Por Eliseu Antonio Gomes
Durante a Segunda Guerra Mundial em 1945, os americanos lançaram a bomba atômica sobre a cidade de Nagasaki. Conta-se que após a explosão, um garoto japonês de dez anos de idade caminhou por três dias descalço e sem a companhia dos pais. Levava um bebê nas costas, dentro de uma mochila improvisada. Era comum essa espécie de transporte. Dentro daquela mochila o bebê estava com a cabecinha reclinada e os olhos fechados, parecia dormir mas estava morto.
O destino do menino era um lugar macabro, o crematório. Aproximou-se de uma pira de cremação e parou. Permaneceu em pé. Manteve por dez minutos postura retilínea, braços retos, imitava a postura orgulhosa que vira em gente adulta uniformizada com as fardas do exército de seu país.
Joseph Roger O'Donnell, mais conhecido como Joe O'Donnell, fotojornalista, e alguém que tinha o ato de fotografar como um hobby, foi enviado ao Japão pela Agência de Informação dos Estados Unidos, a serviço da Marinha, para documentar fotograficamente as consequências imediatas das explosões da bomba atômica em Nagasaki e Hiroshima.
O repórter, em uma entrevista, disse que o menino mordia os lábios muito forte, ao ponto de sangrar pelo canto de sua boca. No lugar do choro havia a emoção represada; no lugar das lágrimas havia o sangue. Contido. Imóvel. Em silêncio. Foi assim que o menino esperou por dez minutos a vez de ser atendido, para que houvesse a cremação daquele corpinho, que muito provavelmente faleceu por conta da irradiação de plutônio.
O'Donnell relatou que pessoas usando máscaras brancas se aproximaram do garoto, sem dizer nada retiraram o bebê inerte, pegando-o pelos braços e pernas, sem que houvesse qualquer diálogo entre eles, e o lançaram na fornalha. Emudecido, o menino viu o irmão ser incinerado em fogo baixo. Depois ele virou-se e foi embora. Não se sabe do paradeiro e nem qual é seu nome.
Ao retornar aos Estados Unidos, onde o argumento para a justificativa da bomba atômica estava profundamente enraizado, O'Donnell se tornou ativista contra as guerras. Realizou muitas exposições de imagens capturadas com sua câmera pessoal. Foram exibidas para todo território americano cerca de 300 fotografias, de Nagasaki, de Hiroshima e de outras regiões que sofreram com o ataque atômico .
No dia 9 de agosto de 2007, aos 85 anos de idade, O'Donnell veio a falecer. Após morrer, Sakai Kimiko, esposa do documentarista, japonesa residente nos Estados Unidos, lançou um livro biográfico sobre sua carreira, como mais uma tentativa de contribuir para que não haja mais guerras nucleares, haja maior conscientização sobre o horrores causados pelas guerras.
Os registros de O'Donnell, sempre comoventes, são usados em muitas mensagens de paz ao redor do mundo. Lá no Japão, a imagem do garoto de Nagasaki é usada como símbolo de força e resistência.
Consultas: Asahi Shimbun - https://bit.ly/3tLsuPU | Chetilishte - https://bit.ly/3tHK1bV