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domingo, 17 de novembro de 2019

O Exílio de Davi

O povo de Israel passava por dias complicados. Davi, após ter sido ungido a rei, ser um servo de Deus, havia se exilado, pois Saul, dominado por sentimentos negativos queria matá-lo. O exílio de Davi, relatado em 1 Samuel 22.1-5, remete o cristão para a realidade de inúmeras situações difíceis que o seguidor de Jesus pode ser acometido. Este episódio faz com que entendamos que a permissão do Senhor, para que o crente vivencie o sofrimento, tem o objetivo de fazer com que este crente esteja, futuramente, apto para assumir missões que jamais teria competência para exercê-la se não experimentasse o tempo da provação.

A caverna de Adulão. 

A caverna de Adulão foi uma bênção para Davi e os homens que ali se encontravam. Buscando ficar fora do alcance e da vista de Saul, Davi refugiou-se em uma caverna na cidade canaanita chamada Adulão, no território de Judá, a meio caminho entre Jerusalém e Laquis. A cidade foi fortificada por Reboão visando dificultar o ataque dos egípcios (2 Crônicas 11.7); os judeus a habitaram após o exílio (Neemias 11.30).

Os Salmos 57 e 142 dão uma ideia do estado flutuante das emoções de Davi durante sua provação. As duas poesias abordam o período em que se escondeu na Caverna de Adulão. No Salmo 57, ele se mostra corajoso, animado, quase parece gostar da situação por causa da certeza do seu resultado vitorioso. No Salmo 142, deixa transparecer a tensão que há em sua alma por ser odiado e estar caçado, porém, continua reverente ao Senhor.

Compreendemos por meio de suas palavras que sua fé o sustenta, embora esticada até seu limite. Ao invés de se acovardar, por causa do círculo do inimigo que deseja seu mal, reconhece que está em vantagem contra eles, pois conhece o poder do Altíssimo, que o protege e lhe dá estratégias eficazes (1 Samuel 24.1-15).

O arqueólogo francês Charles Clermont-Ganneau visitou o local em 1874 e escreveu: "O local é absolutamente desabitado, exceto durante a estação chuvosa, quando os pastores se abrigam lá durante a noite". Na atualidade, o lugar é identificado como Ai el Ma e Tell esh-Sheikh Madhkur.

Uma entrada de caverna em Adulão.  Crédito: David Bena. 29 de dezembro de 2014.
 https://en.wikipedia.org/wiki/Adullam 

Os exilados da caverna de Adulão.

Haviam 37 guerreiros valentes em Adulão, segundo a lista em 2 Samuel 23.8-39, porém em 1 Crônicas 11.11-41, o número de homens chega a 53. Os relatos de suas façanhas encontram-se nestas referências bíblicas.

Cavernas naturais não são uma raridade nas regiões de Israel e da Palestina, visto que toda a região montanhosa a oeste do Jordão, excetuando um trecho de basalto ao sul da Galileia se compõe de pedra calcária e de giz. Tais cavernas eram usadas como habitações, esconderijos, túmulos.
• Abraão e sua família tiveram seus corpos sepultados em cavernas de Macpela (Gênesis 23).
• Lázaro ficou quatro dias dentro de uma caverna até ser ressuscitado por Jesus (João 11.38);
• Ló e suas filhas abrigaram-se em uma caverna após a destruição de Sodoma (Gênesis 19.30);
• Josué encurralou cinco reis, que se esconderam em uma caverna em Maquedá (Josué 10.16);
• Israelitas se esconderam de midianitas em cavernas (Juízes 6.2);
• Obadias escondeu de Jezabel 100 profetas em cavernas (1 Reis 18.4,13).
Juntaram-se a Davi três classes de pessoas: aqueles que se achavam em aperto, apuro, dificuldade ou perseguição. aqueles que deviam dinheiro a juros; e homens amargurados. Os amargurados eram considerados fora da lei e estavam insatisfeitos com o governo de Saul. E por se identificarem com a situação de Davi, perseguido por Saul, se uniram a ele formando um exército sob sua liderança.

O pequeno exército de homens fiéis a Davi combatiam tribos selvagens que exploravam os fazendeiros, protegendo-os de muitos perigos. Em troca, os protegidos de Davi separavam uma parte de seu lucro aos seus protetores. Um desses fazendeiros que receberam proteção era Nabal, marido de Abgail, que, não soube ser grato ao auxílio recebido (1 Samuel 25.32).

Há um propósito elevado quando Deus nos "exila."

"A seguir, Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo" (Mateus 4.1).

Há um grande benefício em servir a Deus, em circunstâncias de adversidades e de bonança. Na geração do profeta Malaquias, o povo se queixava amargamente dizendo que não via nenhuma consequência proveitosa em servir ao Senhor, posto que - acreditavam eles -, não recebiam nenhuma recompensa especial. 

Em sua resposta, Deus não quis convencê-los de que os justos estavam em melhor situação. Disse-lhes que conserva um "memorial escrito" no qual Ele anota os feitos de todos que o temem, e que um dia virá como juiz para destruir os maus e preservar os que o temem. A fidelidade tem sua relevância, seu valor será óbvio neste momento de prestação de contas, embora não o seja para muitos nos dias atuais (Malaquias 3.1,14,16).

A fidelidade é o segredo para reinarmos com Cristo.

"Se perseveramos, também com ele reinaremos; se o negamos, ele, por sua vez, nos negará" (2 Timóteo 2.12).

Toda provação tem a permissão de Deus (Gênesis 22.1). Tiago 1.12 revela que o crente será provado durante toda a sua vida, o crente é um bem-aventurado ao não desistir da sua fé durante as provações e quando provado e aprovado receberá a recompensa da vida eterna.

Ser cristão não nos isenta de sofrimentos e provações (João 16.33; Atos 14.22; Tiago 1.1-11). Todo cristão passa por adversidade de várias formas e intensidades (1 Pedro 1.6). Em meio aos tempos adversos, o crente pode encontrar alegria, pois a sua fé sustenta-o com a consciência que o Todo Poderoso o ama e é fiel, não permite que sobrevenha sobre ele lutas maiores do que sua capacidade de suportá-las e vencê-las (Hebreus 12.2; 1 Coríntios 10.13).

Por estar escrevendo a um amigo que o conhecia muito bem, Paulo sentiu necessidade de aconselhar Timóteo a ser perseverante, para isso fez a comparação do cristão com o serviço militar (2.3-2) e com o trabalho da lavoura (2.4). Ele o aconselha e pede que reflita sobre os aconselhamentos. Na ocasião, o apóstolo estava perfeitamente cônscio  das ameaças e perigos que pesavam sobre sua vida, e queria que Timóteo se exercitasse, preparando-se para qualquer dificuldade que tivesse no futuro. E de fato Timóteo sofreu grande perseguição e chegou a ser preso também, porém, o escritor do Livro aos Hebreus, no capítulo 13 e versículo 23, revela que ele foi posto em liberdade.

Na obra de Cristo, lutemos por Cristo.

"Não façam nada por interesse pessoal ou vaidade, mas por humildade, cada um considerando os outros superiores a si mesmo, não tendo em vista somente os seus próprios interesses, mas também os dos outros" (Filipenses 2.3-4).

Paulo estava preso por amor ao Evangelho quando escreveu a carta aos crentes de Filipos. Apesar da liberdade restringida, ressoa por toda a carta uma mensagem repleta de alegria. A alegria é tema mencionado dezoito vezes, a despeito das provações do apóstolo e das dificuldades que a igreja enfrentava (1.27-30). Em cárcere, Paulo demonstrava querer cuidar dos interesses de Cristo e não de seus interesses pessoais (Filipenses 2.21). Paulo estava preso por amor ao Evangelho quando escreveu a carta, corria o risco de ser sacrificado, porém, se isso servisse para edificar os irmãos em sua fé, não seria um fato entristecedor.

O cristão deve analisar o tempo da adversidade e entender que a caminhada cristã é uma situação em desenvolvimento no viver diário dos crentes, as lutas que enfrenta não podem se constituir em fator desanimador. Pois, todos os acontecimentos devem ser vistos como oportunidades de crescimento espiritual. Deus cuida de seus filhos e não os abandona jamais.

Os filhos devem cuidar dos pais em todos os momentos.

"Herança do SENHOR são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão"(Salmos 127.3).

Honrar os pais é mandamento da Palavra de Deus (Êxodo 20.12). No meio de toda aflição que estava passando, Davi cuidou especialmente de seus pais, deu-lhes amparo e proteção, pois não poderia jamais deixá-los ao alcance das mãos de Saul. Ele solicita ao rei de Moabe que conceda abrigo a eles. Talvez lembrando-se que Rute, bisavó de Davi, era moabita e sendo Saul inimigo de Moabe, o rei aceitou o pedido (Rute 4.17). Moabe era um país situado ao sul de Amon, a sudeste do Mar Morto, na Transjordânia. A região foi destinada por Deus aos descendentes de Moabe, filho de Ló (Gênesis 19.37).

O conselho dos pais quando são mais do que meros "não faça isso, não faça aquilo", mas orientações cuja base é a Palavra de Deus, têm potencial para desenvolver o amor pelas melhores coisas da vida. Este amor pelas melhores coisas, especialmente pelo conhecimento da vontade de Deus, começa quando alguém presta atenção aos conselhos dos servos do Senhor. Isto pode ocorrer na relação familiar, dos pais aos filhos. Quando as instruções começam a ser recebidas no período infantil, o amor pela sabedoria do alto se transforma numa busca de toda a vida, podendo tornar o filho até mais sábio que seu pai. Tal condição privilegiada faz com que a criança cresça e tenha a consciência lúcida para entender perfeitamente que precisa amar seus pais, e principalmente saber e ter disposição para cuidar muito bem deles no período da velhice avançada.

Deus sempre abençoa os filhos obedientes.

"Honre o seu pai e a sua mãe, para que você tenha uma longa vida na terra que o SENHOR, seu Deus, lhe dá." (Êxodo 20.12).

Os Dez Mandamentos, que aparecem no capítulo 20 de Êxodo e em Deuteronômio 5, formam o núcleo central da moralidade e da ética; e são um grande avanço sobre outros códigos legais da época. O Novo Testamento repete todos eles, à exceção do quarto mandamento. A expressão "ética judaico cristã", que às vezes se ouve nas cortes e nas câmaras legislativas, refere-se aos amplos princípios morais que são derivados das leis delineadas em Êxodo, Números, Deuteronômio e Josué.

Os cristãos devem honrar os que são colocados por Deus na obra.

"Lembrem-se dos seus líderes, os quais pregaram a palavra de Deus a vocês; e, considerando atentamente o fim da vida deles, imitem a fé que tiveram" (Hebreus 13.7).

Em seu formato, Hebreus é mais um livro de ensino teológico do que voltado para orientações da prática cristã, aos deveres espirituais do cristão neste mundo. Mas no décimo terceiro capítulo, o autor reúne uma lista de sugestões e recomendações específicas, dedica-se aos conselhos para a jornada de fé. Entre as orientações contidas no último capítulo, observa que visto que Cristo já cumpriu tudo o que era necessário para a nossa salvação, em gratidão ao Senhor devemos oferecer-lhe sacrifícios de louvor, que é confessar ao mundo a autoridade que há em seu nome (versículo 15).

O autor de Hebreus, em 13.1-25, encerra o livro exortando os leitores para uma vida de bom testemunho cristão. Alguém disse com bastante propriedade que "testemunhar não é algo que fazemos; é algo que somos". Nesta linha de raciocínio, o autor de Hebreus mostra que é preciso anunciar ao mundo a nossa crença no Altíssimo através do nosso comportamento, pois se o que falamos estiver em desarmonia com as atitudes, a pregação torna-se em sal insípido e luz apagada. Billy Graham certa vez disse que "a maior necessidade do mundo hoje é de cristãos com maturidade espiritual, que não somente tenham professado sua fé em Cristo, mas que vivam essa fé a cada dia".

Ainda, como um pastor que cuida do seu rebanho, o autor de Hebreus apresenta uma bênção (13.20-21). Esta bênção revela alguns dos muitos privilégios que temos como cristãos: nós temos o Deus da paz; nós temos um pastor grande e imortal; nós vivemos sob uma nova aliança; nós somos aperfeiçoados por Deus para cumprirmos a sua vontade; nós temos um Deus que opera em nós para vivermos de forma agradável em sua presença e para a sua glória. 


Artigo em desenvolvimento.

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

A Instituição da Monarquia em Israel

Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO

Ao final do ministério de Samuel, os israelitas rejeitaram os filhos dele como juízes e pediram um governante. O pedido precipitado dos israelitas fez com que Saul se tornasse o primeiro rei de Israel. Ao passar do tempo, Saul mostrou que tinha mais aparência do que conteúdo. Seu reinado trouxe graves consequências espirituais para a nação dos judeus.

Os israelitas pediram o monarca, mas quem escolheu quem seria este monarca foi Deus, que revelou a Samuel que no dia seguinte ele encontraria a pessoa que deveria ungir ao reinado (1 Samuel 9.15-16).

I - POR QUE A MONARQUIA

1. Um sentimento de orgulho nacional (1 Samuel 8.4,5).

Deus sabia que o desejo de Israel por um rei baseava-se em sua confiança na força humana, em vez de confiar no poder divino.

O povo falhou em compreender que somente Deus era seu Rei, e que sua desobediência ao Senhor era a razão de seus problemas.

2. O fracasso dos filhos de Samuel.

Samuel foi um juiz excepcional sobre Israel. Quando chegou o momento de Samuel se aposentar, os israelitas rejeitaram veementemente Joel e Abias, seus filhos, quando os escolheu ao ofício de juízes, tornando-os seus sucessores, pelo fato de que eles se achavam corrompidos e inadequados para conduzir a nação.

O paralelo comportamental entre os filhos de Eli e de Samuel é surpreendente. Os filhos de Samuel cometeram impiedades parecidas, usaram os cargos que ocupavam e a sua autoridade em benefício próprio, algo especificamente proibido pela Lei (Êxodo 23.8; Deuteronômio 16.19).

Na verdade, o fracasso dos filhos de Samuel é consequência do fracasso do próprio Samuel e sua esposa como pais. Como pais cristãos, temos uma grande responsabilidade no destino dos nossos filhos. É preciso compreender que falhar em educá-los de acordo com os preceitos do Senhor pode  trazer como resultado grande impiedade.

Como cristão, dedique seus filhos ao Senhor, sem esquecer que eles são herança e bênção. Ofereça-os ao Senhor para que o Pai celeste cumpra os seus propósitos através deles e continue a treiná-los para que frutifiquem em vida piedosa. A educação cristã só termina quando os filhos tornam-se independentes e constituem suas próprias famílias.

2.1 Os anciãos na Bíblia.

Quando os israelitas se opuseram à vontade de Samuel em tornar seus filhos os seus sucessores, os anciãos, agindo como representantes do povo, procuraram Samuel e lhe disseram que os israelitas não queriam tê-los como juízes de Israel.

Nas páginas bíblicas, frequentemente, o termo ancião indica uma função e nem sempre a idade avançada de quem a exerce. Por este motivo, algumas traduções bíblicas vertem o vocábulo hebraico por "chefe", "responsável" etc. No Antigo Testamento, os anciãos eram os chefes das famílias e dos grupos de famílias que formavam as tribos. Os anciãos de uma mesma cidade formavam um conselho responsável que dirigia a cidade e administrava a justiça. Eram guardiões da tradição. No Novo Testamento, os Evangelhos  mostram os anciãos como pessoas responsáveis por tarefas  de responsabilidade na comunidade hebraica; nos Atos dos Apóstolos e em algumas Cartas, são cristãos com algumas responsabilidade na comunidade local; e no Apocalipse, 23 anciãos fazem parte de uma corte, no céu, talvez como representantes do povo de Deus.

3. Rejeitando os planos de Deus (1 Samuel 10.6,7).

Era da vontade de Deus que Israel tivesse um rei? Estava claro em Israel que Deus pretendia que o povo tivesse um rei. Profecias do tempo de Moisés indicam que sim (Gênesis 49.10; Números 24.17; Deuteronômio 17.14-20).

Quando a nação israelita firmou-se na terra que mana leite e mel, Deus foi entronizado como o verdadeiro Rei de Israel, mas, em Gênesis 49.10 há a informação que a dinastia real viria da tribo de Judá. Porém, nos dias de Samuel, a reivindicação para que a instituição do regime monárquico substituísse o teocrático tinha motivação em desacordo com os preceitos divinos. A atitude de desaprovação de Deus estava relacionada ao fato de Israel desviar seus olhos e passar a olhar as nações em volta deles. Em vez de segui-lo, os israelitas cederam à pressão social, alimentaram o desejo de ser "como as outras nações" (8.20).

Israel fez pouco caso da situação privilegiada de ter Deus como o seu único Rei, pediu um rei na ocasião errada e com motivos impróprios, com base na aparência humana e dados superficiais. Contudo, em resposta a esse pedido Deus escolheu um rei para o povo, pois estava dentro da sua vontade permissiva.

Os anciãos erraram ao não reconhecerem Deus como seu verdadeiro Rei (8.7; 12.12). São apresentadas três razões para o pedido dos anciãos:
• o desejo deles de se conformarem ao padrão de outras nações. Como as outras nações tinham reis que se vestiam e se exibiam como pavões, ostentando uma coroa na cabeça, os israelitas pareciam querer se transformarem em súditos de alguém com este perfil.
• a corrupção dos filhos de Samuel;
• a necessidade de um comandante militar (1 Samuel 8.30).
II - A ESCOLHA DE SAUL COMO REI

1. Por que Saul?

O pai de Saul, Quis, que era um cidadão de destaque; a lista detalhada dos antepassados de Saul indica que ele pertencia a uma família ilustre (Mateus 1.1-17). Saul tinha a imagem perfeita de um líder político, era o homem mais alto e mais bonito de Israel (9.2; 10.3). Mas apenas possuir boa aparência e bom nome não era o bastante para ser um bom governante. Para ser líder eficaz não é suficiente ter formosura e uma família admirável.

Reflitamos sobre o grau de dependência que temos do Senhor. A vida cristã passa pela tomada de decisões. Para tomar quaisquer decisões o crente deve pedir orientação de Deus, tomá-las sem buscar a direção pode trazer grandes prejuízos.

No começo, tudo parecia ir muito bem, o profeta Samuel fez um um belo discurso de posse. Sob o governo de Saul, Israel venceu uma batalha contra a importante nação de Amom.

2. A unção de Saul por Samuel (1 Samuel 10.1).

No Antigo Testamento, a unção, ao mesmo tempo que estabelecia um vínculo particular entre Deus e a pessoa ungida, o ato de ungir significava dedicar, declarar, consagrar formalmente alguém para o desempenho de uma vocação, cargo, ofício ou uma função (Levítico 8.12). Era um ato realizado pelo sacerdote. Primeiramente privativo, depois seguido de atos públicos de reconhecimento. É comparado hoje com o chamado de Deus por meio do seu Espírito a alguém e à consagração por meio de envio ou ordenação de um ofício.

Encontramos no capítulo 10 e versículo 1 o primeiro registro de uma unção com azeite fora da unção dos sacerdotes e do santuário. Neste texto, está registrado o trato de Deus com a monarquia em equivalência com o sacerdócio.

Enquanto Saul  confiasse no poder de Deus, ele seria capaz de governar com sabedoria. Quando o Espírito do Senhor o dominou, ele se tornou "um novo homem" (10.6). Isto é, enquanto ele escolhia obedecer, o Espírito era operante em sua vida e fazia dele um poderoso servo de Deus. Quando Saul foi coroado rei, Samuel  lembrou que Israel seria uma nação feliz e próspera, de fato isso aconteceu, porém, o apogeu da prosperidade se deu nos reinados de Davi e Salomão.

O Espírito do Senhor veio sobre diversas pessoas no Antigo Testamento, conforme o relato ocorrido com Saul. Podemos ler sobre ocorrências semelhantes em Juízes 3.10; 6.4; 11.29; 13.25; 1 Samuel 16.13; 1 Crônicas 12.18. O Espírito também estava em algumas pessoas (Números 27.18; Daniel 4.8; 6.3; 1 Pedro 1.1) e encheu alguns dos servos de Deus a fim de que realizassem serviços específicos (Êxodo 31.3; 35.31).

3. Os sinais de confirmação da unção (1 Samuel 10.2-7).

Na Antiga Aliança, a manifestação do Espírito era "com" os servos de Deus, em contraste com o relacionamento do Senhor junto aos crentes da Nova Aliança, agora, a partir do dia do Pentecoste, o Espírito faz de nós a sua habitação permanente (João 14.17). Não é necessário o derramamento de azeite para difundir a Palavra ao pecadores, para a separação ode obreiros ao ministério basta a imposição de mãos do presbítero (1 Timóteo 4.14; 2 Timóteo 1.6).

Nas Escrituras Sagradas, o azeite simboliza o Espírito Santo. A unção envolvia uma consagração ou separação para o serviço. Era um ato religioso que estabelecia um relacionamento especial entre Deus e o rei, que servia como seu representante e líder do povo. Quando Samuel ungiu Saul como rei, Deus passou a ser com ele, mas a habilidade para governar bem, dependia da sua tomada de decisão neste sentido (versículo 7).

Jesus, como Rei do universo, subjuga a todos sob o seu governo, que provê libertação da opressão do pecado. Lucas (4.18,19) relata o comprimento da profecia de Isaías (61.1-2) na vida de Cristo. Jesus foi à sinagoga e diante das pessoas presentes leu em voz alta o texto escrito pelo profeta Isaías a respeito de sua vinda e missão. O texto diz que Deus ungiu a Jesus para evangelizar os pobres, libertar os cativos e apregoar o ano aceitável do Senhor, que era o Ano do Jubileu, o tempo que os judeus deveriam cancelar dívidas e libertar escravos (Levíticos 25.8-55).

O cristão tem a unção do Espírito e a mesma missão do Senhor (1 João 2.20). É necessário assumir a chamada de Deus e cumprir a vocação espiritual que há em nós (Efésios 1.5-8). Fazemos bem ao reconhecer a unção espiritual sobre nós e imitar a Cristo, no sentido de transformar o conteúdo de Isaías 61.1-2 na essência da nossa atividade cristã, pois Jesus disse "aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará" (João 14.12).

Alimentar-se da Palavra é o segredo para o sucesso espiritual: "Não cesse de falar deste Livro da Lei; pelo contrário, medite nele dia e noite, para que você tenha o cuidado de fazer segundo tudo o que nele está escrito; então você prosperará e será bem-sucedido" (Josué 1.8). 

III - O REI QUE O POVO ESCOLHEU

1. Uma escolha pautada na aparência? 

No princípio, o povo de Israel não entendeu bem o que significava ter um rei. Tanto o rei como o povo, deveriam viver debaixo da autoridade e do julgamento de Deus (1 Samuel 2.7-10).

A história de Israel demonstra que nosso desejo de imitar o mundo pode parecer justo, mas o resultado final é sempre desastroso. Os relatos registrados nos livros 1 e 2  Reis mostram que o sucesso de qualquer rei, e da nação israelita inteira, sempre dependia da medida de fidelidade à Lei de Deus; o fracasso dos reis sempre resultou em quedas sucessivas, e, por fim, arrastava os judeus ao cativeiro em territórios gentílicos.

Deus é quem escolhe a liderança de sua igreja, o cristão deve estar submisso nesta situação (Números 27.15-18; Mateus 9.38; Lucas 10.2). Em um mundo onde  todos estão  constantemente ocupados, a reclusão periódica para a oração é essencial durante a caminhada cristã, para todos os crentes (Lucas 5.16; Efésios 6.18). Para ser cristão autêntico é necessário assumir as mesmas posturas de Cristo. Na Galileia, quando Jesus olhou para a multidão sofrida, comparou o povo como ovelhas que não tinha pastor. Ele reuniu os doze discípulos e os fez saber que a liderança cristã deve ser escolhida tendo como base a oração, tal ensino foi transmitido com seu próprio exemplo, ao escolhê-los em oração e orientando-os a rogar a Deus sobre a necessidade de trazer trabalhadores para a seara (Lucas 6.12-14; Mateus 9.37,38).

2. Os direitos do novo rei.

O direito do reino foi estabelecido em Israel, havendo a exigência que o rei fosse um homem hebreu (Deuteronômio 17.14-15).

Apesar das advertências de Deus sobre haver um rei em Israel naquele tempo, o povo permaneceu com a ideia fixa sobre isso. O Senhor revelou a Samuel acerca das desvantagens do regime monárquico, e Samuel advertiu o povo  enumerando os privilégios e direitos do rei sobre os demais israelitas, descrevendo o abuso de poder sobre a vida, a produção e o trabalho dos cidadãos  (1 Samuel 8.10-18):
• recrutamento de rapazes e moças (versículo 11 a 13);
• alienação dos bens, a apropriação de servos e de animais (versículos 15 e 16);
• perda da liberdade individual (17 b). 
Fora do momento determinado por Deus, os israelitas buscavam um governo que propiciasse segurança, mas eram avisados por Samuel que, naquela circunstância o rei que deveria propiciar apenas bem-estar também provocaria opressão a ponto de chegar um momento quem eles clamariam por misericórdia, mas não seriam atendidos prontamente em seus clamores (versículo 18). Apesar dos pesares, os direitos de todo o povo, ricos e pobres, eram garantidos pelas leis de Deus.

3. O novo sistema político e o aspecto teológico.

Os cristãos devem saber se conduzir em relação à lei civil e à aliança que tem com Deus. É necessário aprender a relacionar-se de forma apropriada com as autoridades ordenadas por Deus. Saber tais princípios é uma parte importante da caminhada cristã, revela o nível da nossa maturidade espiritual.

Muitas vezes, a natureza pecaminosa que há em nós tenta sobrepôr nossa natureza renascida em Cristo. Por estar em constante  rebelião contra Deus, cria situações conflituosas de relacionamento com as autoridades constituídas. Precisamos de muito cuidado nesta questão, para não esquecer de usar a disciplina exposta na Palavra do Senhor, com vista a ter uma vida social calma e sossegada (1 Pedro 2.13-17).

Como crentes em Deus, é preciso entender que a sujeição que o Senhor pede de nós não tem como objetivo apenas evitar a punição, mas para nos manter em condições de influenciar a sociedade propagando a fé cristã em nossa geração.

Respeite as autoridades designadas por Deus, mas não dê mais honras a elas do que a Deus ou a sua Palavra. O cristão deve obedecer as leis civis, mas somente após constatar que não contrariam os ensinos das Escrituras Sagradas. Quando honramos mais as leis criadas pelos homens do que a lei de Cristo, quando damos maior valor ao governo humano, deixamos de honrar o Senhor dos senhores e praticamos idolatria.

CONCLUSÃO

A humanidade está ameaçada pelo maligno e escravizada pelo pecado. Jesus veio ao mundo para libertar o homem oprimido. Jesus trouxe o reino de Deus e a oportunidade de libertação às almas através do sacrifício vicário. É o reino de amor, de graça, de vida, de luz e salvação. Todo aquele que cumpre seus mandamentos faz parte da monarquia do Rei dos reis e Senhor dos senhores, foi salvo do cerco de Satanás e está livre do mal.

Se você deseja ser usado por Deus, o que vê como a fonte de seu grande sucesso? Confia demais em sua força humana ou duvida por causa de sua fraqueza humana? Lembre-se: não podemos perder de vista que o Pai, por meio da intermediação de Jesus, é quem governa a nossa vida, somente o poder de Deus pode fazer-nos realmente úteis ao serviço de seu reino, portanto, a nossa vontade e escolhas precisam sempre estar bem alinhadas com a vontade de Deus.

E.A.G.

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

A Chamada Profética de Samuel

Por Eliseu Antonio Gomes

INTRODUÇÃO


O terceiro capítulo de 1 Samuel traz ao leitor da Bíblia o início da carreira ministerial na vida de Samuel, que viveu no decorrer dos últimos dias dos juízes, durante o fracasso do sacerdócio sob o comando de Eli, e no início do regime monárquico do governo desastrado sob o comando de Saul. 

I - DEFININDO O "PROFETA" EM ISRAEL

1. A menção de "profeta" no livro.

A primeira menção do ofício de "profeta" registrada nos livros de Samuel,  embora o termo profeta não esteja escrito, é feita em 1 Samuel 2.27-36. Trata-se de "um homem de Deus" que a Bíblia não revela seu nome. Este homem não identificado é usado por Deus para repreender Eli como sumo sacerdote e pai.

Os filhos de Eli, Hofni e Fineias, serviam como sacerdotes em Siló, mas tratavam as ofertas a Deus com desprezo e tinham relações com mulheres à porta da entrada da Tenda da Congregação. Estas mulheres, possivelmente, eram dedicadas ao serviço religioso, conforme determinava Êxodo 38.8).

Hofni e Fineias ignoraram as advertências de Eli. Mas Eli não tomou as devidas providências por eles não terem acatado suas repreensões. Assim, por Eli honrar mais aos seus dois filhos do que ao Todo Poderoso, p juízo divino veio sobre sua casa, seus dois filhos foram mortos no dia em que os filisteus capturaram a arca da aliança. Quando Eli soube da morte dos filhos e que a arca havia sido capturada, caiu da sua cadeira para trás, e quebrou o pescoço e morreu. A tragédia alcançou a esposa de Fineias, que em estado de gravidez deu à luz um menino e em seguida faleceu (1 Samuel 1.3,9-18,24-27; 2.11-3.18; 4.1-22; 14.3; 1 Reis 2.27).

Deus sempre apresenta uma pessoa específica para quando é necessário tomar a frente de uma missão especial. Ele usa homens para advertir, repreender, julgar e intervir nos rumos equivocados da humanidade. Moisés e Samuel são bons exemplos disso (Deuteronômio 33.1).

Depois da morte de Eli e seus filhos, Samuel se tornou o líder de Israel. Clamou ao Senhor em Mispa e Deus libertou os israelitas dos filisteus. Por toda a sua vida, Samuel percorreu Betel, Gilgal, Mispa e sua terra natal Ramá, proferindo julgamentos, governando e liderando Israel em atos de adoração.

2. Definição de profeta.

No hebraico, "nabi" tem  sentido primário de apontar alguém que declara algo. No contexto bíblico, descreve aquele que recebeu por revelação direta de Deus suas palavras para proclamar  ao povo. Este termo aparece mais de trezentas vezes nas páginas do Antigo Testamento. Entre tantas citações, podemos vê-la em Gênesis 20.7; Números 12.6; 1 Samuel 3.20; 1 Reis 1.8; Salmos 74.9; Jeremias 1.5.

Observa-se em narrativas do Antigo Testamento que o profeta era um homem usado por Deus, alguém que mantinha comunicação com o Espírito do Senhor e recebia dEle visões, previsões, prognósticos, predições e posteriormente transmitia as revelações que via. Era o indivíduo que dirigia-se ao Senhor por meio de súplicas, enfatizando à justiça e ao direito, é quem realizava milagres, pronunciava julgamentos por meio de atos simbólicos. Vivia controlado pelo sobrenatural divino, por isto era chamado de "vidente". Ezequiel é um dos profetas apresentado nas Escrituras como um homem de grandes visões (Ezequiel 1.1).

A palavra vidente no hebraico é "ro'eh" e "hozed", que quer dizer "aquele que vê, que percebe, tem visão". E "profeta é um termo associado à palavra falada, à oralidade. O vocábulo "profeta" em hebraico é "nabi".  Etimologicamente, a definição de "nabi" é incerta, mas, diversos significados lhe são atribuídos, entre os quais, "chamado por Deus" e "orador". Porém, a maioria dos estudiosos trata a palavra "profeta" com o sentido de "porta-voz". Deuteronômio 18.15-22 é a passagem que apresenta o padrão que define a função do profeta. As atividades de Moisés preparando o povo israelita para entrar em Canaã é um exemplo essencial que define o papel do profeta.

No ato de profetizar, o profeta comunica aquilo que Deus realmente deseja falar, é o elo entre Deus e os ouvintes, e nesta condição faz com que quem o ouve entenda perfeitamente qual é a intenção e o sentido da mensagem que Deus quer que seja entregue. Esta mensagem sempre tem a finalidade de conclamar o povo à santidade e obediência, que resulta em comprometimento e adoração.

2.1 - O profeta como atalaia.

O profetismo foi um movimento usado por Deus com o objetivo de incentivar, renovar a comunhão do povo com Ele. O profeta do Antigo Testamento era visto como atalaia e pastor (Jeremias 6.16; Ezequiel 3.17), a pessoa escolhida por Deus para trazer assuntos cuja origem era divina.

No contexto do Antigo Testamento, "atalaia" tem o significado de “sentinela”, “guarda” ou “vigia”. O dever do atalaia era manter-se em prontidão, prestar atenção em tudo, vigiar com máxima atenção, com a intenção manter a segurança e o bem-estar de todos. Para isso ele espiava, tinha olhos treinados para observar ao redor e assim saber de tudo o que se passava dentro do ambiente em que era designado a proteger. O sentinela era responsável pela segurança de acampamentos e do povo hebreu, faziam rondas pelas ruas da cidade como força policial, se mantinham em posto fixo sobre os muros e torres das cidades fortificadas (2 Samuel 18.24; 2 Reis 9.17-20; Isaías 62.6; Cantares 3.3 e 5.7).

Seu dever era descobrir o momento em que o inimigo chegasse, sua obrigação era alertar a todos para não não fossem pegos de surpresa. Se o seu alerta não fosse levado a sério e o inimigo atacasse, Deus não cobraria dele as mortes, mas se o atalaia percebesse o movimento de ataque e não alertasse, e o inimigo viesse e causasse mortes, Deus cobraria deles todo sangue que fosse derramado e toda vida que fosse ceifada.

3. Samuel e os demais profetas.

Sempre houve em Ana, a mãe de Samuel, um cuidado especial para que seu filho estivesse envolvido com a obra de Deus. Ela orou por ele e o entregou aos cuidados de Eli. Este, observando a dedicação de Ana, orou por ela, rogando a Deus a bênção para a sua casa (1 Samuel 2.20, 21).

Nos dias de Samuel, quase todos os hebreus estavam envolvidos com práticas que se consistiam em pecado, e por este motivo a manifestação do Senhor por meio da Palavra das visões estavam escassas. Neste cenário, Samuel destaca-se em sua geração como um grande profeta, desde Dã até Berseba, porque o Senhor confirmava o seu ministério profético. Por meio de Samuel surgiu um novo ânimo e o despertamento espiritual em Israel (1 Samuel 3.1,19,20).

O profeta autêntico é inspirado pelo Espírito Santo, recebe mensagens por meio de visões e revelações (Números 11.17-25; 1 Pedro 1.21). Os livros do Antigo Testamento nos mostram que, além de receberem inspiração divina para revelar o que Deus queria comunicar para a nação israelita, muitos profetas guiavam e orientavam os reis em suas decisões, e estes eram intitulados "profetas da corte" e "estadistas", e por transmitirem exatamente o que o Senhor desejava expressar, muitas vezes foram perseguidos e mortos, porque a Palavra do Senhor que transmitiam não dizia o que os ouvintes gostariam de ouvir (Mateus 23.37). Às vezes apareciam indivíduos entre os isralitas que ousadamente falavam em nome do Senhor sem que Ele tivesse mandado, inventavam coisas da sua mente e coração, e eram punidos pela ação divina por causa disso (Jeremias 14.14; 23.16 e Ezequiel 1.3).

II - O DESENVOLVIMENTO DO MINISTÉRIO DE SAMUEL

1. O crescimento profético de Samuel.

O versículo 21 do capítulo 2 do primeiro livro de Samuel, revela que Ana teve mais seis filhos além de Samuel. O número sete remete à perfeição nas tradições judaicas, pode significar que a bênção de Deus é perfeita na questão da fecundidade de Elcana e Ana como pais de família e uma ênfase das Escrituras sobre o chamado ministerial de Samuel.

No capítulo 2 e versículos 18 a 21, notamos que apesar de Samuel ainda ser uma criança, tinha em seu coração o propósito de servir a Deus com fidelidade. Enquanto que os filhos de Eli viviam mergulhados em práticas pecaminosas. Quando teve inicio o ministério profético de Samuel, a casa de Eli e toda a nação de Israel  estava em um baixo nível ético, moral e espiritual, esta situação fazia com que raramente o Senhor se manifestasse através de visões (1 Samuel 3.1. Por meio de Samuel, cuja vida estava em comunhão com Deus, houve um avivamento espiritual em Israel, fazendo com que o povo se despertasse para um comportamento equilibrado e aceitável diante de Deus (1 Samuel 9.22).

É muito clara a narrativa sobre o crescimento de Samuel como profeta, na referência bíblica 1 Samuel 3.19-20: "Samuel crescia, e o SENHOR estava com ele e não deixou que nenhuma de suas palavras caísse por terra. Todo o Israel, desde Dã até Berseba, reconheceu que Samuel estava confirmado como profeta do SENHOR". Seu amadurecimento não era apenas físico. Samuel também crescia no conhecimento das tradições judaicas, mas principalmente na comunhão com Deus, assim como ocorreu com Jesus (Lucas 2.52).

O ministério profético de Samuel iniciou a prática de ungir o rei. Quando o povo exigiu um rei, como havia em outras nações, Samuel ungiu Saul, a quem o Espírito de Deus veio em Zufe. Em Mispa, Samuel reuniu os israelitas e declarou Saul como o rei escolhido por Deus para Israel. Quando Saul desobedeceu a Deus e com respeito aos despojos pertencentes aos amalequitas derrotados, Samuel deixou Saul e mais o encontrou, lamentando que o Senhor o havia rejeitado. Os atos seguintes e derradeiros de Samuel foi ungir Davi como rei em lugar de Saul e escondê-lo em sua casa quando Saul tentou matá-lo. 

2. A formação profética de Samuel.

Deus chamou a Samuel quando ele tinha cerca de 12 anos (1 Samuel 3.1-4), a mesma faixa etária de Jesus quando foi levado a Jerusalém por seus pais (Lucas 2.42).

O jovem Samuel foi chamado para ser um vaso, um instrumento nas mãos de Deus, desde cedo o texto bíblico fala do seu preparo para assumir uma grande missão. Enquanto o tempo não chegava, ele recebia o treinamento e o ensino necessário. Samuel cresceu, desenvolveu seu chamado à Obra de Deus sob os cuidados de Eli.

A passagem de 1 Samuel 2.18-21 descreve Samuel vestido com uma estola de linho ministrando ao Senhor, a tarefa só era permitida  ao sacerdote (Êxodo 28.4; 2 Samuel 6.14). Entendemos que Eli deu a Samuel essa vestimenta cerimonial. Notamos que Eli viu no menino as características que o qualificavam ao exercício sacerdotal, Deus preparou como sacerdote e profeta tendo em Eli a pessoa que o instruía. Desta maneira, Samuel foi crescendo em estatura na presença do povo, e todos compreenderam que ele fora encarregado com um ofício profético da parte do Senhor (1 Samuel 3.20). 

Samuel era um líder nacional que exercia os ofícios de sacerdote e profeta. Ele aparece diversas vezes nos relatos do primeiro livro de Samuel, oferecendo sacrifícios pelo povo na consagração dos reis Saul e Davi e pelo exército de Israel (1 Samuel 7.9; 9.12,13; 10.8; 13.8,9; 13.3,13). É reconhecido naquela geração como homem honrado "e tudo quanto diz sucede infalivelmente (1 Samuel 9.6) "e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair por terra" (1 Samuel 3.19).

Através do ofício profético de Samuel, surgiu a escola de profetas (1 Samuel 19.18-20; 2 Reis 2.3-5; 6.1).

3. A disciplina de Samuel.

O terceiro capítulo de 1 Samuel, versículos 4 a 10, mostra o chamado e prova que Samuel era um jovem disciplinado e comedido.

Samuel, sendo ainda bem jovem, foi favorecido com uma revelação divina. A revelação dizia respeito ao fim do exercício sacerdotal pela genealogia proveniente da casa de Eli e o juízo divino sobre ele e seus filhos (1 Samuel 3.1-21).

Samuel cresceu servindo a Deus junto a Eli, que enxergava cada vez menos conforme envelhecia. Aproximadamente, aos doze anos, enquanto dormia Samuel ouviu  uma voz chamando seu nome. Então, ele se levantou e foi aonde Eli dormia e perguntou-lhe se o havia chamado. O sacerdote respondeu-lhe que não o chamara e pediu que voltasse para seu leito. Isso se repetiu por três vezes, até que Eli percebeu que o Senhor chamava Samuel e instruiu-o a voltar para sua cama e quando ouvisse outra vez o chamado, responder "fala, Senhor, porque o teu servo ouve". E quando ouviu novamente a voz chamando-o, fez conforme Eli havia dito. Então, Deus anunciou a ele o juízo que traria à casa de Eli. A situação espiritual dos filhos de Eli os impedia de herdar o ministério do pai, eles estavam corrompidos, portanto Deus não permitiria que continuassem como sacerdotes.

Ao amanhecer, Eli quis saber o que Deus havia revelado a Samuel, e relutante Samuel disse-lhe exatamente o que havia sido revelado. Eli, consternado, aceitou a soberania divina sobre sua casa, dizendo: "Ele é o Senhor. Que Ele faça o que achar melhor" (1 Samuel 3.18).

Daquele dia em diante o Senhor passou a falar com Samuel e usá-lo para através dele falar com o povo israelita, e todos começaram a prestar atenção ao que ele tinha a dizer, com intenção de obedecer ao Senhor.

Algumas qualificações de quem realmente serve ao Senhor:
• Deus se faz conhecer a ele (Números 12.6; Jeremias 15.19; Ezequiel 3.17);
• Tem conhecimento profundo das Escrituras (2 Timóteo 3.15-17);
• É receptivo à correção, instrução da Palavra e assim é perfeito aos olhos de Deus (2 Timóteo 3.17);
• É perfeitamente ensinado para toda a boa obra (2 Timóteo 3.17);
• É inspirado pelo Espírito Santo (Números 11.16-29; Neemias 9.30; 2 Timóteo 3.16, 
III - O MINISTÉRIO PROFÉTICO NA ATUALIDADE

1. O dom da profecia.

O Novo Testamento tem sua definição para profeta (prophétes, em grego). A palavra aparece 159 vezes entre Mateus e Apocalipse. O prefixo da palavra "pro", antes, e "phemi", falar, não deixa dúvidas sobre a função, que é aquele que fala em nome de Deus, inspirado por Aquele que é onisciente, onipresente e onipotente.

O dom de profecia, disponível a todos os crentes, manifesta-se de forma sobrenatural e momentânea; encoraja, exorta e consola a Igreja; edifica de forma coletiva e individual o povo de Deus (1 Coríntios 12.7-11; 1 Timóteo 4.14).  Assim como no Antigo Testamento, o profeta é a pessoa que fala em nome do Senhor, é o mensageiro de Deus que anuncia ao povo a vontade de Deus, e através do anúncio instrui a todos sobre a necessidade de compreender a importância de obedecer à vontade do Todo-Poderoso.

Os crentes que são usados pelo Espírito no exercício de dom de profecia na congregação são chamados de profetas (1 Coríntios 14.29,32,37). Mas não podemos confundir o ministério profético com o dom de profecia. Existe diferença entre o dom de profeta (Efésios 4.11) e o dom de profecia (1 Coríntios 12.4).  O primeiro faz parte dos dons ministeriais e o segundo está entre os dons espirituais.
• O profeta neotestamentário. 
Em Efésios 4.11 temos uma lista apontando para cinco dons ministeriais concedidos por Cristo à Igreja, entre os quais consta o de profeta.  O evangelista Lucas, em Atos 13.1, nos permite saber que "havia na igreja de Antioquia profetas e mestres: Barnabé; Simeão, chamado Níger; Lúcio, de Cirene; Manaém, que tinha sido criado com Herodes, o tetrarca; e Saulo". Apesar de não existir grande quantidade de profetas quanto havia durante o Antigo Testamento, não faltava quem profetizasse nos primeiros anos da Nova Aliança.
• Dom de profecia (1 Coríntios 12.1-11).
Faz parte dos dons espirituais. Dons são são talentos e habilidades dadas por Deus à sua Igreja com o objetivo de servir melhor aos santos, serve para transmitir os desígnios de Deus para a igreja no sentido de exortar, edificar, consolar o povo por meio da elocução. Em 1 Coríntios 14.1, Paulo aconselhou os crentes a buscarem zelosamente os dons espirituais, dando um destaque especial ao dom de profecia. Lucas revela que havia o exercício deste dom em Éfeso (Atos 19.6). 
Deus continua a falar ao seu povo por meio de profetas e através do dom de profecia. Porém, é importante saber que o dom profético não tem como objetivo criar doutrinas. O dom de profecia não tem caráter normativo, posto que não possuem a autoridade canônica da Bíblia Sagrada - que é a única regra de fé e conduta reconhecida pela Igreja de Cristo. A regra infalível da fé do cristão são as Escrituras Sagradas, portanto, é primordial aos cristãos estarem conscientes que toda locução profética é passível de julgamento à luz da Palavra de Deus (1 Coríntios 14.29).

O crente usado com o dom de profecia deve se sujeitar ao conteúdo bíblico. E de igual modo os cristãos que exercem o ministério do ensino e da pregação não têm autoridade para aumentar, diminuir ou modificar o cânon sagrado.

2. O ministério de profeta no Novo Testamento.

O ministério profético foi dado por Deus à Igreja. Segundo Atos 13.1 e 15.32, os profetas eram impulsionados pela inspiração profética e entregavam a mensagem de Deus com ousadia. Nesta atividade, tinham como característica exortar, ensinar e orientar o rebanho de Cristo.

Alguns profetas eram usados para predizer o futuro, como Ágabo. Ele saiu de sua casa na Judeia para levar as mensagens de Deus. Em consequência de seu ministério, foi levantada uma oferta em tempo hábil para ajudar a Igreja em Jerusalém durante um período de fome e a Igreja foi avisada antecipadamente sobre a prisão do apóstolo Paulo (Atos 11.28; 21.11).

3. Onde estão os profetas?

Ao apresentar a vontade de Deus ao pecador, a mensagem tem o confronto entre o bem e o mal, a santidade e o mundanismo, o que é considerado a avaliação entre o certo e o errado; a Palavra age como o martelo quebrando pedras e como o fogo consumidor e coisas imprestáveis (Jeremias 23.29). Isto é, ela age de modo contundente. E sendo assim, o príncipe das trevas tem a intenção de silenciar os profetas de Deus, para que as almas perdidas não encontrem o Caminho que leva-as para Deus. Como estratégia ao estado de silêncio quando é a hora do cristão falar, há o argumento "não podemos julgar; alega que o julgamento é uma falta de amor ao próximo". Não se deixe enganar por este pensamento, pois só aqueles que desconhecem a Bíblia, fazem dele um estilo de convivência moldada ao comportamento deste mundo; Jesus diz o contrário: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (João 7.24).

Simbolicamente, o pregador é um atalaia neste mundo distante da vontade de Deus (Ezequiel 3.17-21). Como pregadores - seja a pessoa em posição de líder na igreja ou o membro que frequenta os cultos sem responsabilidade em postos de liderança eclesiástica -, toda pessoa que recebeu a Cristo como Salvador e Senhor tem sobre si a ordenança de Jesus de evangelizar e ensinar as almas como prostrar-se e servir a Deus corretamente.

Jesus descreve os crentes como luz do mundo e sal da terra. Estes dois elementos são agentes transformadores do ambiente onde estão postos. O sal traz sabor para a comida e age como conservante da mesma; e a luz dissipa a escuridão, permite a nós ter visão do lugar em que estamos e ajuda a não tropeçar em coisas que estão pelo caminho e desviar de buracos e crateras. Temos a missão de influenciar as pessoas a servirem a Deus, o que significa exercer julgamentos, alertar sobre comportamentos errados com a finalidade de que as almas saiam das trevas, abandonem o pecado e se salvem da perdição eterna. Há a obrigação de apresentar o que diz a Palavra de Deus a todos neste mundo, nós cristãos seremos cobrados se assim não for feito. Se não fizermos isso estamos pecando por omissão (Mateus 5.13-16; Tiago 4.17).

Ao compartilhar o conhecimento da Palavra de Deus, quem recebe a mensagem que compartilhamos passa a estar em contato com a fragrância espiritual que exalamos e como consequência sua atitude receptiva proporciona-lhe vida eterna. Mas quem ouve a mensagem e a despreza, o bom cheiro representa a ele o sinal da condenação sem-fim. Provérbios 13.13 diz que aquele que despreza a Palavra, perecerá, mas quem for reverente e obedecê-la receberá de Deus um galardão.

CONCLUSÃO

Não é possível dizer com certeza que idade Samuel tinha quando Deus o chamou e entregou-lhe a primeira mensagem. Mas não resta nenhuma dúvida que a partir daquele momento começou a carreira de Samuel como profeta de Deus, líder militar e juiz de Israel. Assim como Samuel gozava de bom conceito diante de seus compatriotas e conterrâneos da sua geração, porque se dedicava ao Senhor com inteireza de coração, é de vital importância que todo cristão se comporte com decência e honestidade diante do povo na sociedade em que vive.

Nos dias atuais, Deus continua chamando pessoas para realizar seus propósitos e o mundo observa com olhar crítico quem ocupa cargo eclesiástico de relevância.  Sendo assim, é preciso haver crente com o coração disposto a atender o chamado do Senhor, pessoas que creiam que Ele as chama e queiram obedecer suas orientações, pois é necessário ser visto como um referencial de grande valor espiritual para as almas que ainda não seguem a Jesus Cristo.

E.A.G.

Subsídios:
Bíblia do Pregador Pentecostal. Comentários de Erivaldo de Jesus Pinheiro. Edição 2016. Páginas 1740 e 1794. Barueri - SP (Sociedade Bíblica do Brasil - SBB).
Lições Bíblicas. O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Osiel Gomes. 4º trimestre de 2019. Lição 3. Páginas 17-22. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Capítulo 3: A Chamada Profética de Samuel. Osiel Gomes. 1ª edição 2019. Páginas 51 a 57. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD). 

domingo, 29 de setembro de 2019

Conhecendo os Dois Livros de Samuel


Por Eliseu Antonio Gomes 

INTRODUÇÃO

1 e 2 Samuel são dois importantes livros do Antigo Testamento: seus relatos mostram que Deus usou homens para falar ao coração do povo israelita. Deixa claro aos seus leitores que Deus levanta pessoas para cumprir o seu propósito. Vale ressaltar sua importância, lembrando a citação feita por Jesus Cristo a eles, ver Lucas 24.44.

I - CONTEXTO HISTÓRICO DE 1 E 2 SAMUEL

1. A originalidade de Samuel.

Seu conteúdo dá sequência aos livros Josué e Juízes. As lições se iniciam quando Deus rejeita a Saul e escolhe para ser rei um homem segundo o seu coração. 

Originalmente, as duas seções atualmente separadas, compreendiam apenas um livro, tinha o título Livro de Samuel. A divisão em duas partes foi feita pelos tradutores da Septuaginta, a antiga e conhecida tradução que verteu o hebraico do Antigo Testamento ao idioma grego.   

Os dois livros de Samuel são os primeiros dos seis 'livros duplos' que originalmente não estavam divididos e que perfaziam um total de três: Samuel, Reis e Crônicas. Samuel e Reis são encontrados no cânon hebraico ao lado de Josué e Juízes em uma seção conhecida como 'Os Profetas Anteriores'. Juntos, estes livros contêm o registro histórico iniciado por Josué e a travessia do Jordão e estendem-se até o período do exílio babilônico.

2. Os personagens principais do livro.

Os livros de Samuel iniciam-se com um resumo da vida e obra de Samuel, o último dos juízes e o primeiro da ordem profética, considerado o maior personagem na história de Israel entre Moisés e Davi (Jeremias 14.1).

Há vários personagens importantes nas páginas de 1 e 2 Samuel, mas somente três nomes aparecem destacados: Samuel, profeta, sacerdote e juiz; Saul, o primeiro rei de Israel; Davi, o homem segundo o coração de Deus. O rei Saul foi, de modo geral, desobediente a Deus, por isso o Senhor pôs em execução seu plano de fazer de Davi o rei seguinte de Israel.

Apesar de haver maior ênfase à cobertura dos passos de Samuel até o capítulo quinze do primeiro livro, ainda assim ele é protagonista nos dois livros. No segundo livro ele não aparece, mas as atitudes tomadas no primeiro são claramente fatores influentes. A última referência a ele consta em 1 Samuel 28.20.

3. O propósito de 1 e 2 Samuel. 

Israel veio a existir como nação na terra por causa do concerto incondicional que Deus fez com Abraão. O Senhor implementou o concerto abraâmico quando Ele resgatou o seu povo do Egito. E os livros de Samuel cobrem um dos períodos mais formativos do desenvolvimento da nação do povo israelita. 

O propósito de 1 e 2 Samuel é relatar a história do reinado de Israel, partindo do estado de anarquia no tempo dos juízes, quando havia o regime teocrático, para a monarquia (Juízes 21.25; 1 Samuel 10.1). Os dois livros registram essa mudança, tendo como linha narrativa às histórias sobre o ministério de Samuel, e os reinados de Saul e Davi.

Os destinatários originais de 1 Samuel foram os israelitas que viveram durante os reinados de Davi e Salomão, bem como as gerações subsequentes. As histórias  destes livros são dirigidas aos israelitas que viveram enquanto a monarquia estava em fase de consolidação, particularmente,  à luz do fato de que a narrativa atesta a escolha divina de Davi como monarca (1 Samuel 16.13).

Encontramos em suas páginas a tensão entre a lealdade pactual para com Deus e a monarquia humana. Podemos interpretar tal cenário como a luta entre a carne e o Espírito. E ponderar sobre a decisão de colocamos o reino de Deus e sua justiça em primazia ou se nos envolvemos com os desejos desenfreados da carne, dos olhos e viver impregnados pela soberba da vida (1 João 2.16-17; Romanos 8.5-17; Gálatas 5.16-23).

II - AUTORIA E DATA

1. Título e autor. 

Sobre o autor 1 e 2 Samuel, a questão é variável, de acordo com alguns estudiosos do Antigo Testamento, ao observarem o aspecto externo dos livros, as duas obras são produções anônimas no que se refere à autoria, assim como os outros livros históricos.

Entretanto, de acordo com o elemento interno, é diferente. A saber, uma das funções do profeta era agir como historiador, e é possível que Samuel tenha deixado anotações ou registros que foram incorporados aos livros. Temos informações de um livro escrito por Samuel e colocado por ele “perante o Senhor” (1 Samuel 10.25); em 1 Crônicas 29.29 há uma referência ao relato dos atos de Davi num livro chamado “crônicas de Samuel, o vidente”, cujos relatos seriam de ações realizadas antes da coroação. Portanto, é provável que dos capítulos 1 ao 24 de 1 Samuel, o filho de Ana pode ser apontado como autor, e os demais capítulos, atribuídos aos profetas Natã e Gade. Além desses, não há qualquer menção a outros autores que pudessem ter escrito.

É plenamente aceitável a informação que o profeta Samuel não seja o autor do seu início ao fim, uma vez que a morte de Samuel é descrita em 1 Samuel 25.1, quando Saul ainda vivia. Assim sendo, ele não poderia ter escrito os livros da maneira como se encontram hoje. Além disso, o reinado de Davi não foi presenciado por Samuel.

O período de relatos contidos em 1 e 2 Samuel é de aproximadamente 100 anos, começa nos dias de Eli (1 Samuel e conclui ao final do reinado de Davi (2 Samuel 24), o que nos leva a entender que  um único escritor ou compilador não poderia ter vivido tempo suficiente para registrar todas as informações do livro como testemunha ocular.

2. A data dos livros.

A datação de 1 e 2 Samuel está parametrizada entre 970 a 722 a.C.

A data do livro é muito discutida, todavia, se levarmos em consideração que quem os escreveu foi Samuel, Natã e Gade, tais escritos foram feitos no período do reinado de Davi, ou tempos próximos. Não há afirmação categórica por parte dos pesquisadores, outra ala de estudiosos apontam os capítulos 9 a 20 de 2 Samuel como tendo sido escritos no século 10 antes de Cristo, e as demais porções como tendo sido redigidas depois do período pós cativeiro babilônico. Contrapondo tais afirmações, é lembrado que 1 Samuel 27.6 afirma que Ziclague pertence ao rei de Judá, argumento que provaria que o livro fora escrito durante a o período da monarquia de Davi. 

3. A situação espiritual.

O conteúdo dos livros aborda fatos culturais e espirituais apresentando explanação da mais excelente qualidade. Aqui temos o retrato de Davi, o grande rei salmista, uma figura  detalhada com minuciosas que enriquecem a narrativa da Bíblia Sagrada. Apesar de muito haver nesses livros que reflete os baixos padrões morais daquela época, há igualmente grandes picos éticos e espirituais.

1 e 2 Samuel registra o tempo em que começou a suceder a distinção enfatizada entre as formas visíveis de adoração e da realidade por detrás delas.

III - A TEOLOGIA NOS LIVROS DE SAMUEL 

1. Profecias cumpridas.

A linha teológica que perpassa Samuel e Reis é a escolha divina de um líder para representá-lo, enquanto o Senhor implementa os concertos com Israel.

É digno de nota que 1 Samuel termina e Davi, ungido a rei, ainda não tomou posse do trono. Daí, aprendemos a respeito das promessas, propósitos e programas cronológicos de Deus. O leitor atento aprende que apesar de haver recebido promessas divinas, muita coisa pode acontecer durante o período da apresentação das promessas e do cumprimento de cada uma delas, e que deve aguardar com toda paciência, pois tudo o que foi prometido se cumprirá integralmente. 

Outro ponto a se considerar com atenção é que a bênção de Deus era dada a Israel apenas quando havia disposição à obediência, como declaradamente lemos a proposta do Senhor apresentada em Deuteronômio, capítulos 30 ao 33. Deus não mudou, nos dias atuais a condicional para ser abençoado continua a mesma na relação do Senhor com o ser humano. 

2. Em busca de um rei. 

Os dias na nação israelita foram dias sombrios, até que Deus levantou a Samuel, que viveu  com muita piedade por toda a vida e era agradável aos olhos de Deus. Samuel, embora seja uma das pessoas mais piedosas da Bíblia Sagrada, tenha exercido a função de juiz, que significa ser líder sobre Israel, no capítulo 8, do versículo 1 ao 22 do primeiro livro, no entanto, parece relatar um de seus poucos erros; já idoso, nomeia os filhos como juízes em seu lugar. Em nenhum lugar se define a sua idade, porém, em 12.2 Samuel fala de si mesmo com os termos “envelheci e encaneci”. Os nomes dos filhos de Samuel expressavam sua devoção ao Senhor: Joel significa “O Senhor é Deus”, e Abias quer dizer “O Senhor é Pai”. Infelizmente, os nomes não corresponderam à esperança que reside em seus significados, pois os filhos de Samuel não eram pessoas apropriadas para julgar Israel, eles tinham comportamentos reprováveis.

O cargo de juiz não era herdado, Deus era quem chamava pessoas ao magistrado. Israel não tinha rei, e parece que não pensava em tê-lo até o momento em que Samuel quis transmitir o cargo aos filhos. Até então, Israel era governado ocasionalmente por juízes em eventos de crise, quando o momento difícil passava o juiz, muitas vezes, retornava à sua vida anterior. Na situação de tentativa de transferência de autoridade, os anciãos recusaram a má liderança sugerida por Samuel e lhe pediram a que constituísse um rei sobre a nação. Os israelitas demonstraram indignação e clamaram, com muita contundência: "Dá-nos um rei que reine sobre nós, assim como todas as nações têm" Ao clamar dessa maneira, rejeitaram a Deus como Rei, sem saber como seria viver numa monarquia. De início, a monarquia se consistiu em um reino unido, mas dividiu-se por causa da desobediência dos reis.

3. A situação da dinastia davídica.

Em 2 Samuel 7.1-17, há o estabelecimento profético da dinastia de Davi. Ela surge pela ordem do Senhor. É importante ter atenção especial às promessas do Senhor a Davi e o modo como Davi reage perante o Senhor (versículos 18-29).

Davi morava em seu palácio, depois de conquistar todas as nações ao redor de Israel, quis construir a Casa do Senhor, faz um comentário ao profeta Natã sobre isso e ambos não cogitam em consultar ao Senhor respeito da intenção. Natã incentiva o rei a pôr o projeto em prática, porém, o Senhor diz ao profeta a sua vontade com fins a redirecionar os pensamentos humanos do rei (2-16). Contrário às intenções e suposições de Davi, Deus não queria uma casa naquele momento e não queria que Davi a construísse (versículo 7). E de acordo com as informações contidas em 1 Crônicas 22.8; 28.3, Davi não foi escolhido para construir o templo porque ele era um guerreiro que havia derramado muito sangue. 

Contudo, apesar disso, Deus honrou a boa intenção de Davi fazendo-lhe promessas:
• 7.9 - Deu-lhe um grande nome.
O Senhor renovou em Davi a promessa dada a Abraão (Gênesis 12.2), de abençoá-lo nas esferas material (Gênesis 13.2; 24.35) e espiritual (Gênesis 21.22);  
• 7.10 - Designou um lugar para Israel;
• 7.11 - Designou a Davi "descanso" de todos os seus inimigos.
Durante o período englobado pelo livro. nenhuma superpotência eclipsava a região hoje conhecida como a Palestina. Por isso Israel, liderado por Davi, aproveitou todas as oportunidades para subjugar as outras nações de Canaã.
• 12-15 - Deu-lhe Salomão.
Um filho para se sentar em seu trono, a quem supervisionaria como pai e o disciplinaria com misericórdia quando fosse necessário;
• 12.16 - Prometeu-lhe firmar a sua casa, estabelecer o reinado eterno de sua descendência.
No contexto imediato, a profecia sobre Salomão se referia ao reino temporal da família de Davi na terra. Mas num âmbito maior e mais sublime, referia-se ao descendente maior que ele viria a ter na pessoa do Messias, de natureza divina, a Jesus Cristo (Hebreus 1.8). 
IV - SAMUEL: DIVISOR DE ÁGUAS

1. Um momento de crise espiritual. 

Em Israel, a idolatria e a imoralidade eram os pecados dominantes. No início de 1 Samuel, Israel encontrava-se espiritualmente deficiente. Os sacerdotes era corruptos (1 Samuel 2.12-17; 22-26), a arca da Aliança não estava no tabernáculo (1 Samuel 4.3 - 7.2), havia prática de idolatria (1 Samuel 7.3-4), os judeus eram desonestos (1 Samuel 8.2-3). Porém, mediante a influência de Samuel (1 Samuel 12.23) e Davi (1 Samuel 13.14), essas situações foram revertidas. O livro de 2 Samuel termina com final feliz, relata que a ira do Senhor se afasta de Israel (2 Samuel 24.25).

2. O líder Samuel.

O livro começa com o relato do nascimento de Samuel. A informação, sobre a história de sua família lança interessante luz sobre as práticas e o estado daquele período, como igualmente sucede com o relato acerca de Eli, o sumo sacerdote. 

Em um dos momentos mais sombrios da nação israelita, quando por um longo período os filisteus intimidavam os israelitas e ameaçava tragá-los, Ana, a esposa de Elcana, estava muito preocupada com o fato de não ter filhos. Ao adorar ao Senhor no Tabernáculo em Siló, rogava para que o Todo Poderosa desse um filho, o qual ela ofereceria para ser um nazireu de Deus (Números 6). Ana foi atendida. Este filho foi Samuel, aquele que ungiu reis, o último dos juízes, e o primeiro dos profetas depois de Moisés. O filho de Ana foi um dos maiores líderes de Israel (2 Crônicas 35.18; Salmos 99.6; Jeremias 15.1; Atos 3.24; Hebreus 11.32). Samuel surgiu em uma das horas mais sombrias da nação israelita.

CONCLUSÃO

Os livros de 1 e 2 Samuel, e 1 e 2 Crônicas, registram os dias dos reis em Israel. Os filhos de Deus que foram criados a fim de "ser um reino, e sacerdotes", a fim de "reinar sobre a terra (Apocalipse 1.6; 5.10), podemos aprender muitas lições valiosas ao estudar esses livros. O conceito amplo que absorvemos na obra é que Deus é quem dá ordem ao rei, aos povo, ao profeta. é quem exalta, escolhe e abate, pois Ele é soberano.


Compilações:

Comentário Bíblico Beacon - Josué a Ester - volume 2. 4ª impressão 2012. Páginas 175 e 192. Rio de Janeiro / RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD). 
Lições Bíblicas. O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Osiel Gomes. 4º trimestre de 2019. Páginas 5-9. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).
O Governo Divino em Mãos Humanas - Liderança do Povo de Deus em 1º e 2º Samuel. Capítulo 1: Conhecendo os Dois Livros de Samuel. Osiel Gomes. 1ª edição 2019. Páginas 7 a 13, 15, 17 a 19. Bangu, Rio de Janeiro/RJ (Casa Publicadora das Assembleias de Deus - CPAD).   
Pastor Christian Mölk. 1 Sam 8:1-22; Israel begär en kung - https://www.christianmolk.se/2013/02/1-sam-81-22-israel-begar-en-kung/

quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Davi vence Golias


Deus nos garante vitória pela autoridade que há no nome de Jesus Cristo. 

Para conquistar vitórias, enfrentemos todas as lutas com a prática da orientação da Palavra, tipificada nas Escrituras Sagradas pela espada, e não nos esquecemos de usar a fé cristocêntrica, simbolizada na Bíblia como o escudo.

Assim todos os problemas são derrotados, para a glória do Senhor.

As lutas que nos afrontam podem ser maiores que o gigante incircunciso que Davi enfrentou e o venceu, porque amava ao Todo Poderoso e vivia de acordo com as diretrizes das Escrituras, nós também seremos vitoriosos, porque o Criador está ao nosso lado e é bem maior que o tamanho do Universo.

► A diferença entre ser batizado no Espírito e ser cheio do Espírito Santo
► Efésios 4.10-11: Os cinco dons de Cristo para qualificar você a trabalhar na Igreja 
► Efésios 4.27: O importante contexto de "não deis lugar ao diabo"
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► Efésios 6.10-11 - A armadura de Deus e o esfriamento espiritual
► Não vos embriagueis com vinho - contextualização de Efésios 5.18
► O sentido etimológico do termo vaidade
► Perseverando na fé

E.A.G.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Aline Barros: Samuel [letra e vídeo]



Samuel, Samuel

Era uma vez um menino, que, ainda pequenino
Foi escolhido pra morar na casa de Deus;
Mas ele não sabia que um profeta seria
Todo Israel a ele lhe obedeceria
Quando foi dormir, uma voz então ouviu:

Samuel, Samuel, Deus te chama lá do céu
Samuel, Samuel, sê profeta de Israel
Samuel, Samuel.

Fonte: Kids MK Oficial - https://youtu.be/142ethajgpE