir, deve considerar que apenas o Criador tem que ser o alvo de sua adoração. Sem usar palavras, Jesus ensinou uma lição de grande importância para todos os cristãos, quando sendo o maior entre todas as pessoas de todos os tempos, cingiu-se com uma toalha e encurvou-se para lavar os pés dos discípulos (João 13.1-5; 12-19).

3. As consequências para quem peca contra Deus.

Jesus está às portas (Mateus 25.21). O anúncio sobre A Volta de Jesus não significa que o crente deve ser uma pessoa alienada, ninguém precisa abandonar suas atividades sociais e profissionais para servir a Deus com inteireza de coração. Saber sobre a promessa do Arrebatamento da Igreja implica no dever de empregar recursos, talentos e tempo de maneira diligente, com a finalidade de estar completamente dentro da vocação que Deus nos chamou. A promessa de entrar no gozo celeste tem como finalidade nos manter em vigilância. Vigilância esta que não é sinônimo de ociosidade, mas da execução fiel de dons e habilidades que Deus nos confiou para usar nas oportunidade que Ele também nos concede.

Para alguns, a chamada divina representa uma mudança de atividade, mas para a maioria dos cristãos representa continuar a viver em fidelidade, realizar a atividade diária demonstrando amor a Deus e ao próximo no círculo social no qual está inserido, para assim testemunhar às almas que está ao seu alcance sobre o plano da salvação e motivá-las a se decidiram por Cristo.

Não podemos nos esconder de Cristo. Todo pecado contra Deus recebe sua sentença  (Apocalipse 2.23). Ele conhece o que se passa em nosso coração, quais pensamentos alimentamos ou rejeitamos, e assim mesmo nos ama. Então, os pecados que damos espaço em nossa mente e colocamos em execução, devem ser confessados e abandonados. A fidelidade é o caminho do êxito verdadeiro.

II - A SENTENÇA DO JUÍZO DE DEUS

1. A experiência profética de Samuel.

Samuel dedicou sua vida como sacerdote, juiz e profeta. É a pessoa que Deus escolheu para marcar a transição do governo dos juízes ao governo dos reis. Como profeta, ele anunciou mensagens de Deus ao povo. É digno de nota que o termo profeta ("nabi" em hebraico) aparece seis vezes em sua forma feminina ("nebiyah"), e é usado por duas vezes para descrever o ofício profético de mulheres: de Hulda por duas vezes, de Miriã, de Débora e de Noadias, a esposa do profeta Isaías.

Em sua experiência profética, Samuel recebeu uma pesada comunicação divina, que se consistia na relevação de uma mensagem duríssima contra Eli e sua família. Samuel quis guardar a mensagem para si, pois se tratava de um diálogo particular entre ele e Deus. Deus o avisou sobre o juízo que estava presente no futuro de Eli e de toda a sua linhagem sacerdotal, para que ele não fosse surpreendido com a ocorrência trágica que estava prestes a acontecer. Mas Samuel, diante da insistência de Eli, demonstrou ser uma pessoa cordata e contou-lhe o que Deus havia lhe dito (Samuel 3.1-21).

Como porta-voz de sua Palavra, é importante ao crente ter o discernimento sobre os propósitos das revelações que recebe. Algumas são de ordem particular, outras apenas para um indivíduo ou comunidade e, é preciso agir com discrição, e, ainda outras, são mensagens cujo destino é amplo, quando é necessário trabalhar com muita disposição para alcançar o objetivo divino que Deus nos confiou realizar.

1.2 A experiência profética de Daniel

Nos quatro parágrafos abaixo, segue uma abordagem sobre a narrativa do capítulo 5 de Daniel, que nos ensina sobre a conduta correta dos pregadores da Palavra de Deus, no que se refere às suas prioridades

Os leitores da Bíblia Sagrada sabem que Daniel era cativo na Babilônia quando Belsazar, deliberadamente, afrontou a autoridade divina, ao usar os utensílios sagrados do templo de Deus em um banquete para mil convidados idólatras. Quando bebiam o vinho e louvavam aos deuses confeccionados em ouro, em prata, em cobre, ferro, e madeira, Deus permitiu que Belsazar visse uma mão a escrever sua sentença condenatória na parece do palácio no idioma aramaico, do qual ele e os babilônicos dominavam a leitura (Daniel 2.4), mas todos os presentes no local não conseguiram entender o significado da mensagem. As forças de Belsazar diminuíram, ele ficou trêmulo no mesmo instante. Convocou astrólogos, adivinhadores e pediu que interpretassem o que estava escrito, prometendo-lhes honrarias e dinheiro a quem conseguisse entender e dizer o significado. Apesar de ávidos por posição social e econômica mais elevada, todos que tentaram fazer a interpretação falharam, pois o Senhor só concedeu a Daniel  a permissão de saber qual era o sentido da mensagem.

Daniel não havia comparecido, foi necessário chamá-lo. Daniel não confundiu o sagrado com o profano quando interpretou a frase, pois sabia que não deveria fazer aquilo aceitando recompensas terrenas, pois a sentença tinha que ser entregue demonstrando toda a sua imparcialidade como servo do único Deus vivo (Daniel 5.17). Estava escrito: "mene, mene, tequel e parsim": pesado foste na balança e achado em falta". Belsazar insistiu em presentar Daniel e lhe colocar como o terceiro dominador da Babilônia; naquela mesma noite Belsazar morreu (versículos 24 a 31).

Agir corretamente é o dever de todos os cristãos, temos diante de nós a Bíblia Sagrada e muitas almas que não entendem o seu conteúdo, pois não têm o Espírito Santo em suas vidas. O obreiro tem de valorizar a sua vocação (Hebreus 5.4). Há maior responsabilidade aos que foram separados pelas igrejas como ministros pregadores da Palavra, pois a atividade os coloca como centro das atenções de muita gente e nem todos que os ouvem têm estrutura para permanecer em pé caso haja escândalo provocado por eles. São muitas as circunstâncias em que, para fazer a coisa certa, os servos de Deus precisam desistir de recompensas materiais e priorizar tão somente aparecer como um intérprete das Escrituras Sagradas.

1.3 O exemplo ministerial do apóstolo Pedro

O apóstolo Pedro foi um dos discípulos que viram a glória da transfiguração (Marcos 9.1-13; 2 Pedro 1.16-18). E, tendo testemunhado a morte e a ressurreição de Jesus, foi o porta-voz de Deus que pregou no Pentecoste e tornou-se uma coluna da Igreja Primitiva. E com esta autoridade investida pelo Espírito Santo, ensina que os líderes devem viver o ideal da Palavra, como o exemplo dos fiéis (1 Pedro 5.3). Ao se dirigir aos presbíteros, que representava a liderança eclesiástica, identificou-se como um presbítero da mesma categoria, não como sendo alguém superior e admoestou-os a apascentarem  o "rebanho de Deus", ecoando a todos exatamente o que Jesus havia ordenado a ele que fizesse (João 21.15-17). Seu exemplo como líder mostra que a autoridade é baseada no serviço, não em degraus de hierarquização ao estilo das empresas seculares.

Nem sempre, por mais que o ministro se esforce, poderá evitar que uma tragédia moral ocorra  consigo ou com algum membro de sua família. Nestas circunstâncias de exceções, a Palavra de Deus nos aponta para a meta ideal e para a excelência no modo de se viver e também oferece graça, misericórdia e restauração em Cristo aos que são sinceros em sua prestação de serviço ao Senhor e para a membresia da igreja. Ver: Marcos 3.5; Lucas 6.6-11.

2. Sentença pronunciada.

Eli fracassou ao não intervir na conduta imoral de seus filhos. e recebeu sua sentença condenatória por intermédio de um profeta desconhecido, teve a confirmação da condenação através do rapaz Samuel (1 Samuel 2.31; 3.12). Deus o rejeitou e o retirou juntamente com sua família do sacerdócio em Israel. O cumprimento da sentença ocorreu em tempo próximo (1 Samuel 4.18-22) e também remoto (1 Reis 1.7,8; 2.27,35).

Pelo fato de Eli não reprender a conduta má de seus filhos, ele recebeu o peso do juízo divino sobre sua vida, que terminou tragicamente ao cair de um assento e quebrar o pescoço. Mesmo sabendo dos erros de seus filhos, não os repreendia, mas se omitia, não cumpria suas responsabilidades como sumo-sacerdote e pai em seu âmbito familiar.

Não encontramos nos relatos bíblicos que Eli tenha cometido pecados por ação, o pecado que ele cometeu é registrado como omissão. Deixar de fazer o que é certo também é pecado (Tiago 4.17). Assim como é pecado mentir, também pode ser pecado conhecer a verdade e não dizê-la. É pecado falar mal do próximo, mas também é pecado evitar uma conversa quando a pessoa precisa de um incentivo para melhorar suas atitudes e consertar seus erros.

Pelo fato de os filhos de Eli não valorizarem o que Deus lhes deu, por trocarem o sagrado pelos prazeres da vida, eles receberam como consequência a ira do Senhor, que foi executada por intermédio da invasão dos filisteus.

Temos em Levíticos 21.6-7 as leis para os sacerdotes judaicos. Nesta passagem bíblica, é dito, subtendidamente, que o sacerdote sem esperança no cuidado soberano, sobrenatural e eterno de Deus, é alguém incapaz de ministrar ao povo no templo. Com as devidas proporções no que tange às atividades litúrgicas, notamos que existem características similares no perfil do sacerdote do Antigo Testamento com o ministro das igrejas no Novo Testamento. O zelo por um estilo de vida semelhante a Cristo (João 4.23-24; Romanos 12.1-2); o cuidado na escolha de uma esposa que aprecie ser sua companheira ministerial (Levítico 21.7); uma boa administração do lar e dos filhos em fase infantil e daqueles que ainda vivem em casa sob a responsabilidade dos pais (1 Samuel 3.4; 1 Timóteo 3.4).

3. A desgraça da família de Eli.

Os filhos de Eli foram descritos como "filhos de Belial" (1 Samuel 2.12-36); o termo hebraico significa indignidade ou iniquidade. A degeneração da família de Eli ocorreu porque seus filhos cometeram profanação às coisas sagradas que haviam no tabernáculo. Ao agirem de modo corrupto e imoral. profanaram o ambiente religioso e pecaram contra Deus.

A advertência que Eli deveria ter proferido aos seus filhos teria que  abranger tanto uma repreensão sobre a conduta imoral que eles apresentavam quanto fazê-los perceber que suas ações provocavam efeitos negativos sobre os israelitas que os observavam.

A Carta à Igreja de Tiatira (Apocalipse 2.23) revela que o Senhor exerce seu juízo contra os seguidores de Jezabel. Essa mulher é a mãe simbólica de todos que seguem doutrinas libertinas e espúrias. Neste texto, literalmente, no idioma grego, é dito que o Senhor examina "rins" e "entranhas. Na atualidade, costuma-se fazer referência ao coração para explicar os sentimentos e à mente para a razão, mas nem sempre foi assim. Tal sondagem significa que Ele conhece as nossas vontades (desejos e fome) mais íntimas, e todos os motivos de nossas decisões, ações e reações.

III - AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO

1. O preço do pecado. 

Todos os dias o cristão é tentado a não fazer o bem que a Palavra de Deus orienta a que seja feito e a fazer o mal que aprendeu nas Escrituras que não pode fazer. O apóstolo Paulo mostra a existência deste conflito dentro do coração do crente, revelando que havia em sua vida esta situação incômoda.

Há dentro do coração do cristão uma batalha diária entre a nova natureza e a velha criatura. Este conflito é apresentado por Paulo em Romanos 7.14-20: "Porque bem sabemos que a lei é espiritual. Eu, porém, sou carnal, vendido à escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto.  Ora, se faço o que não quero, concordo com a lei, que é boa. Neste caso, quem faz isso já não sou eu, mas o pecado que habita em mim. Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim, mas não o realizá-lo. Porque não faço o bem que eu quero, mas o mal que não quero, esse faço. Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim" (NAA).

Quanto a isso, temos que colocar a fé em Cristo em ação e rogar pelas misericórdias do Senhor, permanecer debaixo da graça e empreender esforço para caminhar como filhos do Altíssimo e geradores do fruto do Espírito. Não podemos desprezar o fato que Cristo nos redimiu no Calvário das consequências da Queda, agora não somos mais escravos do pecado, estamos libertos da sua força escravizadora da carne e só cedemos se não tivermos em nosso o firme propósito de agradar ao Pai celeste. A partir do momento da conversão, o Espírito fez do nosso coração a sua habitação, testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus, nos guia ao estilo de vida em santidade (Romanos 8.1-17; Gálatas 5.19-23).   

Para Deus, se estamos habituados a ceder ao impulso da natureza humana e a fazer o que sabemos que é errado ser feito, ou se estamos acostumados a recusar fazer o que sabemos que é correto ser feito, são apenas duas configurações da vida em pecado. Tanto o pecador que está em um extremo como o que permanece no outro receberão a mesma sentença caso não se arrependam. Qual? A existência eterna em condenação, que é a irreversível morte espiritual (Romanos 6.23).

2. Os males da falta de repreensão.

Existe um erro de interpretação muito grave quanto ao substantivo "vara", em Provérbios 23.13-14: " Não deixe a criança sem disciplina, porque, se você a castigar com a vara, ela não morrerá. Você a castigará com a vara e livrará a alma dela do inferno". A vara é um símbolo do cuidado e amor dos pais. Tal palavra também se encontra no Salmo 23 e versículo 4, faz alusão aos pastores que a usavam como instrumento de defesa do rebanho, enxotando os animais predadores de ovelhas, e jamais como algo para espancá-las.

A educação dos filhos envolve um processo de "discipulado" (Hebreus 12.11). Os pais ensinam a obediência não apenas para sujeitar os filhos ao mero capricho de dar ordens e vê-las cumpridas. Deus concede autoridade com o objetivo de conduzir as crianças à salvação. Apesar do castigo fazer parte da disciplina, no processo de educação existem diversas etapas intermediárias antes de aplicar a pena mais enérgica. É possível dialogar com os pequenos, além de haver o método de ensino através do exemplo. Não compreender tal propósito divino leva a prole à degeneração espiritual.

É preciso conviver com as crianças tendo a sensibilidade para conhecer os momentos em que elas deixam de obedecer por simples imaturidade ou esquecimento, por dificuldade em cumprir a ordem devido transtorno neurológico como o déficit de atenção, por estar frustrada e a rebelião obstinada. Para todas as situações os genitores devem se esforçar para evitar prejuízos à fé dos pequenos e não causar a sua ira. Quando há boa orientação, associada ao modelo correto do padrão do estilo de vida cristã que Deus espera de todos nós, a correção terá como consequência mantê-los no rumo certo.

3 . Pecados voluntários e deliberados não têm perdão.

No contexto da primeira carta de João, o pecado que traz a morte era prática de gente que tinha consciência do que representa o pecado para Deus e mesmo assim sentiam satisfação em pecar (2.15), essas pessoas eram inimigas de Cristo (2.18-19), estavam envolvidas pelas trevas (2.9,11), eram filhos do diabo (3.10), negavam que Jesus Cristo veio como um ser humano (3.22-23; 4.13) e eram seguidoras do espírito do erro (1 João 4.6). Assim sendo elas, o apóstolo instruiu seus discípulos que seria vão orar em favor de tais almas equivocadas (Mateus 12.31,32; Hebreus 6.4-6).

Haja luz de discernimento nos seguidores de Cristo, que o coração de cada um de nós pulse em temor e tremor, pois há pecados pelos quais ninguém deve orar pelo pecador. Como seguidores de Jesus, estamos livres da escravidão do pecado, temos a mente de Cristo e nesta circunstância há condição plena de evitar o pecado voluntário e deliberado (João 8.36; 1 Coríntios 2.16).

Relatos sobre as drásticas consequências do pecado:
• A expulsão de Adão e Eva do Paraíso (Gênesis 3.1-7,23; Romanos 5.12).
• Acã e sua família perderam a vida (Josué 7.24-25);
• Nabal, homem duro em palavras e ações, teve aparente rigidez mórbida antes de morrer (1 Samuel 25.36-38)
• Ananias e Safira foram mortos (Atos 5.1-11).
"Se continuarmos a pecar de propósito, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados. Pelo contrário, resta apenas uma terrível expectativa de juízo e fogo vingador prestes a consumir os adversários" - Hebreus 10.26,27 (NAA).

O pecado que leva à morte tem sido explicado de muitas formas. Alguns sugerem que a referência é ao pecado que resulta em morte física. Outros explicam a morte espiritual, que sobrevém aos que conhecem a verdade, experimentaram as bênçãos e rejeitam o Evangelho com deboches contra Deus e ações violentas contra os filhos de Deus. Os tais são comparáveis ao cão que retorna ao seu vômito para ingeri-lo (Provérbios 26.11).

CONCLUSÃO

Pela falta de esperança no cumprimento das promessas de Deus, muitos crentes se contaminam ao encontrar oportunidades de satisfazer os prazeres passageiros que estão neste mundo. E não deveria ser assim.

E.A.G.

sábado, 19 de outubro de 2019

O casamento dos suecos Gunnar e Frida Vingren: missionários fundadores da Assembleia de Deus no Brasil


O matrimônio de Gunnar Vingren e Frida Stradberg aconteceu em no dia 16 de outubro de 1917, o mesmo ano em que ela chegou ao Brasil. Gunnar estava com 38 e Frida com 26 anos de idade. O casamento aconteceu em Belém do Pará, com a ministração do missionário sueco Samuel Nyström.

Frida esteve casada com Gunnar até 29 de junho de 1933, a data em que seu marido faleceu. O matrimônio durou dezesseis anos e durante este tempo geraram seis filhos: Ivar, Rubem, Margit, Astrid, Bertil e Gunvor, que faleceu em 23 de julho de 1932, e foi sepultada no cemitério do Caju (RJ), pouco antes de eles retornarem em definitivo para a Suécia.

Enquanto Gunnar era forçado a se revesar entre o seu ministério e o leito da enfermidade, Frida se desdobrava como esposa, mãe e missionária em campo. Um galardão precioso a espera lá no céu.

Quanto mais pesquiso, mas admiro essa irmã. Ela era pregadora, cantora, compositora, pianista, poetisa e enfermeira - era chamada por gestantes brasileiras para realizar partos -, e se não bastasse, tinha um perfil de liderança entre os machistas dos idos anos 10 a 30.

Memórias das Assembleias de Deus no Brasil.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A Chamada Profética de Samuel

Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO


O terceiro capítulo de 1 Samuel traz ao leitor da Bíblia o início da carreira ministerial na vida de Samuel, que viveu no decorrer dos últimos dias dos juízes, durante o fracasso do sacerdócio sob o comando de Eli, e no início do regime monárquico do governo desastrado sob o comando de Saul. 

I - DEFININDO O "PROFETA" EM ISRAEL

1. A menção de "profeta" no livro.

A primeira menção do ofício de "profeta" registrada nos livros de Samuel,  embora o termo profeta não esteja escrito, é feita em 1 Samuel 2.27-36. Trata-se de "um homem de Deus" que a Bíblia não revela seu nome. Este homem não identificado é usado por Deus para repreender Eli como sumo sacerdote e pai.

Os filhos de Eli, Hofni e Fineias, serviam como sacerdotes em Siló, mas tratavam as ofertas a Deus com desprezo e tinham relações com mulheres à porta da entrada da Tenda da Congregação. Estas mulheres, possivelmente, eram dedicadas ao serviço religioso, conforme determinava Êxodo 38.8).

Hofni e Fineias ignoraram as advertências de Eli. Mas Eli não tomou as devidas providências por eles não terem acatado suas repreensões. Assim, por Eli honrar mais aos seus dois filhos do que ao Todo Poderoso, p juízo divino veio sobre sua casa, seus dois filhos foram mortos no dia em que os filisteus capturaram a arca da aliança. Quando Eli soube da morte dos filhos e que a arca havia sido capturada, caiu da sua cadeira para trás, e quebrou o pescoço e morreu. A tragédia alcançou a esposa de Fineias, que em estado de gravidez deu à luz um menino e em seguida faleceu (1 Samuel 1.3,9-18,24-27; 2.11-3.18; 4.1-22; 14.3; 1 Reis 2.27).

Deus sempre apresenta uma pessoa específica para quando é necessário tomar a frente de uma missão especial. Ele usa homens para advertir, repreender, julgar e intervir nos rumos equivocados da humanidade. Moisés e Samuel são bons exemplos disso (Deuteronômio 33.1).

Depois da morte de Eli e seus filhos, Samuel se tornou o líder de Israel. Clamou ao Senhor em Mispa e Deus libertou os israelitas dos filisteus. Por toda a sua vida, Samuel percorreu Betel, Gilgal, Mispa e sua terra natal Ramá, proferindo julgamentos, governando e liderando Israel em atos de adoração.

2. Definição de profeta.

No hebraico, "nabi" tem  sentido primário de apontar alguém que declara algo. No contexto bíblico, descreve aquele que recebeu por revelação direta de Deus suas palavras para proclamar  ao povo. Este termo aparece mais de trezentas vezes nas páginas do Antigo Testamento. Entre tantas citações, podemos vê-la em Gênesis 20.7; Números 12.6; 1 Samuel 3.20; 1 Reis 1.8; Salmos 74.9; Jeremias 1.5.

Observa-se em narrativas do Antigo Testamento que o profeta era um homem usado por Deus, alguém que mantinha comunicação com o Espírito do Senhor e recebia dEle visões, previsões, prognósticos, predições e posteriormente transmitia as revelações que via. Era o indivíduo que dirigia-se ao Senhor por meio de súplicas, enfatizando à justiça e ao direito, é quem realizava milagres, pronunciava julgamentos por meio de atos simbólicos. Vivia controlado pelo sobrenatural divino, por isto era chamado de "vidente". Ezequiel é um dos profetas apresentado nas Escrituras como um homem de grandes visões (Ezequiel 1.1).

A palavra vidente no hebraico é "ro'eh" e "hozed", que quer dizer "aquele que vê, que percebe, tem visão". E "profeta é um termo associado à palavra falada, à oralidade. O vocábulo "profeta" em hebraico é "nabi".  Etimologicamente, a definição de "nabi" é incerta, mas, diversos significados lhe são atribuídos, entre os quais, "chamado por Deus" e "orador". Porém, a maioria dos estudiosos trata a palavra "profeta" com o sentido de "porta-voz". Deuteronômio 18.15-22 é a passagem que apresenta o padrão que define a função do profeta. As atividades de Moisés preparando o povo israelita para entrar em Canaã é um exemplo essencial que define o papel do profeta.

No ato de profetizar, o profeta comunica aquilo que Deus realmente deseja falar, é o elo entre Deus e os ouvintes, e nesta condição faz com que quem o ouve entenda perfeitamente qual é a intenção e o sentido da mensagem que Deus quer que seja entregue. Esta mensagem sempre tem a finalidade de conclamar o povo à santidade e obediência, que resulta em comprometimento e adoração.

2.1 - O profeta como atalaia.

O profetismo foi um movimento usado por Deus com o objetivo de incentivar, renovar a comunhão do povo com Ele. O profeta do Antigo Testamento era visto como atalaia e pastor (Jeremias 6.16; Ezequiel 3.17), a pessoa escolhida por Deus para trazer assuntos cuja origem era divina.

No contexto do Antigo Testamento, "atalaia" tem o significado de “sentinela”, “guarda” ou “vigia”. O dever do atalaia era manter-se em prontidão, prestar atenção em tudo, vigiar com máxima atenção, com a intenção manter a segurança e o bem-estar de todos. Para isso ele espiava, tinha olhos treinados para observar ao redor e assim saber de tudo o que se passava dentro do ambiente em que era designado a proteger. O sentinela era responsável pela segurança de acampamentos e do povo hebreu, faziam rondas pelas ruas da cidade como força policial, se mantinham em posto fixo sobre os muros e torres das cidades fortificadas (2 Samuel 18.24; 2 Reis 9.17-20; Isaías 62.6; Cantares 3.3 e 5.7).

Seu dever era descobrir o momento em que o inimigo chegasse, sua obrigação era alertar a todos para não não fossem pegos de surpresa. Se o seu alerta não fosse levado a sério e o inimigo atacasse, Deus não cobraria dele as mortes, mas se o atalaia percebesse o movimento de ataque e não alertasse, e o inimigo viesse e causasse mortes, Deus cobraria deles todo sangue que fosse derramado e toda vida que fosse ceifada.

3. Samuel e os demais profetas.

Sempre houve em Ana, a mãe de Samuel, um cuidado especial para que seu filho estivesse envolvido com a obra de Deus. Ela orou por ele e o entregou aos cuidados de Eli. Este, observando a dedicação de Ana, orou por ela, rogando a Deus a bênção para a sua casa (1 Samuel 2.20, 21).

Nos dias de Samuel, quase todos os hebreus estavam envolvidos com práticas que se consistiam em pecado, e por este motivo a manifestação do Senhor por meio da Palavra das visões estavam escassas. Neste cenário, Samuel destaca-se em sua geração como um grande profeta, desde Dã até Berseba, porque o Senhor confirmava o seu ministério profético. Por meio de Samuel surgiu um novo ânimo e o despertamento espiritual em Israel (1 Samuel 3.1,19,20).

O profeta autêntico é inspirado pelo Espírito Santo, recebe mensagens por meio de visões e revelações (Números 11.17-25; 1 Pedro 1.21). Os livros do Antigo Testamento nos mostram que, além de receberem inspiração divina para revelar o que Deus queria comunicar para a nação israelita, muitos profetas guiavam e orientavam os reis em suas decisões, e estes eram intitulados "profetas da corte" e "estadistas", e por transmitirem exatamente o que o Senhor desejava expressar, muitas vezes foram perseguidos e mortos, porque a Palavra do Senhor que transmitiam não dizia o que os ouvintes gostariam de ouvir (Mateus 23.37). Às vezes apareciam indivíduos entre os isralitas que ousadamente falavam em nome do Senhor sem que Ele tivesse mandado, inventavam coisas da sua mente e coração, e eram punidos pela ação divina por causa disso (Jeremias 14.14; 23.16 e Ezequiel 1.3).

II - O DESENVOLVIMENTO DO MINISTÉRIO DE SAMUEL

1. O crescimento profético de Samuel.

O versículo 21 do capítulo 2 do primeiro livro de Samuel, revela que Ana teve mais seis filhos além de Samuel. O número sete remete à perfeição nas tradições judaicas, pode significar que a bênção de Deus é perfeita na questão da fecundidade de Elcana e Ana como pais de família e uma ênfase das Escrituras sobre o chamado ministerial de Samuel.

No capítulo 2 e versículos 18 a 21, notamos que apesar de Samuel ainda ser uma criança, tinha em seu coração o propósito de servir a Deus com fidelidade. Enquanto que os filhos de Eli viviam mergulhados em práticas pecaminosas. Quando teve inicio o ministério profético de Samuel, a casa de Eli e toda a nação de Israel  estava em um baixo nível ético, moral e espiritual, esta situação fazia com que raramente o Senhor se manifestasse através de visões (1 Samuel 3.1. Por meio de Samuel, cuja vida estava em comunhão com Deus, houve um avivamento espiritual em Israel, fazendo com que o povo se despertasse para um comportamento equilibrado e aceitável diante de Deus (1 Samuel 9.22).

É muito clara a narrativa sobre o crescimento de Samuel como profeta, na referência bíblica 1 Samuel 3.19-20: "Samuel crescia, e o SENHOR estava com ele e não deixou que nenhuma de suas palavras caísse por terra. Todo o Israel, desde Dã até Berseba, reconheceu que Samuel estava confirmado como profeta do SENHOR". Seu amadurecimento não era apenas físico. Samuel também crescia no conhecimento das tradições judaicas, mas principalmente na comunhão com Deus, assim como ocorreu com Jesus (Lucas 2.52).

O ministério profético de Samuel iniciou a prática de ungir o rei. Quando o povo exigiu um rei, como havia em outras nações, Samuel ungiu Saul, a quem o Espírito de Deus veio em Zufe. Em Mispa, Samuel reuniu os israelitas e declarou Saul como o rei escolhido por Deus para Israel. Quando Saul desobedeceu a Deus e com respeito aos despojos pertencentes aos amalequitas derrotados, Samuel deixou Saul e mais o encontrou, lamentando que o Senhor o havia rejeitado. Os atos seguintes e derradeiros de Samuel foi ungir Davi como rei em lugar de Saul e escondê-lo em sua casa quando Saul tentou matá-lo. 

2. A formação profética de Samuel.

Deus chamou a Samuel quando ele tinha cerca de 12 anos (1 Samuel 3.1-4), a mesma faixa etária de Jesus quando foi levado a Jerusalém por seus pais (Lucas 2.42).

O jovem Samuel foi chamado para ser um vaso, um instrumento nas mãos de Deus, desde cedo o texto bíblico fala do seu preparo para assumir uma grande missão. Enquanto o tempo não chegava, ele recebia o treinamento e o ensino necessário. Samuel cresceu, desenvolveu seu chamado à Obra de Deus sob os cuidados de Eli.

A passagem de 1 Samuel 2.18-21 descreve Samuel vestido com uma estola de linho ministrando ao Senhor, a tarefa só era permitida  ao sacerdote (Êxodo 28.4; 2 Samuel 6.14). Entendemos que Eli deu a Samuel essa vestimenta cerimonial. Notamos que Eli viu no menino as características que o qualificavam ao exercício sacerdotal, Deus preparou como sacerdote e profeta tendo em Eli a pessoa que o instruía. Desta maneira, Samuel foi crescendo em estatura na presença do povo, e todos compreenderam que ele fora encarregado com um ofício profético da parte do Senhor (1 Samuel 3.20). 

Samuel era um líder nacional que exercia os ofícios de sacerdote e profeta. Ele aparece diversas vezes nos relatos do primeiro livro de Samuel, oferecendo sacrifícios pelo povo na consagração dos reis Saul e Davi e pelo exército de Israel (1 Samuel 7.9; 9.12,13; 10.8; 13.8,9; 13.3,13). É reconhecido naquela geração como homem honrado "e tudo quanto diz sucede infalivelmente (1 Samuel 9.6) "e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair por terra" (1 Samuel 3.19).

Através do ofício profético de Samuel, surgiu a escola de profetas (1 Samuel 19.18-20; 2 Reis 2.3-5; 6.1).

3. A disciplina de Samuel.

O terceiro capítulo de 1 Samuel, versículos 4 a 10, mostra o chamado e prova que Samuel era um jovem disciplinado e comedido.

Samuel, sendo ainda bem jovem, foi favorecido com uma revelação divina. A revelação dizia respeito ao fim do exercício sacerdotal pela genealogia proveniente da casa de Eli e o juízo divino sobre ele e seus filhos (1 Samuel 3.1-21).

Samuel cresceu servindo a Deus junto a Eli, que enxergava cada vez menos conforme envelhecia. Aproximadamente, aos doze anos, enquanto dormia Samuel ouviu  uma voz chamando seu nome. Então, ele se levantou e foi aonde Eli dormia e perguntou-lhe se o havia chamado. O sacerdote respondeu-lhe que não o chamara e pediu que voltasse para seu leito. Isso se repetiu por três vezes, até que Eli percebeu que o Senhor chamava Samuel e instruiu-o a voltar para sua cama e quando ouvisse outra vez o chamado, responder "fala, Senhor, porque o teu servo ouve". E quando ouviu novamente a voz chamando-o, fez conforme Eli havia dito. Então, Deus anunciou a ele o juízo que traria à casa de Eli. A situação espiritual dos filhos de Eli os impedia de herdar o ministério do pai, eles estavam corrompidos, portanto Deus não permitiria que continuassem como sacerdotes.

Ao amanhecer, Eli quis saber o que Deus havia revelado a Samuel, e relutante Samuel disse-lhe exatamente o que havia sido revelado. Eli, consternado, aceitou a soberania divina sobre sua casa, dizendo: "Ele é o Senhor. Que Ele faça o que achar melhor" (1 Samuel 3.18).

Daquele dia em diante o Senhor passou a falar com Samuel e usá-lo para através dele falar com o povo israelita, e todos começaram a prestar atenção ao que ele tinha a dizer, com intenção de obedecer ao Senhor.

Algumas qualificações de quem realmente serve ao Senhor:
• Deus se faz conhecer a ele (Números 12.6; Jeremias 15.19; Ezequiel 3.17);
• Tem conhecimento profundo das Escrituras (2 Timóteo 3.15-17);
• É receptivo à correção, instrução da Palavra e assim é perfeito aos olhos de Deus (2 Timóteo 3.17);
• É perfeitamente ensinado para toda a boa obra (2 Timóteo 3.17);
• É inspirado pelo Espírito Santo (Números 11.16-29; Neemias 9.30; 2 Timóteo 3.16, 
III - O MINISTÉRIO PROFÉTICO NA ATUALIDADE

1. O dom da profecia.

O Novo Testamento tem sua definição para profeta (prophétes, em grego). A palavra aparece 159 vezes entre Mateus e Apocalipse. O prefixo da palavra "pro", antes, e "phemi", falar, não deixa dúvidas sobre a função, que é aquele que fala em nome de Deus, inspirado por Aquele que é onisciente, onipresente e onipotente.

O dom de profecia, disponível a todos os crentes, manifesta-se de forma sobrenatural e momentânea; encoraja, exorta e consola a Igreja; edifica de forma coletiva e individual o povo de Deus (1 Coríntios 12.7-11; 1 Timóteo 4.14).  Assim como no Antigo Testamento, o profeta é a pessoa que fala em nome do Senhor, é o mensageiro de Deus que anuncia ao povo a vontade de Deus, e através do anúncio instrui a todos sobre a necessidade de compreender a importância de obedecer à vontade do Todo-Poderoso.

Os crentes que são usados pelo Espírito no exercício de dom de profecia na congregação são chamados de profetas (1 Coríntios 14.29,32,37). Mas não podemos confundir o ministério profético com o dom de profecia. Existe diferença entre o dom de profeta (Efésios 4.11) e o dom de profecia (1 Coríntios 12.4).  O primeiro faz parte dos dons ministeriais e o segundo está entre os dons espirituais.
• O profeta neotestamentário. 
Em Efésios 4.11 temos uma lista apontando para cinco dons ministeriais concedidos por Cristo à Igreja, entre os quais consta o de profeta.  O evangelista Lucas, em Atos 13.1, nos permite saber que "havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé; Simeão, chamado Níger; Lúcio, de Cirene; Manaém, que tinha sido criado com Herodes, o tetrarca; e Saulo". Apesar de não existir grande quantidade de profetas quanto havia durante o Antigo Testamento, não faltava quem profetizasse nos primeiros anos da Nova Aliança.
• Dom de profecia (1 Coríntios 12.1-11).
Faz parte dos dons espirituais. Dons são são talentos e habilidades dadas por Deus à sua Igreja com o objetivo de servir melhor aos santos, serve para transmitir os desígnios de Deus para a igreja no sentido de exortar, edificar, consolar o povo por meio da elocução. Em 1 Coríntios 14.1, Paulo aconselhou os crentes a buscarem zelosamente os dons espirituais, dando um destaque especial ao dom de profecia. Lucas revela que havia o exercício deste dom em Éfeso (Atos 19.6). 
Deus continua a falar ao seu povo por meio de profetas e através do dom de profecia. Porém, é importante saber que o dom profético não tem como objetivo criar doutrinas. O dom de profecia não tem caráter normativo, posto que não possuem a autoridade canônica da Bíblia Sagrada - que é a única regra de fé e conduta reconhecida pela Igreja de Cristo. A regra infalível da fé do cristão são as Escrituras Sagradas, portanto, é primordial aos cristãos estarem conscientes que toda locução profética é passível de julgamento à luz da Palavra de Deus (1 Coríntios 14.29).

O crente usado com o dom de profecia deve se sujeitar ao conteúdo bíblico. E de igual modo os cristãos que exercem o ministério do ensino e da pregação não têm autoridade para aumentar, diminuir ou modificar o cânon sagrado.

2. O ministério de profeta no Novo Testamento.

O ministério profético foi dado por Deus à Igreja. Segundo Atos 13.1 e 15.32, os profetas eram impulsionados pela inspiração profética e entregavam a mensagem de Deus com ousadia. Nesta atividade, tinham como característica exortar, ensinar e orientar o rebanho de Cristo.

Alguns profetas eram usados para predizer o futuro, como Ágabo. Ele saiu de sua casa na Judeia para levar as mensagens de Deus. Em consequência de seu ministério, foi levantada uma oferta em tempo hábil para ajudar a Igreja em Jerusalém durante um período de fome e a Igreja foi avisada antecipadamente sobre a prisão do apóstolo Paulo (Atos 11.28; 21.11).

3. Onde estão os profetas?

Ao apresentar a vontade de Deus ao pecador, a mensagem tem o confronto entre o bem e o mal, a santidade e o mundanismo, o que é considerado a avaliação entre o certo e o errado; a Palavra age como o martelo quebrando pedras e como o fogo consumidor e coisas imprestáveis (Jeremias 23.29). Isto é, ela age de modo contundente. E sendo assim, o príncipe das trevas tem a intenção de silenciar os profetas de Deus, para que as almas perdidas não encontrem o Caminho que leva-as para Deus. Como estratégia ao estado de silêncio quando é a hora do cristão falar, há o argumento "não podemos julgar; alega que o julgamento é uma falta de amor ao próximo". Não se deixe enganar por este pensamento, pois só aqueles que desconhecem a Bíblia, fazem dele um estilo de convivência moldada ao comportamento deste mundo; Jesus diz o contrário: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7.24).

Simbolicamente, o pregador é um atalaia neste mundo distante da vontade de Deus (Ezequiel 3.17-21). Como pregadores - seja a pessoa em posição de líder na igreja ou o membro que frequenta os cultos sem responsabilidade em postos de liderança eclesiástica -, toda pessoa que recebeu a Cristo como Salvador e Senhor tem sobre si a ordenança de Jesus de evangelizar e ensinar as almas como prostrar-se e servir a Deus corretamente.

Jesus descreve os crentes como luz do mundo e sal da terra. Estes dois elementos são agentes transformadores do ambiente onde estão postos. O sal traz sabor para a comida e age como conservante da mesma; e a luz dissipa a escuridão, permite a nós ter visão do lugar em que estamos e ajuda a não tropeçar em coisas que estão pelo caminho e desviar de buracos e crateras. Temos a missão de influenciar as pessoas a servirem a Deus, o que significa exercer julgamentos, alertar sobre comportamentos errados com a finalidade de que as almas saiam das trevas, abandonem o pecado e se salvem da perdição eterna. Há a obrigação de apresentar o que diz a Palavra de Deus a todos neste mundo, nós cristãos seremos cobrados se assim não for feito. Se não fizermos isso estamos pecando por omissão (Mateus 5.13-16; Tiago 4.17).

Ao compartilhar o conhecimento da Palavra de Deus, quem recebe a mensagem que compartilhamos passa a estar em contato com a fragrância espiritual que exalamos e como consequência sua atitude receptiva proporciona-lhe vida eterna. Mas quem ouve a mensagem e a despreza, o bom cheiro representa a ele o sinal da condenação sem-fim. Provérbios 13.13 diz que aquele que despreza a Palavra, perecerá, mas quem for reverente e obedecê-la receberá de Deus um galardão.

CONCLUSÃO

Não é possível dizer com certeza que idade Samuel tinha quando Deus o chamou e entregou-lhe a primeira mensagem. Mas não resta nenhuma dúvida que a partir daquele momento começou a carreira de Samuel como profeta de Deus, líder militar e juiz de Israel. Assim como Samuel gozava de bom conceito diante de seus compatriotas e conterrâneos da sua geração, porque se dedicava ao Senhor com inteireza de coração, é de vital importância que todo cristão se comporte com decência e honestidade diante do povo na sociedade em que vive.

Nos dias atuais, Deus continua chamando pessoas para realizar seus propósitos e o mundo observa com olhar crítico quem ocupa cargo eclesiástico de relevância.  Sendo assim, é preciso haver crente com o coração disposto a atender o chamado do Senhor, pessoas que creiam que Ele as chama e queiram obedecer suas orientações, pois é necessário ser visto como um referencial de grande valor espiritual para as almas que ainda não seguem a Jesus Cristo.

E.A.G.

Subsídios:
Bíblia do Pregador Pentecostal. Comentários de Erivaldo de Jesus Pinheiro. Edição 2016. Páginas 1740 e 1794. Barueri - SP (Sociedade Bíblica do Brasil - SBB).
Lições Bíblicas. O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Osiel Gomes. 4º trimestre de 2019. Lição 3. Páginas 17-22. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Capítulo 3: A Chamada Profética de Samuel. Osiel Gomes. 1ª edição 2019. Páginas 51 a 57. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).