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segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

A Teologia de Eliú - o sofrimento é uma correção divina?

Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

O nome Eliú é hebraico e significa "Ele é Deus" ou "Ele é o meu Deus". Era o mais jovem dos amigos de Jó (32.2-6;  32.2-6; 35; e 36). 

Eliú surge no livro de modo inesperado, quando parecia que o debate teria um desfecho (32.15). Ele não é mencionado além desta aparição, nem sequer quando Deus pronuncia seu veredito sobre Elifaz e seus amigos (42.7). Tal situação leva alguns a pensarem que o conteúdo seria um adendo inserido no livro pelo autor, com o propósito de acrescentar algumas coisas à série de discussões.

A longa intervenção de Eliú interrompe a continuidade do poema. O desafio lançado por Jó (31.35-37) aguardava a resposta de Deus, que só é vista no capítulo 38. Eliú argumenta dizendo que Jó tentava justificar-se aos olhos de Deus. Ao fazer isso, Eliú demonstrou pensar que estava acima de todos os demais naquele debate teológico.

I - O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS

1. Deus é soberano

Por que Deus é soberano? Porque Ele é um ser onipotente, onisciente e onipresente.

Em sua onipotência, Deus faz tudo o que lhe apraz sem que suas ações ocorram em contrário à sua natureza justa e bondosa. Tal característica está registrada nas Escrituras Sagradas. Encontramos as expressões do seu poder infinito nas seguintes referências: Gênesis 1.1; Jó 26.14; Salmos 62.11; 89.8-13; Jeremias 10.12-13; Mateus 19.26;  Romanos 4.27; 8.31.

A onisciência de Deus, admirável atributo exclusivo da sua divindade, abrange todas as coisas. Engloba o passado, o presente e o futuro. Ele tudo sabe, contudo não interfere sobre a liberdade de escolhas do ser humano. A onisciência divina é claramente afirmada pelas Escrituras: Jó 34.21-22; Salmos 139.1-4, 12; e 147.5; Atos 15.18; Hebreus 4.13.

Por meio de sua onisciência, Deus é capaz de manifestar sua presença em todos os locais ao mesmo tempo. Não há outro ser capaz de estar presente simultaneamente em todos os lugares. O centro de Deus está em todo o espaço e nele não há circunferência limitadora. Através da onisciência, Deus manifesta sua justiça, bondade e sabedoria. Salmos 139.7-10; Provérbios 15.3; Amós 9.2-3; Atos 17.28; Efésios 1.23.

Como soberano, Deus pode se revelar e falar por meio do sofrimento. Ainda que Deus seja soberano no que diz respeito a tudo, o ser humano é responsável pelos seus próprios atos. Em sua soberania, Deus pode manifestar-se em períodos de grande aflição de espírito, padecimento físico, dificuldades diversas. Junto com a prova o Senhor fornece a estrutura para suportar a adversidade e meios de escapes, pois ama os aflitos e não sente alegria alguma ao presenciar pessoas sofrendo. Ver 1 Corintios 10.13.

2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus

O orgulho humano é um obstáculo que dificulta ouvir a Deus. Quando uma pessoa fica cheia de si mesma, está muito próximo de seu tombo. Não é em vão o alerta em Provérbios 16.18: "Antes da ruína vem a soberba, e o espírito orgulhoso precede a queda". A caída pode ser literal ou apenas figurativa. Perder ou diminuir prestígio, experimentar a decadência financeira e a cessação de influência em grupo podem ser tristezas pequenas se fizermos a comparação com a queda espiritual. "Aquele que pensa estar em pé veja que não caia" (1 Coríntios 10.12). 

Todo aquele que acredita que é possível viver muito bem sem ouvir a Deus está fadado ao fracasso. Exemplos não faltam. Tal atitude de arrogância provocou a Queda no Éden, fez Sara e Abraão tentarem contornar o problema da infertilidade com a presença de Agar. Etc. O orgulho nos torna cegos e surdos espirituais. Somos chamados a viver em humildade, a manter a confiança em Deus e a crer que Ele cumpri todas as promessas que empenha (Provérbios 3.5-6).

3. Uma ponderação importante

A oração é a melhor opção para vencer as provações, pois é a maneira de o espírito humano conectar-se ao Espírito Santo de Deus. Ao orar, consentimos com Deus nas suas realizações, colocamos a nossa fé em ação e atacamos o maligno.

Na Bíblia Sagrada, a oração é descrita como:

Invocar o nome do Senhor (Gênesis 4.26);

Invocar a Deus (Salmo 17.6);

Levantar a alma ao Senhor (Salmo 25.1)

Buscar ao Senhor (Isaías 55.6);

Aproximar-se do trono da graça (Hebreus 4.16);

Chegar perto de Deus (10.22).

Em momentos de aflição, muitas vezes Davi orou pedindo livramento; em profunda agonia, Jesus orou intensamente no Monte das Oliveiras (Salmos  119.153; Lucas 22.44).

II - O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR  A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS

1. A justiça de Deus demonstrada

Em sua soberania, Deus não exerce justiça desprovida de amor. Ele é justo e também misericordioso. O amor do Senhor é a base do plano divino para salvar o homem do pecado.

O Pai Eterno não é um carregador de malas, dizem alguns teólogos. É verdade. Mas qual pai amoroso, ou mãe afetuosa, permite que seus filhos arrastem bagagens pesadas, os vê cansados pedindo socorro e tapa seus ouvidos? É verdade que o  Pai Eterno não é o gênio da lâmpada de Aladim. Mas também é verdade que Isaías o descreve como um Deus cujas mãos estão estendidas para nos socorrer, um Deus cujos ouvidos estão atentos para as nossas orações. O profeta nos alerta que a vida em iniquidade e pecado impede o agir bondoso de Deus em favor do ser humano (Isaías 59.1-2).

2. O caráter justo e Deus

Deus não tem prazer no sofrimento, usa-o como meio para salvar o pecador. Os momentos de dificuldades são ocasiões de desenvolvimento das capacidades intelectuais, morais e espirituais. Ao sofrer a pessoa que está no pecado desperta de sua letargia espiritual, em meio à tormenta consegue perceber o valor da adoração e vida em comunhão com o Criador.

"Vocês pensam que eu tenho prazer na morte do ímpio? - diz o Senhor Deus. Não desejo eu muito mais que ele se converta dos seus caminhos e viva? (...) Livrem-se de todas as transgressões que vocês cometeram e façam para vocês um coração novo e um espírito novo. Por que vocês haveriam de morrer, ó casa de Israel? Eu não tenho prazer na morte de ninguém, diz o Senhor Deus. Portanto, convertam-se e vivam." (Ezequiel 18.23, 31-32).

"O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a julguem demorada. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento" - 2 Pedro 3.9).

3. A defesa da soberania de Deus

A soberania de Deus faz parte dos seus atributos absolutos, ou seja, pertence somente a Ele. "Pois o Senhor, o Deus de vocês, é o Deus dos deuses e o Senhor dos senhores, o Deus grande, poderoso e temível, que não trata as pessoas com parcialidade, nem aceita suborno" (Deuteronômio 10.17).

Eliú enfatiza em seu discurso que é a criatura que depende do Criador e não o contrário (Jó 34.13-15). É um fato incontestável que o Senhor é maior do que o homem e não precisa dar contas de seus atos, porém, em sua superioridade quer dar-se a conhecer pelo homem. O Soberano tem enorme satisfação em que seus servos o conheçam que rejeitar tal conhecimento é o mesmo que rejeitá-lo (Isaías 1.2-3). Ele revelou-se no Éden, através da encarnação de Jesus, se revela continuamente por meio da criação, por intermédio das Escrituras Sagradas, e, diariamente, está pronto para revelar-se a todos nós executando a sua bondade. 

Não é sem um bom propósito que está escrito: "Agrade-se do Senhor, e ele satisfará os desejos do seu coração" (Salmo 37.5). Deus não se cansa de manifestar sua providência aos que nEle confiam.

III - O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS

1. O caráter pedagógico do sofrimento

O sofrimento serve como meio de abater o orgulho. Dependendo da maneira como é visto, produz gente consagrada ao Senhor ou ateus. Entender que o sofrimento pode ser usado por Deus como efeito pedagógico para a vida muda completamente a nossa perspectiva de fé. Assim como Jó, as pessoas tementes a Deus procuram saber a razão pela qual sofrem, enquanto os incrédulos não aceitam que um Deus justo e soberano permita o padecimento humano. 

Em seu discurso, Eliú fala sobre o caráter pedagógico que há no sofrimento (Jó 36.15, 19). Afirma que a prova é um chamado que Deus dirige ao pecador com a finalidade de livrá-lo da morte (33.29-30). Tal abordagem também é feita por Elifaz (5.17-27) e Zofar (11.13-19).

2. Adorando a Deus na tormenta

Jó foi moído pela dor, o que não significa que a soberania de Deus sobre sua vida foi um ato de tirania. É importante ter em mente que o sofrimento não significa que Deus nos abandona. É possível experimentar grandes provações agradando a Deus. Tudo passa nesta vida abaixo do sol, inclusive o tempo de sofrimento (Eclesiastes 3.2).

Jesus Cristo incentiva os cristãos a pedirem a Deus o livramento do mal (Lucas 11.4). Contudo, em tempos difíceis é importante agir como o profeta Habacuque (3.17-19). O triunfo da fé é revelado quando manifestamos a confiança de que Deus nos ama apesar de todas as circunstâncias. Jó é o maior exemplo bíblico sobre isso no Antigo Testamento e Jesus Cristo na Nova Aliança (Mateus 26.39).

CONCLUSÃO

Toda pessoa que vive a fé cristã genuína compartilha a experiência de Jó, pois o sofrimento é uma consequência da atual condição humana. Através do sofrimento o cristão fiel amadurece. Ninguém sai a mesma pessoa depois que experimenta momentos difíceis e ao orar encontra as respostas do Senhor. Quem verdadeiramente conhece a Deus como Pai, sabe que não é uma atitude de desrespeito clamar por ajuda em tempo de crises (Jeremias 33.3). 

 E.A.G.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Lições Bíblicas para jovens - Ensina-nos a orar: exemplos de pessoas e orações que marcaram as Escrituras

Em 3 de janeiro de 2021, as igrejas e núcleos de estudos bíblicos que usam o material pedagógico disponibilizado pela Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) contarão com uma publicação produzida, especificamente, à faixa-etária dos jovens. A partir dessa data, a cada início de trimestre, professores e alunos da escola dominical, obterão uma revista com abordagens de temas desenvolvidos de acordo com a realidade da juventude cristã brasileira e, como sempre foi, com o cuidado à apresentação das doutrinas bíblicas de modo excelente.

A revista conterá uma carta de apresentação do editor, seção com o currículo resumido do comentarista do trimestre, texto bíblico do dia, síntese do estudo da lição, agenda de leitura, texto bíblico, comentário da lição, abaixo de cada tópico uma breve reflexão auxiliando na assimilação do assunto estudado, e um bloco de conclusão seguido por uma dinâmica de perguntas sobre a temática da lição.

Ensina-nos a orar - Exemplos de Pessoas e Orações que Marcaram as Escrituras

Comentarista: Marcos Tedesco

Sumário:

Lição 1- O que Significa Orar

Lição 2- Abraão: A vida de oração de um homem de fé

Lição 3- Moisés: Um líder de oração

Lição 4- Ana: A oração de uma mulher angustiada

Lição 5- Neemias: A oração de um construtor

Lição 6- Jeremias: A oração e o lamento de um profetas

Lição 7- Daniel: Um estadista que orava

Lição 8- Habacuque: A intercessão de um homem cheio de esperanças

Lição 9- A oração do fariseu e do publicanos

Lição 10- Jesus e a oração do pai-nosso

Lição 11- A oração sacerdotal de Jesus


Lição 12- A oração de Paulo pelos Efésios

Lição 13- A oração de Paulo em favor do seu espinho

E.A.G.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Sara - esposa de Abraão e heroína da fé

Por Eliseu Antonio Gomes

Depois de criar o homem, Deus criou a mulher. Não a fez em escala menor de importância. Macho e fêmea foram criados à imagem e semelhança do Criador. Deus criou a mulher em grandeza e dignidade, apta ao desempenho da função de pessoa auxiliadora de seu companheiro matrimonial, papel que envolve amor e responsabilidade de ambas as partes.

Quando Deus chamou Abrão para sair de Ur dos Caldeus em busca de uma terra desconhecida que lhe prometeu, sua esposa Sarai, uma pessoa descrita nas páginas bíblicas como mulher linda, o acompanhou, desligando-se de sua parentela (Gênesis 12.1-5). Numa medida extraordinariamente considerável, em toda sua vida demonstrou afeto e respeito ao marido. Acompanhava-o em todas as suas viagens crendo no chamado e nas promessas do Senhor. 

Sarai em hebraico significa "minha princesa". O Senhor trocou seu nome ao revelar que ela seria mãe (Gênesis 16.1 a 18). Ela veio a ser conhecida como Sara, que quer dizer "uma princesa". Não há grande diferença entre os dois nomes, entretanto, é possível entender que a nova identidade tinha relação com seu futuro, quando se tornaria a progenitora do povo israelita e, por meio de Cristo, de todos os cristãos.

Sara permaneceu ao lado de Abraão nos episódios absurdos em que ele demonstrou fraqueza, fingindo que ela era sua irmã ao temer perder sua vida no Egito e em Gerar (Gênesis 12.10-13; 20.2).

O casal recebeu a promessa de que geraria um filho. Estéril, o maior desejo de Sara era gerar um menino. Reagiu rindo abertamente quando Deus lhe disse que engravidaria com a idade de noventa anos (Gênesis 21.5-7). Há quem diga que tenha rido por incredulidade, mas o riso poderia ser resultante da sua explosão de alegria e reação espontânea pela surpreendente revelação de que sua madre daria fruto. Seu marido Abraão, se tornaria pai aos noventa e nove anos de idade, e como sua mulher também riu ao receber aquela informação (Gênesis 17.19; 18.12-15).

Pela fé, Sara nunca desistiu de ter o filho que o Senhor lhe prometeu. Porém, ela deveria ter aguardado a bênção prometida pelo Senhor até recebê-la, mas não soube esperar o cumprimento da promessa divina. Na cultura em que viveu, era comum que e esposa oferecesse ao marido uma serva como concubina, quando não fosse mulher fértil. Então Sara sugeriu a Abraão que tivesse relações com Agar. A impaciência de Sara em esperar o cumprimento da promessa de Deus fez com que nascesse Ismael, o ancestral do povo árabe. Ismael é filho de Abraão segundo a carne, hoje ele simboliza a lei dada a Moisés, representa as obras e esforço humano (Gênesis 16.15; 21.9).

Quando o filho biológico de Abraão e Sara chegou, deram-lhe o nome de Isaque, que quer dizer "riso" (Gênesis 21.1-8). As virtudes de Sara influenciaram o caráter de Isaque, tornando-o um dos personagens mais admiráveis entre todos encontrados no Antigo Testamento. Isaque foi o pai de Jacó e Esaú e avô de doze homens que deram origem às doze tribos de Israel, que descendeu toda a nação israelita (Gênesis 25.1-11; 49.29-33; Isaías 51.1,2). Veio à luz do útero de uma mãe livre, é filho segundo o Espírito, representa a justificação somente pela fé, é a figura simbólica que remete à vivência do cristão sob a graça, sinaliza para a promessa dada a Abraão através de Cristo e assim os cristãos são chamados de filhos da promessa. (Gênesis 21.9; Gálatas 3.13-14; 4.28-29). 

Pela fé, todos os cristãos tornam-se filhos de Deus (Romanos 4.15-17).

Sara viveu 127 anos, morreu em Hebrom, Canaã. Foi sepultada em um campo que Abraão negociou com os heteus. Esposa amada, obviamente, então, é natural ler o relato de que seu marido chorou quando ela veio a falecer (Gênesis 23.2).

Sara era uma mulher com estrutura psicológica forte, igual a todas as mulheres que se consagram a Deus. Ela possuiu virtudes e falhas. É importante examinar sua biografia, copiar os acertos e evitar os erros, extrair lições de sua vida, lembrando que ela é a única mencionada entre os heróis da fé (Hebreus 11.11). Sua fé possibilitou superar a infertilidade e receber o filho que tanto quis (Gênesis 18.10,14; 12.1-3,7; 17.15,16; 18.9-16; Gálatas 4.21-31). Ela sempre colocou a família em primeiro lugar, suas atitudes acertadas fizeram dela um grande referencial feminino às cristãs casadas (1 Pedro 3.6). 

E.A.G.

Veja mais neste blog: A gravidez de Sara