Como lidar com a expectativa de futuro aqui na terra? É possível ter uma atitude de acordo com as Escrituras Sagradas ao ser extremamente otimista quanto ao nosso amanhã?
Doutrina triunfalista?
Do púlpito das igrejas, são muitas mensagens afirmando que Deus reserva dias melhores aos que lhe ouvem. Algumas letras de hinos da nossa geração falam em vitórias e derrotas vergonhosas de todos os nossos inimigos. Há até quem ouse sugerir que mentalizemos o futuro como desejamos que ele seja, e, afirmam eles, assim como o idealizamos ele será.
Penso que estejam baseados em Salmos 37.4: “Deleite-se no Senhor, e ele atenderá aos desejos do seu coração”.
A questão levantada, e que deve ser posta às claras aqui, são as prioridades do cristão. Em primeiro lugar o cristão precisa buscar o reino de Deus e a Sua justiça, depois visar as coisas dessa vida (Mateus 6.33). Sendo nesta ordem, acredito que as bênçãos nos alcançam como consequência de fidelidade a Deus e não como uma mera meta humana de satisfação pessoal.
Doutrina alienada?
Outra vertente, proferida também nos púlpitos evangélicos, quer nos fazer crer que Jesus Cristo veio ao mundo apenas para salvar almas, não veio para melhorar as vidas de seus seguidores. E classificam que pensar diferente disso é abraçar vãs filosofias.
Na Bíblia, o termo “alma” se refere a parte não-material e imortal do ser humano, fala da sede da consciência própria, da razão, dos sentimentos e das emoções (Mateus 10.28; Lucas 1.47). Entendo que Jesus Cristo usou essa conotação da alma na parábola do rico insensato. Ele perguntou no final da narrativa: "De que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?" (Mateus 16.26; Marcos 8.36; Lucas 9.25).
Doutrina da acomodação?
Há quem faça menção do sermão profético de Jesus Cristo - encontrado nos capítulos 24 e 25 do Evangelho de Mateus – e diga que a tendência é tudo piorar. Dizem que a maldade do ser humano irá crescer, e que o índice de malandragem, assassinatos, rebeldias, latrocínios, prostituições, aberrações, zombarias, blasfêmias, adultérios, divórcios, têm poder para causar a deterioração completa da nossa sociedade. Enfatizam que ninguém tem a capacidade de mudar esta situação. Todo o caos seria parte da determinação divina.
Evangelho transformador
Por outro lado, há quem pregue que o chamado do cristão é para pregar o Evangelho. Para eles, todos os cristãos têm o dever de propagar com bastante afinco os valores do Reino de Deus, pois a mensagem de Cristo é capaz de transformar o ser humano e também todas as sociedades da nossa geração. Veem o mundo por duas perspectivas espirituais: o mundo como criação de Deus e o mundo como o sistema nas mãos do maligno. Eles culpam o estado ruim em nossa contemporaneidade aos cristãos que estão nos interiores dos templos, alienados, sem evangelizar e nem influenciar a geração em que vivem. Criticam os cristãos calvinistas, que escudados na doutrina da predestinação, mantêm-se de braços cruzados, não se sentem suficientemente motivados a anunciar o Reino de Deus aos perdidos.
O que digo disso tudo?
Não podemos fazer projetos com o sentimento de autosuficiência. Cito Tiago 4.13-15: “Agora escutem, vocês que dizem: 'Hoje ou amanhã iremos a tal cidade e ali ficaremos um ano fazendo negócios e ganhando muito dinheiro!' Vocês não sabem como será a sua vida amanhã, pois vocês são como uma neblina passageira, que aparece por algum tempo e logo depois desaparece. O que vocês deveriam dizer é isto: 'Se Deus quiser, estaremos vivos e faremos isto ou aquilo'” - Tiago 4.13-15 (Nova Tradução na Línguagem de Hoje).
Sem fazer apologia ao materialismo, se a gente olhar com bastante cuidado, constatamos que as pessoas que se convertem melhoram seu padrão de vida. Não acontece uma transformação padronizada, mas o ponto "nevralgico" via de regra é sempre resolvido quando o convertido faz a sua parte na questão em crise.
Não acredito que todos os palpérrimos se tornam milionários e nem que todos os problemáticos ficam blindados contra problemas ao entregar sua alma para Cristo, mas creio que a grande maioria dos crentes melhoram de vida, melhoram sim. Isto é um fato.
Perdi a conta de casamentos desestruturados que tomaram prumo, pessoas fora-da-lei que viraram cidadãos de bem, gentes que não eram constantes em postos de empregos que firmaram-se e conseguiram carreiras de sucesso em boas profissões.
Termino esta reflexão lembrando que devemos observar os dois lados da nossa existência, o presente e o porvir, o lado material e o lado espiritual: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens" - 1ª Corintios 15.19.
E.A.G.
O artigo está liberado para cópias, desde que sejam citados o link (HTML) do blog Belverede e o nome do autor.
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