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domingo, 5 de julho de 2015

O Evangelho da Graça

Por Eliseu Antonio Gomes

O apóstolo Paulo era um pastor dedicado em extremo com o rebanho do Senhor sob seus cuidados. Quando escreveu a primeira carta a Timóteo, este se encontrava em Éfeso, cumprindo a orientação de Paulo, a fim de ministrar as devidas orientações àquela igreja, ante as ameaças de falsos mestres que se infiltravam no seio dos irmãos e já estavam semeando seus ensinos perniciosos.

O jovem obreiro não era o pastor da igreja em Éfeso, mas recebera a pesada incumbência de não só advertir a igreja, mas de confrontar os que se tornaram instrumentos a serviço da semeadura das heresias. O problema era tão grave que Paulo fugiu ao seu estilo peculiar de redigir suas cartas. Normalmente, ele começava algumas de suas missivas com ações de graças (Romano 1.8; 1 Coríntios 1.4; 2 Coríntios 1.2).

O Evangelho. A palavra em si significa boas novas; por isso é alguma coisa especialmente distinta a qualquer ensino ou doutrina anterior.

Quatro características do Evangelho devem ser notadas:

1. O Evangelho do Reino. É a boa notícia que Deus propõe estabelecer na terra, em cumprimento do concerto davídico (2 Samuel 8.8), um reino político, espiritual, universal, sobre o qual o Filho de Deus, herdeiro de Davi reinará, e o qual será por mil anos, a manifestação da justiça de Deus entre os homens. Duas pregações deste Evangelho são referidas, uma passada, começando com o ministério de João Batista e terminando com a rejeição do seu Rei dos Judeus. A outra, ainda futura (Mateus 24.14), durante a Grande Tribulação, e imediatamente antes da vinda gloriosa do Rei.
2. O Evangelho da Graça de Deus. Ao desobedecer o Criador, Adão trouxe o pecado ao mundo. Então, cada ser humano nascido após a desobediência ocorrida no jardim do Éden herdou características da natureza pecaminosa. Para reverter este triste fato, Deus enviou ao mundo Jesus com a missão de resgatar a humanidade. Para resgatá-la, Cristo recebeu a condenação pelos nossos pecados sem jamais ter cometido pecado. Ele morreu na cruz em lugar de todos os pecadores e ao terceiro dia em que estava sepultado foi ressuscitado pelo Criador e agora está ao lado direito de Deus intercedendo por todos os seres humanos que o seguem como Senhor e Salvador.
Esta é a boa-nova: Jesus Cristo, o Rei rejeitado, morreu na cruz pelos pecados do mundo, ressurgiu para a nossa justificação, e que por Ele todos os que crêem são justificados de todas as coisas. 
3. O Evangelho Eterno (Apocalipse 14.6) que será pregado logo no fim da grande tribulação e imediatamente antes do julgamento das nações (Mateus 25.31). Este não é o Evangelho do Reino e nem da Graça. Embora seu tema é mais juízo do que salvação, e uma boa-nova para Israel e aqueles que tem sido salvos durante a Tribulação (Apocalipse 7.9-14; Lucas 21.28; Salmos 96.11-13; Isaías 35.4-10).
4. O que Paulo chama "meu Evangelho" (Romanos 2.16). Esse é o Evangelho da Graça de Deus no seu mais pleno desenvolvimento.
5. Há também "outro evangelho" (Gálatas 1.6; 2 Coríntios 11.4), que é falso, uma perversão do Evangelho da Graça de Deus, contra o qual somos advertidos. Nega a suficiência da graça divina para salvar, guardar, aperfeiçoar o crente, e mistura com a graça algum merecimento humano.

A graça. Os cristãos primitivos usavam essa palavra quando se reuniam e se saudavam (Romanos 1.7; 1ª Coríntios 1.3; Gálatas 1.3).

Graça, no hebraico, é “chen”. Significa curvar-se ou abaixar-se com a conotação de receber favor imerecido ou a condescendência de um ser superior por alguém inferior em valor e posição. Outra palavra para graça encontrada no Antigo Testamento mais de 250 vezes é “hesed”, traduzida ao português como misericórdia, cujo significado é amor leal, firme e fiel, apontando ao auxílio divino.

No idioma grego, usado no Novo Testamento, graça é o mesmo que bondade excepcional de Deus para com os seres humanos (como pecadores), para tornar possível o perdão e a salvação (João 1.14; Efésios 2.4-5).

"Graça a benignidade e caridade de Deus, nosso Salvador para com os homens... não por obras de justiça que houvéssemos feito" (Tito 3.4, 5), e é por isso constantemente contrastada com a Lei, em que Deus exige justiça do homem. Sob a graça, Ele concede justiça ao homem (Romanos 3.21, 22; 8,4; Filipenses 3.4).

A misericórdia imerecida está sempre disponível para aqueles pecadores que crêem no Evangelho e obedecem ao Senhor (Atos 11.23; 20.32; 2ª Coríntios 9.14). 

"Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam" 1 Timóteo 1.7. Na cidade de Éfeso, onde Timóteo situava-se, certas pessoas estavam ensinando doutrina falsa, eles não compreendiam o que ensinavam (4.1-13; 6.3-5, 20-21). Eram falsos doutores de Lei de Deus, queriam ser mestres mas seu ensino não tinha nada a ver com o plano de Deus. Abandonaram o que é realmente importante e se perderam em discussões inúteis. Por isso Paulo pede a Timóteo que diga a essas pessoas que parem com isso.

Paulo cuidava da qualidade exegética das Escrituras, veementemente refutava o falso ensino do caráter judaico. Ao escrever para Timóteo, ressalta que seus expoentes desejavam ser reconhecidos como mestres da Lei, título honroso no Novo Testamento - em Atos 5.34 é aplicado a Gamaliel. Eles extraíam da Lei, a porção legal do Antigo Testamento, mitos fantásticos e preceitos ascéticos, comprovando assim que realmente não compreendiam as Escrituras. Paulo usa o título pomposo contra os hereges ironicamente. 

Himeneu e Alexandre. A Lei não foi feita para os justos, mas para os injustos (1 Timóteo 1.9-10). Os justos não estão isentos da Lei, mas por causa da graça de Deus e da nossa fé em Jesus Cristo, temos a possibilidade de fazer o que é justo. Se fizéssemos isso ininterruptamente, não precisaríamos da lei. Mas não o fazemos. Ninguém vive cem por cento justo entre os cristãos; somos "obras em andamento". Assim, necessitamos que a lei nos aponte as falhas cometidas, para que confessemos os nossos pecados e recebamos do Senhor, que é fiel e justo, o perdão e a purificação (1 João 1.9).

A relação de vícios exposta em 1 Timóteo 1.9-10 segue em parte a ordem dos dez mandamentos, particularmente, daqueles que tratam do relacionamento humano (Êxodo 20.12-16). Explicam a utilidade da Lei para arguir os iníquos e convencê-los da sua transgressão.

Himeneu e Alexandre eram dois cabeças do grupo de falsos mestres, dos quais, por sua autoridade apostólica, Paulo cassou o direito de membro da igreja. Provavelmente, é o mesmo Alexandre, que um pouco depois foi a Roma depor contra Paulo, e talvez aquele que a princípio fora seu amigo devotado (Atos 19.33; 2 Timóteo 4.14).

A conservação da boa consciência e o naufrágio (1 Timóteo1.19-20). Neste texto, encontramos um surpreendente exemplo da disciplina apostólica, que mostra como o mal se apoderara da igreja primitiva. Aprendemos que quem descuida de conservar a boa consciência é capaz de perder a fé.

Paulo caracteriza os falsos mestres como:

1. Mestres de mitos e estórias fantasiosas judaicas que se baseavam em genealogias obscuras (1.4; 4.7; Tito 1.4; 3.9);
2. Presunçosos (1.7; 6.4);
3. Argumentadores (1.4; 6.4);
4. Desejosos de ensinar a Lei, mesmo sem conhecer aquilo de pretendiam ensinar (1.7);
5. Cheios de argumentos destituídos de sentido (1.6; Tito 3.9);
6. Pessoas que usavam as suas posições de liderança religiosa para obterem vantagens financeiras pessoais.
Conclusão

Com a graça de Deus e o apoio de homens fiéis, como Timóteo e Tito, o apóstolo fez frente aos falsos mestres que se levantam para prejudicar o trabalho iniciado e desenvolvido em muitas igrejas.
Na primeira epístola a Timóteo, Paulo designou o jovem obreiro para pastorear a igreja em Éfeso, para conter a maré de heresias diversas, dentre as quais o gnosticismo e o judaísmo. Nos dias atuais, há muitas heresias infiltrando-se nas igrejas, ou surgindo no seio delas. Os líderes do povo de Deus precisam agir com sabedoria, graça, e firmeza contra essas ameaças reais.

E.A.G.

Compilações



1 e 2 Timóteo e Tito - Introdução e comentário, J.N.B Kelly, volume 14, página 55, reimpressão 2011, São Paulo (Vida Nova). As Ordenanças de Cristo nas Cartas Pastorais, Elinaldo Renovato, páginas 21, 29, 1ª edição 2015, Rio de Janeiro (CPAD). 
Bíblia de Estudo Explicada S. E. McNair com texto bíblico Almeida Revista e Corrigida 1995, páginas 1356, 1488, edição 2014, Rio de Janeiro (CPAD).
Bíblia de Estudo NTLH, página 1226, edição 2005, Barueri, (Sociedade Bíblica do Brasil) 
Bíblia de Estudo Vida. edição de 1998, página 1849; São Paulo (Editora Vida). 
Manual Bíblico Henry H. Halley, página 559, reimpressão 1998, São Paulo  (Edições Vida Nova).
Pequeno Dicionário Bíblico S. E. McNair, página 1494, © 2006 (CPAD), publicaado como apêndice à Bíblia de Estudo Explicada S. E. McNair com texto bíblico Almeida Revista e Corrigida 1995, edição 2014 (CPAD).

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