Por Eliseu Antonio Gomes
Os estudiosos do Livro de Daniel dividem o livro em duas partes: histórica e profética. Os capítulos 1 a 6 o identificam como conteúdo composto de narrativa cuja predominância é classificada como histórica, mesmo contendo uma parte no capítulo 2 que é profética; e do capítulo 7 ao 12 o que predomina são as profecias, recebidas por Daniel em formas de visões.
É importante notar que a ordem cronológica dos fatos não se seguem na ordem dos capítulos. Nos capítulos 5 e 6, o profeta passava dos 80 anos de idade, no capítulo 7 ele tinha por volta de 70. Do capítulo 7 ao 12, há sequência cronológica.
Império é a forma de governo monárquico, cujo soberano tem o título de imperador ou imperatriz. Enquanto os impérios humanos caem, o Reino de Deus se expande através de Jesus.
A Palavra de Deus é capaz de falar sobre acontecimentos históricos antes mesmo que eles aconteçam. No caso do profeta Daniel, Deus o usa em visões para revelar sobre o futuro do mundo e sobre o Reino de Deus.
A visão dos animais ferozes
O sétimo capítulo retrata uma grande parte da história antiga da civilização humana, que pode ser perfeitamente descrito como o Apocalipse do Antigo Testamento. Este capítulo é paralelo com a visão de Nabucodonosor, relatada no capítulo 2.
Em Daniel 7.1-8, o profeta, servo de Deus, recebe visões e interpretações, tal revelação foi recebida antes da festa de Belsazar (capítulo 5). Daniel vê animais ameaçadores, a aparência deles era repulsiva aos judeus, causavam terror por serem incomuns: um leão com asas de águia, um urso com três costelas na boca, um leopardo com quatro asas, um animal com aparência indescritível com dentes de ferro que comia e triturava tudo que encontrava pelo caminho. O quarto animal traz algo bastante peculiar: dez chifres e um chifre pequeno.
A interpretação
O significado desta visão nos leva a entender que, as figuras representadas pelo leão, o urso, o leopardo, e a fera indescritível, simbolizavam os quatro grandes impérios do mundo: Babilônia, Pérsia, Grécia e Roma; os quatro animais representam quatro reis que se levantaram sobre a terra. Em primeiro lugar, Nabucodonosor, o rei da Babilônia, em segundo lugar o império Medo-Persa, representado pela aliança dos reis da Média e da Pérsia, o terceiro, o império grego que aparece sobre a figura de Alexandre Magno, que após morrer teve seu reino dividido entre quatro generais, e, em quarto lugar o império romano. Esses impérios são representações de poderes gentílicos dominando o mundo, compreendem desde o período da geração do profeta Daniel até a segunda vinda de Cristo.
As características desses quatro seres é o retrato que Deus dá desses quatro impérios, são figuras animalescas, figuras de conhecimento cultural do homem para revelar verdades morais e espirituais, para revelar o surgimento deles ao longo da vida de Israel e do mundo, bem como destacar o último grande império mundial sob a égide de Satanás, representado pelo Anticristo.
Sobre o quarto animal, seus dez chifres simbolizam sua capacidade de realizar ataques eficazes, o poder que ele possui para subjugar e reinar. O significado dos dez chifres que saíam de sua cabeça, prefiguravam dez reis, advindos do antigo império romano.
O Anticristo
O pequeno chifre (Daniel 7.8), saído entre os dez chifres, descrito como tendo olhos e uma boca que fala insolências, será uma pessoa na pele do Anticristo escatológico, descrito pelo apóstolo Paulo como "homem do pecado" e "filho da perdição" (2 Tessalonicenses 2.3). Surgirá no último tempo entre dez reinos, no período da Grande Tribulação, blasfemando contra o Altíssimo até que venha o juízo de Deus sobre ele.
Tanto a profecia de Daniel quanto do evangelista João (7.8; Apocalipse 13.1, 5-6) apontam para um personagem dos últimos tempos, o período da Grande Tribulação, o Anticristo. Revelam que haverá um governante cuja personalidade terá alto poder de convencimento, sua retórica será persuasiva e impressionante, capaz de enganar através da eloquência de suas palavras, influenciando as nações tanto para a paz quanto para as guerras. Ele será um Líder que manipulará os governos do mundo, pois terá "uma boca que falará grandiosamente", e assim fará um pacto com Israel. Apresentará uma retórica blasfemadora contra o Criador e contra os homens, mostrará postura zombeteira contra Deus e contra Israel.
Ao longo dos anos muitas especulações foram feitas a respeito das figuras dos quatro animais. No passado, muitos crentes apontaram Hitler como o pequeno chifre, isto é, o Anticristo. Outros, Stalin, ainda, outros, o papa João Paulo II. Não sabemos quem é o Anticristo porque sua identidade não está revelada na Bíblia. O tempo provou que todas estas especulações eram equivocadas. Não devemos ir além do que menciona o texto bíblico.
De acordo com a interpretação evangélica conservadora, é preciso levar em conta que os muitos intérpretes de Daniel consideram os capítulos 7 e 8 como uma continuação do capítulo 2. As duas visões apresentam os mesmos fatos, a decadência desses impérios, porém, a Nabucodonosor, rei pagão, a visão da estátua revelou o lado político e material dos impérios, enquanto que a Daniel, servo de Deus, a visão revelou o lado moral e espiritual representados pelas figuras dos quatro animais.
O capítulo 2 tem o sonho de Nabucodonosor, interpretado por Daniel. O sonho apresenta quatro impérios representados por quatro figuras do mundo material. Os impérios são representados por uma grande estátua com cabeça feita de ouro; peito e braços de prata; ventre e quadris de bronze; pés compostos da mistura de ferro e barro. A estátua é derrubada por uma pedra, que é lançada sem o uso de ferramentas. Esta pedra é o Reino de Deus destruindo toda a concepção humana de imperialismo, desfazendo o poder das forças gentílicas.
O Anticristo será destruído pelo fogo e será lançado no Lago de Fogo (Daniel 7.11; Apocalipse 19.20). A Bíblia declara que ele será destruído pela força da vinda do Messias (2 Tessalonicenses 2.8).
O Filho do Homem
Em Daniel 7, o significado da expressão "filho do homem" refere-se a um ser humano distinto que recebe de Deus a soberania celestial, não é outra pessoa senão Jesus Cristo, o Messias, que se dará a conhecer em sua segunda vinda quando todo o olho o verá vindo do céu sobre o Monte das Oliveiras. (Zacarias 14.4; Atos 1.9-11; Apocalipse 1.7).
Jesus Cristo se identificou como o Filho do Homem (João 14.1-6, 28), para que soubéssemos que além de ser gerado no útero de uma mulher era o Filho de Deus (Salmos 2.7), para que pudéssemos saber que Ele além de divino também era um ser humano.
A Grande Tribulação
O clímax da visão profética de Daniel marca o advento da Grande Tribulação, que não será para a Igreja de Cristo. Antes deste período a igreja será arrebatada para o céu e os mortos em Cristo serão ressuscitados gloriosamente (1 Coríntios 15.51-52; 1 Tessalonicenses 4.13-18). O Messias virá para Israel e para o mundo.
A Grande Tribulação durará três anos e meio, ou 42 semanas, ou 126 dias (Daniel 9-7; 12.7; Mateus 24.21-22; Apocalipse 7.14). Será um período de sofrimento mundial, especialmente contra Israel. Nesta época, o Anticristo firmará o concerto com Israel, usará artifícios políticos simulando relações de paz entre Israel e as demais nações, depois quebrará o pacto e passará a perseguir Israel com o apoio das nações.
Jesus, o Messias, se fará visivelmente presente em plena batalha do Armagedom, quando as nações da terra sob o comando do Anticristo estiverem atacando Israel, e Israel estiver prestes a ser destruído clamar a Deus por socorro. A interferência do Senhor nesta guerra resultará na derrota do Diabo, seus anjos e todos os comandados pelo Anticristo.
O profeta Daniel viu o dia em que virá o Messias, nesta segunda vinda. O capítulo 7, versículos 9 a 14, nos mostra Deus, representado pela figura do Ancião de Dias. assentado em um trono de juízo, ali proferirá sentenças contra todos os reinos do mundo que tenham se associado com o Anticristo, julgará tanto os grandes quanto os pequenos. Em seguida, surgirá o Filho do Homem perante o tremendo e resplandecente trono de Deus, para receber o domínio, a glória, o reino, e o direito de reinar para sempre.
O milênio
Após a Grande Tribulação, que terminará quando Jesus tomar posse do governo do mundo e desfazer o domínio do Anticristo, do Falso Profeta e do Diabo, terá início o Milênio, que não é mera alegoria, Jesus reinará literalmente por mil anos, promovendo a paz na terra.
Conclusão
Nos dias atuais, o mundo parece estar sob a síndrome deste líder futuro, o Anticristo, ele não mostrou a sua cara porque a Igreja de Cristo ainda está presente neste mundo, guiada e fortalecida pelo Espírito Santo. Não há dúvida de que o espírito do Anticristo, movido pelo Diabo, mostra os seus primeiros sinais preparando o cenário mundial para o seu advento, que ocorrerá após o arrebatamento da Igreja ao céu.
E.A.G.
Compilações:
Ensinador Cristão, ano 15, página 40, outubro-dezembro de 2014, Rio de Janeiro (CPAD).
Integridade Moral e Espiritual - O legado do livro de Daniel para a Igreja Hoje, Elienai Cabral, páginas 97-101, 1ª edição, 2014, Rio de Janeiro (CPAD).