No quarto século a.C., o filósofo grego Epicuro já dizia que o prazer é o bem ao qual todo ser humano deseja. No decorrer do tempo, essa concepção foi refutada por outros filósofos. Aristóteles, por exemplo, afirmou que as ações humanas inclinam à concretização da felicidade, sendo que esta está estruturada numa atividade da alma que esteja de acordo com a racionalidade, mas não com o contentamento.
Apesar da constatação que o prazer nem sempre produza uma vida feliz, senti-lo com alguma regularidade é importante para a estabilidade da saúde física e mental. Temos experiências sensoriais desse tipo ao praticar esportes, comer, beber, passear, namorar, praticar sexo etc. Não há nada de condenável no prazer quando desejado dentro dos limites da ética e do bom senso. O problema surge quando o mecanismo neurológico que o regula se descontrola e escraviza a vontade.
O descontrole aparece quando os neurônios que compõem o circuito do prazer e de recompensa do cérebro não aceitam mais o excitamento sensorial normal e passa a exigir determinados compostos químicos em doses cada vez maiores e em intervalos cada vez menores. Neste estado, o prazer passou a ser um vício.
Muitos indivíduos acreditam que são blindados do vício pelo fato de não usarem drogas como álcool, anfetaminas, cocaína, craque, nicotina. Mas, ironicamente, há uma quantidade enorme de pessoas que estão viciadas em substâncias produzidas pelo próprio cérebro, como a dopamina, serotonina, endorfina e diversos outros neurotransmissores estupefacientes. Os viciados em academia, por exemplo, são dependentes da endorfina, que é produzida pela hipófise, uma glândula cerebral, durante o esforço físico. Essa substância cria a sensação do prazer, reduz o desconforto muscular, fornece o bem-estar, é responsável pela melhora do humor e causa a diminuição do estresse.
Após o decorrer de anos se exercitando, o indivíduo simplesmente é alguém incapaz de parar com a hidroginástica, corrida ou musculação, porque a interrupção da atividade eliminará o seu suprimento diário de endorfina, provocará a síndrome de abstinência. De igual modo é a sensação de prazer ao comer, participar de jogos, fazer sexo e usar a internet. Tais casos, se não forem tomados os devidos cuidados já mencionados, será inicialmente uma prática ocasional e inofensiva e com o tempo se transformará em uma atividade fora de controle.
A dependência, física ou psicológica, sempre foi um problema. As estatísticas mostram que esse estado patológico tem afetado a humanidade em proporções cada vez mais alarmantes. A pressão pela constante sensação prazerosa é o resultado do abuso dos seguintes elementos: a supervalorização da satisfação exagerada; a comercialização de narcóticos, cada vez mais destruidores, como o craque; a glamorização da vulgaridade; e, a veiculação da erotização por quase todos os meios de comunicação.
A situação piorou muito com a série de ações de secularização criadas pela ideologia ateísta. A negação da existência de Deus abre um abismo enorme e vazio no coração das pessoas. Elas perdem a capacidade de manter o equilíbrio interno devido a ausência da mais poderosa fonte de prazer e satisfação: a graça salvadora de Cristo por meio da ação vivificante do Espírito Santo. O refrão "I can't get no satisfaction" [Eu não consigo me satisfazer] da música dos Rolling Stones expressa nitidamente o grito de sofrimento de bilhões de almas que tentam saciar a fome espiritual com coisas que as rebaixam ao nível quase animalesco. Bastaria que elas cressem no que Jesus disse: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância" e elas conheceriam o que é a verdadeira satisfação.
Quando a pessoa viciada invoca a Cristo como seu único Salvador, Cristo se manifesta com salvação [Romanos 10.13]. E a completude de Deus o enche, proporciona-lhe uma sensação ininterrupta de um contentamento sobrenatural, que não desaparece depois de alguns minutos de alegria [João 14.23]. A presença divina traz uma boa disposição que persiste em meio às incertezas e imprevisibilidades terrenas. A partir desse momento, os prazeres que eram considerados a razão de existir, o motivo de viver, voltam a estar controlados, ficam submetidos ao domínio do ser humano guiado pelo Espírito Santo [2 Coríntios 5.17].
Apenas quem vive em comunhão com Deus tem o privilégio de conhecer o prazer verdadeiro, uma sensação agradável que ultrapassa a dimensão física e envolve completamente a alma e do espírito.
E.A.G.
Texto publicado originalmente em 'Blog Cristiano Santana - Uma visão de mundo', com o título 'Como o prazer nos transforma em escravos e como Cristo nos liberta'; assinado por Cristiano Santana. Postagem adaptada ao Belverede. Página acessada em 19 de agosto de 2022. tinyurl.com/Blog-Cristiano-Santana.
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