Na obra clássica "O Peregrino, João Bunyan narra a caminhada do "cristão" que buscava o fim de um estado opressor provocado pela sua atividade de pecados. Ele peregrinava com o fardo de pecados, cujo peso era esmagador, procurando alívio em diversas fontes. Foi quando o "interprete" lhe apontou o Calvário. Então, o Peregrino reconheceu que Jesus Cristo morreu por ele. Nesse momento, ele recebeu Jesus Cristo como seu Salvador pessoal, e transferiu o fardo para as mãos de Jesus. É o que o ser humano deve fazer também para aliviar-se dos seus fardos.
Muitas pessoas estão à beira da total exaustão, vivem oprimidas em decorrência da sobrecarga diária. O esforço é custoso, impõe a elas esforço difícil de suportar. Vivendo neste processo desgastante, não são todas que reconhecem a solução que Jesus Cristo oferece. Não suportam o sofrimento e dão cabo da própria vida.
Na passagem bíblica de 1 Samuel, capítulo 31 e versículos 3 ao 5, encontramos o caso de suicídio de Saul, monarca fracassado, que deixou o Senhor, e foi em busca de uma médium espírita (1 Samuel 28.1-19; 1 Crônicas 10.13,14). O texto registra que o rei cometeu suicídio precipitando-se sobre sua espada e o seu escudeiro viu que ele estava morto e suicidou-se também.
Aitofel, cujo nome em hebraico significa "irmão de conversa tola", foi conselheiro importante de Davi e conspirou contra ele juntando-se com Absalão Ao se ver desacreditado por Absalão, sentiu profunda angústia e se enforcou (2 Samuel 17.23).
Zinri, um rei sem nenhum temor de Deus, usurpou o trono por traição e matança, reinou em Tizri por apenas sete dias. Após matar Elá, seu mestre, o povo se revoltou contra ele e declarou Onri rei em seu lugar. Então, apavorado, considerando não morrer pelas mãos de Onri, ateou fogo no palácio e propositalmente morreu no incêndio (l Reis 16.18,19).
Moisés pediu a Deus que tirasse a sua vida; o profeta Elias também fez o mesmo pedido; e da mesma forma o profeta Jonas. Eles temeram tirar a própria vida e pediram a morte. E Deus não atendeu a nenhum desses pedidos (Êxodo 1.17; Números 11.15; 1 Reis 19.4; Jonas 4.3).
Sansão morreu como suicida?
Sansão viveu no período teocrático de Israel. Agiu em sua função de juiz sobre os israelitas (Juizes 3.6 a 16.31). O termo "juiz" pode trazer uma impressão errada aos que não possuem conhecimento bíblico. Qual era o papel de um juiz? Deus chamava indivíduos de diferentes posições sociais e dava-lhes poder para servir como juiz, liderando uma ou mais tribos de Israel. Assim, exerciam todos os poderes governamentais durante seu tempo no ofício executivo, legislativo e judiciário. Eles, na sua maioria, também eram líderes militares.
Há quem acredite que o caso de Sansão, o décimo terceiro e último juiz de Israel, é um exemplo de suicídio aprovado por Deus. Sansão não se suicidou, ele não tirou a vida como um suicida; mas sacrificou-se por seu povo quando esteve em seu último lance de combate contra os inimigos mortais dos israelitas.
Os filisteus haviam arrancado seus olhos e zombavam dele durante a realização de uma festa dedicada ao deus Dagon. Neste momento de escárnio, Sansão orou ao Deus verdadeiro pedindo-lhe força para contra-atacar. Ao receber esta força, abraçou duas colunas do templo pagão e provocou o seu desmoronamento sobre todos os inimigos de Israel (Juízes 16.28-31). Através de Sansão o ciclo de derrotas nas mãos dos filisteus foi quebrado. Não fosse esta iniciativa corajosa um ato de guerra, Sansão não seria mencionado entre os heróis da fé (Hebreus 11.32-34).
1.2 No Novo Testamento
Encontramos nas páginas neotestamentárias o triste exemplo de Judas Iscariotes, um dos doze discípulos de Jesus, tesoureiro e ladrão de ofertas (Lucas 6.16; João 12.6; e 13.29) Tomado por uma ambição egoísta, traiu o Mestre por trinta moedas de prata (Marcos 14.10-11). Após trair Jesus, ele foi dominado por um profundo remorso, e, ao invés de pedir perdão ao Senhor, preferiu dar cabo de sua vida enforcando-se, tendo suas entranhas derramadas no chão (Mateus 27.3-5; Atos 1.18). Antes desse fim horrível, Cristo o havia exortado, para que não o traísse e evitasse o sofrimento (Marcos 14.21).
Em nossos dias, infelizmente, há quem siga o caminho de Judas e banalize a vida e a fé cristã. Por amor ao dinheiro, muitas pessoas são atraídas aos mais diversos tipos de pecado. Gente crente em Cristo, abandonam a fé e são traspassadas por muitas dores. No entanto, as pessoas podem ter dinheiro, amar a Deus acima de todos e tudo e não amar as riquezas (Jó 42, capítulo completo; 2 Timóteo 6.10).
Jesus se recusou a cometer suicídio ao ser tentado por Satanás (Mateus 4.5-6; Lucas 4.9-11).
O carcereiro de Filipos se propôs a cometer suicídio, quando ocorreu um terremoto na região da prisão na qual ele era o responsável pelo aprisionamento dos presos, entre os quais Paulo e Silas. O abalo sísmico abriu as grades dos cárceres e ele apavorou-se pensando que os detentos haviam fugido. Quando o apostolo o viu tirando a espada com o intento de matar-se, gritou para impedi-lo "não faça este mal contra si mesmo, estamos todos aqui". E o carcereiro perguntou a Paulo e Silas o que deveria fazer para ser salvo. Então, ouviu: "Creia no Senhor Jesus, e será salvo tu e tua casa" (Atos 16.23-32).
Durante a Grande Tribulação muitos tentarão cometer suicídio, mas serão incapazes de encontrar a morte (Apocalipse 9.6).
1.3 O suicídio no mundo
O suicídio aparece nas Escrituras Sagradas e reflete-se no mundo de hoje. Pesquisas mostram que no Brasil o número de suicídios entre jovens cresce de modo lento, mas constante. Dados mostram que, em 12 anos, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos subiu de 5.1 por 100 habitantes em 2002 para 5,6 em 2014 - um aumento de quase 10%.
Esses números, obtidos pela rede de televisão britânica, BBC Brasil, são do Mapa da Violência 2017, publicado anualmente a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde. Em números absolutos, foram 2.898 suicídios de jovens de 15 a 29 anos em 2014, um dado que costuma desaparecer diante da estatística dos homicídios na mesma faixa etária, cerca de 30 mil.
Um olhar atento permite ver que este melancólico fenômeno não é recente nem isolado sobre o que acontece com a população brasileira. Segundo Blaize Conzati, colunista e pesquisador do Instituto Familiar, em um artigo publicado em maio de 2017, de 2000 a 2015, a taxa de suicídio aumentou 27% entre as pessoas de 20 a 35 anos de idade nos Estados Unidos. Entre todos os grupos etários, a taxa média saltou quase 21% durante o mesmo período de tempo.
De acordo com Instituto de Pesquisa familiar, a perda de fé em Deus e o declínio da religião estão entre as principais razões pelas quais jovens estão cometendo cada vez mais suicídio nos Estados Unidos. Os jovens americanos têm se distanciado das instituições religiosas ao longo das últimas décadas, escolhem viver de acordo com "sua própria espiritualidade" ou desprezam inteiramente a fé em Deus.
Os suicídios merecem atenção porque indicam um sofrimento imenso, que faz a pessoa tirar a própria vida. Muitos indivíduos se submetem a um desejo desenfreado de chegar ao "topo do sucesso" e, independentemente dos sacrifícios pessoais, fazem de quase tudo para "manter-se por lá" o máximo de tempo possível. Isso torna a existência um enorme fardo pesado, considerando que sucesso nem sempre é sinônimo de felicidade e estar em evidência não garante a autorrealização. Esse comportamento decorre de uma vida sem a presença de Deus, gera o aumento das tensões da pessoa com ela mesma e com muitos indivíduos em sua volta. Produz doenças psicossomáticas, das quais a mais conhecida é a depressão, e é a causa do índice de suicídios.
Pesquisa empírica sobre as causas do suicídio revelou que a maioria das pessoas não comete suicídio após a devida consideração e em desafio deliberado aos mandamentos de Deus, mas é levada a isso por doença mental grave ou experiências extremamente traumáticas.
Não é cabível ao cristão encorajar o suicídio. Fazer isso significa não possuir amor ao próximo e não ter resposta para o desespero e nenhuma condição de levar o conforto aos aflitos. O Evangelho de Cristo é o oposto de tudo isso.
Encorajar, incitar, dar apoio ao ato de suicídio de outra pessoa, é um crime em vários países ocidentais, visto como uma maneira de homicídio doloso (intenção de matar). Aliás, até quando realizado através da Internet. Em território brasileiro, o artigo 122 do Código Penal prevê reclusão de dois a seis anos para quem leva alguém a cometer suicídio, ou reclusão, de um a três anos, se a tentativa de suicídio provocar lesão corporal de natureza grave.
II - TIPOS DE SUICÍDIOS
O que faz uma pessoa famosa cometer suicídio? Por que indivíduos que aparentemente não têm falta de nada tiram a própria vida? As aparências de alegria no cotidiano muitas vezes mascara o que realmente as pessoas estão sentindo e vivendo.
São muitas as pessoas que não conhecem a Jesus que são induzidas a matar a si mesma. Existem três tipos de suicídios: convencional, pessoal e sacrificial.
2.1 Suicídio convencional.
Após Constantino introduzir o cristianismo em 312 como a religião oficial do Império Romano, os cristãos participaram do governo, Agostinho, em A Cidade de Deus (I, 17-27) formulou a primeira rejeição ética cristã abrangente do suicídio argumentando que o sexto mandamento implica uma proibição contra a morte de todas as pessoas inocentes e, portanto, implicação também contra tirar a própria vida. Um argumento adicional foi que o suicídio está absolutamente errado, já que rouba da pessoa responsável qualquer oportunidade de confessar o pecado mortal cometido contra si mesma.
É descrito pelo nome de “convencional” o suicídio provocado pela tradição cultural ou coerção do grupo social. Exemplos:
• Os esquimós toleram e esperam o suicídio de idosos e incapacitados.
• Era comum entre os japoneses a prática dohara-kiri como expressão de orgulho, a morte autoinfligida em nome da honra. O suicida era visto como gente nobre ao tirar sua vida para não experimentar alguma situação intolerável.
Ainda há nos dias atuais a propensão ao suicídio naquela cultura. Em maio de 2007, ao ser investigado por corrupção, o Ministro da Agricultura do Japão sentiu-se extremamente envergonhado e cometeu o suicídio por enforcamento. Em 2014, a taxa média de suicídios no Japão era de 70 pessoas por dia.
2.2 Suicídio pessoal.
Há hoje entre os cristãos uma atitude não bíblica com relação às dificuldades e aos sofrimentos. Quando as adversidades surgem, muitos creem que estão em pecado e abandonados por Deus. Contudo, foi o próprio Jesus quem nos alertou que não devemos nos surpreender com o fato de encontrar tribulações (João 16.33). A fé não nos isenta das dificuldades, mas nos capacita a enfrentá-las. É necessário aceitar o fato de que a vida presente não é constituída apenas de alegrias e conquistas terrenas. Os crentes são chamados a ter alegria e esperança em meio às provações atuais, com os olhos fitos na era vindoura.
O suicídio de ordem pessoal, obviamente, é realizado por iniciativa individual, sem a influência de tradição cultural. As motivações para este tipo de morte são variadas e muitas vezes não é possível conhecer a causa direta. No entanto, a atitude é compreendida como um escapismo de problemas.
Quase sempre o suicídio ocorre em resposta ao sofrimento ou em decorrência da ansiedade exagerada, causadora do sofrimento antecipado.
O sofrimento pode ser de natureza física, mental, emocional ou espiritual.
As principais razões que transformam um individuo em suicida, são: depressão, problemas financeiros, dissolução de um relacionamento, uma forma de protesto, confusão sexual entre gêneros, ritual religioso, fuga da punição e fuga da dor.
Há cristãos que definem o uso do cigarro de nicotina, álcool e drogas ilícitas como maneiras de suicidar-se, lenta e gradativamente.
De maneira equivocada, alguns podem pensar que o suicídio deveria ser aceito como um direito, argumentar que o seu corpo é propriedade pessoal. A Bíblia Sagrada declara que o nosso corpo pertence ao Espírito Santo (1 Coríntios 6.19-20). Somos portadores de uma imagem irradiada na sociedade, seres humanos vivendo em comunidade e nesta condição o ato de suicídio aflige os que testemunham ou recebem a informação do ato suicida, além de gerar culpa e outras circunstâncias tensas.
2.3 "Suicídio" sacrificial.
No Antigo Testamento, a morte de Sansão é um exemplo de auto-sacrifício. Ele agiu de maneira altruísta, com o propósito de livrar Israel da opressão causada pelos filisteus. E por este motivo é mencionado entre os Heróis da Fé (Juízes 16. 23-31; Hebreus. 11:32).
No Novo Testamento, encontramos a questão de alguém salvar a vida alheia em detrimento da sua própria. O ensino de Jesus aborda este tema. Ele disse que a “morte em prol dos outros” é a prova de um amor maior. E como o Bom Pastor que tem um carinho muito especial com suas ovelhas, o próprio Senhor entregou a vida dEle por nós, através de um sacrifício amoroso. A cruz é o ponto central do cristianismo, foi na crucificação que Ele garantiu a vida eterna a todos nós. (João 10.15, 16).
III - O POSICIONAMENTO CRISTÃO PARA O SUICÍDIO
3.1 O posicionamento teológico.
A fundamentação bíblica do cristão contra o suicídio encontra-se no sexto mandamento do Decálogo: "não matarás". O preceito que nega ao ser humano tirar a vida de outro ser humano, também o proíbe de “assassinar” a si mesmo. (Êxodo 20.13; Deuteronômio 5.17).
A razão pela qual o suicídio é considerado uma violação da vontade de Deus, é que Ele é o Criador e Sustentador da vida. O suicida rejeita a soberania de Deus e usurpa sua prerrogativa em relação à vida e à morte (Jó 12:10). Somos produtos das mãos do Criador, portanto, a vida humana pertence a Deus (Salmo 100.3). Cabe ao Criador determinar o tempo de nascer e o tempo de morrer. Somente a Ele é cabível decidir quando e como a vida deve cessar, seja por doença, velhice ou acidente. (Eclesiastes 3.2).
Ao longo da História da Igreja, o suicídio sempre foi visto como um pecado grave. Houve a diferenciação do suicido com outros pecados, destacando-o como o pecado que não permite ao pecador arrepender-se por tê-lo cometido. Assim, no passado era costume da igreja negar o cerimonial de enterro aos cadáveres indicados como alguém suicida.
3.2 O posicionamento ético.
A posição da Ética Cristã é contrária ao suicídio pelos seguintes e principais motivos:
Suicidar-se denota inversão dos valores da vida e falta de confiança em Deus, o suicídio é um gesto de ingratidão que interrompe o ciclo e a missão da vida outorgada por Deus.
Falha por não reconhecer a natureza antinatural da morte (Romanos. 5.12; 1 Coríntios 15.26; 1 Tessalonicenses 4.13-18).
O suicida desconsidera ser criado à imagem e semelhança de Deus, não considera a santidade da vida humana O suicídio implica banalizar a vida que Deus criou (Gênesis 1.26–27; 9.5–6).
O suicídio é uma má administração do corpo. Suicidar-se demonstra amor mal direcionado e é prejudicial para os outros. O ato suicida viola o mandamento de amar “o próximo como a si mesmo” (Mateus 22.36-39; 1 Coríntios 6.19-20, Efésios 5.29).
O suicídio é um ato egoísta de quem pensa em aliviar seu sofrimento sem se importar com os outros; a pessoa que comete suicídio ignora o sofrimento humano do próximo, de seus pais, irmãos e amigos (Romanos 5.3-5; 8.28; 2 Coríntios 4.17-18; 12.10).
Em face dessa situação lamentável na existência de alguns, a Igreja deve estar disposta a ajudar. Aos cristãos é necessário discernir a condição da pessoa que tem a predisposição ao suicídio.
Alguns sinais da iminente tragédia, são: falar em suicídio de maneira romântica; declarar não ter esperança, dizer ou realmente estar desamparado, descrever-se como pessoa inútil; perda de interesse em coisas materiais; abandono de bens materiais; felicidade súbita seguida pela demonstração de apatia ao visitar entes queridos. Atenção: tais características podem ocorrer em pessoas que não estão propensas ao suicídio.
CONCLUSÃO
Como Igreja de Deus, o cristão é convocado a militar pela vida, levar esperança às pessoas angustiadas. Perante um potencial suicida, é importante persuadi-lo a buscar ajuda e a companhia de parentes e amigos. Assim que houver suspeita, é necessário conduzir o mesmo ao envolvimento com grupos de apoio, sendo que os principais são os familiares que, comprovadamente, o amam e a coletividade da estrutura eclesiástica, voltada ao ministério de socorro aos aflitos.
Os problemas éticos são desafios gigantescos à igreja do Senhor. Por este motivo é necessário sempre buscar maior conhecimento bíblico a respeito do tema. Estar disposto a orar no sentido de estar capacitado a contribuir com ações consistentes. E assim, tornar-se apto a vencer este problema social, tão inquietante até aos servos de Deus.
E.A.G.
Compilações:
Geração JC, ano 27, número 118, páginas 13 e 14
Guia Fácil para Entender a Bíblial. Larry Richards, página 74 e 75, edição 2013, Rio de Janeiro (Thomas Nelson Brasil).
Lições Bíblicas Adulto. Valores Cristãos - Enfrentando as Questões Morais de Nosso Tempo, Douglas Baptista, lição 6 - Ética Cristã, Pena de Morte e Eutanásia, 2º trimestre de 2018.
Lições Bíblicas Adulto. Ética Cristã - Confrontando as questões morais. Lição 9: O cristão e eutanásia e o suicídio, Elinaldo Renovato de Lima, 3º trimestre de 2002.
Quem é Quem na Bíblia Sagrada, editado por Paul Gardner, 19ª reimpressão 2015, páginas 580 e 581, São Paulo (Editora Vida).