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terça-feira, 1 de dezembro de 2020

O assassinato de João Alberto no Carrefour é crime de racismo?


Há racismo no Brasil? É claro que sim. O episódio ocorrido em Porto Alegre em uma loja da rede de hipermercados Carrefour, episódio em que João Alberto Freitas foi agredido e assassinado por dois agentes de segurança, apenas ilustra o gigante que todo mundo vê e finge que ele é invisível.  

Não é difícil constatar isso. Sente-se em seu sofá, ligue o televisor durante o horário nobre da televisão brasileira. Procure os negros. Conte-os. Anote o número de pessoas negras que encontrar. Proponho que comece pelo telejornal que muitos acreditam ser o mais acompanhado pelo povo brasileiro.

Sintonize a Rede Globo no horário do Jornal Nacional e observe os profissionais que estarão diante das câmeras. Com certeza, o número de jornalista branco, com sobrenome inglês, alemão, italiano, etc, será maior. Não há xenofobia em apontar para esses nomes gringos, pois entendemos que é uma questão compreensível, sabemos que o Brasil também é terra construída por imigrantes saídos do continente europeu. O que há de repugnante nisso é a quase exclusão total da descendência africana na área jornalística. Perceba que o número de repórteres brancos será mais de dez vezes maior do que o de repórteres com pele negra. Continue investigando. Repare também o biotipo das pessoas que aparecerão nas peças publicitárias. Conte-as, anote a cor de pele de cada uma e depois faça o comparativo.

A situação complica mais se o telespectador procurar atores negros como protagonistas em novelas. Você se lembrará de pouquíssimos casos, mas com muita dificuldade. E se analisar sem pressa, talvez descubra a ausência de atores e atrizes com pele negra atuando como patrão e patroa, tendo uma equipe de empregados brancos, louros com olhos azuis ou verdes.

Eu fui testemunha de racismo em situação parecida. Conheci um casal cujo marido era motorista profissional. Nos idos anos da década de 1990. ele aceitou o serviço de entregador em uma floricultura cujo dono era uma pessoa negra. Quando ele contou para a esposa a situação, houve grande resistência dela e, para manter a paz em seu lar, resolveu desistir daquele trabalho. 

Pare para pensar. Quantas pessoas negras disputaram o posto de candidatos a prefeito nesta última eleição municipal. É perceptível, a pele escura tem mais dificuldade no meio político-partidário. O site G1 publicou hoje a afirmação de que entre as 25 capitais, apenas 8 prefeitos declaram-se pardos. Segundo o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), os pardos são classificados como negros. Ora, por que isso? O brasileiro negro não se vê como negro, prefere dizer que em seu DNA existe algum traço de característica branca e quer destacar alguma brancura em seu ser? De fato há essa mistura racial; a nação é composta de mestiços. 

Existe racismo de ambos os lados no Brasil. O preconceito tem mão dupla, mas com aspectos de impacto e expressão diferentes. Talvez, alguns digam que seja "politicamente incorreto" falar de negros racistas. Quem sabe um dia apareça algum sociólogo corajoso, disposto a encampar este fator em sua inteireza e traga a luz suficiente sobre o tema.  

A generalização sobre casos de racismo é algo assustador. Embora exista este problema social, é preciso analisar caso por caso antes de classificar a motivação de crimes. Será que os espancadores de João Alberto Freitas, o atacaram porque ele não era uma pessoa branca?  Será que os espancadores são seletivos em seus laços de relações próximas, não admitem a cor negra perto deles? É provável que o motivo possa ser outro. Descartar a possibilidade de que a agressão letal não ocorreu por motivação racista não é atitude sensata. Imagem capturada em uma das câmeras mostra que a primeira agressão física foi desferida por João Alberto contra um dos dois seguranças, que logo em seguida reagiram e o mataram. Então, seja o que for que tenha movido os agentes de segurança à ação extremamente covarde, dois contra um, nada justifica o que fizeram, eles devem pagar pelo crime que cometeram.

Ao citar as empresas Carrefour e Globo, a intenção é apresentar a estrutura social problemática que existe entre nós, algo que é maior do que estas empresas e que precisa ser combatida por todos em todos os lugares. Não há da minha parte intenção de apontar tais instituições como produtoras intencionais da propagação do racismo. 

O antídoto eficaz contra o racismo é a verdadeira conversão a Jesus Cristo. Converter-se de fato. Algo que vai além de uma adesão ao sistema religioso. Esta experiência é a única solução para o engodo da falsa sensação de qualquer espécie de sentimento de superioridade. O racismo termina quando o Espírito Santo é recebido e faz morada no coração humano. Reflita: "Pois todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos vocês que foram batizados em Cristo de Cristo se revestiram. Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus" - Gálatas 3.26-28.

E.A.G.

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