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terça-feira, 5 de agosto de 2014

A verdadeira fé não faz acepção de pessoas

Por Eliseu Antonio Gomes

O primeiro conselho de Tiago aos irmãos evangélicos é sobre a necessidade de não haver na igreja uma fé que cometa acepção de pessoas. Provavelmente, ele tenha convivido com irmãos que prestavam consideração exagerada às riquezas e aos luxos desse mundo, tenha conhecido crentes que prestigiavam os ricos e desonravam os pobres.

Deus trata todas as pessoas de maneira igual

João viu "uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro..." - Apocalipse 7.9.

Por influência de características genéticas e climáticas e de outras ordens, os seres humanos foram se reunindo em cantos distintos da Terra, mas toda a Humanidade tem origem comum em Adão. Portanto, não tem o mínimo sentido dizer que os negros, os africanos, foram pessoas escolhidas para serem rejeitadas por Deus. Para o Criador,  não há privilégios, favoritismo ou discriminação de raças; o Senhor contempla a todos de maneira igual, independente do grupo biológico, características genéticas e posição socioeconômica (Gênesis 1.27; Isaías 45.12; Atos 17.26).

O que é acepção de pessoas?

Acepção é a tradução de uma palavra grega que, literalmente, significa "receber o rosto". No Novo Testamento, ela é usada primeiramente como uma tradução literal da palavra hebraica do Antigo Testamento correspondente a acepção.

"Receber o rosto" é fazer julgamentos e estabelecer diferenças baseadas em considerações externas, tais como aparência física, status social ou raça; é agir com parcialidade, tomar partido, formar facção, fazer escolhas e rejeições; é a tendência de preferência em favor de pessoa ou pessoas em detrimento de outra ou outras, atribuição de títulos ou privilégios. Tiago utiliza o termo com o significado de preferência de pessoa ou grupo, predileção por alguém em atenção à classe social.

O favoritismo baseado em aspecto externo é incompatível com a fé em Jesus, que veio derrubar as barreiras de nacionalidade, raça, classe e religião. No exercício da fé verdadeira "não pode haver grego, nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos" (Gálatas 3.11).

Você já viveu uma situação de ver uma pessoa pela primeira vez e sentir aversão dela? Esta sensação é o estado primário da acepção, mesclado com o preconceito. É preciso aplicar em nosso viver diário os ensinamentos do próprio Deus, que a despeito de Sua glória e majestade, trata a todos de igual modo, não discriminando raça, nacionalidade, cultura, condição social, sexo. Ele não olha a aparência exterior, mas o coração.

A doutrina calvinista

O teólogo João Calvino ensinava que segundo o decreto de Deus algumas pessoas estão predestinadas a vida eterna e outras a condenação eterna. Esta declaração é contrária ao caráter de Deus, que "amou o mundo inteiro" e interessa-se por todos que aceitam a Palavra, com obediência, em qualquer lugar do mundo, de todas as etnias e classes sociais (João 3.16).

Deus quer que as pessoas de todas as nações se arrependam de seus pecados e sejam salvas (2 Pedro 3.9).

O procedimento ideal do cristão

As exortações da Carta de Tiago abordam a questão da perseverança na provação, a importância de uma fé inabalável, os problemas de riqueza e pobreza (1.2-18); a necessidade de se colocar em prática a Palavra de Deus (1.19 - 2.26); o problema das brigas entre irmãos e o antídoto às crises de relacionamento (3.1-4, 12); as atitudes e características que devem estar presentes no perfil do cristão (4.13 - 5.11); juramentos, oração, o estímulo a que se conduza os pecadores ao arrependimento (5.12-20).

Isto tudo posto, é marcante que as diversas preocupações de Tiago revelam a unidade do seu raciocínio do início ao fim de sua redação. O apóstolo revela a necessidade de cada cristão ser praticante da Palavra de Deus, pois a religião pura se consiste dessa prática, que por sua vez só é possível quando o crente vive em ações de amor a Deus e ao próximo. Amor a Deus manifestado pela obediência; amor ao próximo manifestado através do fato de não discriminá-lo e ao socorrer os pobres e as viúvas em suas necessidades.

Em Tiago 2.3, é apresentada uma situação que exemplifica o ato de acepção. O apóstolo retrata uma cena deplorável. A ilustração mostra duas pessoas de aparências externas bem diferentes entrando num local de reunião como visitantes. Uma delas apresenta todos os sinais de riqueza: veste-se em trajes de luxo resplandescentes e usa anéis de ouro, tais como os usados por membros da classe alta dos cavaleiros romanos. O outro é um homem pobre e veste-se com roupas sujas. O homem rico recebe uma atenção especial e é conduzido com gentilezas ao seu assento. Por outro lado, ao homem pobre é dito: "Você, fique de pé ali', ou: 'Sente-se no chão, junto ao estrado onde ponho os meus pés" (Tiago 2.3 - NVI).

É pecado fazer acepção, principalmente contra as pessoas menos favorecidas economicamente, pois Deus as escolheu para Si (Tiago 2.5). É preciso vigiar, caso não haja vigilância, é possível haver favoritismo social onde as pessoas dizem ser geradas pela Palavra da Verdade. A principal razão para rejeitar a acepção de pessoas é que o Evangelho é a mensagem que dá respeito e dignidade ao ser humano. O favoritismo, a parcialidade e quaisquer tipos de discriminação devem ser combatidas rigorosamente na igreja local, porque é atitude altamente reprovável diante de Deus.

Atitudes de parcialidade, ou acepção, demonstram que quem assim age não é pessoa espiritualmente sábia, pois a sétima característica da sabedoria do alto é a imparcialidade, ou seja, não executar preferência injusta (Tiago 3.17).

Sobre acepção no Antigo e Novo Testamento

Existem diversas referências no Antigo e Novo Testamento que evidenciam a recomendação de que é preciso saber respeitar as diferenças individuais, e Tiago faz uso de algumas delas.

A passagem bíblica de Deuteronômio 10.17 reflete muitos assuntos abordados por Tiago (1.21 - 2.2.6). O texto veterotestamentário narra o momento quando Moisés, o grande líder de Israel, se despediu do povo, exortou-o a amar a Deus e servi-lo, dizendo: "Pois o Senhor vosso Deus, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande e terrível, que não faz acepção de pessoas".

Tiago também se reporta a Levíticos 19.15 (ARA), que tem escrito "Não farás injustiça no juízo; nem favorecendo o pobre, nem comprazendo ao grande; com justiça julgarás o teu próximo", uma vez que no capítulo 2 e versículo 18 de sua carta encontramos a citação expressa de Deuteronômio 18.18.

Assim como tratou Tiago, Pedro também abordou a questão da acepção de pessoas: ao chegar à casa de Cornélio. Muitos dos companheiros judeus de Pedro acreditavam que Deus os amava mais do que os gentios, mas Pedro compreendeu que Deus não se relacionava com os israelitas usando favoritismo. Então iniciou a pregação dizendo: "Reconheço, por vontade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo" (Atos 10.34, 35).

Conclusão

Tiago refere-se ao Evangelho como a Lei da Liberdade.

No coração do cristão deve haver respeito às pessoas de maneira igual, o crente não deve favorecer algumas pessoas mais do que outras. Se age assim, desobedece a Lei da Liberdade, a Lei de Cristo. O apóstolo repele, duramente, o comportamento de quem privilegia as pessoas por sua riqueza, afirmando que tal ação se caracteriza em se fazer de "juízes de maus pensamentos", e afirma que tal procedimento a seu tempo será julgado. (Tiago 2.1-4, 12 , 8-9).

Na Igreja do Senhor não deve haver acepção de pessoas, pois todos custaram o mesmo preço do sangue de Jesus e todos somos um nEle. No Corpo de Cristo, constituído por almas remidas,  flui a vida divina, em cujo processo natural é a relação interpessoal de amor e confiança entre todos os membros, que afetam uns aos outros gerando a edificação mútua (Efésios 4.13-16).

O cristão brasileiro, de pele parda, com miscigenação do índio, do europeu, do africano e asiático, tem a mesma importância para Deus que o cristão israelense ou palestino, chinês ou japonês, russo ou norte-americano, inglês ou argentino. Enfim, em Cristo, todos, de qualquer raça, aparência ou cultura, pobres ou ricos, quando aceitam a Jesus como Senhor e Salvador de suas vidas, são uma só pessoa para Deus (Gálatas 3.28).

E.A.G.

Compilação 
Lições bíblicas - Mestre, Eliezer de Lira e Silva; 3º trimestre de 2014, páginas 41-47, Rio de Janeiro (CPAD).
Lições Bíblicas - Mestre, Elinaldo Renovato de Lima; 1º trimestre de 1999, páginas 32-36, Rio de Janeiro (CPAD). 
Tiago - Introdução e Comentário, Douglas. J. Moo, páginas 62 e 63; 1ª edição 1990, reimpressão 2011, São Paulo (Edições Vida Nova).

2 comentários:

Fabio Silveira de Faria disse...

Sempre é oportuno lembrar que o ensino sobre a predestinação não se originou com Calvino. Ele apenas aceitou como correto algo que vinha sendo ensinado há praticamente mil anos.

Fabio Silveira de Faria disse...

Mil anos antes de Calvino a doutrina da predestinação já era exaustivamente ensinada, portanto Calvino não é o pai da ideia.