O que é considerável no milagre da mulher com um fluxo de sangue, que moveu três evangelistas a contarem o mesmo milagre? Todas as intervenções sobrenaturais do Senhor narradas no Novo Testamento, têm a função essencial de motivar os homens a crerem que Cristo é o Filho de Deus e através da fé fazê-los conquistar a vida eterna (João 20.30-31).
Sobre a impureza cerimonial
Em Israel, os fluidos corporais, tais como sêmen e sangue menstrual, estavam intimamente relacionados à vida. Quando o potencial de vida que eles representavam não era aproveitado, passavam a representar a morte e, consequentemente, a impureza cerimonial. Havia situações que dificilmente poderiam ser evitadas, incluindo as impurezas de ordem sexual, as relacionadas a doenças e aquelas decorrentes do contato com um cadáver ou carcaça de animal.
Nem toda impureza podia ser evitada, e muitas vezes era causada por algo que de modo algum poderia ser considerado pecado. Rituais de purificação eram exigidos para remover esse estigma e restaurar a pessoa ou grupo à participação na comunidade. Referências bíblicas: Números 5; Levítico, capítulos 12 e 15.
No que implicava uma mulher sofrer hemorragia constante àquela época?
De acordo com a lei judaica, quando alguém ou grupo era considerado impuro, o resultado era a proibição de participar de atividades religiosas. Todas as mulheres durante o período menstrual deveriam permanecer isoladas, porque eram consideradas cerimonialmente impuras.
Nem mesmo no conforto de seus lares poderiam abraçar seus familiares, quanto mais pensar em participar de festas religiosas nas sinagogas ou cogitar irem ao Templo em Jerusalém. Tudo aquilo que mexessem se tornaria impuro. As peças de roupas que vestiam, qualquer pessoa que tocasse, também se tornaria impura. O vínculo social era interrompido por sete dias em consequência da fase de menstruação (Levítico 15.19,25-33).
Quem era a mulher do fluxo de sangue?
Segundo o relato em Marcos 5.25,26, uma mulher havia procurado os médicos, gastando seus recursos, porém, nenhum tratamento estancou o seu incômodo vazamento sanguíneo. Sua doença desagradável só piorava com o passar do tempo. Ela padecia em desespero com uma hemorragia por longos doze anos.
Seu nome não é citado, não sabemos se era solteira ou casada, pobre ou rica. É descrita apenas por seu problema de saúde, e por seu comportamento motivado pela fé em safar-se do angustiante problema. Os detalhes da história desta pessoa cheia de esperança se resumem em demonstrar que ela provavelmente era uma moradora de Cafarnaum.
A verdadeira fé supera barreiras e manifesta o milagre.
Os registros bíblicos de Marcos (5.26) e de Lucas (8.43) relatam que essa mulher infeliz já havia gasto todos os seus bens com médicos, porém, os médicos não puderam curá-la. Após viver por mais de uma década sob tortura emocional e física, alguém - que a Bíblia também não revela o nome - contou para ela sobre o Messias e suas curas e libertações. Assim, ela entendeu que a chance de mudar sua triste condição de vida estava nEle. Considerou em seu coração que se apenas tocasse na orla da veste do Salvador receberia o milagre. Pensou consigo mesma: "Se eu tão-somente tocar a sua roupa, ficarei sã" (Mateus 9.21).
Mas, como sair de sua casa e aproximar-se de Jesus, arriscando-se em ser vista por seus vizinhos religiosos, que, com base em Levíticos 5.3, poderiam recriminá-la? E o que faria a multidão se descobrisse que naquele estado ela havia transitado no meio do povo, propositalmente, criando o risco de se esbarrar e tornar outros também cerimonialmente imundos?
Cheia de confiança no poder que há em Jesus, a mulher do fluxo hemorrágico aproximou-se de Cristo quando Ele estava a caminho da casa de Jairo na cidade de Cafarnaum, cercado por uma grande quantidade de pessoas, muitas delas também buscavam curas ou curas para seus parentes. Acreditava que Jesus não notaria sua presença, pois estava em meio a agitação de uma multidão. Embora ciente dos riscos de ser surpreendida, padecendo com o sofrimento físico, rompeu seu isolamento e entrou no meio da multidão. Ao chegar por trás, tocou na orla das vestes de Cristo, neste momento dEle saiu virtude, e imediatamente a perda de sangue cessou. Em contrapartida, seu toque fez com que fosse notada por Jesus.
Foi quando Ele perguntou: "Quem é que me tocou?" Provavelmente, apreensiva por saber que havia contrariado a Lei de Moisés, que determinada que Jesus fosse recolhido em sua casa por causa do seu contato, permaneceu em silêncio por alguns instantes (Números 5.2). E junto com a multidão, Pedro com outros discípulos tentaram dissuadir a Cristo, argumentando: "Mestre, a multidão te aperta e te oprime e dizes: Quem é que me tocou?" (Lucas 8.45).
A mulher, aproximou-se envergonhada, contou porque o havia tocado e prostrou-se diante de Cristo. Então, Jesus, que já sabia que sua intenção era receber cura, que seu ato era em consequência da verdadeira fé, quis acalmá-la despedindo-a em paz: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz e sê curada deste teu mal" (Lucas 8.48).
Conclusão
Entre todas as pessoas da multidão, com certeza muitos haviam esbarrado em Jesus, porém, ninguém o havia tocado com fé e intenção de receber sua virtude. Se esta mulher não houvesse depositado sua fé em Cristo não superaria nenhum obstáculo, jamais iria tocá-lo e ficar livre do mal que a afligia. Seu contato físico seria igual ao de muitos presentes ao redor do Salvador. Ela permaneceria enferma, pois estaria presa ao pensamento de que poderia contaminá-lo. Porém, a confiança em Cristo, deu-lhe condição para refletir que a medicina e a religiosidade não trariam a solução que Jesus tinha para seu problema, e que deveria colocar sua fé em ação.
O mundo precisa de crentes que queiram visitar os solitários, os doentes, os excluídos da sociedade, aqueles que estão cansados de sofrer, desanimados, cheirando mal, sem esperança de dias melhores. O fato de um alguém anônimo ter a disposição de anunciar Jesus para a mulher que sofria com fluxo sanguíneo irregular, provocou a cura milagrosa. Cabe a todo cristão falar sobre o amor de Deus às almas aflitas.