Por Antônio Pereira de Mesquita
A data que se comemorava o nascimento do Salvador do mundo - Jesus Cristo - passou a ser considerada, a partir do seu estabelecimento, como forma de o homem se resgatar das impurezas cometidas durante o ano todo. Pelo menos num dia. Coisa estranha, não?
Outros aproveitam o feriado, dia de festa, e se encharcam de bebida. Que droga! Tomam, tomam, e tombam. Tombam no caminho, tombam no propósito, tombam no pecado, tombam nas ruas. E este consumo desenfreado, que às vezes começa no Natal, dura o ano inteiro, levando a índices indesejáveis: cada brasileiro consome 15 litros de cachaça por ano contra 5 litros de água mineral.
O contra-senso acaba mostrando a sua cara. A Água da Vida - Cristo -, é preterida até mesmo em seu dia. Vêm as consequências: acidentes de trabalho, intrigas entre casais, aposentadorias prematuras, mulheres alcoólatras... Também estranho, não acham?
Sem brecha
Cristo só tem um dia para nascer na alma do homem, e na restrição das 24 horas, não encontra uma pequena brecha. O homem sai de si, num salve-se quem puder, já na véspera, e só "volta" quando o "Dia do Salvador" terminou, perdendo o "bonde da história". A alma e os sentimentos do homem destoam e não balançam com o toque de Natal.
Acomodado no círculo vicioso, o homem não abre espaço para encontrar-se com o amor que Deus derramou. Não sabem que este amor é como o encontrar de um oásis pelo viajante do deserto. Os vícios o deixa insensível.
O homem gira em círculos, se perde, não percebe e nada encontra, como numa dança frenética de índios. Cabeça baixa, costas curvadas, olhando para o chão, de onde jamais virá a saída... O céu é para cima; para baixo, o inferno.
Precisa quebrar o círculo, romper as barreiras, erguer a cabeça e gritar a liberdade: Jesus nasce em mim. É Natal! É tão simples como o apertar de uma campainha, dando a ressonância lá dentro: blim, blom!
Entretanto, muitos ainda não podem ver, ainda não enxergam e pensam que o plim, plim é igual àquele som. Não, não é um toque mágico e tão pouco a saída que ecoa da "caixa mágica"... É a mágica que sai; para dar lugar a Jesus, o novo som, o som da eternal melodia. E aí sim, você poderá dizer: é só alegria!
Antes era só utopia. Coisas que acontecem hoje, e amanhã não existem mais. Não é o oásis, mas apenas uma miragem. Nada real.
Bem, todos já perceberam que esta conversa é própria de Natal, quando sempre falam as mesmas coisas, só coisas boas, nada de mal.
Aparecem anjinhos; criancinhas voando, às vezes gordinhas como um milagre espantador. Nesta tela não tem anjos grandões, até Jesus continua lá no bercinho de capim, ao lado das vaquinhas, burrinhos e um dos três reis magos, chamado Eliaquim. De onde tiraram tudo isso? Não perguntem para mim!
Então Natal não é real?
Mas vamos mudar a conversa, jogando um pouco de alegria, falando em tom de poesia.
De que Natal você quer saber? Do Natal do amor de Deus ou do Natal comercial, o Natal do mal? Do Natal que nasce em cada coração a cada dia ou do Natal que temos para a orgia? Do Natal para beber um pouco mais, ou do Natal que leva o pecado para não voltar - nunca mais?
Mas todos parecem tão iguais, até as letras são reais!
Então, existe um farsante em tudo isso aí, é preciso descobrir; o certo e o verdadeiro, o último e o primeiro.
Veja, procure, busque... procure encontrá-lo em seu coração... olhe também para o seu irmão. Ah! Também não está! Continue a procurar.
Vá, percorra, busque e veja, vá também à igreja.
Você vai correr por muitos lugares e não encontrará, até parar um pouquinho, meditar num cantinho, às vezes sozinho. Voltando tudo como era antes... lembrando da dança do índio, caminhando de um lado para outro, com as duas mãos para trás, mas insistindo e dizendo: sem achar o Natal não volto mais.
Bem, quando você esgotar todo o seu esforço, estando lá no fundo do poço, vai parar e esperar. Agora não procuro mais, acabou o sentido, estou desiludido. Não há mais o que fazer; Jesus, vem me socorrer!
É quando, sem a sua ação, brilha a luz no coração. Aquela luz de Natal, que não queima, não faz mal, mas brilha, brilha e dá luz, e com alegria te conduz aos pés do Pai de amor, voando, livre como um condor...
Chega a vitória, como um voo para a vitória, a libertação final, agora sim, encontrei o Natal.
Mudei!!!
Já é noite, mas parece não ser tão escura assim... A Lua brilha, não mais é aquele escuro medonho, raia a esperança, que antes só tinha em sonho. Agora é realidade firme como morar numa linda e brilhante cidade - coisa da eternidade!
É, já estou falando diferente, logo vão dizer que já sou crente. Ah! também não me importo, não, podem até chamar-me de irmão, tenho o Natal, estou livre do mal. Mais que isso, no Natal encontrei-me com Jesus, Aquele que só conhecia no simbolismo da Luz ou pendurado na cruz...
Quando não era um Cristo triste, pregado e doente, era um menino numa manjedoura, quietinho e impotente. Qual a visão que vai lhe seduzir? Seria o Cristo da cruz? Ou aquele da revelação de João, que aparece vivo, poderoso, resplandecente, de vestes brancas, voz ruidosa e pés reluzentes? Talvez este Cristo seja diferente!
Este não é o mesmo da manjedoura, também não é o da cruz, nem mesmo o de Isaías. É o Cristo sem igualdade, é o Pai da Eternidade.
Agora, não sei explicar. Ele é tão real... meigo, belo, simpático, cheio de amor para dar. Não é o amor que conhecemos, o amor do dia-a-dia, aquele que acaba, ou se esfria. É um amor esplendoroso, firme, glorioso, Sim! Minhas expressões mudaram, eu mudei mais também, conheci Jesus Cristo. Amém!
Poderia continuar a poesia, com calor, amor e toda a maestria... olha, acho que também já tenho mais sabedoria...
Sem explicação
Que gostoso, como é bom, que legal... não existe adjetivo para mostrar o Natal. Só mesmo entrando nele, ou ele entrando em você; não sei explicar muito bem, mas sei de uma coisa bela, que antes nem mesmo ouvia e só conhecia na tela.
É... Também não sou pregador, nem mesmo pastor, talvez um simples tradutor, mas nem isso sei fazer, por mais que tente, explique, nem todos vão entender; mas uma coisa é certa, se fizer como eu, vai senti-lo de forma certa.
Irá além do Natal, se despindo do mal; voar como no milagre dos anjos gordinhos, que só as telas dos artistas têm, embora voando ou não, andando ou viajando, rico ou pobre, se sentirá muitíssimo bem!
É Natal. Toque a campainha. Ele te espera. O que está esperando???
Só para não destoar, como um arremate final...
Feliz Natal!
Fonte: Mensageiro da Paz, ano 68, dezembro de 1997, coluna Evangelização, página 1, Rio de Janeiro (CPAD).