Por Eliseu Antonio Gomes
INTRODUÇÃO
Ao final do ministério de Samuel, os israelitas rejeitaram os filhos dele como juízes e pediram um governante. O pedido precipitado dos israelitas fez com que Saul se tornasse o primeiro rei de Israel. Ao passar do tempo, Saul mostrou que tinha mais aparência do que conteúdo. Seu reinado trouxe graves consequências espirituais para a nação dos judeus.
Os israelitas pediram o monarca, mas quem escolheu quem seria este monarca foi Deus, que revelou a Samuel que no dia seguinte ele encontraria a pessoa que deveria ungir ao reinado (1 Samuel 9.15-16).
I - POR QUE A MONARQUIA
1. Um sentimento de orgulho nacional (1 Samuel 8.4,5).
Deus sabia que o desejo de Israel por um rei baseava-se em sua confiança na força humana, em vez de confiar no poder divino.
O povo falhou em compreender que somente Deus era seu Rei, e que sua desobediência ao Senhor era a razão de seus problemas.
2. O fracasso dos filhos de Samuel.
Samuel foi um juiz excepcional sobre Israel. Quando chegou o momento de Samuel se aposentar, os israelitas rejeitaram veementemente Joel e Abias, seus filhos, quando os escolheu ao ofício de juízes, tornando-os seus sucessores, pelo fato de que eles se achavam corrompidos e inadequados para conduzir a nação.
O paralelo comportamental entre os filhos de Eli e de Samuel é surpreendente. Os filhos de Samuel cometeram impiedades parecidas, usaram os cargos que ocupavam e a sua autoridade em benefício próprio, algo especificamente proibido pela Lei (Êxodo 23.8; Deuteronômio 16.19).
Na verdade, o fracasso dos filhos de Samuel é consequência do fracasso do próprio Samuel e sua esposa como pais. Como pais cristãos, temos uma grande responsabilidade no destino dos nossos filhos. É preciso compreender que falhar em educá-los de acordo com os preceitos do Senhor pode trazer como resultado grande impiedade.
Como cristão, dedique seus filhos ao Senhor, sem esquecer que eles são herança e bênção. Ofereça-os ao Senhor para que o Pai celeste cumpra os seus propósitos através deles e continue a treiná-los para que frutifiquem em vida piedosa. A educação cristã só termina quando os filhos tornam-se independentes e constituem suas próprias famílias.
2.1 Os anciãos na Bíblia.
Quando os israelitas se opuseram à vontade de Samuel em tornar seus filhos os seus sucessores, os anciãos, agindo como representantes do povo, procuraram Samuel e lhe disseram que os israelitas não queriam tê-los como juízes de Israel.
Nas páginas bíblicas, frequentemente, o termo ancião indica uma função e nem sempre a idade avançada de quem a exerce. Por este motivo, algumas traduções bíblicas vertem o vocábulo hebraico por "chefe", "responsável" etc. No Antigo Testamento, os anciãos eram os chefes das famílias e dos grupos de famílias que formavam as tribos. Os anciãos de uma mesma cidade formavam um conselho responsável que dirigia a cidade e administrava a justiça. Eram guardiões da tradição. No Novo Testamento, os Evangelhos mostram os anciãos como pessoas responsáveis por tarefas de responsabilidade na comunidade hebraica; nos Atos dos Apóstolos e em algumas Cartas, são cristãos com algumas responsabilidade na comunidade local; e no Apocalipse, 23 anciãos fazem parte de uma corte, no céu, talvez como representantes do povo de Deus.
3. Rejeitando os planos de Deus (1 Samuel 10.6,7).
Era da vontade de Deus que Israel tivesse um rei? Estava claro em Israel que Deus pretendia que o povo tivesse um rei. Profecias do tempo de Moisés indicam que sim (Gênesis 49.10; Números 24.17; Deuteronômio 17.14-20).
Quando a nação israelita firmou-se na terra que mana leite e mel, Deus foi entronizado como o verdadeiro Rei de Israel, mas, em Gênesis 49.10 há a informação que a dinastia real viria da tribo de Judá. Porém, nos dias de Samuel, a reivindicação para que a instituição do regime monárquico substituísse o teocrático tinha motivação em desacordo com os preceitos divinos. A atitude de desaprovação de Deus estava relacionada ao fato de Israel desviar seus olhos e passar a olhar as nações em volta deles. Em vez de segui-lo, os israelitas cederam à pressão social, alimentaram o desejo de ser "como as outras nações" (8.20).
Israel fez pouco caso da situação privilegiada de ter Deus como o seu único Rei, pediu um rei na ocasião errada e com motivos impróprios, com base na aparência humana e dados superficiais. Contudo, em resposta a esse pedido Deus escolheu um rei para o povo, pois estava dentro da sua vontade permissiva.
Os anciãos erraram ao não reconhecerem Deus como seu verdadeiro Rei (8.7; 12.12). São apresentadas três razões para o pedido dos anciãos:
• o desejo deles de se conformarem ao padrão de outras nações. Como as outras nações tinham reis que se vestiam e se exibiam como pavões, ostentando uma coroa na cabeça, os israelitas pareciam querer se transformarem em súditos de alguém com este perfil.
• a corrupção dos filhos de Samuel;
• a necessidade de um comandante militar (1 Samuel 8.30).
II - A ESCOLHA DE SAUL COMO REI
1. Por que Saul?
O pai de Saul, Quis, que era um cidadão de destaque; a lista detalhada dos antepassados de Saul indica que ele pertencia a uma família ilustre (Mateus 1.1-17). Saul tinha a imagem perfeita de um líder político, era o homem mais alto e mais bonito de Israel (9.2; 10.3). Mas apenas possuir boa aparência e bom nome não era o bastante para ser um bom governante. Para ser líder eficaz não é suficiente ter formosura e uma família admirável.
Reflitamos sobre o grau de dependência que temos do Senhor. A vida cristã passa pela tomada de decisões. Para tomar quaisquer decisões o crente deve pedir orientação de Deus, tomá-las sem buscar a direção pode trazer grandes prejuízos.
No começo, tudo parecia ir muito bem, o profeta Samuel fez um um belo discurso de posse. Sob o governo de Saul, Israel venceu uma batalha contra a importante nação de Amom.
2. A unção de Saul por Samuel (1 Samuel 10.1).
No Antigo Testamento, a unção, ao mesmo tempo que estabelecia um vínculo particular entre Deus e a pessoa ungida, o ato de ungir significava dedicar, declarar, consagrar formalmente alguém para o desempenho de uma vocação, cargo, ofício ou uma função (Levítico 8.12). Era um ato realizado pelo sacerdote. Primeiramente privativo, depois seguido de atos públicos de reconhecimento. É comparado hoje com o chamado de Deus por meio do seu Espírito a alguém e à consagração por meio de envio ou ordenação de um ofício.
Encontramos no capítulo 10 e versículo 1 o primeiro registro de uma unção com azeite fora da unção dos sacerdotes e do santuário. Neste texto, está registrado o trato de Deus com a monarquia em equivalência com o sacerdócio.
Enquanto Saul confiasse no poder de Deus, ele seria capaz de governar com sabedoria. Quando o Espírito do Senhor o dominou, ele se tornou "um novo homem" (10.6). Isto é, enquanto ele escolhia obedecer, o Espírito era operante em sua vida e fazia dele um poderoso servo de Deus. Quando Saul foi coroado rei, Samuel lembrou que Israel seria uma nação feliz e próspera, de fato isso aconteceu, porém, o apogeu da prosperidade se deu nos reinados de Davi e Salomão.
O Espírito do Senhor veio sobre diversas pessoas no Antigo Testamento, conforme o relato ocorrido com Saul. Podemos ler sobre ocorrências semelhantes em Juízes 3.10; 6.4; 11.29; 13.25; 1 Samuel 16.13; 1 Crônicas 12.18. O Espírito também estava em algumas pessoas (Números 27.18; Daniel 4.8; 6.3; 1 Pedro 1.1) e encheu alguns dos servos de Deus a fim de que realizassem serviços específicos (Êxodo 31.3; 35.31).
3. Os sinais de confirmação da unção (1 Samuel 10.2-7).
Na Antiga Aliança, a manifestação do Espírito era "com" os servos de Deus, em contraste com o relacionamento do Senhor junto aos crentes da Nova Aliança, agora, a partir do dia do Pentecoste, o Espírito faz de nós a sua habitação permanente (João 14.17). Não é necessário o derramamento de azeite para difundir a Palavra ao pecadores, para a separação ode obreiros ao ministério basta a imposição de mãos do presbítero (1 Timóteo 4.14; 2 Timóteo 1.6).
Nas Escrituras Sagradas, o azeite simboliza o Espírito Santo. A unção envolvia uma consagração ou separação para o serviço. Era um ato religioso que estabelecia um relacionamento especial entre Deus e o rei, que servia como seu representante e líder do povo. Quando Samuel ungiu Saul como rei, Deus passou a ser com ele, mas a habilidade para governar bem, dependia da sua tomada de decisão neste sentido (versículo 7).
Jesus, como Rei do universo, subjuga a todos sob o seu governo, que provê libertação da opressão do pecado. Lucas (4.18,19) relata o comprimento da profecia de Isaías (61.1-2) na vida de Cristo. Jesus foi à sinagoga e diante das pessoas presentes leu em voz alta o texto escrito pelo profeta Isaías a respeito de sua vinda e missão. O texto diz que Deus ungiu a Jesus para evangelizar os pobres, libertar os cativos e apregoar o ano aceitável do Senhor, que era o Ano do Jubileu, o tempo que os judeus deveriam cancelar dívidas e libertar escravos (Levíticos 25.8-55).
O cristão tem a unção do Espírito e a mesma missão do Senhor (1 João 2.20). É necessário assumir a chamada de Deus e cumprir a vocação espiritual que há em nós (Efésios 1.5-8). Fazemos bem ao reconhecer a unção espiritual sobre nós e imitar a Cristo, no sentido de transformar o conteúdo de Isaías 61.1-2 na essência da nossa atividade cristã, pois Jesus disse "aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará" (João 14.12).
Alimentar-se da Palavra é o segredo para o sucesso espiritual: "Não cesse de falar deste Livro da Lei; pelo contrário, medite nele dia e noite, para que você tenha o cuidado de fazer segundo tudo o que nele está escrito; então você prosperará e será bem-sucedido" (Josué 1.8).
III - O REI QUE O POVO ESCOLHEU
1. Uma escolha pautada na aparência?
No princípio, o povo de Israel não entendeu bem o que significava ter um rei. Tanto o rei como o povo, deveriam viver debaixo da autoridade e do julgamento de Deus (1 Samuel 2.7-10).
A história de Israel demonstra que nosso desejo de imitar o mundo pode parecer justo, mas o resultado final é sempre desastroso. Os relatos registrados nos livros 1 e 2 Reis mostram que o sucesso de qualquer rei, e da nação israelita inteira, sempre dependia da medida de fidelidade à Lei de Deus; o fracasso dos reis sempre resultou em quedas sucessivas, e, por fim, arrastava os judeus ao cativeiro em territórios gentílicos.
Deus é quem escolhe a liderança de sua igreja, o cristão deve estar submisso nesta situação (Números 27.15-18; Mateus 9.38; Lucas 10.2). Em um mundo onde todos estão constantemente ocupados, a reclusão periódica para a oração é essencial durante a caminhada cristã, para todos os crentes (Lucas 5.16; Efésios 6.18). Para ser cristão autêntico é necessário assumir as mesmas posturas de Cristo. Na Galileia, quando Jesus olhou para a multidão sofrida, comparou o povo como ovelhas que não tinha pastor. Ele reuniu os doze discípulos e os fez saber que a liderança cristã deve ser escolhida tendo como base a oração, tal ensino foi transmitido com seu próprio exemplo, ao escolhê-los em oração e orientando-os a rogar a Deus sobre a necessidade de trazer trabalhadores para a seara (Lucas 6.12-14; Mateus 9.37,38).
2. Os direitos do novo rei.
O direito do reino foi estabelecido em Israel, havendo a exigência que o rei fosse um homem hebreu (Deuteronômio 17.14-15).
Apesar das advertências de Deus sobre haver um rei em Israel naquele tempo, o povo permaneceu com a ideia fixa sobre isso. O Senhor revelou a Samuel acerca das desvantagens do regime monárquico, e Samuel advertiu o povo enumerando os privilégios e direitos do rei sobre os demais israelitas, descrevendo o abuso de poder sobre a vida, a produção e o trabalho dos cidadãos (1 Samuel 8.10-18):
• recrutamento de rapazes e moças (versículo 11 a 13);
• alienação dos bens, a apropriação de servos e de animais (versículos 15 e 16);
• perda da liberdade individual (17 b).
Fora do momento determinado por Deus, os israelitas buscavam um governo que propiciasse segurança, mas eram avisados por Samuel que, naquela circunstância o rei que deveria propiciar apenas bem-estar também provocaria opressão a ponto de chegar um momento quem eles clamariam por misericórdia, mas não seriam atendidos prontamente em seus clamores (versículo 18). Apesar dos pesares, os direitos de todo o povo, ricos e pobres, eram garantidos pelas leis de Deus.
3. O novo sistema político e o aspecto teológico.
Os cristãos devem saber se conduzir em relação à lei civil e à aliança que tem com Deus. É necessário aprender a relacionar-se de forma apropriada com as autoridades ordenadas por Deus. Saber tais princípios é uma parte importante da caminhada cristã, revela o nível da nossa maturidade espiritual.
Muitas vezes, a natureza pecaminosa que há em nós tenta sobrepôr nossa natureza renascida em Cristo. Por estar em constante rebelião contra Deus, cria situações conflituosas de relacionamento com as autoridades constituídas. Precisamos de muito cuidado nesta questão, para não esquecer de usar a disciplina exposta na Palavra do Senhor, com vista a ter uma vida social calma e sossegada (1 Pedro 2.13-17).
Como crentes em Deus, é preciso entender que a sujeição que o Senhor pede de nós não tem como objetivo apenas evitar a punição, mas para nos manter em condições de influenciar a sociedade propagando a fé cristã em nossa geração.
Respeite as autoridades designadas por Deus, mas não dê mais honras a elas do que a Deus ou a sua Palavra. O cristão deve obedecer as leis civis, mas somente após constatar que não contrariam os ensinos das Escrituras Sagradas. Quando honramos mais as leis criadas pelos homens do que a lei de Cristo, quando damos maior valor ao governo humano, deixamos de honrar o Senhor dos senhores e praticamos idolatria.
CONCLUSÃO
A humanidade está ameaçada pelo maligno e escravizada pelo pecado. Jesus veio ao mundo para libertar o homem oprimido. Jesus trouxe o reino de Deus e a oportunidade de libertação às almas através do sacrifício vicário. É o reino de amor, de graça, de vida, de luz e salvação. Todo aquele que cumpre seus mandamentos faz parte da monarquia do Rei dos reis e Senhor dos senhores, foi salvo do cerco de Satanás e está livre do mal.
Se você deseja ser usado por Deus, o que vê como a fonte de seu grande sucesso? Confia demais em sua força humana ou duvida por causa de sua fraqueza humana? Lembre-se: não podemos perder de vista que o Pai, por meio da intermediação de Jesus, é quem governa a nossa vida, somente o poder de Deus pode fazer-nos realmente úteis ao serviço de seu reino, portanto, a nossa vontade e escolhas precisam sempre estar bem alinhadas com a vontade de Deus.
E.A.G.