Rachel Winter é jornalista e escritora de literatura cristã, edita o Blog Mensageiras da Ressurreição. É blogueira desde agosto de 2010, e eu sou leitor de seu blog. Em 18 de janeiro de 2015 ela escreveu o artigo
Em Defesa do Neopentecostalismo, que considerei muito interessante porque não havia visto iniciativa assim na Blogosfera Evangélica até então. Eu fiz meu comentário a respeito do tema esposto por ela. Abaixo, a minha contra-argumentação, que não significa estar totalmente contra seus posicionamentos.
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Prezada irmã Rachel.
Sou uma pessoa que se nega a lançar críticas sem o conhecimento da causa. Eu quero ver primeiro, ter minhas impressões próprias, recuso-me a seguir , de olhos fechados, o pensamento do outro quando o outro manifesta suas opiniões, seja um selo de aprovação ou reprovação.
Assim, sendo eu uma pessoa que nasceu no berço da Assembleia de Deus na cidade de São Paulo, conheci a Igreja Deus é Amor, a Igreja da Graça e a Igreja Universal, que são alvos de muitas críticas. Não posso comentar sobre outras neopentecostais porque não as observei.
Barganhas...
A grande crítica às neos é conhecida como Heresia da Barganha. Esta crítica atinge o costume de oferecer oração apenas aos crentes que entregarem uma quantia pré-determina em oferta. Eu vi isto acontecer pessoalmente, o dirigente do culto se propôs a orar apenas pelos doentes que pudessem ofertar antes da oração o valor de cem reais. E como ficaram os outros enfermos sem dinheiro? Foram despedidos com os seus males. Isso é uma crueldade sem escrúpulos que Jesus e os apóstolos jamais praticaram.
Eu vejo com preocupação a atitude dessas lideranças neopentecostais em distribuir aos membros apetrechos, como panfletos, cruzes, sal, copos de água, óleo, etc, associado a uma oração em busca de alguma espécie de bênção. Muitos membros se apegam a essas coisinhas, não conseguem orar em nome de Jesus sem que não tenham algum tipo de objeto nas mãos. Entendo que as ovelhas de Cristo deveriam ser preparadas para não depender dessas coisas ao orar ao Senhor, pois o ensinamento bíblico é que usemos apenas a fé e o nome de Jesus, e nada mais.
Como cristão que preza pela clareza dos fatos, quero dizer que existem muitos depoimentos de milagres de curas nas igrejas pentecostais, sem nunca ser usado o recurso do copo de água, sal, panfleto , e imposição de entrega de ofertas com valor estipulado.
Os líderes neopentecostais citam como argumento, para a orientação de usar objetos, o episódio de Jesus e a lama nos olhos do cego, a cura através da sombra de Pedro e a cura de Naamã nas águas de um rio. Mas eles não cogitam que essas passagens não aconteceram associadas aos pedidos de ofertas, não cogitam que são passagens bíblicas de modalidade narrativa e não normativa.
O fato de as narrações bíblicas sobre milagres vinculado em alguma espécie de elemento não estarem expostas como normas, nos faz entender que não se deveria fazer da situação do uso de elementos associados às orações um ritual litúrgico. Mas, infelizmente, o recurso é habitual, o costume se transformou em espinha dorsal das neos para arrecadação do financiamento de seus projetos ministeriais. O pastor distribui diversos objetos aos membros que aceitam contribuir com determinado valor em oferta, ensinando que a bênção poderá ser alcançada através daquela aquisição e da disposição em ofertar. E ora especificamente pelos participantes do que se convencionou chamar de “corrente” ou “campanha”.
Digo que não se deveria fazer de “correntes” ou “campanhas” partes litúrgicas de um culto mesmo sabendo que existe em algumas partes da Bíblia situações inusitadas usadas por Deus para alcançar seus propósitos de abençoar pessoas. Por que, não? Porque nenhuma cura na Bíblia foi realizada estipulando uma condicional padronizada. Aliás, Jesus e os profetas jamais repetiram fórmulas para realizações de milagres. Também digo que não deveria ser assim porque a prática induz a ovelha a deixar de ser adoradora para ser uma solicitante disso, aquilo e acolá. Deus busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade!
Entendo que não existe esforço por parte de líderes de igrejas neopentecostais para oferecer aos membros ensino teológico aprofundado. Parece ser assim, não digo categoricamente que é. Eles parecem não desejar o crescimento espiritual das ovelhas, aparentemente não desejam fazê-las crescer em Cristo e se tornarem maduras espiritualmente. Vi algumas pessoas neopentecostais com desejo de aprofundarem-se no conhecimento bíblico trocarem as neos por igrejas pentecostais e depois refutarem veementemente a prática da barganha.
É importante esclarecer que as igrejas neopentecostais afirmam que solicitam dinheiro para a manutençãao de programas de televisão com vista a evangelizar, usam este argumento de maneira maciça para promover a arrecadação. Porém, o mais recente apontamento do senso do IBGE acusou que a igreja que mais cresceu no Brasil nos últimos dez anos anteriores à pesquisa foi a pentecostal Assembleia de Deus.
Equívoco dos pentescostais
Observando argumentações de críticos pentecostais, concordo com você que existe muita superficialidade ao se fazer a crítica. Em determinada ocasião, tive a oportunidade de refutar um renomado escritor e conferencistas assembleiano, conhecido dentro e fora do Brasil. Este crítico dizia que a prática da “unção do riso”, o “reteté“/ “sapatinho de fogo”, vinha das neos. Mostrei-lhe que o fundador da Assembleia de Deus,
Gunnar Vingren era praticante desse costume, lá pelos idos de 1913,
apresentando-lhe sua biografia. Ele criticava a Igreja da Graça e a Universal sem saber que na IURD e na IIGD não existe espaço para manifestações de “aleluias” e “glórias” em voz alta, que existe maior reverência de membros nas neos durante as ministrações da Palavra de Deus, que não se admite nas neos conversas entre membros e idas e vindas ao banheiro durante as pregações.
Mas, penso saber o que induziu o renomando escritor pentecostal a concluir equivocadamente sobre a origem da unção do riso, reteté/sapatinho de fogo. Existe um vídeo no YouTube, em que Kenneth Hagin, considerado o grande influenciador das igrejas neopentecostais brasileiras, aparece rindo muito, e diversos membros que estão no mesmo ambiente sendo incentivados por ele a rirem também, num ambiente que parece ser reunião de culto. Daí deduzir que aquilo seria uma invenção de Hagin, esquecendo-se do relato no livro biográfico de Gunnar Vingren.
A maior parte dos pentecostais tendem a ensinar que Deus não se interessa em abençoar aos crentes na parte material. Alguns até acreditam que seja pecado pensar em ser abençoado na esfera material. Nem se quer entendem que o Reino de Deus começa a fazer parte da vida do crente quando este crente aceita a Cristo como Senhor, o seu Rei dos reis. Parece que uma parte dos pentecostais desconhecem as etimologias das palavras
paz,
salvação e
bênção nos idiomas do Antigo e Novo Testamento. Eles ignoram que a Bíblia fala em prosperidade no campo espiritual e material. E, não se sabe se propositalmente ou não, confundem o que a Bíblia diz sobre prosperidade com essa suposta doutrina classificada como Teologia da Prosperidade.
Concluindo.
Eu quero fazer parte de uma igreja perfeita, tenho esse desejo sabendo que não existe uma igreja perfeita aqui na terra, a perfeição só será atingida quando Jesus arrebatar os crentes desse mundo para adorarem a Deus eternamente lá no céu. Aqui, somos todos, homens e mulheres, crentes falhos, e precisamos aprender a nos tolerar e não exigir do outro a perfeição que não temos.
Porém, sendo gente falível, é lógico que não devemos aceitar todo tipo de falha, pois a raiz dos problemas nunca é a ação mas a intenção. Aquele que erra de maneira repetida e intencionalmente, deve ser avaliado e reprovado por nós, pois para isso Jesus Cristo nos deu pelo seu Espírito o dom de discernimento de espíritos (1 Coríntios 12.7-11). Quem age fraudulentamente, conforme escreveu em seu texto citando Mateus 12.3, é reconhecido por tudo que produz de ruim. Isso se aplica aos neopentecostais, aos pentecostais, aos crentes reformados e a qualquer outro crente que se identifique por outra rotulação.
Refutemos os hereges, tomando o cuidado para não cometer a heresia de confundir o que seja realmente heresia. Nem tudo que é estranho ao nosso modo de cultuar a Deus é pecado, então, antes de opinar, tenhamos a paciência de procurar o posicionamento bíblico a respeito daquilo que consideramos estranho.
E.A.G.