Segundo o Pastor Valdir Nunes Bícego, de saudosa memória, a missão mais sublime que o Senhor reservou para a Igreja aqui na terra é evangelizar o mundo. E assim sendo, não apenas o cristão que possui a credencial eclesiástica, todo crente precisa ver-se no espelho como um evangelista e habitualmente proceder como ganhador de almas, estar a todo momento preparado para apresentar Jesus Cristo ao pecador, ser em todo tempo cuidadoso com o novo quem é recém-convertido e estar sempre pronto ao momento propício de conduzi-lo ao tanque batismal.
O bom evangelista prepara almas para uma vida de serviço, bem como colabora à edificação do Corpo de Cristo (Efésios 2.20-22) É eficaz ao lidar com as almas que estão presas por doutrinas alheias à Palavra de Deus. Ele dialoga sobre o plano da salvação com testemunhas-de-jeová, mórmons, espíritas; gentes ligadas aos movimentos criados por Confúcio, Maomé, Buda; e inclusive atinge os judeus. Seu preparo e ação evangelística ocorrem tendo como base a oração e aplicação de estudos bíblicos. Desta maneira ele é por excelência um arrebatador das almas que estão aprisionadas aos engodos espalhados pela serpente que enganou o primeiro casal no Éden.
JESUS - O MAIOR EVANGELISTA
"O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas aos pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados, a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus, a consolar todos os que choram" - Isaías 61.1-2.
É significante que este texto use a linguagem da unção, da qual procede o nome Messias (ungido). Jesus identificou-se como a pessoa referida nesta passagem, quando proferiu seu primeiro sermão na sinagoga de sua cidade natal. Ao ler os versículos, disse que estava sendo cumprida a declaração contida no texto, para espanto de todos que o ouviram e o conheciam apenas como o filho de José, carpinteiro residente na Galileia (Lucas 4.16-30).
A OBRA DE UM EVANGELISTA
"Mas você seja sóbrio em todas as coisas, suporte as aflições, faça o trabalho de um evangelista, cumpra plenamente o seu ministério" - 2 Timóteo 4.5.
Paulo exorta Timóteo a ser um bom evangelista, o que implica em reagir corretamente quando chegasse o momento em que os ouvintes da Palavra de Deus sentissem comichão nos ouvidos e buscassem para si pregadores dispostos a falar apenas o que eles quisessem ouvir. Está claro que o apóstolo não se referia apenas ao tempo em que Timóteo cumpriu seu ministério evangelístico, a exortação é válida para todos os tempos em que a Igreja estiver aqui na terra.
O trabalho do bom evangelista é caracterizado pela pregação da sã doutrina. A sã doutrina é a verdade eterna e imutável acerca do amor de Deus, manifestado através do sacrifício vicário de Jesus na cruz, em substituição à punição que todos os pecadores deveriam receber.
No cenário religioso há duas espécies de pregadores, aquele que prega a verdade e o que prega a mentira. Vejamos:
Os pregadores charlatães trapaceiam e enganam para vender as suas ideias, atingir objetivos pessoais. Modificam a sua mensagem conforme a conveniência do momento, adaptando-a ao que o seu público aprecia ou não aprecia. Os charlatães pregam tendo em vista conquistar o poder e alcançar o lucro financeiro e posição social privilegiada. Paulo considerava os pregadores de Éfeso como charlatães.
Os pregadores comerciantes são vendedores de ideias religiosas. São peritos em despertar o interesse de seus ouvintes por seus conceitos, opiniões e planejamentos, seja de algo concreto ou abstrato. São capazes de realizar estratégias que beiram à manipulação das massas. Sabem comunicar-se bem, estão sempre prontos a fazer ajustes em seus discursos para vender melhor. Eles são motivados pelo interesse próprio, às vezes há o interesse real em servir ao seu público, porém, só serão pregadores da verdade, evangelistas de fato, verdadeiros servos de Deus, quando tiverem um encontro genuíno com Cristo.
Os evangelistas são pregadores contextualizadores. Ao pregarem o Evangelho, produzem bons resultados ao Reino de Deus. São aqueles crentes, que possuindo ou não o título eclesiástico, possuem o desejo ardente de atingir o nível de comunicação perfeita, para que as almas possam entender tudo o que dizem, preservando a integridade da mensagem evangelística. Esforçam-se ao máximo para superar barreiras que regem relações humanas, no seu conjunto e na sua generalidade, são atentos à descrição sistemática e à análise de determinados comportamentos sociais, para que o maior número possível de almas conheçam a Cristo como Senhor e Salvador. Estão sempre preocupados com os seus ouvintes e não com o lucro que a atividade, eventualmente, possa gerar.
FILIPE, O EVANGELISTA
"No dia seguinte, partimos e fomos para Cesareia. E, entrando na casa de Filipe, o evangelista, que era um dos sete, ficamos com ele. Filipe tinha quatro filhas solteiras, que profetizavam" - Atos 21.8, 9.
Filipe, o evangelista, era assim chamado para ser diferenciado de seu homônimo apóstolo. Não esteve no grupo dos doze que andaram com Jesus, mas junto aos sete diáconos escolhidos pelos apóstolos para servir na Igreja de Jerusalém. Juntamente com Estevão, socorria as viúvas de origem grega que haviam se convertido e padeciam pela falta de alimentos e produtos básicos à vida em dignidade (Atos 6.3). Fixou residência em Cesareia com suas filhas jovens e solteiras. Sendo crente cheio do Espírito e de sabedoria e ter boa reputação, houve conversão dentro de sua casa, pois suas quatro filhas são descritas por Lucas como quatro servas do Senhor que profetizavam.
Profetizar era uma prática generalizada na igreja primitiva. As filhas do evangelista e diácono Filipe, não identificadas por seus nomes, receberam a honrosa descrição de serem pessoas portadoras da capacidade espiritual de comunicadoras de mensagens proféticas.
O perfil de Filipe é lembrado por Paulo ao delinear em 1 Timóteo 3.8-13 as qualificações que habilitam o cristão ao serviço do diaconato: "Do mesmo modo, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não gananciosos, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também estes devem ser primeiramente experimentados; e, caso se mostrem irrepreensíveis, que exerçam o diaconato. Do mesmo modo, quanto a mulheres, é necessário que elas sejam respeitáveis, não maldizentes, moderadas e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem os seus filhos e a própria casa. Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançarão para si mesmos uma posição de honra e muita ousadia na fé em Cristo Jesus."
ENVIADO PARA EVANGELIZAR
"Afinal, Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho, não com sabedoria de palavra, para que não se anule a cruz de Cristo" - 1 Coríntios 1.17.
Quando Jesus ordenou aos primeiros discípulos fazer novos discípulos, endereçou a ordenança para nós também. Na tarefa de evangelização, precisamos nos submeter à autoridade de Cristo sobre a importante questão do batismo em águas (Mateus 28.18,19). Batizar significa "mergulhar", "imergir", "lavar"; é estar envolto, coberto. A imersão é uma questão de fórum íntimo, é o sinal ou símbolo exterior do nosso comprometimento com Cristo (1 Coríntios 12.13; 1 Pedro 3.21).
No texto capitulado em 1 Coríntios 1.17, Paulo não escreveu contra o batismo em águas, pois ele mesmo batizou Crispo e Gaio (Atos 18.8; 1 Coríntios 1.14,16). É muito provável que seu objetivo era não provocar o aumento numérico de uma facção em torno de seu nome (1 Coríntios 3.4,5); ou, talvez, tenha se colocado contra o ensino equivocado que apregoava ser o ato de batizar-se, por si só, a garantia de estar salvo, não ser preciso viver em santidade após o batismo.
À semelhança dos israelitas, batizados na nuvem e no mar (1 Coríntios 10.12), não temos garantia de salvação simplesmente pelo fato de ser batizado. Por causa da rebeldia dos israelitas, da multidão que livrou-se da escravidão egípcia, Deus determinou que das pessoas de vinte anos para cima, apenas Josué e Calebe teriam permissão para viverem na terra prometida (Números 32.11,12).
O PRÊMIO DO EVANGELISTA
"Nesse caso, qual é a minha recompensa? É que, anunciando o evangelho, eu o apresente de graça, para não me valer do direito que ele me dá" - 1 Coríntios 9.18.
Apesar de Paulo, como cristão, compreender perfeitamente que estava comissionado por Cristo a viver pregando o Evangelho, esta obrigação era prazerosa para ele (Romanos 1.1). Entre os cristãos das comunidades que havia fundado, ele sabia do seu direito de apóstolo. Qual? "Assim também o Senhor ordenou aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho" (1 Coríntios 9.15).
Sentia-se tão feliz em sua missão evangelística que era capaz de abrir mão ao seu direito a compensação, e trabalhar voluntariamente. Para evitar críticas, não quis usar do seu direito, para não haver quem pensasse que estaria abusando dos irmãos de fé, preferiu evitar a mais leve aparência de abuso de autoridade e sacrificou-se por amor a Cristo.
O estilo de vida do cristão expõe uma tensão entre duas verdades iguais e ao mesmo tempo contrastantes. Pela fé, os crentes já alcançaram o prêmio de Deus, que é a salvação, mas neste mundo ninguém ainda pode experimentar a plenitude do amor e bondade divinas. Para conquistar o prêmio em sua plenitude, Paulo nos aconselha a caminharmos de acordo com o que já alcançamos, olhando para o Autor e Consumador da nossa fé. Portanto, vivamos gratos com o que Deus nos dá em nossa vivência terrena, seja algo da esfera material ou espiritual, em concordância com os nove aspectos existentes no fruto do Espírito. Prossigamos fiéis ao Senhor até o momento de recebermos a recompensa incorruptível quando chegarmos no Céu (Filipenses 3.13-16; Gálatas 5.19-23).
EVANGELISTA APREGOA A LIBERTAÇÃO DO MAL
“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e proclamar o ano aceitável do Senhor.” - Lucas 4.18, 19.
Lucas apresenta Jesus como o Grande Médico (5.31-32; 15.4-7,31-32; 19.10). Em sua narrativa, mostra em detalhes a interação de Jesus com os publicanos, as mulheres, as crianças, os gentios e os samaritanos, demonstrando seu ministério singular aos marginalizados da sociedade. Lucas também descreve Jesus como o Filho do homem, enfatizando sua oferta de salvação para o mundo. Ele identifica lugares que seriam familiares a qualquer judeu (por exemplo: 4.31; 23.51; 24.13), sugerindo que o seu público ia além daqueles que já possuíam conhecimento geográfico na região em que Jesus cumpriu seu ministério. Ele normalmente prefere a terminologia grega aos hebraísmos (por exemplo: “lugar chamado Caveira” em vez de “Gólgota” em 23.33). Ocasionalmente, todos os outros Evangelhos usam termos semitas como “Aba” (Marcos 14.36), “rabi” (Mateus 23.7-8; João 1.38,49) e “Hosana” (Mateus 21:9; Marcos 11.9-10; João 12.13), mas Lucas ou os omite ou prefere seus equivalentes gregos.
Por que Lucas optou por este caminho mais detalhista em sua redação? Lucas escreveu a Teófilo, provavelmente um gentio que acabara de se converter ou alguém que procurava aprender acerca de Jesus. Teófilo significa "amigo de Deus", o que leva alguns a pensar que o livro foi escrito a todas as pessoas que amam a Deus. Lucas esperava que Teófilo e todos os outros leitores aprendessem que o amor de Deus ultrapassa os judeus e alcança o mundo inteiro. Assim sendo, o leitor de Lucas acha relatos mais pormenorizados do que os encontrados em Mateus e Marcos, mais histórias sobre o nascimento de Jesus, registros que demonstram o interesse de Jesus pelo mundo não-judeu e pelos pobres, há uma perspectiva que João não se encontra nos escritos de João.
Com o estilo de Lucas, aprende-se que cabe ao bom evangelista trabalhar com afinco na mensagem que irá entregar às almas. Ao orador ou escritor cristão, ao apregoar a libertação do mal, pesa a responsabilidade de se fazer perfeitamente entendido por quem o lê ou ouve.
Lucas mostrou que o Espírito do Senhor esteve sobre Jesus por toda a Galileia. Como o Messias (ungido) foi o legítimo rei de Israel, sua unção era de profeta e evangelista, e então alimentou os pobres ao multiplicar os pães, anunciou a liberdade aos cativos pelo pecado, libertou os oprimidos por possessões malignas.
Quando Jesus leu Isaías 61, reivindicou para si a identidade do tão aguardado Messias. Ao ler o texto, interrompeu sua leitura no meio do versículo 2 e assentou-se. Na liturgia judaica, a postura para ler as Escrituras era sentado e aos que a ouviam em pé. Ele parou na frase "o ano aceitável ao Senhor", porque a sua pregação anunciava que o tempo da graça de Deus havia chegado aos seres humanos por meio do seu ministério. Deixou de ler "e o dia da vingança do nosso Deus", porque isso se refere à sua segunda vinda e ao seu juízo contra todas as pessoas que escolhem o amor ao mundo e os prazeres carnais, ao invés de viverem em reciprocidade ao amor de Deus (Apocalipse 19.11-21).
Vivenciar o ano aceitável do Senhor ou deparar-se com o dia da vingança de Deus são situações que dependem da pessoa querer ser alguém reverente ao Senhor ou não.
CONCLUSÃO
Enfim, através do anúncio das Boas Novas de salvação, vidas são alcançadas e levadas aos pés do Salvador. O exercício do ministério de evangelista pode ter como consequência a perseguição contra nós, porém, também, traz ao nosso coração a alegria de saber que o nosso nome está escrito no Livro da Vida.
Ao atender ao chamado de Cristo e ser integrante do grupo de cristãos que realizam a Grande Comissão, e fazer dessa atividade uma prática diária, nos faz semelhantes a Jesus. Consequentemente nos leva a destruir velhos hábitos inconvenientes e que não promovem edificação espiritual. Queira ser um evangelista melhor a cada dia. Viver neste mundo conforme Cristo manda, precede a glória que partilharemos com Ele no porvir (Romanos 8.17).
Compilação:
Bíblia de Estudo Holman, 1ª edição 2018, Rio de Janeiro - RJ, Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD).
Bíblia Missionária de Estudo. Edição 2014. Barueri - SP. Sociedade Bíblica do Brasil (SBB).
Bíblia de Estudo Vida. Edição 1998, Liberdade. São Paulo - SP. Editora Vida.
Evangelismo Pessoal, Valdir Nunes Bícego, 2ª tiragem 1981, Rio de Janeiro - RJ, Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD).
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