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domingo, 1 de setembro de 2019

A Mordomia das Finanças

Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

No princípio da humanidade, as pessoas trocavam mercadoria por mercadoria. O pescador trocava sua pesca por frutas, quem tinha frutas trocava-as por peixe e verdura; o dono das hortaliças oferecia o produto de sua horta ao dono do trigo e o semeador do trigal tinha interesse em receber peças de roupas. Esta espécie de negociação é conhecida como Escambo Direto. Quando os europeus chegaram ao Brasil, propuseram trocas com os indígenas, trocaram espelhos, colares e outras coisas pelo pau-brasil, peles de animais etc. Houve uma época em que o sal bruto era um produto de grande interesse, e assim era considerado mercadoria-moeda de grande valor, era trocado por quase tudo e usado como pagamento de serviços, o que fez originar a palavra "salário".


I - TUDO O QUE TEMOS VEM DE DEUS

1. Deus é dono de tudo.

Existem vários tipos de mordomia à luz da Bíblia Sagrada, todas as modalidades de mordomia cristã estão ligadas à filosofia e à ética bíblica, estando relacionadas ao cotidiano da vida do crente em Cristo. Entender a prática e a importância desse ofício cristão trata-se de uma necessidade para que a pessoa possa experimentar sempre mais e mais das bênçãos do Pai celeste em sua vida. Para que haja o equilíbrio e o desenvolvimento saudável e constante na vida espiritual do cristão, este cristão deve saber lidar com o dinheiro de maneira comedida, sábia e prudente, havendo amor ao Criador, a si mesmo e ao próximo.

Todos os habitantes do planeta terra pertencem ao Criador, uns como criaturas e outros como seus filhos. Nós que somos cristãos temos algo a mais, pois somos filhos de Deus mediante a nossa fé em Jesus (João 1.12). Os crentes e não crentes têm as coisas por permissão do Senhor, sejam eles ricos ou pobres. Nós, os cristãos convertidos a Cristo, temos as coisas como dádivas de suas mãos bondosas, e conscientes disso procuramos viver de acordo com os deveres sociais, morais, familiares e espirituais. Não convém nos esquecer que aquilo que chamamos de "nosso", na verdade, está apenas confiado ao nosso controle, havendo a permissão divina para que possamos usufruir delas sendo bons uns com os outros.

É válido enfatizar as características de quem é mordomo do Senhor:
• O mordomo é um administrador de casa (Lucas 12.42). Ele é uma pessoa que aceitou a Jesus como seu Salvador e, voluntariamente, reconhece a Cristo como o Senhor absoluto da sua vida e de tudo o que possui (1 Crônicas 29.14).
• O mordomo coopera com o Criador; convive e interage com o Todo Poderoso na condição recíproca de afetuosa amizade. Sobre isso, Jesus Cristo foi bastante enfático: "Vocês são meus amigos se fazem o que eu lhes ordeno" (João 15.14).
• O mordomo é amigo de Deus. "O SENHOR confia o seu segredo aos que o temem" (Salmos 25.14). Ao mordomo fiel o Pai celeste dá, reservadamente, o conhecimento guardado em sigilo, revela verdades e intenções que não mostra para todos.
Um cristão nominal pode até ter consciência da mordomia, porém não a praticará se não tiver passado por uma experiência espiritual profunda. O cristão só aceita o privilégio em ser praticante da mordomia pelo fato de haver nele uma boa formação espiritual, porque está realmente convertido e haver aproveitado as instruções do seu período de discipulado e se manter submisso e consagrado ao Senhor. Por reconhecer que tudo o que possui foi concedido pelo Pai celeste, a saúde, o tempo, os talentos e dons, por ter convicção plena de que todos os bens materiais e espirituais têm procedência nEle, o cristão autêntico, amadurecido na fé, vive neste mundo como mordomo.

2. O trato como o dinheiro.

Frequentemente, a nossa integridade é provada em assuntos relacionados ao dinheiro. Portanto, devemos usar sabiamente as finanças. Para isso, é importante ter em mente o texto bíblico contido em Provérbios 30.7-9: "Duas coisas te peço, ó Deus; não recuse o meu pedido, antes que eu morra: afasta de mim a falsidade e a mentira; não me dês nem a pobreza nem a riqueza; dá-me o pão que me for necessário, para não acontecer que, estando eu farto, te negue e diga: 'Quem é o SENHOR?', ou que, empobrecido, venha a furtar e profane o nome de Deus".

Nesta oração, proferida por Agur, é abordado o perigo em dois ângulos extremamente opostos: a ameaça da integridade espiritual por causa da pobreza e o risco de pecar causado por viver em riqueza. Provavelmente, Agur observou pessoas pobres, que em desespero maldisseram ao Senhor e se apoderaram de coisas que não lhes pertenciam; e também gente rica cujos corações foram tomados pela presunção de que não precisavam do Todo Poderoso, apenas o dinheiro lhes bastava.

3. Cuidado com a falsa prosperidade.

Em um tempo como o nosso de relativização e degradação dos valores éticos, morais e espirituais, acessamos as redes sociais, ligamos o televisor, assistimos aos noticiários com pautas políticas, interagimos com amigos e percebemos o mesmo discurso apresentado pela serpente no Éden, que induziu o primeiro casal humano à desobediência sendo imposto sobre a sociedade de maneira sutil. Diante disso, o mordomo de Deus deve se manifestar como sal e luz neste mundo tenebroso. Baseado no conhecimento e intimidade com Deus, pode e deve fazer valer sua mordomia, apresentando de maneira inteligente, com mansidão e temor, a razão de sua esperança (1 Pedro 3.15, 16).

Não há dúvida, o Senhor não promete ao crente fazê-lo rico neste mundo. Porém Ele nos concede bens espirituais e também os materiais, nos garante prosperidade espiritual e material de igual modo, para o bem-estar do homem. Sem abominar a riqueza e descartar a pobreza, propicia bens materiais, que o crente adquire de forma honesta (Eclesiastes 9.9).

Deus não condena a riqueza em si, mas a ambição egoísta e a cobiça carnal e o exagerado apego às coisas materiais (Provérbios 28.20). Abraão foi homem de muitas posses; Jó era riquíssimo tanto antes quanto após sua provação (Jó 1.3, 10; 42.10-17); Davi, Salomão e outros reis acumularam muitas riquezas, e nenhum deles foi condenado por esta situação financeira privilegiada.


II. COMO O CRISTÃO DEVE GANHAR DINHEIRO

1. Trabalhando honestamente.

O senso comum costuma considerar trabalho o emprego remunerado. Entretanto, nem todo indivíduo trabalhador recebe salário. Ninguém deve desqualificar a atividade desprendida de interesses financeiros da dona de casa e a honradez de cidadãos que se destacam na sociedade em funções extremamente importantes realizadas sem vínculos ao acordo da compensação financeira.

A ética bíblica orienta o crente a ganhar dinheiro trabalhando com empenho. Desde o Gênesis (3.19), após a Queda, vemos que o ser humano deve empregar esforço para conquistar os bens que precisa. O apóstolo Paulo orienta os cristãos a viver do suor do próprio rosto, não se deixar estar na dependência do suor derramado pelo rosto alheio (1 Tessalonicenses 2.19; 4.11).

Com exceção das pessoas portadoras de deficiências físicas, que as impeçam de trabalhar, das que são viúvas desamparadas, a recomendação bíblica é que a pessoa busque o seu sustento através do próprio trabalho. Isto deve ser feito dignamente, tanto pelo trabalho diário íntegro, como também  em função de uma atividade lícita e conveniente para ao cristão (1 Coríntios 6.10). A intenção de enriquecer por outros métodos que não o trabalho é ideia estranha ao ensino bíblico.

No Antigo Testamento, Deus faz o seu povo progredir, mas apenas através do trabalho. O livro de Deuteronômio, no capítulo 8 e versículo 18, nos mostra que o Senhor é quem dá força aos seus servos para que eles tenham poder. O substantivo "força" é tradução do hebraico "koach", que significa tenência exuberante, vigor intenso. A referência esclarece a atividade humana voltada ao labor. E, o termo "poder", cuja transliteração vem de "chayil", significa "eficácia", "abundância" e "riqueza".

2. Fugindo das práticas ilícitas.

A sociedade humana vive em torno do dinheiro, para quem não tem visão espiritual os fins justificam os meios; não há preocupação com o corpo e a alma, não há cogitação sobre manter a boa qualidade da saúde e proteger a honra pessoal e de terceiros. Mas o cristão vive pela fé, não caminha pela égide do sistema desse mundo, ao receber o seu salário precisa considerar que o seu emprego deve ser uma atividade que não arruíne o próximo, seja na esfera física ou espiritual, é importante que a consequência da sua atividade profissional seja algo conveniente para toda a coletividade em todos os sentidos (1 Coríntios 6.8-10).

Não é justo exercer uma ocupação como meio de vida, sendo que este meio de vida prejudique a vida do seu semelhante. O ambiente de cassinos, casas de bingo, o fabrico e indução às rifas e loterias são formas de induzir pessoas à ilusão e a perderem dinheiro, estar envolvido com este tipo de trabalho caracteriza em viver amando mais a si mesmo e ser indiferente ao bem-estar do próximo.

3. Fugindo da avareza.

A Bíblia adverte a todos: “o que ama o dinheiro nunca se fartará dele” (Eclesiastes 5.10).

O dinheiro deve ser visto sob o ângulo das coisas passageiras, ele é aproveitável e necessário, mas deve ser administrado com sabedoria, prudência máxima, para não cair na armadilha ilusória da autossuficiência. Muitos se desequilibram espiritualmente ao adquirir recursos financeiros, quando se tornam ricos pela perspectiva material se empobrecem pela ótica de Jesus Cristo (Apocalipse 3.17).

Meditando sobre a primeira parte do texto bíblico em Gênesis 1.28, atentamos  que Deus, ao criar o primeiro casal, Adão e Eva, os abençoou dando-lhes a seguinte ordem: "Sejam fecundos, multipliquem-se, encham a terra e sujeitem-na". Em resumo, entendemos que esta passagem revela o propósito do Criador para toda a humanidade. Infelizmente, no exercício do livre-arbítrio, o casal se deixou seduzir pela serpente e desobedeceu a ordem do Criador, trazendo sobre si e sobre a raça humana a dureza de uma existência longe da comunhão com o Criador. Individual e coletivamente, tal atitude rompeu a comunhão entre o ser humano e Deus, que distante do Senhor tem vivido em desarmonia com a perfeita vontade divina, amando mais coisas e usando pessoas, totalmente fora do plano original do Criador (Mateus 22.37-39).

Ao cuidar com cautela das finanças, demonstramos consciência da nossa responsabilidade pessoal perante Deus. A pessoa irresponsável, que serve à mesquinhez e não serve a Deus, prejudica a sua família. Quem deseja o bem-estar de entes queridos, é fiel ao Senhor. Para enfrentarmos e vencermos todos os desafios, precisamos servir a Deus fielmente. Servir a Deus sempre será a melhor maneira de nos manter fortes espiritualmente para interagir com quem está em nossa volta como agentes propagadores das bênçãos do Pai celeste.


III - COMO O CRISTÃO DEVE UTILIZAR O DINHEIRO

1. Na Igreja do Senhor.

É importante destacar a diferença entre os verbos "utilizar" e "usar". O primeiro verbo, significa fazer uso de algo de maneira útil; o segundo, quer dizer fazer uso de algo sem se importar se o uso será ou não de maneira proveitosa.

Um velho pastor dizia: "O dinheiro de Deus está no bolso dos crentes". De fato, Deus mantém sua igreja, no que tange à parte material, através dos recursos que Ele mesmo concede aos seus servos.

A origem do dízimo remonta a uma iniciativa de Abraão, quando este, com poucos homens, venceu uma batalha contra exércitos muito mais fortes, e livrou  seu sobrinho Ló e toda a sua fazenda (Gênesis 14.19-20). Em caráter voluntário, o patriarca entregou a Melquisedeque o dízimo de tudo o que resgatou naquela batalha arriscada. O ato de gratidão foi considerado por Deus como uma atitude agradável a ponto de o dízimo ter sido incluído nos preceitos da Lei de Moisés. Durante o código mosaico, o dízimo era apresentado como mandamento do Senhor aos israelitas e  passou a ser "do Senhor" (Deuteronômio 14.22; Levíticos 27.30), com a finalidade de servir à manutenção dos sacerdotes e levitas e ao socorro de órfãos e viúvas (Números 18.21,24,30; Deuteronômio 26.12).

Entregar os dízimos para a manutenção material da obra do Senhor ou da casa do Senhor, é uma das maiores expressões de gratidão ao Senhor e amor da causa cristã aqui na Terra. No livro de Malaquias, ainda sob a época da Lei, vemos Deus pedindo ao povo israelita que leve o dízimo e ofertas alçadas à "casa do tesouro" (Malaquias 3.8-10). Nos dias atuais, da Dispensação da Graça,  a casa do tesouro é considerada a tesouraria da igreja local. Não há base bíblica para se pensar na hipótese de obrigatoriedade para esta prática entre os cristãos, o conceito de entrega de dízimos é a expressão de amor a Deus e agradecimento pelas bênçãos recebidas. 

2. Na sociedade civil.

O dinheiro não é fim primordial da vida humana. É preciso ter a consciência de que para se viver bem é necessário usá-lo de acordo com o poder aquisitivo. Para ser uma pessoa economicamente desimpedida, é necessário estar sem dívidas.  Para que haja desembaraço, é indispensável o controle das despesas; ter o hábito de usar o dinheiro de modo realmente útil; fazer o controle do orçamento para evitar comprar o que não é possível pagar, e não deixar de pagar os impostos (Romanos 13.7).

O cristão que ama a Deus acima de tudo e todos, administra sua economia visando fazer dela uma fonte de bênçãos para si mesmo, para sua família e, principalmente, para o reino de Deus, representado pela igreja de Cristo. 

CONCLUSÃO

Para concluir, sintetizamos com enfatização que, na questão da mordomia das finanças, a Igreja do Senhor e a sociedade civil são os lugares em que o cristão precisa utilizar o dinheiro, diligentemente. O cristão deve ganhar dinheiro trabalhando honestamente, gastá-lo com cuidado e dá-lo com responsabilidade, evitar as práticas ilícitas e a falta de generosidade, que conduz ao fracasso. Deus não condena ter riqueza, mas amá-la (1 Timóteo 6.9,10).

Sem persistência e esforço é impossível sermos mordomos fiéis. Existem muitos motivos importantes para cumprir fielmente as exigências da mordomia cristã perante Deus e a sociedade. O ensino de Jesus sobre o galardão do crente no céu e seu estado nas áreas celestes serve como motivação para viver em fidelidade ao Criador e Dono de tudo até o fim. A posição e herança no céu serão proporcionais à nossa atual dedicação e consagração às coisas de Deus e do seu reino aqui na terra.

E.A.G.

Compilações:

Aos Mordomos do Senhor, Serenita de Meira Rienzo, Mensageiro da Paz, julho de 2019, Coluna Reflexão, página 27. Bangu; Rio de Janeiro / RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
Ensinador Cristão, ano 20, número 79, páginas 19, 20 e 26. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
Tempo, Bens e Talentos - Sendo mordomo fiel e prudente com as coisas que Deus tem nos dado. Elinaldo Renovato. 1ª edição 2019. Páginas 121 a 130. Bangu; Rio de Janeiro / RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).

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