Eliseu Antonio Gomes
INTRODUÇÃO
A dedicação do dono para com a criação de ovelhas transformou-se em uma imagem clássica do amor e providência divina de Deus aos crentes fiéis (Salmo 23.1-4; João 10.11-16).
Quando o rebanho era muito grande, ou por outras circunstâncias, o dono das ovelhas recorreria aos serviços de pastores contratados. Nestas situações, o trabalho do pastor era remunerado com uma participação no rebanho (Gênesis 30.28-43; 1 Coríntios 9.7) ou em dinheiro (Zacarias 1.12; 1 Timóteo 5.18). Repassar os cuidados do trato de animais era comum entre os monarcas e hebreus ricos (1 Crônicas 27.29-31; Lucas 15.14-16). As figuras de cães de raça e de pessoas assalariadas usadas como guardadores de rebanho têm conotação negativa nas páginas neotestamentárias (João 10.12; Filipenses 3.2; Apocalipse 22.15).
HÁ UM SÓ PASTOR
"As palavras dos sábios são como aguilhões, e as coleções de sentenças são como pregos bem-fixados; elas provêm de um único Pastor" - Eclesiastes 12.11.
As relações entre Deus e o seu povo são assemelhadas às que existem entre o pastor e as suas ovelhas (Salmos 23.1; 80.1. Ezequiel 7.14). A figura do povo de Deus como um rebanho aparece várias vezes em diversos textos da Bíblia Sagrada. Nas páginas do Livro de Ezequiel (34.31) o povo temente ao Senhor recebe tal comparação e Deus é comparado como o seu Pastor: "Vós, pois, ó ovelhas minhas, ovelhas do meu pasto; homens sois; porém eu sou o vosso Deus, diz o Senhor Deus”.
O profeta brada que a justiça seria restaurada, revelando a promessa divina que Deus levantaria um pastor e que através deste pastor todos os dispersos e oprimidos receberiam justiça, assim a paz voltaria a reinar entre os israelitas. Os cristãos, ao lerem Ezequiel 34.1-31, sabem que a promessa de restauração refere-se a Jesus Cristo em sua primeira vinda, sua morte e ressureição ao terceiro dia. Passagens como Isaías 40.11 e Zacarias 13.7, apresentam o Messias como Pastor, corroboradas por textos do Novo Testamento. Jesus a Si mesmo Se chama "o bom Pastor" (João 10.11). E encontramos a afirmação que o Filho Unigênito do Pai é o Grande e o Sumo Pastor (1 Pedro 5.4; Hebreus 13.20). Sumo, significa "supremo" e "máximo".
Cristo oferece a água da vida eterna, apregoa que só quem beber da água retirada da fonte que Ele oferece não voltará a ter sede (João 4.13-14). Isto é, na condição de Deus trino, só existe um pastor, que se manifesta nas figuras do Pai Eterno e do Filho Unigênito.
O PASTOR APASCENTA AS OVELHAS
"Como pastor, ele apascentará o seu rebanho; entre os seus braços recolherá os cordeirinhos e os carregará no colo; as que amamentam ele guiará mansamente" - Isaías 40.11.
No Antigo Testamento, encontramos a figura do pastor como um homem proprietário de rebanho, alguém que o apascentava pessoalmente (Êxodo 34.14), confiava os cuidados aos filhos (Gênesis 31.38-40, 37.2; 1 Samuel 16.11) e filhas (Gênesis 29.9; Êxodo 2.16). O Novo Testamento atribui o termo "pastor" ao ministro que lidera uma comunidade de crentes protestantes (Hebreus 13.17; 1 Pedro 5.2; e as Escrituras como o método de alimentação às ovelhas de Cristo (1 Timóteo 4.15,16).
"A liderança pastoral pode ser um dom natural, ou adquira pela experiência, por meio de uma vida dedicada a esse mister. Contudo, no âmbito espiritual, os líderes são chamados por Deus para uma missão específica, com o intuído de engrandecer o Reino de Deus.' (...) 'Ainda no âmbito espiritual, ministros líderes de ministros devem ser aqueles vocacionados para o ministério, chamados e habilitados por Deus para coordenar, influenciar seu grupo, com o objetivo de que seus liderados, com esforço, alcancem as metas desejadas" (José Wellington Bezerra da Costa. Artigo Ministro e Líderes de Ministros, Bíblia Obreiro Aprovado, página XXIII, edição 2016, CPAD).
A tarefa do pastor consistia em procurar pastagens e água (Salmo 23). Muitas vezes não era fácil, exigia paciência e coragem, pois era preciso defender as ovelhas dos ataques de feras e de ladrões (Gênesis 31.40; Êxodo 2.16; 1 Samuel 17.34; João 10.12). As principais ferramentas do pastor no exercício da sua função:
º Cajado: vara grossa que servia como apoio ao caminhar (Hebreus 11.21), como cassetete para defender-se (Isaías 36.6; Hebreus 11.21) e cuja ponta era curvada em semicírculo para pegar o animal pela pata (Salmo 23.2; Miqueias 7.14). No Novo Testamento, o termo "vara" se refere à autoridade de Cristo (Apocalipse 19.15) e dos salvos, a vara aos crentes se assemelha ao uso da espada do Espírito (Apocalipse 2.27; Efésios 6.16).
º Funda: uma arma feita com tira estreita de couro, alargada no meio, usada para atirar pedras contra os lobos e outros predadores, girando-a sobre a cabeça e soltando uma das pontas no momento propício ao lançamento da pedra na direção pretendida (Juízes 20.16; 1 Samuel 17.40-50).
O jeito afetuoso que o pastor prestava seus cuidados em favor do rebanho se evidenciava de modo eficaz ao socorrer as ovelhas fracas e enfermas do redil a ele confiado (Gênesis 33.13; Isaías 40.11). À tarde, quando o pastor recolhia o rebanho ao aprisco, obrigava as ovelhas a passar debaixo de sua vara, pela porta de entrada do aprisco. Neste retorno do grupo, cada animal ao alcance de sua mão era examinado para conferir seu bem-estar (Levítico 27.32; Jeremias 33.13; Ezequiel 20.37) e após cumprir sua missão durante o dia, o pastor continuava a vigiar o rebanho durante a noite (João 10.3).
O PASTOR BUSCA AS OVELHAS
"Como o pastor busca o seu rebanho, no dia em que encontra ovelhas dispersas, assim buscarei as minhas ovelhas. Eu as livrarei de todos os lugares por onde foram espalhadas no dia de nuvens e densas trevas" - Ezequiel 34.12.
Ezequiel havia repetido incansavelmente que o povo de Israel se tornara impuro por causa dos seus pecados e idolatrias e que por este motivo o castigo viria sobre a nação. Após a queda de Jerusalém, o profeta mudou completamente de tom.
No centro da sua mensagem o anúncio do castigo deu lugar à promessa da salvação, a informação de que viria um tempo em que Deus faria uma intervenção para transformar interiormente o seu povo e limpá-lo de todas as suas impurezas. Essa promessa, repetida uma e outra vez nos capítulos seguintes, fez renascer a esperança no
ânimo dos exilados e os ajudou a vencer o desânimo, pessimismo, e desconfiança que haviam se
apoderado deles (Ezequiel 33.10; 34.11-31; 37.11).
A promessa de salvação suscita esperança aos cristãos. O poder purificador do sangue vertido na cruz apresenta a intenção divina da total transformação interior, que se expressa com a imagem do coração e do espírito novo. "Pois todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos vocês que foram batizados em Cristo de Cristo se revestiram. Assim sendo, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vocês são um em Cristo Jesus" (Gálatas 3.26-28).
O PASTOR PROTEGE AS OVELHAS
"Assim diz o Senhor : Como o pastor livra da boca do leão as duas pernas ou um pedacinho da orelha de um animal, assim serão salvos os filhos de Israel que vivem em Samaria com apenas o canto da cama e parte do leito" - Amós 3.12.
O relato exposto em Gênesis 29 mostra Isaque removendo uma pedra pesada de cima de um poço, para que o rebanho pastoreado por Rebeca bebesse água. Colocava-se a pedra ali como proteção contra o pó e a areia e todo o tipo de sujeira. Mais tarde Moisés prestou ajuda semelhante às filhas do sacerdote Reuel, conhecido também como Jetro, ele abriu o poço e retirou a água dos bebedouros reservados às ovelhas (Êxodo 2.16-18).
A pessoa que possui vocação pastoral é consciente da sua responsabilidade e incansavelmente proclama em alto e bom som que Jesus virá como Rei dos reis; ecoa a verdade de que "toda a humanidade é erva, e toda a sua glória é como a flor do campo" e que só a Palavra do Senhor dura eternamente (Isaías 40.6,8).
O ministério do pastor sábio está sempre submetido ao Espírito Santo. Ele pensa, age, comunica-se com disposição de servir a Deus, e com este perfil produz edificação espiritual aos que o ouvem. É respeitado entre as ovelhas de Cristo. Expõe a verdade bíblica da melhor maneira possível, suas palavras surtem efeito estimulante que leva o cristão ao crescimento na fé e a estar consciente que "Deus há de trazer a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más" (Eclesiastes 12.14).
O pastor e teólogo Antonio Gilberto escreveu sobre a função do pastor, como ministério recebido de Deus. Compreende-se assim:
a. Dirigir, presidir e administrar o rebanho do Senhor. Sem isso as ovelhas se desviarão.
b. Doutrinar. Para isso, o pastor precisa ser um estudante dedicado da Palavra de Deus, especialmente no que concerne à Teologia Sistemática.
c. Proteger. Se o pastor não fizer esta parte, muitas ovelhas cairão vítimas de todo tipo de males.
d. Tratar das ovelhas. Muitas caem doentes espiritualmente.
e. Alimentar as ovelhas. A ovelha faminta segue qualquer outra liderança, além de outros males que lhe atingem.
f. Visitar. Exercício direto ou através de comissões.
g. Disciplinar. O termo disciplina envolve o sentido de instrução, admoestação, correção, e não o castigo e punição.
O PASTOR NEGLIGENTE COM O REBANHO
"Ai do pastor inútil, que abandona o rebanho! A espada cairá sobre o seu braço e sobre o seu olho direito; o braço ficará completamente seco, e o olho direito totalmente cego" - Zacarias 11.17.
Os governantes do período do Antigo Testamento são representados como pastores e repreendidos pelos profetas quando agiam com egoísmo e falta de cuidado com seus súditos. Deus é contra os maus pastores. Além disso, os profetas advertiam que o israelita que agisse como opressor de outro, aquele que havia enriquecido desonestamente à custa dos mais pobres e fracos, teria que ajustar contas com o Senhor.
O pastor mercenário preocupava-se mais com seu bem-estar. A segurança do rebanho não era sua prioridade. Interesseiro, trabalhava somente por dinheiro e pelas vantagens que lhe eram dadas pelo dono do rebanho (Jeremias 46.21; João 10.12,13).
Durante a Lei de Moisés, a responsabilidade do pastor era cobrada com grande rigor. Em Êxodo 22.9-12, temos acesso às regras legais sobre propriedade privada. O texto explica que os animais roubados deveriam ter o seu valor restituído ao seu dono, quando os animais eram mortos por uma fera, a exigência de restituição só era feita se o animal morto não pudesse ser apresentado; animais perdidos de outras maneiras não precisavam ser pagos se o pastor afirmasse com juramento não ter violado a propriedade alheia. Caso a ovelha se desgarrasse, o dever do pastor era ir ao campo procurá-la em todos os lugares (Ezequiel 34.12; Lucas 15.4).
CRISTO, O PASTOR DAS OVELHAS
"Ora, o Deus da paz, que tornou a trazer dentre os mortos o nosso Senhor Jesus, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliança" - Hebreus 13.20.
Como Cordeiro de Deus e também o Sumo Pastor das ovelhas, Jesus Cristo verteu o sangue da eterna aliança. "Porque, havendo Moisés proclamado a todo o povo todos os mandamentos conforme a lei, pegou o sangue dos bezerros e dos bodes, com água, lã tingida de escarlate e hissopo e aspergiu não só o próprio livro, como também todo o povo,
dizendo: 'Este é o sangue da aliança que Deus ordenou para vocês. Igualmente também aspergiu com sangue o tabernáculo e todos os utensílios do serviço sagrado.
De fato, segundo a lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue; e sem derramamento de sangue não há remissão.
Era necessário, portanto, que as figuras das coisas que estão nos céus fossem purificadas com tais sacrifícios, mas as próprias coisas celestiais requerem sacrifícios superiores àqueles.
Porque Cristo não entrou em santuário feito por mãos humanas, figura do verdadeiro Santuário, porém no próprio céu, para comparecer, agora, por nós, diante de Deus" - Hebreus 9.19-24.
O texto de Êxodo 12.1 ao 13.22 apresenta prescrições ao culto da antiga aliança. Estes capítulos, descrevem a Festa da Páscoa, mostram as normas relativas à celebração da Festa dos Pães Asmos, que prolonga a Páscoa (12.15-20; 13.3-10); e as normas que prescrevem a consagração dos filhos mais velhos ou primogênitos a Deus (13.1-2,11-16). Também relatam a décima praga sobre o Egito e depois a saída apressada dos israelitas (12.37- 42) em direção às margens do deserto (13.17-22).
O escritor de Hebreus, em 9.19-24 alude aos dois capítulos de Êxodo, nos faz lembrar da água, da lã em vermelho escarlate, do hissopo, materiais usados na aspersão realizada por Moisés. Assim, o escritor de Hebreus mostrou o paralelo existente entre a libertação do povo hebreu das garras de faraó e o opróbrio de Cristo na cruz, quando dEle jorrou água e sangue, para que todo pecador que nEle crer não pereça, tenha a vida eterna (João 3.16; Hebreus 11.26). Através do ritual religioso, Moisés se mostrou solidário com os israelitas, e Cristo, através do sacrifício vicário no calvário, se mostrou solidário com todos os pecadores arrependidos de seus pecados (Êxodo 2.10-15; Salmo 69.9; Isaías 63.9; e Romanos 15.3).
CONCLUSÃO
Os cristãos são exortados a seguirem o Bom Pastor, deixando para trás a vida e as práticas religiosas da antiga Lei, a vida pregressa da prática de pecados, a viverem em consagração, reunirem-se com seus irmãos para juntos celebrarem a Ceia do Senhor, com o objetivo de não se esquecerem que, assim como os judeus foram libertos da escravidão egípcia, estão livres da condenação eterna por intermédio do sacrifício realizado por Jesus Cristo (1 Coríntios 11.23-26).
Compilação:
Bíblia de Estudo Almeida, Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), Barueri - SP
Bíblia Obreiro Aprovado. Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). Rio de Janeiro - RJ. Edição 2017.
Casa do Senhor - acesso 26 de maio de 2021 - www.casadosenhor.com.br/portal/
Dicionário Enciclopédico da Bíblia, Centro do Livro Brasileiro Ltda, Lisboa, Porto, edição 1969.
Éxodo Una Lectura Evangélica y Popular. Jorge V. Pixley, Casa Unida de Publicaciones S.A., México, D..F., edição 1983.
Pequeno Dicionário Bíblico, Stuart Edmund McNair, anexo Bíblia do Obreiro Aprovado, Casa Publicadora das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro - RJ, edição 2017.