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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

O que você vê?

O que você vê na foto? Ela mostra crianças na praia. E é muito bonita. Dá pra ficar muito tempo olhando pra ela sem se cansar. E é bem preto e branco. Será que ficaria melhor colorida? A ausência das cores ajuda a destacar outras coisas. 

Os meninos são silhuetas - tão uniformemente negras e bem delineadas que parece que eles foram removidos a estilete. Só vemos seus contornos, e são formas muito vivas. O da esquerda parece um zigue-zague; praticamente todas as linhas são retas. E, olha só, formam triângulos; um entre o canto da imagem e o traçado da bermuda, outro com a vértice no calcanhar, mais um entre a canela, o lado da foto e a linha do mar...

Por falar nisso, o horizonte está inclinado. Isso causa agonia ou satisfação? Os meninos se conectam entre si por meio dessa, que transpassa os quatro.

Agora percebi que há três faixas horizontais: o céu, o mar e o chão. E, olha só, também tem três colunas: duas escuras, nas laterais, e uma iluminada no centro. Esse feixe de luz revela toda a complexidade dos grãos de areia - ela parece fofa, boa de pisar. E, de fato, as crianças estão pisando com vontade: tem bocadinhos de terra e água flutuando pela imagem, levantados pela correria. 

Aposto que estão todos sorrindo. Talvez aquele ali, na direita, mais introspectivo, não. Pode ter encontrado uma concha diferente, sei lá.

Qual dos quatro você seria? Um deles está carregando um... o que é aquilo? Uma madeira para desenhar na areia, montar uma trave de futebol, arremessar para bem longe, só pra aproveitar o vazio imenso da praia? 

Já morei perto do mar, mas não ia lá todo dia, que desperdício!

E você, o que vê aqui? Fotos são portais capazes de nos absorver num prazeroso exercício de contemplação. É uma experiência totalmente pessoal, sem certo e errado. 

Talvez você não consiga expressar o que a imagem está fazendo você sentir. Talvez surjam perguntas para as quais não há respostas. E, bem, talvez você ache a foto nada interessante e não gaste nem um segundo olhando para ela. Seja como for, tem partes de nós que só acessamos por meio da arte. Então, o que você vê aqui, sem exagero, são estímulos preciosos para ser tudo o que você pode ser.

E.A.G.

Texto: Dilson Branco.

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