A liberdade de ir e vir é direito constitucional de todos.
O que é o rolezinho?
Rolezinhos são encontros agendados à esfera presencial através de uma modalidade nova de comunicação e relacionamento, o virtual. É apenas o nome que a mídia usa neste momento para descrever encontro de jovens da classe C e D, as classes sociais mais pobres, em passeios ao shopping center, área considerada exclusiva para pessoas de classes sociais mais abastadas.
O fenômeno
rolezinho surgiu em consequência do advento da internet. Jovens pobres da periferia, uma parcela negra, sem intenção de consumir o que há para vender em shopping center, promoveram aglomerações de até seis mil pessoas em um centro de compras de Itaquera no final do ano passado. O interesse da garotada internauta era aproximar-se fisicamente de cantores de funk que ganharam fama na rede mundial de computadores; o desejo dos jovens era estar perto de blogueiros e blogueiras que ganharam notoriedade na internet. O objetivo maior do evento era apenas divertir-se entre eles mesmos.
O elo que gera o encontro é uma fama alternativa, a aproximação entre "celebridades da internet" - gente que ganhou notoriedade sem a televisão, sem o rádio, sem a mídia tradicional - com seus admiradores, seguidores de redes sociais. O
rolezinho é isso, aliado ao interesse pela paquera, namoro, dança. Não é movimento político partidário; não é movimento-sem-teto, não é movimento-sem-terra.
Todos os encontros até o momento foram marcados em shopping centers paulistanos – e virou polêmica porque jovens foram expulsos de um desses estabelecimentos e impedidos de retornar por força de uma liminar. A administração de seis shoppings se incomodaram com refrões de funk estilo ostentação e amparados por decisão judicial impediram que os jovens manifestem-se nesses locais. Muitos clientes não concordam com a repressão aos jovens.
Os eventos dentro de shopping começaram em dezembro de 2013, convocados por artistas de funk, em resposta a um projeto de lei que proibia bailes do estilo musical nas ruas da cidade de São Paulo. Houve encontros no Shopping Aricanduva, na Zona Leste, Shopping Metrô Itaquera, Shopping Internacional de Guarulhos. O Shopping JK Iguatemi, frequentado pela classe mais rica da cidade paulistana, apresentou a liminar, proibindo as manifestações, com previsão de multa de R$ 10 mil a quem fosse identificado causando tumulto. Em seguida outros estabelecimentos também apresentaram documento similar.
É próprio da juventude e adolescência ter energia de sobra e expressá-la com muita efusividade, brincar, namorar, passear em grupo. Sempre foi assim e não mudará nunca.
A mudança ocorre apenas no nome que se dá ao comportamento de socialização de adolescentes de acordo com o tempo e cultura - outros chamam tal comportamento de balada
Dado sociológico.
Ao conversar sobre o r
olezinho, uma pessoa lembrou muito bem o seguinte: a área de um shopping center é um local privado de frequentação pública.
Alguns dizem que desde que o mundo é mundo o pobre vai ao shopping center, pois lá não existe apenas o estabelecimento top do top, também podem ser encontradas lojas abertas para todas as classes sociais. Mas é extremamente óbvio que o espaço de um centro de compras é construído para ser frequentado por quem tenha dinheiro para gastar, é esperado que quem esteja lá seja usuário de cartão de crédito e seja um bom consumidor do que está destacado nas vitrines. Haja vista as grifes da alta costura, de relógios e jóias, os grandes estacionamentos ocupados por carros importados, as localizações em que estão construídos. Shopping center são construídos em grandes centros urbanos de classe média e alta, raramente estão situados nas periferias das cidades, onde estão as concentrações de cidadãos mais humildes economicamente.
Entenda a polêmica.
O que ocorre com o tal do “rolezinho”? É dito na mídia que grupos de jovens pobres se organizam em redes sociais para realizar vandalismo em shopping center.
Será mesmo? Tenho minhas dúvidas.
Alguns jovens estariam realmente dispostos a fazer depredação?
Como saber quem é quem no meio de uma multidão do
rolezinho? Como apontar quem faz baderna? Não é complicado descobrir, porque dentro do Shopping existem câmeras de vigilância por toda parte e elas registraram todo o movimento desses jovens. Com certeza as filmagens não serão divulgadas na mídia, porque não há interesse em divulgar a realidade dos fatos. Qual? Adolescentes se divertindo.
Se aceitarmos a informação de que a proibição do
rolezinho implica em proibição do pobre ir ao shopping, então aceitamos a ideia que o pobre só é aceito por ricos em ambientes que estão respirando quando está lá para ser o balconista de loja, o vendedor de loja, o faxineiro, o segurança. O pobre estar no shopping center para passear e se divertir não seria bem-vindo, deveria ser devidamente expulsos e impedidos de retornar? Não. Mas infelizmente, é forte a impressão que os ricaços desejam manter o ambiente apenas entre o pessoal de sua classe socioeconômica; parece mesmo que não querem garotos e garotas de favelas no mesmo espaço que seus filhos e filhas vão passear.
Rolezinho é mais uma nomenclatura para mascara a realidade do preconceito?
O termo
rolezinho parece encobrir o preconceito do rico contra o pobre, pois coloca todas as pessoas envolvidas de maneira generalizante. Não se pode generalizar. A generalização é irmã do preconceito. E agir preconceituosamente é tão criminoso quando participar de depredação de estabelecimentos públicos ou privados.
Todo jovem pobre vandaliza? Claro que não. Nem todos os seis mil jovens que se encontravam no Shopping Itaquera, em 7 de dezembro de 2013, quando foram enxotados de lá, depredavam, não estavam dispostos a fazer quebra-quebra.
Há mídia sobre o muro?
O jornalismo diz: o problema não é porque os jovens são pobres e sim porque eles vão e começam a fazer vandalismo. O que se proíbe é a baderna e eventuais roubos e furtos.
Parte da mídia é sempre comprometida com quem paga o salário dela. E quem é que ocupa os espaços publicitários de televisões, rádios, jornais e revistas? A classe social mais rica. Então, ninguém espere que uma situação desse tipo obtenha uma cobertura jornalística totalmente isenta, absolutamente imparcial.
Neste ano eleitoral, parte da mídia fala e mostra apenas aquilo que o pessoal da oposição ao PSDB quer que seja mostrado e dito. Então, publica foto da Polícia Militar parando pessoas simples, negras, morenas, com a finalidade de suscitar a revolta popular do eleitor contra Geraldo Alckimin.
Política.
Às portas de eleições estaduais e de nível federal, o
rolezinho tem sido assunto a ser politizado para alavancar votos. Gente do PSDB, e alguns simpatizantes desse partido, dizem que o PT pretende usar o tema tal qual tentou fazer com as grandes manifestações de rua de junho de 2013.
O discurso da oposição ao PSDB aproveita a situação. Tem como pano de fundo a argumentação de que a Polícia Militar impedir vandalismo seria o mesmo que ferir o direito do cidadão de manifestar-se. O PT quer “demonizar” a imagem do Governador de São Paulo, Geraldo Alckimin, e seu partido, o PSDB. Incutir na imagem do chefe-maior da polícia paulista e de seu partido uma imagem de ultra-conservadorismo de extrema direita. Então, o PT discursa: na policia do governo de Geraldo Alckimin é assim “escreveu não leu o pau comeu”.
É necessário considerar que os participantes de manifestações públicas têm direitos e deveres, e devem arcar com as consequências se depredam patrimônio público ou privado. A PM precisa estar presente, ser firme e assegurar a ordem.
Na verdade, ideologicamente, o PSDB é um partido de centro-esquerda. Mas na prática não existe mais nenhum partido que opere dentro de ideologias específicas. Inclusive o PT não tem mais ideologia de esquerda, só o discurso quando discursar assim lhe convém.
Hoje em dia o momento é que faz o movimento ir à direita, centro, ou esquerda ideológica Isso acontece em todos os partidos políticos brasileiros. E o que realmente importa para mim como eleitor é que os passos desses partidos sejam dados com honestidade e senso de promover o bem-estar coletivo do eleitor, do cidadão.
A revista Veja informa sobre estratégias da política petista tentando lucrar sobre o fenômeno do
rolezinho e o portal G1 assinala à presidência da república buscando provável interferência petista visando aproveitamento político da situação:
"A convocação para um rolezinho no Shopping JK, por exemplo, não partiu de nenhum adolescente da periferia, mas de um professor de piano, morador de um bairro paulistano de classe média e apoiador do ex-ministro e hoje presidiário José Dirceu (“Condenada foi a democracia brasileira”, postou ele no FB ao lado de uma foto do petista com o punho erguido). Da mesma forma, o chamado para uma invasão do Shopping Iguatemi de Brasília, marcada para o próximo dia 25, não teve o dedo de famosinhos da Zona Leste nem de seus fãs: está sendo organizado por um estudante da UnB que participou da invasão do Congresso em junho passado." [1]
"O presidente da Abrasce - Associação Brasileira de Shopping Centers - disse ver com preocupação relatos divulgados pelo jornal Folha de S.Paulo de que a presidente Dilma Rousseff tenha agendado reunião sobre o tema. 'Tudo o que a gente não quer é que o Brasil descambe para vandalismo, agressão, porque isso prejudica a todos nós' (...) 'os shoppings não discriminam quem quer que seja (...) 'Tenho absoluta convicção que não fazemos discriminação nos shoppings. O que não queremos é que se façam coisas arbitrárias dentro do shopping. Isso não é nenhuma discriminação, é uma tentativa a mais de preservar a segurança dentro do shopping', declarou." [2]
Apartheid social?
Somos contra todo tipo de preconceito. Contra toda violência, da polícia, de manifestantes.
O anarquista, participante de facções, quer direitos, mas não aceita nenhuma obrigação. Quer barbarizar, destruir, não ser punido por infringir leis. A polícia deve impedir a ação deles, mesmo, e deter todos que estiverem em
rolezinhos tumultuados, para averiguar quem é quem, e aquele que tiver o que pagar ser preso e depois responder judicialmente pelo que fez.
Não podemos misturar as coisas: a cidadania garante a liberdade de expressão desde que elas não estejam apontadas no Código Penal Brasileiro como crimes.
O comportamento do brasileiro está tipificado nas leis que regem a sociedade. O bandido deve ser tratado como tal. Quem participa de manifestações públicas e comete ações erradas precisa responder por elas. Existe lei contra a prática de vandalismo e furtos. Que se prenda quem comete delitos.
O direito constitucional vale para todos. Lojistas não têm o direito de proibir que pessoas de classe social mais humilde circulem em shopping center. É um erro impedir o trânsito de qualquer cidadão, fere o direito constitucional de liberdade. Assim como donos de shopping center não podem proibir quem queira circular pelos corredores de seus estabelecimentos, aberto ao público, e se ajuntem em praças de lazer, os jovens não devem atrapalhar o ir e vir de cidadãos de bem que vão lá para assistir cinema, conversar e consumir em praças de alimentação e magazines.
Conclusão.
Não sou ingênuo, sei que parte da mídia, movida por interesses de receber verbas publicitárias, aceita ser usada para colher votos e é possível que afirme veementemente que a Polícia Militar de São Paulo é truculenta, repetirão porque quer o dinheiro fácil de cofres públicos.
Não sou ingênuo, sei que o PSDB não é um partido de anjos; Alckimin é um ser humano, e como tal, imperfeito. Observação: não voto em políticos pensando que são suprassumos da perfeição, penso em votar no Alckimin nas próximas eleições se porventura quiser candidatar-se.
Sei que possa haver policiais que façam uso de violência desnecessária, use a autoridade de maneira abusiva. Eles precisam sentir o peso da lei tanto quanto quem é vândalo ou político corrupto.
Os ricos não querem que seus filhos convivam com filhos de pobres em momentos de lazer dentro de Shopping Center, e este é o real motivo da proibição de
rolezinhos em shopping center? Quem acha que não?
E.A.G.
1 - http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/rolezinho-eu-nao-quero-ir-no-seu-shopping
2 - http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2014/01/shoppings-pediram-retirada-de-rolezinho-do-facebook-diz-abrasce.html
Atualizado: 18/01/2014, às 13h09