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quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Breve comentário sobre Lilith no folclore judaico e em Isaías 34.14

No passado, Lilith foi uma figura considerada deusa e demônio feminino. Aparece em crenças tradicionais islâmicas como uma entidade demoníaca. Representações artísticas babilônicas mostram "lilith" como se fosse uma mulher alada e serpentina,  associada com ventos e tempestades. Durante os séculos 7 e 6 antes de Cristo, período em que os hebreus ficaram exilados na Babilônia, os babilônicos cultuavam lilith como deusa da fertilidade, responsável por enfermidades e morte. 

Na enciclopédia Larousse, o verbete a descreve assim: Hebraico, monstro noturno. Demônio feminino do folclore judaico cujo nome e personalidade derivam do demônio assírio-babilônico Lilit ou Lilu. Lilith aparece às vezes como mãe dos filhos demoníacos de Adão, que nasceram após sua separação de Eva, ou como sua primeira esposa, que o deixou por incompatibilidade. 

Quem é Lilith no cânon da Bíblia? 

Lilith não é uma figura mencionada como ser humano na Bíblia. Mas na mitologia judaica, conteúdo extra bíblico, ela é descrita como a primeira mulher criada por Deus para ser companheira de Adão.

O que encontramos sobre Lilith em Isaías 34.14?

O vocábulo "lilith" consta na tradução King James, texto de Isaías 34.14, disponível para quem quiser comprá-la hoje, é publicada pela editora Abba Press. 

O capítulo 34 de Isaías mostra como a ira de Deus viria sobre os inimigos do povo de Deus, descreve o juízo divino sobre Edom, inimigo de Judá. Em sua descrição, o profeta faz alusão aos fenômenos cósmicos, como "todo o exército do céu se gastará", uma vez que a espada do Senhor tinha "se embriagado nos céus" (versículos 5 e 6). Recorre aos recursos naturais adjacentes do mar Morto para retratar o solo coberto por "pez ardente", ou piche ardente. Tão grande seria o castigo pela devastação, que Edom se tornaria terra estéril, abandonada por pessoas e habitada por pelicanos, corvos e corujas (versículos 9-11). Os palácios se tornariam ambientes adequados às criaturas do deserto, cães e gatos selvagens e espécies de animais noturnos (versículo 14).

O leitor da Bíblia deve considerar o seguinte sobre o versículo 14 de Isaías, da tradução King James: neste trecho o vocábulo "lilith", está escrito com a consoante l [éle] em letra minúscula. O que nos leva a considerar que os tradutores da King James não consideraram a palavra como um nome próprio, não consideraram que sendo uma mulher, os tradutores não reconheceram o termo como descrição de uma pessoa. Neste texto, aparentemente a palavra refere-se ao culto idólatra, alude aos falsos deuses associados com corujas.

Em muitas outras traduções bíblicas, em lugar da palavra "lilith" encontramos “animal noturno” ou “coruja”, tradução que faz conexão com as criaturas selvagens, em seu próprio habitat natural, lugares inóspitos nos quais costumam repousar.  

Que tal relembrar o que é o Talmude?

Lilith está citada no Talmude hebraico do exílio da Babilônia. O Talmude é uma coletânea de ensinamentos judaicos, escrito na Idade Média, escrito entre o quinto e terceiro séculos antes de Cristo.

Este livro contém a reunião dos preceitos, hábitos, tradições e leis dos judeus, usado como uma das bases para entender a religião judaica. Os antigos judeus seguiam muitos ensinamentos orais, ou seja, não escritos, e acrescentavam a eles seus próprios comentários. Estes incluíam interpretações das leis e histórias que ajudavam a explicar as lições morais. Juntas, essas coletâneas de leis, interpretações e histórias, são conhecidas como Talmude. Em síntese: não fazem parte das Escrituras Sagradas. 

Ao longo de séculos, o Talmude foi escrito por muitos líderes religiosos judeus, os rabinos. A primeira parte é a Mishná, que apresenta as leis orais. Estudiosos acreditam que um rabino tenha concluído a Mishná no início do século III. Ela contém regras sobre as orações diárias e a agricultura; rituais especiais; casamento; direito criminal e civil; normas do templo; e higiene. A segunda parte do Talmude é a Guemará, que contém comentários sobre as ideias tratadas na Mishná. A Guemará foi escrita por rabinos entre o terceiro e quarto séculos.

Existem duas versões do Talmude: o de Jerusalém (Talmude Yerushalmi) e outra na Babilônia (Talmude Bavli), região no sudeste da Ásia que fazia parte da Mesopotâmia. Os estudiosos modernos consideram a versão babilônica mais completa. As primeiras edições impressas da obra surgiram no século 16, na Europa.

Lilith é considerada como um ser humano na citação encontrada no Alfabeto de Ben-Sirá, um dos textos que compõem a coleção de escritos rabínicos que estão no Talmude. Nesta obra, Ben-Sirá se dirige ao imperador babilônico Nabucodonossor. Lilith é apresentada a ele como a primeira mulher de Adão, criada ao mesmo tempo e igualmente formada do pó da terra, portanto bem antes que Eva. 

E.A.G.

Consulta:
Grande Encoclopédia Larousse Cultural, volume 15, edição 1998, Nova Cultural Ltda. Escola Britânnica - https://escola.britannica.com.br/artigo/Talmude/482633 


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