Por Eliseu Antonio Gomes
O capítulo nove de Daniel é um dos mais controvertidos e especulados da Bíblia. Quantas datas foram marcadas para a vinda de Jesus a partir desse capítulo? Quantas pessoas pensaram que o Anticristo foi Hitler? Ou o Papa? Tudo a partir da leitura deste capítulo.
Encontramos no capítulo nove a terceira visão das revelações a respeito do tempo do fim, onde de maneira direta e através do anjo Gabriel o profeta Daniel recebeu de Deus tais informações. Tudo o que é descrito nesta passagem não tem relação com a história mundial ou com a história da Igreja, mas trata exclusivamente de Israel e de Jerusalém.
Ao escrever, o autor tem em mente o primeiro ano do império persa, 539 a. C., mencionado em Esdras 1.1 como o primeiro ano de Ciro.
As duas divisões do capítulo
1. A oração do profeta (9. 2-19)
É importante considerar que pela primeira vez no livro é a iniciativa de Daniel que ocasiona uma revelação.
Daniel leu os textos de Jeremias 25.11 e 29.10 e tomou ciência que haveria um intervalo de setenta anos antes da restauração do santuário, entendeu que o exílio na Babilônia duraria este período e, calculou que o tempo já estava quase passado. Ele reconheceu que a restauração dependia do arrependimento nacional, de modo que intercedeu pessoalmente por Israel, embora não exista registro que fosse sacerdote.
Em sua penitência e petições, jejuou e orou com a intenção de confirmar a profecia de Jeremias, humilhou-se perante o Senhor, confessando os pecados do povo e incluindo-se como um dos pecadores, implorou que se manifestasse a misericórdia divina. Pediu especificamente pela restauração de Jerusalém e do templo (9.3-19), fazendo menção da escravidão dos judeus no Egito e da intervenção de Deus possibilitando que os judeus ficassem livres das mãos de Faraó.
2. A resposta de Deus através do anjo (9.20-27)
Diante da disposição do profeta em buscar os desígnios de Deus com humildade e sinceridade, o anjo Gabriel surge a Daniel com o objetivo de satisfazer sua sede de conhecimento da vontade do Senhor.
A mensagem dada através de Daniel toma por garantida a reconstrução do santuário e reinterpreta os setenta anos para fazê-los aplicáveis ao período posterior, do qual o oitavo capítulo 8 fez abordagem.
Aparentemente, ele esperava o cumprimento imediato e completo da restauração de Israel com a conclusão do cativeiro dos setenta anos, mas a resposta esclareceu a ele que a restauração de Israel seria progressiva e se cumpriria definitivamente no tempo do fim.
As setenta semanas (9.24)
O relato de Daniel deixa implícito que estes anos de desolação estavam cumprindo alguma função, e tinham de transcorrer antes que qualquer nova construção tivesse lugar. Setenta anos era o termo fixo da indignação divina (Zacarias 1.12), descrito em 2 Crônicas 36.21 como "os dias em que a terra cumpriu os sábados, até se completarem setenta anos". A compreensão ritual do termo o leva além da esfera meramente numérica. dando-lhe um significado ético e teológico. Existem várias formas de se contar o período de exílio, nenhuma das quais chega a um número exato de setenta anos. O ponto importante é que a restauração marcava a aceitação por parte do Senhor, que, restaurando o Seu povo de volta à sua terra, demonstrava assim tê-los perdoado e restabelecido (Isaías 40.1).
A profecia de Jeremias ganha um sentido maior depois que Daniel descobriu que o exílio de Israel duraria setenta anos. Não se tratava de um tempo aleatório, mas, de fato, significava um tempo especial que envolveria o seu povo Israel. O número setenta ganha um significado escatológico, para descrever na linguagem bíblica fatos futuros. Cada dia da semana significando um ano, e assim, cada semana ganha a representação de um período de sete anos. Portanto, as setenta semanas compreendem a 70 x 7 = 490 anos.
A contagem dessas setenta semanas, determinadas por Deus (9.24), teria seu início a partir do decreto de Artaxerxes, promulgado em 445 a.C.
A profecia divide as setenta semanas em três períodos distintos:
1. O primeiro período de sete semanas, é equivalente a 49 anos, ou seja, sete períodos de sete anos.
2. O segundo tempo seria de sessenta e duas semanas. Interpreta-se 62 x 7 = 434 anos. Essas sessenta e duas semanas, somas às sete primeiras semanas, chegariam ao tempo da restauração de Jerusalém até a vinda do Messias.
3. O terceiro período, denominado como "o de grande tribulação" (9.27), implica em uma semana, ou seja, sete anos, quando haverá uma invasão do Anticristo e se iniciará um tempo extremamente difícil para o povo judeu.
Os três príncipes
O esclarecimento do anjo Gabriel sobre as setenta semanas cita três personagens:
O primeiro é chamado de Messias (9.25), que aparecerá depois que as 62 semanas estiverem cumpridas, trata-se de Jesus Cristo.
O segundo príncipe é aquele que aparecerá posteriormente e destruirá a cidade e o santuário (9.26), refere-se, especificamente, a Tito, que com suas milícias romanas entrou em Jerusalém no ano 70 d.C. e destruiu o templo, profanando o santuário e desterrando completamente o povo judeu. Depois dessa destruição, os judeus deixaram de ser um povo estabelecido como nação, espalhando-se pelo mundo inteiro.
O terceiro, surgirá no futuro, na última semana profetizada,e é dito que "destruirá a cidade e o santuário" (9.27). É mencionado em Daniel 8.23 como "o rei de cara feroz", o "homem do pecado" e "filho da perdição" por Paulo em 2 Tessalonicenses 2.1-8, e de anticristo por João (1 João 2.18).
Conclusão
Muitos comentaristas têm falhado em explicar o significado exato das palavras contidas no texto de Daniel 9.24-27. Cabe a nós, leitores da Bíblia, orar e aplicar critérios coerentes de maneira mais consistente possível, analisar cuidadosamente as conclusões de outros e apresentar as sugestões quanto ao que poderia ser a solução mais provável para um problema complicado.
Daniel tinha o hábito de estudar os Livros e orar três vezes por dia. Graças a essa característica, soube encaixar os acontecimentos de sua época dentro da Palavra Profética, estava qualificado ao ministério da intercessão. Que a tomada de propósito de Daniel sirva a todos nós de estímulo para buscarmos a vontade do Senhor com inteireza de coração. Que tal qual ele, que decidiu se preparar por meio de jejum e um período de oração em favor de Israel, tenhamos o objetivo de interceder em favor do próximo, do Brasil, demais nações e inclusive Israel.
Não é verdade quando se diz que os cristãos não devem se preocupar com as coisas que acontecem ao seu redor. Nós temos que observar os acontecimentos políticos e econômicos de nossa época à luz das Escrituras Sagradas. A Palavra de Deus nos desafia a olhar para os sinais dos tempos e esperar pelo encontro com o Senhor, assim como fizeram os profetas do Antigo e Novo Testamento.
E.A.G.
Compilações:
As profecias de Daniel - Perspectivas de futuro, Norbert Lieth, páginas 168, 176, edição 2014, porto Alegre (Actual Edições).
Daniel - Introdução e Comentário, Joyce G. Baldwin, páginas 172, 175, 1ª edição 1983, reimpressão 2008, São Paulo (Vida Nova) .
Ensinador Cristão, ano 15, página 41, outubro-dezembro de 2014, Rio de Janeiro (CPAD).
Integridade Moral e Espiritual - O legado do livro de Daniel para a Igreja Hoje, Elienai Cabral, páginas 128-130, 1ª edição, 2014, Rio de Janeiro (CPAD)..
As profecias de Daniel - Perspectivas de futuro, Norbert Lieth, páginas 168, 176, edição 2014, porto Alegre (Actual Edições).
Daniel - Introdução e Comentário, Joyce G. Baldwin, páginas 172, 175, 1ª edição 1983, reimpressão 2008, São Paulo (Vida Nova) .
Ensinador Cristão, ano 15, página 41, outubro-dezembro de 2014, Rio de Janeiro (CPAD).
Integridade Moral e Espiritual - O legado do livro de Daniel para a Igreja Hoje, Elienai Cabral, páginas 128-130, 1ª edição, 2014, Rio de Janeiro (CPAD)..
Um comentário:
É incrível como Deus intervém na história, uma profecia dita há tantos anos ainda não foi concretizada.
Deus não retarda suas promessas, ainda que muitos a tenha por tardia.
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