Por Pr. Samuel Câmara
Conta-se que um velho sábio perguntou a seus alunos: "Como podemos saber que a noite é finda e o dia está raiando?". Um dos alunos respondeu: "Quando vemos uma árvore à distância e sabemos se é uma mangueira ou um jambeiro". "Quando vemos um animal e sabemos que é uma raposa, não um lobo", respondeu outro.
"Não", disse o mestre. Os alunos, confusos, esperaram a resposta. O sábio calmamente respondeu: "Sabemos que o dia está raiando quando vemos outra pessoa e sabemos que é nosso irmão ou irmã. Do contrário, não importa que horas sejam, ainda é noite".
Esta pequena estória ilustra o quanto é importante enxergar o "outro" pelo seu valor intrínseco como pessoa, pelo que Deus lhe conferiu, não por causa de aparências, títulos ou conveniências sociais. É uma pessoa, merece respeito. É meu irmão ou irmã em Cristo, merece respeito. E respeitar as pessoas é uma forma inconteste de demonstrar amor.
Creio que essa verdade perpassava a mente de Jesus quando se dirigiu a Seus discípulos e recomendou e "receita" que os identificaria como "seus discípulos" perante o mundo: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros" (João 13.35).
Uma das mais sutis formas de desrespeito é o não reconhecimento do labor de alguém, só pelo fato do seu trabalho ser "diferente". Não respeitar diferenças é o mesmo que querer fazer um jambeiro parecer com uma mangueira; ou o lobo parecer com uma raposa.
O apóstolo Paulo foi categórico em exaltar o valor intrínseco de cada discípulo de Cristo, exatamente em expor as diferenças entre os mesmos, quando fez a analogia do corpo: "Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo" (1ª Corintios 12.12).
Lembro-me da estória de um homem que, por causa da catarata, passara muitos anos sem enxergar, a não ser borrões. Depois de passar por uma delicada cirurgia, passou a usar óculos "fundo-de-garrafa". O homem ficou maravilhado com as paisagens, a beleza das cores, que há muito não via. Mas seu nariz protuberante protestou veementemente: "Chega, é muito peso! Se quiseres olhar bem, coloque esses óculos em outro lugar, não em mim. Eu não preciso deles!".
Depois de muito protestar, finalmente foi atendido. Na primeira caminhada daquele homem "sem óculos", ele deu uma forte topada e caiu de frente, e foi parar no hospital. Quando saiu, estampava na face os curativos de um nariz machucado.
Paulo fez essa mesma apologia: "O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários" (1ª Corintios 12.20-22).
Às vezes queremos ser exclusivistas, achando que a graça de Deus achou o "caminho certo" em nós, e que todos os outros estão errados. Foi o que ocorreu com os discípulos, que disseram a Jesus: "Mestre, vimos certo homem que, em teu nome, expelia demônios e lho proibimos, porque não segue conosco". Mas Jesus lhes disse: "Não proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós" (Lucas 9.49-50).
Pedro aprendeu a lição, e disse: "Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1ª Pedro 4.10). Para alguns, a graça é uniforme, não multiforme; é a "minha" graça, o meu jeito de fazer as coisas.
A lógica perversa é esta: se nossos métodos são diferentes, então o "outro" tem de estar errado. Ora, "quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" (1ª Corintios 4.7).
Paulo expressou a mesma solicitude, ao julgar diferentes formas de pregação do evangelho, inclusive as impróprias: "Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade... Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei" (Filipenses 1.15-18).
Agora, não devemos de modo algum confundir graça com conivência, nem humildade com frouxidão moral, tampouco "deixa como está pra ver como é que fica" com "vai e não peques mais". Pois "cada um dará contas de si mesmo a Deus".
O dia está raiando. Se pelo menos respeitarmos uns aos outros, então estaremos apenas no primeiro passo de amor para sermos conhecidos como discípulos de Cristo.
Samuel Câmara é Pastor- Presidente da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe ; Pastor de Honra da Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Amazonas; Presidente da Rede Boas Novas e Rede Assembleia de Deus; formado em Teologia pelo Instituto Bíblico das Assembléias de Deus (IBAD); licenciado em Filosofia e Pedagogia; Bacharel em Direito.
Conta-se que um velho sábio perguntou a seus alunos: "Como podemos saber que a noite é finda e o dia está raiando?". Um dos alunos respondeu: "Quando vemos uma árvore à distância e sabemos se é uma mangueira ou um jambeiro". "Quando vemos um animal e sabemos que é uma raposa, não um lobo", respondeu outro.
"Não", disse o mestre. Os alunos, confusos, esperaram a resposta. O sábio calmamente respondeu: "Sabemos que o dia está raiando quando vemos outra pessoa e sabemos que é nosso irmão ou irmã. Do contrário, não importa que horas sejam, ainda é noite".
Esta pequena estória ilustra o quanto é importante enxergar o "outro" pelo seu valor intrínseco como pessoa, pelo que Deus lhe conferiu, não por causa de aparências, títulos ou conveniências sociais. É uma pessoa, merece respeito. É meu irmão ou irmã em Cristo, merece respeito. E respeitar as pessoas é uma forma inconteste de demonstrar amor.
Creio que essa verdade perpassava a mente de Jesus quando se dirigiu a Seus discípulos e recomendou e "receita" que os identificaria como "seus discípulos" perante o mundo: "Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros" (João 13.35).
Uma das mais sutis formas de desrespeito é o não reconhecimento do labor de alguém, só pelo fato do seu trabalho ser "diferente". Não respeitar diferenças é o mesmo que querer fazer um jambeiro parecer com uma mangueira; ou o lobo parecer com uma raposa.
O apóstolo Paulo foi categórico em exaltar o valor intrínseco de cada discípulo de Cristo, exatamente em expor as diferenças entre os mesmos, quando fez a analogia do corpo: "Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito a Cristo" (1ª Corintios 12.12).
Lembro-me da estória de um homem que, por causa da catarata, passara muitos anos sem enxergar, a não ser borrões. Depois de passar por uma delicada cirurgia, passou a usar óculos "fundo-de-garrafa". O homem ficou maravilhado com as paisagens, a beleza das cores, que há muito não via. Mas seu nariz protuberante protestou veementemente: "Chega, é muito peso! Se quiseres olhar bem, coloque esses óculos em outro lugar, não em mim. Eu não preciso deles!".
Depois de muito protestar, finalmente foi atendido. Na primeira caminhada daquele homem "sem óculos", ele deu uma forte topada e caiu de frente, e foi parar no hospital. Quando saiu, estampava na face os curativos de um nariz machucado.
Paulo fez essa mesma apologia: "O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos são necessários" (1ª Corintios 12.20-22).
Às vezes queremos ser exclusivistas, achando que a graça de Deus achou o "caminho certo" em nós, e que todos os outros estão errados. Foi o que ocorreu com os discípulos, que disseram a Jesus: "Mestre, vimos certo homem que, em teu nome, expelia demônios e lho proibimos, porque não segue conosco". Mas Jesus lhes disse: "Não proibais; pois quem não é contra vós outros é por vós" (Lucas 9.49-50).
Pedro aprendeu a lição, e disse: "Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1ª Pedro 4.10). Para alguns, a graça é uniforme, não multiforme; é a "minha" graça, o meu jeito de fazer as coisas.
A lógica perversa é esta: se nossos métodos são diferentes, então o "outro" tem de estar errado. Ora, "quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras recebido?" (1ª Corintios 4.7).
Paulo expressou a mesma solicitude, ao julgar diferentes formas de pregação do evangelho, inclusive as impróprias: "Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade... Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei" (Filipenses 1.15-18).
Agora, não devemos de modo algum confundir graça com conivência, nem humildade com frouxidão moral, tampouco "deixa como está pra ver como é que fica" com "vai e não peques mais". Pois "cada um dará contas de si mesmo a Deus".
O dia está raiando. Se pelo menos respeitarmos uns aos outros, então estaremos apenas no primeiro passo de amor para sermos conhecidos como discípulos de Cristo.
Samuel Câmara é Pastor- Presidente da Assembléia de Deus Belém / PA - Igreja Mãe ; Pastor de Honra da Convenção Estadual da Assembleia de Deus no Amazonas; Presidente da Rede Boas Novas e Rede Assembleia de Deus; formado em Teologia pelo Instituto Bíblico das Assembléias de Deus (IBAD); licenciado em Filosofia e Pedagogia; Bacharel em Direito.
Fonte: Blog do Pastor Samuel Câmara / CGADB Para Todos
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