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sábado, 11 de junho de 2016

A tolerância cristã

Lições Bíblicas - Adultos: Maravilhosa Graça - o evangelho de Jesus Cristo revelado na carta aos Romanos. Comentários: Jose Goncalves. Lição11: A tolerãncia cristã.
Por Eliseu Antonio Gomes

Martinho Lutero, seguidor fiel de Jesus Cristo e do apóstolo Paulo, começa o seu tratado Da Liberdade do Cristão com as seguintes palavras: "O cristão é o mais livre senhor de todos, não sujeito a ninguém. O cristão é o mais dócil servo de todos e sujeito a todos."

Paulo desfrutou plenamente sua liberdade cristã. Jamais houve um cristão mais emancipado das inibições e tabus anticristãos. Era emancipado tão completamente da escravidão espiritual, que sequer era escravo da sua emancipação. Adaptava-se ao modo de viver dos judeus quando se achava numa sociedade judaica, com tão boa disposição como se adaptava ao modo de vida dos gentios quando entre eles. Os interesses do Evangelho e o supremo bem-estar dos homens e mulheres eram considerações da mais alta importância para ele, e lhes subordinava tudo mais (Romanos 14.1-12).

Amar o próximo é melhor que qualquer sacrifício. "Chegando um dos escribas, tendo ouvido a discussão entre eles, vendo como Jesus lhes houvera respondido bem, perguntou-lhe: Qual é o principal de todos os mandamentos? Respondeu Jesus: O principal é: Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força. O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. Disse-lhe o escriba: Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que ele é o único, e não há outro senão ele, e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força, e amar ao próximo como a si mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios" - Marcos 12.28-33.

Na época de Jesus, os judeus haviam acumulado centenas de leis, 613, de acordo com um historiador. Alguns líderes religiosos tentavam estabelecer uma diferença entre as leis mais importantes e menos importantes, enquanto outros ensinavam que todas eram igualmente obrigatórias e não deveria haver distinção entre elas. A questão apresentada pelo escriba para Jesus, poderia ter provocado alguma controvérsia entre esses dois lados debatedores, mas a resposta de Cristo resumiu todas as leis de Deus, de maneira a ser aceita pelos dois grupos.

Quando amamos a Deus completamente e cuidamos do próximo como se ele fosse nós mesmos, cumprimos os Dez Mandamentos e outras ordenanças registradas no Antigo Testamento (Deuteronômio 6.5; Levítico 19.18). De acordo com Jesus, esses dois princípios resumem todas as leis de Deus.

Todas as leis no Antigo Testamento apontam para Cristo, o passo do crente deve ser no sentido de crer no Senhor Jesus como Senhor, prestar a obediência que se nasce na voluntariedade do coração sincero, tomando como base o Novo Testamento, que contém, inspirada pelo Espírito Santo, a interpretação apostólica do Antigo Testamento. 

O amor tudo sofre, tudo crê e tudo suporta. "O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta" - 1 Corintios 13.4-7.

Nossa sociedade confunde o amor e a lascívia. O amor de Deus é dirigido exteriormente às outras pessoas, não tem a finalidade-primeira da satisfação a nós mesmos. É desinteressado, sem as inclinações naturais. É impossível que haja esse amor sem que antes o crente passe pelo novo nascimento.

Aquele que ama não julga seu irmão. "Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir opiniões. Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes' (...) 'Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster" - Romanos 14.1, 2, 4.

A narrativa de Lucas sobre a Assembleia em Jerusalém, registrada no capítulo 15, versículos 1 ao 35, mostra o debate a respeito do relacionamento entre os gentios e a lei de Moisés, algo que versa sobre o tema do capítulo 14 de Romanos. Uma vez que a missão cristã começava a evangelizar os gentios que não viviam sob à égide da doutrina judaica, começou a surgir o problema das condições da sua filiação à igreja. Fica claro no capítulo 15.1-2 de Atos dos Apóstolos e Gálatas 2.11-14, que a norma da igreja em Antioquia, por parte dos missionários, era que não fosse exigido aos gentios os rituais da religião judaica, porém, isto era inaceitável para alguns cristãos judeus.

No capítulo 14 da Carta aos Romanos, Paulo descreve o crente "forte" como aquele que acredita que está livre para comer de tudo, pois, segundo o versículo 21, está em evidência a discussão sobre o hábito de comer carne.

No versículo 4, encontramos no idioma grego a palavra "oiketes", que significa servo doméstico; e não "doulos" (escravo).

As leis judaicas sobre alimentação, que tinham sido observadas pela nação israelita desde os primeiros dias, eram um dos principais traços que distinguiam  os judeus de seus vizinhos gentios. Não somente se proibia absolutamente comer carne de certos animais; o sangue de todos os animais era proibido, e os animais "limpos" abatidos para alimento tinham de ser mortos de modo que o sangue fosse totalmente drenado. Desde que nunca se poderia ter certeza de que a carne de que se alimentavam os não-judeus estava livre  de toda suspeita de ilegalidade num aspecto ou noutro, para um judeu era impossível partilhar de uma refeição com um gentio, e até mesmo com outro judeu que tivesse reputação de relaxado nessas questões da mesa.

Comprar carne pagã de açougue em cidades como Roma e Corinto representava um problema de consciência para alguns cristãos. Grande parte da carne exposta para venda no mercado provinha de animais anteriormente sacrificados a alguma divindade pagã. A divindade pagã recebia sua parte simbólica; o restante da carne podia ser vendido pelas autoridades do templo aos comerciantes da venda a varejo, e é possível que muitos consumidores estavam dispostos a pagar mais caro por elas, porque tinham como alimento "consagrado" a algum divindade.

Não desprezemos os nossos irmãos, pois cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus. "Tu, porém, por que julgas teu irmão? E tu, por que desprezas o teu? Pois todos compareceremos perante o tribunal de Deus" (...) "Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus" - Romanos 14.12." - Romanos 14.10, 12.

Não deve existir pecado que os cristãos estão mais propensos a praticar do que o de criticar os outros, principalmente aqueles cristãos "mais ardorosos". As palavras do apóstolo têm intenção séria: a atitude reprovável do crítico será lembrada ao comparecer perante o tribunal de Deus, portanto, que todo cristão não emita palavras apressadas, ditas com bases mal informadas, sem amor e sem generosidade!

Deixemos de lado todo julgamento alheio. "Não nos julguemos mais uns aos outros; pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão" -  Romanos 14.13.

Julgar neste texto tem o sentido de criticar (exercer juízo crítico), sem o cuidado de evitar prejudicar a caminhada de fé do irmão em Cristo. Colocar tropeço ou impedimento seria o caso de um cristão emancipado induzir o cristão com consciência menos esclarecida ao pecado, levando-o a fazer algo que sua consciência ainda não aprova.

Tendo o apóstolo Paulo afirmado inflexivelmente a liberdade do cristão, pôs-se a demonstrar como se pode e se deve estabelecer limite voluntário a esta liberdade. Fez sua exposição mais extensa sobre a liberdade cristã ao abordar a questão da comida, quando agitou a igreja primitiva de várias maneiras, mais particularmente os crentes judeus.

Ele instou os cristãos de Roma nas questões de consciência em relação a esta matéria da comida, solicitando-os a restringirem voluntariamente sua liberdade no interesse de outros, e o testemunho da história mostra que os crentes romanos aprenderam a lição. A igreja de Roma, composta de judeus e gentios não desintegrou-se porque prevaleceu a prática do amor, os crentes emancipados consideraram os escrúpulos dos outros, evitando que tropeçassem na fé.

Conclusão

Parte dos cristãos, citados na Carta aos Romanos, eram amadurecidos na fé em Cristo, sentiam-se muito bem em alimentar-se com a carne sacrificada aos ídolos, pois entendiam que tal carne não era melhor e nem pior do que outras devido sua associação com a entidade pagã. Enquanto outros cristãos, se sentiam mal, acreditando que tal alimentação estava "infeccionada" por sua associação com rituais idólatras. A abordagem que Paulo fez sobre o relacionamento de crentes maduros e imaturos, não é uma convivência peculiar da igreja de Roma. Nenhuma igreja ao redor do mundo está nivelada apenas com crentes fortes ou crentes fracos. Assim sendo, que a nossa convivência na congregação seja sempre com propósitos construtivos, jamais em contendas de palavras geradoras de dúvidas aos enfermos na fé.

Os crentes mais maduros não devem agir com individualidade, mas agir como modelo para os mais fracos. É importante ser forte na fé, ter a consciência emancipada; contudo, o fato de experimentar a autonomia não nos torna indivíduos isolados. É necessário viver como membros de uma comunidade e agir com responsabilidade, promovendo o bem-estar de todos, pois nem todos estão plenamente firmados na doutrina de Cristo.

E.A.G.

Compilações:
Atos - Introdução e comentário - Série Cultura Bíblica, I. Howard Marshal, página 229, 1ª edição 1982 - 11ª reimpressão 2011, São Paulo (Vida Nova).
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, páginas 1602, 1320, 1602, edição 2004, Rio de Janeiro (CPAD).
Maravilhosa Graça - O evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos. José Gonçalves. Página 100; 1ª edição 2016. Rio de Janeiro (CPAD).
Romanos - Introdução e comentário - Série Cultura Bíblica, F.F. Bruce, páginas 197-199 1ª edição 1979 - 16ª reimpressão 2011, São Paulo (Vida Nova).

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