Era uma manhã fria, não me lembro exatamente qual era o horário. Deixei uma sala de entrevistas para uma vaga de emprego na cidade de Osasco, em uma empresa situada bem próxima da divisa com a cidade de São Paulo, altura do quilômetro 18 da Rodovia Anhanguera, após ter ouvido mais uma vez a desanimadora frase "aguarde o nosso telefonema."
Atravessei a rua e me sentei em um banco dentro de um modesto estabelecimento comercial, que nem sei se posso chamar de lanchonete, vizinha daquela empresa multinacional. Ali estavam algumas pessoas que trabalhavam naquela firma. Tomavam café também e aguardavam o horário de assumir o expediente. Conversavam alegres sobre coisas triviais. Observei calado e distante, enquanto tomava meu café. Passados uns cinco minutos o pessoal saiu conversando de forma ainda descontraída e ruidosa e entrou na empresa.
Vendo aquela cena, analisando minha vida, me senti triste, mas confiante em Deus. Pensei comigo mesmo: "Quantos com empregos e reclamando, e eu aqui com família para criar mais uma vez tendo que voltar para casa desempregado". Mesmo assim estava confiante em Deus; mesmo aflito eu sentia Deus presente na minha vida naqueles momentos de aflição.
O rádio daquele estabelecimento estava sintonizado em uma estação dedicada somente às notícias. Chiava por conta de uma sintonia fraca, mas já não existia a algazarra dos trabalhadores e conseguia entender o locutor. A voz dele era de desespero e chamou minha atenção por causa disso. Falava da colisão do primeiro avião com a Torre Norte do World Trade Center. Para ele, ainda era apenas um acidente... Dizia que o arranha-céu estava em pé e em chamas.
A dona da lanchonete fez uma piadinha de péssimo gosto sobre a situação, dizendo que o locutor era sensacionalista. Talvez, por ela não saber de qual prédio se tratava e qual o significado dele na vida da economia mundial.
Algumas semanas antes, eu tinha visto na televisão uma cena do filme Homem Aranha. O herói lutava com seu arqui-inimigo naquele prédio. As cenas foram refeitas depois e poucos viram a original porque. obviamente, não ficaria bem aos produtores diante do público manter aquele desfecho naquele cenário, já inexistente quando do lançamento do blockbuster.
Paguei a conta e saí rapidamente dali e voltei para minha casa, que distava 10 minutos. Rapidamente liguei a televisão e vários canais estavam ao vivo. Minha filha se aprontava para ir à escola e sentou ao meu lado. Juntos, logo vimos outra cena chocante: uma enorme explosão na Torre Sul do complexo World Trade Center. Alguns minutos depois o narrador confirmava ser por causa da colisão de um segundo avião. E comentavam sobre o avião no Pentágono.
E naquela altura a minha agonia pessoal já era outra, pensava na quantidade de vítimas e seus familiares, na reação norte-americana para responder os loucos que faziam aquilo. Todos nós já sabíamos com toda certeza que se tratava de um atentado terrorista.
Disse para a minha filha, com apenas treze anos:
- Estamos vendo acontecimentos históricos. Os professores de História falarão sobre esse dia para os seus filhos.
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