Este tema é bastante lembrado de tempos em tempos, é grande o número de gente no meio cristão que já abordou essa questão e muitos já pesquisaram e leram sobre o assunto. Mas, fica aqui o meu pitaco.
Existe uma frase tácita, usada por duas correntes ideológicas opostas, ao fazer abordagem sobre a questão do relacionamento do Estado com a religião. É: “o Brasil é laico!”. Sim, é, mas o que isto significa?
O termo refere-se à questão do governo brasileiro não ser teocrático, não submeter-se ao controle de uma determinada religião para impor normas sobre a sociedade. Também, significa que o Estado não produz sistema antirreligioso e ao mesmo tempo concede liberdade para a prática religiosa de seus cidadãos. Há quem confunda o termo laico com laicismo e laicidade, que significam um enérgico posicionamento ateísta, com objetivo de banir práticas religiosas da nação.
Embora tenha sido o Filho de Deus e o próprio Deus encarnado, Jesus, quando esteve como ser humano na Terra, para exercer seu ministério entre os homens, voluntariamente desapegou-se de sua condição divina e esteve em dependência de pessoas sujeitas ao pecado, gente como eu e você.
O Novo Testamento relata que, na questão financeira, para que fosse possível manter seu ministério em atividade, Ele recebeu ofertas em dinheiro (fazenda, na tradução Almeida Revista e Corrigida - ARC), e aceitou usar um jumento emprestado para ser aclamado como Rei, cumprindo assim uma profecia de Zacarias 9.9. Conferir em Lucas 8.8 e 19.29-31.
Quando Jesus entrou em óbito, precisou da intervenção influenciadora de um político, para que seu corpo fosse sepultado entre os ricos, conforme havia profetizado Isaías (53.9) a respeito de sua morte. Tal homem era o rico José de Arimateia, membro do sinédrio e senador (Marcos 15.43; Mateus 27.56). Usando seu prestígio como parlamentar, José de Arimateia foi até Pilatos, pediu o corpo de Jesus. E depois com suas próprias mãos e ajuda de Nicodemos, retirou o corpo da cruz e o sepultou em seu sepulcro. Confira sobre sua intervenção em Mateus 27.57,58; Marcos 15.43; Lucas 23.52; João 19.38.
Expus tais fatos bíblicos apenas para dizer que o Senhor nos ensinou coisa importantíssima sobre o que é a santidade. Ser santo não tem a ver com reclusão e alienação social. Jesus disse que não somos desse mundo, mas vivemos nele (João 15.18-19); e por isto temos que agir como influenciadores aqui na Terra. Tal qual o efeito do sal como tempero culinário e a propagação da incidência de luz no ambiente escuro em que surge (Mateus 15.13-14).
Somos a Igreja do Senhor, enquanto reunidos no templo, ou em outro lugar, com o propósito de prestação de culto a Deus. A conclusão disso vem do termo grego em que se traduz a palavra igreja (ekclesia): assembleia, congregação, chamados para fora.
Sabemos que Deus não mora em nenhuma construção feita por mãos humanas, o templo do Senhor é o coração do cristão reverente (Isaías 66.1; 1 Coríntios 3.16). Estamos cientes que o púlpito da igreja não é um altar espiritual, é um ponto construído em posição mais alta para facilitar a comunicação entre a liderança e os membros. De acordo com a doutrina bíblica apresentada no Novo Testamento, em sentido figurado, a nossa vida é o altar de Deus. A natureza carnal precisa ser sacrificada diuturnamente para que possamos viver em Cristo e para Cristo de modo pleno (Colossenses 3.5).
Neste sentido, qual seria o motivo para não receber a figura política na igreja e oferecer a esta figura um assento no púlpito? E qual seria a razão de se cogitar que um cristão não possa se inscrever aos cargos eletivos?
Penso que a atitude de negar assento é por falta de reflexão sobre a significância dos termos santidade, igreja, altar, púlpito, segundo o viés das Escrituras Sagradas. Quando o pastor oferece ao político uma cadeira no púlpito, faz isso considerando que não existe autoridade que “não proceda de Deus” e que “toda autoridade é ministro de Deus” (Romanos 13.1 e 4). Penso que o pastor reflete sobre o fator da eminência existente na pessoa que venceu eleições civis e neste caso é preciso prestar honra a quem a tem (Romanos 13.7). Tal honraria é dada ao político e seus eleitores, pois pressupõe-se que os representa.
O cristão, e qualquer outro cidadão praticante de outra religião, tem o direito constitucional para candidatar-se e exercer o seu trabalho em nível federal, estadual e municipal, nas esferas do executivo e legislativo, desde que vença o pleito eleitoral. No Brasil, que é laico e democrático, o que não cabe ao religioso é usar o seu mandado para impor as doutrinas de sua crença ao povo brasileiro.
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