A resistência da Igreja é necessária quando o Estado se opõe à fé cristã, deve se atrever a bradar contra a injustiça, e deve socorrer os oprimidos (Tiago 5.1-8). E rejeitar o sincretismo, que é a aliança da religião com o poder político e dinheiro de origem secular. Este foi o motivo do reformador Martinho Lutero levantar-se contra a Igreja de Roma e o papado.
1. A união entre a Igreja e o Estado.
Há três teorias distintas quanto à relação Igreja-Estado: identificação, domínio e separação.
• Identificação: Alega-se que há separação institucional, ou seja, a Igreja e o Estado se envolvem em relações muito aproximadas e de difícil separação, de modo que não há diferenciação entre o religioso e o secular. Exemplo: Israel no Antigo Testamento.
• Domínio: Expressa-se de duas formas: Há o domínio da Igreja pelo Estado, como é o caso de Cuba, e há o domínio do Estado pela Igreja, conforme a situação do Vaticano.
• Separação: A Igreja existe independentemente do Estado e vice-versa. A Igreja é separada do Estado. Nenhum indivíduo civil pode administrar rituais da cerimônia religiosa, de modo algum interferir em matéria da liturgia de culto. Segundo a Bíblia, o cristão deve orar pelas autoridades, honrar as suas pessoas, pagar tributos e impostos, obedecer às ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade (1 Timóteo 2.1-3; 2 Pedro 2.17; Romanos 13.2-7; Tito 3.1; 1 Pedro 2.13-16). Pagar impostos é um ato de submissão, atitude pela qual Jesus Cristo nos deixou seu exemplo (Mateus 22.21).
Segundo a Bíblia, a igreja deve manter a sua integridade neste mundo hostil; o cristão deve orar pelas autoridades, honrar as suas pessoas, pagar tributos e impostos, obedecer às ordens legais e sujeitar-se à sua autoridade (Isaías 5.20; 1 Timóteo 2.1-3; 2 Pedro 2.17; Mateus 22.21; Romanos 13.2-7; Tito 3.1; 1 Pedro 2.13-16).
2. A separação entre a Igreja e o Estado.
A melhor atuação política da igreja deve restringir-se à conscientização e orientação dos seus membros, para que votem com ética e discernimento. Ensinando, sobre:
a. Dever cívico. Votar é o nosso principal dever cívico. Aquele que não vota está abandonando a obrigação bíblica de ser um cidadão responsável;
b. Voto consciente e livre. Isto implica em exercer o direito ao voto de modo refletido e com senso de responsabilidade, na busca pelo atendimento do interesse público, à luz dos valores morais e espirituais extraídos das Escrituras (Filipenses 2.4 e 4.8).
3. O Modelo de Estado Laico Brasileiro.
A Constituição do Brasil, em seu artigo 5º, outorga ao cidadão plena liberdade de crença. O conceito de Estado Laico é compreendido como a separação entre o Estado e a Igreja. Significa que um não pode interferir nas atividades do outro e vice-versa. No artigo 19 está definida a separação entre o Estado e a igreja, mas ressalva na forma da lei, a colaboração de interesse público. Assim, embora o Estado brasileiro seja laico, ele não é ateu. Desde os primórdios, o ser humano tem a necessidade de cultuar a Deus, portanto, o Estado não pode negar a natureza religiosa do indivíduo.
Ill - COMO O CRISTÃO DEVE LIDAR COM A POLÍTICA
O cristão deve lidar com a política com sabedoria e discernimento. Se como indivíduo o cristão pode ter o seu próprio compromisso político, a Igreja deve concentrar-se nas questões essenciais da ética, da justiça e da paz.
Se existe uma ideia política de que os cristãos, como membro do Corpo de Cristo, tem a obrigação de defender, é a separação entre Igreja e Estado. Os cristãos devem manter a separação de domínios. e manter a disposição de lutar pela liberdade de culto.
1. O perigo da politicagem.
Entre os cidadãos brasileiros, quando o tema "política" tratado, afloram dois tipos de pensamentos: aqueles que não querem ouvir nada a respeito porque não gostam do assunto e os que são muito bem informados quanto à vida política e social do nosso país. As palavras política e político estão carregadas de forte conotação pejorativa, em consequência da corrupção generalizada, escândalos nos governos e má administração do dinheiro público. Então, não é incomum ouvir cidadãos afirmarem que estão cansados da política, quando na realidade o cansaço provém dos efeitos ruins da "politicagem".
É importante ressaltar, a "politicagem", é totalmente contrária à política, é a prática distorcida e corrupta da atividade política. A essência da política é a luta por poder e influência de maneira honesta e com o objetivo do bem coletivo. Todos os grupos e instituições sociais precisam de métodos para tomar decisões para seus membros. A política nos ajuda a fazer isso de modo justo.
Como cristãos, precisamos fazer a diferença em nossa sociedade. Para isso acontecer, precisamos estar bem informados a respeito daqueles que estão exercendo um cargo político e que muitas vezes receberam o nosso voto é preciso saber o que estão fazendo. Nós, seguidores de Cristo, não podemos dar apoio e nem votar em candidatos contrários às convicções cristãs. A igreja é advertida a não se prender em jugo desigual com os incrédulos, pois a justiça não tem ajuste com a injustiça, nem a luz ocupa o mesmo espaço com as trevas (2 Coríntios 6.14, 15).
2. Como delimitar a atuação da igreja.
De que modo a igreja deve atuar em relação à política? A atuação política da igreja deve restringir-se à conscientização e orientação de seus membros, para que exerçam seu papel de cidadão de maneira ordeira. Ensinar a votar com ética e discernimento, a jamais negociar seu voto, porque é uma atitude antiética para um cidadão do céu, revela um profundo subdesenvolvimento cultural.
Lembrar que como cidadãos do céu, os cristãos já têm seu representante legítimo, que é o Espírito Santo de Deus e como cidadãos da terra, precisa influir nos destinos da nação.
O cristão possui dupla cidadania. Ao mesmo tempo que as Escrituras afirmam que a nossa cidade está nos céus, asseguram, também, que somos peregrinos neste mundo (João 17.11; Filipenses 3.20; 1 Pedro 2.11). Não há contradição nessas verdades bíblicas, pois elas simplesmente enfatizam o desafio do servo de Deus em viver sem se esquecer que seu destino é o Céu. Temos duas cidadanias: celestial e terrena. A cidadania terrena é conquistada por herança na região de nascimento,nesta condição os crentes não podem estar alienados da sociedade e das questões sociais, políticas e econômicas. Como cidadãos deste planeta e embasados em uma visão de mundo eminentemente bíblica, precisamos influir nos destinos da nação, participar das discussões do cenário político, introduzindo luz e sal nos temas da sociedade e do governo.
3. Ajustando o foco da igreja.
Quando Paulo escreve, "saí do meio deles, e apartai-vos" (2 Coríntios 6.17) ele não quis dizer aos cristãos que eles devem desistir de suas vocações seculares, deixar de ser advogado, médico, comerciante, bancário, lojista, vendedor, vereador, prefeito, deputado federal, senador, governador etc. Não há uma só orientação no Novo Testamento para justificar um comportamento como este. Lucas era médico, Zenas foi advogado. Desistir de qualquer atividade da vida que não seja algo necessariamente pecaminoso, é uma conduta equivocada.
O procedimento correto é usar nossa fé em paralelo as nossas atividades, e não desistir delas sobre um pretexto infundado de que isso interfere em nosso relacionamento com Deus. É através da atividade secular que temos a oportunidade de realizar o bem, apresentar o Salvador aos pecadores e assim livrá-los da perdição eterna.
Aquele que deseja “sair do mundo, e ser separado”, deve firme e constantemente decidir não ser deformado pelos moldes do mundo. Um cristão autêntico insistirá para cumprir o seu trabalho em qualquer atividade que exerça, desempenhando bem sua função. Seja como funcionário público, ou comerciante, ou banqueiro, ou advogado, ou médico. Assim como Daniel ele empreenderá todo esforço possível para manter sua comunhão com o Altíssimo, prezará por momentos diários de relacionamento com Deus. E fará o seu trabalho secular de maneira que ninguém encontre falha nele. Não corromperá sua alma por milhões em dinheiro, nem por uma carreira famosa ou toneladas de ouro. Não permitirá que sua atividade profissional fique entre ele e Cristo. Se achar que sua atividade prejudica seus domingos, sua leitura da Bíblia, seu momento de oração, e enfraquece sua espiritualidade, então rejeitará este estilo de vida.
CONCLUSÃO
Ao interceder pelos seus discípulos, Jesus pediu ao Pai: “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal”, porque os cristãos são a Igreja no mundo (João 17.15).
Cada um de nós deve fazer a parte que nos compete, somos sal e luz (Mateus 5.13-16). Não é preciso esperar que outro comece, usemos o talento que Deus nos deu e nos lancemos à obra.
Através da propagação da Palavra de Deus, a Igreja presta o serviço de reagente contra a decomposição e escuridão espirituais que assolam este século. Através da convicção de fé que existe no cristão, por meio da fala e de atitudes centradas na vontade de Cristo, ao compartilhar as ideias sobre a ética na política, sobre família e justiça social pela ótica da Mensagem da Cruz, a deterioração deste mundo sem Deus é combatida e a luz do Evangelho mostra a localização e as cores de tudo que está coberto pelas densas sombras do pecado.
E.A.G.
Compilações:
Inteligência Moral - 13 Estudos sobre ética Cristã para os nossos dias; Arival Dias Casimiro; volume 5, páginas 22 e 23; maio de 2008 (Socep Editora Ltda).
Lições Bíblicas Professor - Valores Cristãos: Enfrentando as questões morais de nosso tempo, Douglas Baptista, 2º trimestre de 2018, Lição 12: Ética Cristã e Política, Bangu. Rio de Janeiro/RJ (CPAD).
Lições Bíblicas Adulto, Ética Cristã - Confrontando as questões morais. Elinaldo Renovato de Lima. 3º trimestre de 2002. Lição 13: O cristão e a Política, Bangu, Rio de Janeiro/RJ (CPAD).
Separação, J.C. Ryle, páginas 13, 21,22,, conteúdo em PDF, (Projeto Ryle) www.projetoryle.com.br