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domingo, 28 de janeiro de 2018

Jesus é superior a Josué - o meio de entrar no repouso de Deus

Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

O livro de Josué relata a conquista parcial de Canaã, conhecida como a Terra Prometida, sua distribuição e o estabelecimento do povo israelita nela. A narrativa do texto apresenta batalhas campais cruentas. Os cananeus não se entregariam sem esperar nada em troca. Entretempo, ao longo da leitura do livro é possível notar que Deus honrou Israel, fazendo-o vitorioso sobre os inimigos idólatras e permitindo-lhe obter a dádiva do solo prometido ao seu povo, cumprindo-se assim a promessa da Aliança de Deus com os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó.

A Carta aos Hebreus mostra o que a história de Josué caracteriza para a Igreja de Cristo. O capítulo 4 trata do apoderamento de Canaã sob a liderança de Josué e retratada este apoderamento como um tipo de Canaã celestial. Faz o contraste entre o repouso proposto no Livro de Josué e o repouso oferecido por Jesus.

A promessa de conquistar e permanecer na terra prometida, foi cumprida por intermédio da liderança de Josué ao povo israelita, mas unicamente numa perspectiva terrena, incompleta e finita. Enquanto o ministério de Cristo provê descanso celestial, é perpétuo e concluído.

Sumário: A Supremacia de Cristo - Fé, Esperança e ânimo na Carta aos Hebreus

I - JESUS PROVEU UMA MENSAGEM SUPERIOR A DE JOSUÉ

1. Uma mensagem que deve ser recebida pela fé.

Muitos hebreus do Antigo Pacto haviam ficado de fora da Terra Prometida porque não receberam a mensagem com fé, o que se poderia esperar então dos que receberam a mensagem da salvação em sua plenitude, mas não creram? Espera-se a descrença e a desobediência, sendo que para ser participante do repouso celestial exige-se fé obediente, a atitude corajosa de estar ao lado do Salvador e da sua Igreja, a disposição para afastar-se do erro e de abraçar a Palavra de Deus.

As atitudes de desobediência (em grego "apeitheia") são sinas da incredulidade. O termo apeitheia aparece seis vezes no texto original e foi usado pelo apóstolo Paulo ao se referir aos crentes que vivem de acordo com as inclinações carnais (Efésios 2.1-3). Muitas ações da pessoa que vive a religiosidade cristã, mas não crê, têm a mesma forma das ações das pessoas distante do cristianismo autêntico. Por este motivo, o autor de Hebreus usa a mesma palavra no capítulo 4 e versículo 11: "Portanto, esforcemo-nos por entrar naquele descanso, a fim de que ninguém caia, segundo aquele exemplo de desobediência".

2. Uma mensagem que se fundamenta na obediência.

Deus havia prometido a conquista da terra a Moisés e Josué (Êxodo 3.8; Josué 1.2,3). Para o antigo povo de Deus, a entrada em Canaã significava o descanso da jornada e o cumprimento da promessa de Deus. Para os cristãos, entrar no repouso final significa o cessar das tarefas difíceis, dos sofrimentos e da perseguição, tão comuns em nossa vida neste mundo. Participar do repouso do próprio Deus é o mesmo que experimentar a alegria eterna, o prazer sem-fim, ter a comunhão com Deus e com os santos redimidos (Apocalipse 14.13; 21.22).

Ao longo da jornada do Êxodo muitos hebreus deram lugar ao desânimo, à incredulidade e a desobediência. Assim, não aproveitaram a oportunidade de vivenciar o cumprimento das promessas de Deus em sua totalidade. E, na atualidade a mesma marcha equivocada ocorre com muitos cristãos pelos mesmos motivos.

3. Uma mensagem que conduz à contrição.

O escritor de Hebreus - usando o verbo grego "evangelizomai", que significa "evangelizar", "doutrinar", "fazer sermão", "pregar as Boas-Novas a alguém" -  nos deixou a sua argumentação sobre a entrada na Canaã celestial com uma afirmação e uma declaração. Começa com a afirmação que as Boas-Novas foram pregadas a seus contemporâneos, da mesma maneira que havia sido anunciada aos hebreus dos dias de Josué. Depois declara que "a palavra da pregação nada  lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé naqueles que a ouviram" (Hebreus 4.2).

O coração incrédulo é fechado ao amor de Deus e faz com que os benefícios das promessas divinas não tenham efeito sobre ele. O único modo de voltar ao caminho e finalizar a jornada da fé é obedecendo a Palavra de Cristo, que é excepcionalmente elevada e transcende a de Josué.

Ao referir-se à "palavra de pregação", o autor destaca o modo como Deus comunicou-se e revelou-se a seu povo no antigo pacto, e não exatamente ao conteúdo da mensagem pregada, que, evidentemente, era diferente das Boas-Novas anunciadas no Novo Testamento.

Para que a mensagem do Evangelho entre no coração humano, é necessário que este coração esteja arrependido de seus pecados e seja acolhedor (Hebreus 4.7b). O autor usa o termo "sklerynô", cuja tradução ao idioma português são os adjetivos "duro" e "endurecido". O termo grego deu origem às palavras "esclerose", "esclerosado" e "enrijecido".

As três características do ouvinte da mensagem salvadora, são: o recebimento da Palavra com fé, o viver em obediência e o coração contrito e acolhedor. Sem fé, não há possibilidade de agradar a Deus; sem obediência às determinações da Palavra não há perspectiva de fundamentação à vida cristã; e sem o coração contrito não há arrependimento verdadeiro.

Tanto na Carta aos Hebreus, como em outros quatro lugares do Novo Testamento, temos a informação que é o ser humano e não Deus que endurece o coração. Deus enrijece apenas aqueles corações que já estão enrijecidos por si mesmos (Romanos 1.28,29).

II - JESUS PROVEU UM DESCANSO SUPERIOR AO DE JOSUÉ

1. Um descanso total.

A circunstância de o Criador ter repousado não quer dizer que Ele tenha se cansado e nem que desejasse viver em ociosidade. Não havia a necessidade de acrescentar mais nada ao que já havia criado. Deus cessou sua ação de trabalhar no processo de criar todas as coisas porque o trabalho estava concluído (Hebreus 4.3 c).

O povo peregrino desejava entrar e viver na Terra Prometida. Nesse propósito, embora jamais tenha obtido controle total sobre as cidades e vilas da região, como era o costume da época, o exército liderado por Josué estabeleceu a superioridade militar sobre toda a Canaã. Porém, os capítulos 11 e 13 da Carta aos Hebreus confirmam que o repouso dado por Josué foi incompleto e parcial; por outro lado os cristãos têm a provisão de um descanso excelso, indescritivelmente melhor do que o de Josué, pois o descanso provido por Jesus é completo e pleno, e todos devem se esforçar para entrar.

O que é o descanso de Deus? É a ação de repousar, baseada na finalização de sua obra da criação, do qual o sábado sagrado é um testemunho permanente (Hebreus 4.3c,4). Aos crentes em Cristo como Senhor e Salvador, a participação nesta tranquilidade espiritual está fundamentada na obra consumada de Cristo na cruz. Fica evidente (em 4.9) que o autor não se refere ao repouso sabático semanal, o que contrariaria todo o seu argumento nessa carta, que é um alerta aos seus leitores a não retornarem às práticas judaizantes. Não haveria necessidade alguma de dizer que esse descanso era algo ainda a ser alcançado (resta um repouso para o povo de Deus), visto que o sábado era uma prática rigorosamente observado no judaísmo dos dias de Jesus.

A conquista de Josué da Terra Prometida foi apenas uma sombra da qual Jesus Cristo é a realidade. O descanso oferecido por intermédio de Cristo possui uma dimensão presente, no qual se participa agora pela fé e que terá sua consumação no fim dos tempos (4.3).

Este repouso, do qual todos os cristãos participam por direito da Nova Aliança, só é um privilégio possível porque Jesus, como sumo sacerdote adentrou ao Céu, por ocasião de sua morte e ressurreição. No passado, Jesus levou vicariamente a pena de nossos pecados; no presente, Ele é o nosso grande sumo sacerdote que continua a interceder por nós. Agora, está nos Céus, porém, não distante do seu povo.

Em sua função sacerdotal, Cristo "em tudo foi tentado, mas, sem pecado" (Hebreus 4.15). O verbo grego"peirazo", traduzido como "provar" e "tentar" faz referência a Jesus nos dias da sua humilhação e também as tentações das quais esteve sujeito.

O Filho de Deus não foi tentado em todas as particularidades ou em cada situação possível. Por exemplo, não foi tentado como marido ou pai, dono de uma propriedade ou empregador ou soldado, pois nunca exerceu essas funções. Ele foi tentado nas áreas básicas da suscetibilidade humana: corpo, alma e espírito. Conheceu sua tentação no campo do apetite do corpo, no campo dos relacionamentos humanos e no campo dos relacionamentos espirituais. O que deveria governá-lo? Seu desejo por pão? Seu desejo por aceitação e poder? Ou a sua lealdade a Deus? É exatamente nesses pontos onde ocorre a batalha de todo cristão,que Jesus experimentou a tentação. Como nós, Jesus foi tentado, porém, não sucumbiu à tentação.

2. Um descanso real.

É hábito de determinados crentes desprezarem matérias bíblicas que abordam a área celestial e eterna do ministério de Jesus, argumentando que se dermos atenção expressiva ao descanso celestial (o "Céu") formaremos cristãos "alienados". Então, embora a obra de Cristo possua resultados presentes como um avanço das bênçãos vindouras, logicamente que podemos experimentá-las hoje. Portanto, não é aceitável deixar de enfatizar a característica do porvir da obra de Cristo, pois Ele nos prometeu vivência da participação no Reino Celestial (Mateus 26.28-29).

Nos textos bíblicos, capitulados em Hebreus 3.12-13 e 4.11, está evidente o cuidado pastoral do autor da carta. O escritor esclarece que a entrada no repouso de Deus não acontece logo após a conversão a Cristo. Os cristãos precisam ter em mente a existência da possibilidade de perder a promessa de bênção da mesma maneira que a geração de Moisés e Josué a perderam após libertos da escravidão no Egito e peregrinarem pelo deserto por quarenta anos.

O crente desfruta das bênçãos do reino na era presente, contudo, o futuro nos reserva a sua totalidade, portanto, ninguém deve se deixar desanimar pelo cansaço da peregrinação. É necessário seguir adiante, enfrentando com fé, garra e vigilância, todas as adversidades encontradas no caminho. 

Segundo o autor da Carta aos Hebreus, o descanso dado por Josué não foi apenas incompleto e tipológico, ele também foi temporário (Hebreus 4.9, 11).

3. Um descanso eterno.

O autor de Hebreus destaca que o descanso, proporcionado por meio do ministério de Josué, de fato nunca ocorreu em sua plenitude. Não porque deveria ser assim, mas porque os israelitas falharam ao não ouvirem as palavras de Moisés e Josué, porque se mostraram incrédulos e desobedientes. Por este comportamento não entraram em Canaã, a terra do descanso de suas peregrinações pelo deserto. A razão para não tomar posse plena da terra foi a incredulidade que não permitiu a Palavra produzir efeitos naqueles que a ouviram. O autor mostra que alguns se excluíram deste repouso por causa da dureza de coração e por não receberam com fé a mensagem do Evangelho (4.12).

Nesse aspecto, os destinatários da Carta aos Hebreus não podiam responsabilizar a Deus pelos fracassos daqueles que ficariam para trás, pois receberam uma revelação em tudo superior à mensagem entregue por Josué, mas não atentaram ao que fora anunciado. O autor alerta aos seus leitores que tal falta de fé e compromisso com a mensagem da cruz coloca os cristãos numa posição perigosa. A situação que se repetia, não era mais rumo à conquista da terra, mas, naquele momento, na trajetória rumo ao Céu.

No capítulo 4 e versículo 4. o autor da carta cita Gênesis 2.2 e se refere aos Salmos 95.11 duas vezes, imbuído do cuidado que possui com seus leitores, objetivando que entrem no repouso de Deus naquela geração em que viviam e que não o perdessem para sempre, como fizeram os hebreus que peregrinaram pelo deserto. Para o autor, a promessa do descanso divino não havia cessado com a entrada do povo na Terra Santa, visto que, aproximadamente 500 anos depois, Davi faz uma atualização dessa promessa, à chegada da Nova Aliança. Assim, o descanso também é entendido como a entrada na Nova Aliança. 

O descanso que Jesus proveu ao povo de Deus, no qual todos os crentes estão convidados a entrar, é eterno, real e completo. Em seu significado mais amplo, aguarda o tempo futuro, entretanto existe também um sentido presente de ingressar pela fé, como é esclarecido em Hebreus 4.3: "Nós, porém, que cremos, entramos no descanso" (Nova Almeida Atualizada - Sociedade Bíblica do Brasil).

Aos que têm fé, o repouso que Jesus preparou é um fato presente e integral, pois a fé traz a possibilidade no momento presente de experienciar realidades invisíveis ou celestiais, que ainda estão por vir (Hebreus 11.1).

III - JESUS PROVEU UMA ORIENTAÇÃO SUPERIOR A DE JOSUÉ

1. Uma palavra viva.

O preceito que Josué transmitiu ao povo israelita não se limitava à Lei. A mensagem era a mesma Palavra do Senhor, que vivificou os ossos secos na visão do profeta  Ezequiel (Ezequiel 37.3, 4). No entanto, o autor da carta revela que o grupo de peregrinos do Êxodo ouviu as Boas-Novas da Palavra de Deus, mas não lhe deu a necessária atenção.

Jesus afirmou que suas palavras "são espírito e vida". Assim sendo, devemos nos portar diante dela com o coração pronto para seguir de acordo com suas diretrizes. Inclusive pelo fato de que a orientação de Jesus Cristo ser superior ao conteúdo entregue por Josué.

2. Uma palavra eficaz.

A Palavra de Deus é viva e vivificante. Seu efeito é eficaz. O termo "eficaz", usado em Hebreus 4.12 tem seu correlativo grego na palavra "energes" para se referir à atividade divina produtora de resultados. Consulte Isaías 55.11.

3. Uma palavra penetrante.

A analogia usada pelo autor de Hebreus para descrever a Palavra de Deus e sua eficiência é perspicaz. A metáfora é profunda e mostra que seu destino é o centro do coração humano. A  Palavra de Deus é descrita como uma arma de corte que possui vida, que funciona perfeitamente de maneira ofensiva e defensiva; é definida como um equipamento infalível, afiado, penetrador e cortador.  

"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para julgar os pensamentos e propósitos do coração" - Hebreus 4.12, NAA).

CONCLUSÃO

O indivíduo que resolve ser discípulo de Jesus precisa abandonar, de uma vez para sempre, a todos os desejos inferiores. O padrão de vida apenas bom ou regular deixa de ser um alvo que satisfaça o novo estado desse crente. Um caráter que traz em todas as suas faces a marca da semelhança com Cristo é o único ideal admissível; nada menos que isso satisfará o verdeiro seguidor de Cristo. A palavra "caráter" se encontra apenas uma vez no Novo Testamento, onde Cristo é chamado de a "expressão exata do Ser Divino" (ver Colossenses 3.24). É necessário reajustar muitas das nossas ideias a respeito de Cristo para viver nesta terra como "forasteiros" e "peregrinos". Ser peregrino é uma das condições para entrar no descanso eterno. Ser peregrino não apenas nas coisas materiais, mas intelectualmente e também espiritualmente.

Deus proveu um descanso e a acessibilidade desse descanso aos discípulos de Jesus. Porém, esse repouso não é para os indolentes negligentes e descrentes, e sim para os que fazem a jornada de fé até o final.

Para o autor de Hebreus (4.9), o descanso provido por Josué não foi apenas em partes e tipológico, também foi transitório. Os cristãos, diante dessa informação devem estar sempre em prontidão para responder às orientações bíblicas e consequentemente adentrarem no repouso eterno.

A comparação entre o ministério de Josué e o de Cristo, mostra a clara supremacia de nosso Senhor e Salvador. Enfim, recapitulando sobre a passagem bíblica em Hebreus 4.1-13:

A primeira afirmação do autor da carta, contida no versículo 2, é que as Boas-Novas foram pregadas aos seus contemporâneos, assim como havia acontecido com os crentes dos dias de Josué. Para que a mensagem tenha efeito positivo no coração de cada um de nós, é necessário que o nosso coração esteja aberto e receptivo.

E.A.G.

Compilação:
A Supremacia de Cristo. Fé, esperança e ânimo na Carta aos Hebreus, José Gonçalves, edição 2017, páginas 48 a 55, Bangu, Rio de Janeiro / RJ (CPAD). 
Ensinador Cristão, ano 19, nº 73, página 37, janeiro a março de 2018, Bangu, Rio de Janeiro/RJ (CPAD).
Lições Bíblicas / Professor. A Supremacia de Cristo; José Gonçalves; 1º trimestre de 2018; páginas 27 a 32 ; Bangu, Rio de Janeiro/RJ (CPAD). 
Os amigos de Jesus, E. Percy Ellis, páginas 162, 168, 169, quarta edição 1986, Rio de Janeiro (CPAD)

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