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sábado, 9 de abril de 2022

Jesus, o discípulo e a lei

Após o Senhor ter pregado sobre a aproximação do Reino de Deus, perguntas devem ter surgido da parte dos israelitas: "Qual a relação do ensino de Cristo com as leis de Moisés?"; "O novo mestre veio acabar com a antiga lei?"; "O que devo fazer para entrar nesse Reino?" E com o propósito de responder as indagações e estabelecer o padrão de conduta dos cidadãos do Reino, o Senhor proferiu seu discurso-chave, que conhecemos como "O Sermão do Monte" ou "Sermão da Montanha". 


A pergunta não é nova, havia interesse dos discípulos sobre o assunto nos dias de Jesus. Sabendo do interesse, ao ministrar o Sermão do Monte o Mestre abordou o tema com muita clareza.

I - JESUS CUMPRIU TODA A LEI


1. Um compromisso com o passado.

Jesus Cristo reconhece a autoridade, a eternidade, obediência e o propósito da Lei e dos Profetas. a Lei revela o nosso pecado e a nossa incapacidade em cumprir os mandamentos de Deus. Não é possível obter a salvação pelo esforço em obedecê-la. Precisamos crer em Jesus como nosso Senhor e Salvador.
• A Lei difere da Graça quanto às promessas que faz. A Lei foi dada por meio de Moisés e a Graça por meio de Jesus [João 1.16,17].
• A Lei difere da Graça quanto ao seu conteúdo. A Lei exige obediência, mas é impotente para nos ajudar a guardá-la [Gálatas 3.12-14]. A Çraça é um dom que capacita o crente a obedecer a Lei.  
• A Lei difere da Graça quanto às promessas que faz. A Lei ordena faça e você viverá. A Graça presenteia com a salvação aqueles que não podem fazer nada para se salvar.
• A Lei difere da Graça quanto ao propósito. A Lei revela a doença do pecado; a Graça oferece o remédio do perdão. Lutero disse: "A Lei descobre a doença, a Graça oferece o remédio". 
Mateus mostra a Galileia como o ponto de partida do ministério de Jesus em cumprimento da profecia, e nesta motivação ele usou muitas vezes a expressão "para que se cumprisse". 

2. Jesus não veio destruir a Lei.

Quando Jesus disse "Não pensem que vim revogar a Lei ou os Profetas; não vim para revogar, mas para cumprir" [Mateus 5.17], explica aos discípulos que o seu ministério não começava do zero. Essa citação da era uma maneira típica de se referir às Escrituras, na parte do Antigo Testamento. Nada foi desprezado para começar algo diferente. Cristo veio cumprir os mandamentos contidos do Gênesis ao Malaquias, pois todos os livros veterotestamentários apontam para Ele como o Filho Unigênito de Deus que veio ao mundo para restabelecer a relação do ser humano com o seu Criador. 

Jesus veio terminar a obra-prima iniciada no Antigo Testamento, estava inacabada até que entregasse sua vida a Deus na cruz e fosse ressuscitado por Deus ao terceiro dia. Na obra-prima concluída, existem medidas temporárias que não são mais necessárias, como a rigorosa reciprocidade do "olho por olho" e os sacrifícios de ovelhas e outros animais no templo judaico. Tais alterações são muito diferentes de apagar a obra-prima.

3. Jesus cumpriu e aperfeiçoou a Lei.

"Porque em verdade lhes digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra" [Mateus 5.18].

O Reino de Deus é inabalável. Jesus usa sinais ortográficos para dizer isso de um modo de fácil entendimento. Basicamente, estes sinais ortográficos são lembrados por Jesus para dizer que nenhuma profecia e promessa do Antigo Testamento, não importa quão pequenas, não serão deixadas de lado sem serem cumpridas, porque o Senhor cuida de tudo, inclusive dos menores detalhes. 

A letra i [iota] era a menor letra do alfabeto grego e hebraico [yôdh];

O til [grego: keraia, literalmente. "chifrezinho"], era o sinal que distinguia certas consoantes hebraicas, o daleth do rêsh, o bêth do kaph. Em uma camparação com o idioma Português, poderíamos citar o uso do acento agudo, por exemplo, "esta" sem o sinal é classificada como pronome feminino demonstrativo, e com a presença do sinal ["está"] é um verbo em forma conjugada. O pequenino sinal muda o sentido e o som dos vocábulos. Mostramos tal curiosidade para enfatizar que Jesus não veio criar confusão mas esclarecer a realidade do plano da salvação aos homens.

II - A LETRA DA LEI, A VERDADE, A VERDADE DO ESPÍRITO

1. O que a expressão "letra da Lei" significa?

Paulo foi enfático ao expressar a verdade que "a letra mata mas o Espírito vivifica". A "letra" que o apóstolo se referiu significa a Lei Mosaica, que os israelitas foram incapazes de cumpri-la. A Lei apontava a desobediência dos homens para com os mandamentos de Deus.

Paulo descreveu os cristãos como cartas vivas (2 Coríntios 3.1-3). Primeiro, referia-se ao fato de que pessoas inimigas do verdadeiro Evangelho e opositores de seu ministério, usavam cartas de recomendação fraudulentas para atestar a própria causa. Diante disso, Paulo argumenta que os cristãos que tiveram suas vidas transformadas pelo Evangelho, eram cartas vivas que comprovavam a legitimidade da fé cristã. Os cristãos genuínos são "manifestos como carta de Cristo" que é lida por todos. Essa carta não está redigida com tinta comum, "mas pelo Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, o coração" (2 Coríntios 3.2,3). As expressões "tábuas de pedra" e "tábuas de carne", estabelecem a diferença entre a Lei do Antigo Testamento e a Lei do Novo Testamento, entre o ministério de Moisés e o Evangelho instituído por Cristo. 

A Graça de Deus é libertadora. O Evangelho de Cristo não está aprisionado ao legalismo. Como pode a vida abundante ser retida pelo "ministério de morte", ou a Graça salvadora ser associada com o "ministério da condenação" [2 Coríntios 3.7, 9]? O cristão não está preso pela letra da Lei, e por isso Jesus nunca falou de sua Igreja em termos de aprisco, mas de rebanho. Somos um rebanho que seguimos o bom Pastor por pastos verdejantes, águas tranquilas, e veredas de justiça.

2. A perspectiva teológica da Lei

A Lei foi dada aos israelitas em três partes: cerimonial, moral e judicial. Sendo que a permanência dos judeus na terra prometida tinha a condicional de obediência às diretrizes apresentadas por ela.
O aspecto moral [Êxodo 20.1-17]. No texto original hebraico, os mandamentos são chamados de “as palavras” [34.28]. As dez “palavras” são um resumo das obrigações religiosas e morais que Deus apresenta ao seu povo. Nesta passagem bíblica, é usado a terceira pessoa do singular ['você"], ao ser transmitido aos israelitas, de um modo geral, e para cada indivíduo em particular o que Deus esperava dele. O próprio Deus escreveu os dez mandamentos em duas tábuas de pedra [Êxodo 24.12; 31.18; 32.15-16; 34.1], colocadas depois na arca da aliança [Êxodo 25.16,21; 40.20; Deuteronômio 10.1-5]. 

Praticamente, o livro de Levítico inteiro fala sobre pormenores a respeito de tudo o que tinha a ver com o culto que o povo de Israel prestava a Deus. Leis a respeito de ofertas e sacrifícios, capítulos 1 ao 7; a ordenação de Arão e dos seus filhos para serem sacerdotes, capítulos. 8 ao 10; leis a respeito de pureza e impureza rituais, capítulos. 11 ao 15; sobre o perdão, capítulo 16; e a respeito da vida santa e adoração santa nos capítulos. 17 ao 27.
 
A lei judicial pode ser encontrada em Êxodo, capítulos 21 ao 23. Neste conteúdo encontramos determinações em relação a violência [21.12-27]; casos de acidente [21.28-26]; roubo [22.1-7]; as festas judaicas [Êxodo 34.18, 26 e Deuteronômio 16.1-17]. E outros temas mais.
3. A Lei e a verdade do Espírito.

O Mestre faz discípulos de todas as nações. Ele disse: "Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco. Preciso trazer também estas. Elas ouvirão a minha voz e, então, haverá um só rebanho e um só pastor" [João 10.16].

O aprisco é a nação de Israel, que foi colocada dentro dos muros protetores da aliança mosaica (Mateus 21.33). Jesus, como o verdadeiro pastor, entra no aprisco pela porta da submissão à lei (Gá1atas 4.4). As ovelhas ouvem a sua voz, Ele as chama pelo nome, as tira para fora, vai adiante delas, e elas o seguem. Assim nasceu a igreja em Jerusalém, em cumprimento da profecia proferida por Sofonias [3.10]: ""Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e eles confiarão no nome do Senhor". E aos discípulos, que são seus seguidores, cumpre-se as palavras do Mestre: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres [João 8.32, 36].

4. Qual é o propósito da Lei para os discípulos de Cristo?

"Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados, para essa fé que, no futuro, haveria de ser revelada. De maneira que a lei se tornou nosso guardião para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados pela fé" [Gálatas 3.23,24].

Podemos considerar o Sermão do Monte como um manual sucinto de conduta aos discípulos de Cristo. Os temas colocados por Jesus abordam questões do caráter do Reino de Deus e do caráter dos cidadãos do Reino de Deus. Mostra que a Lei de Moisés existe como um guardião. A palavra "guardião", usada na tradução Nova Almeida Atualizada é equivalente a "aio" na Almeida Revista e Corrigida e "tutor" na Nova Versão Internacional. Os três vocábulos vêm de uma palavra grega que descreve "uma pessoa que conduz uma criança".  

Na época de Paulo, o escravo designado para essa função tinha a tarefa de corrigir os filhos de seus senhores, deveria levá-los até a escola, mas dificilmente ele seria o seu professor. As crianças muitas vezes ficavam ressentidas com sua severidade, mas ao longo de tempo o relacionamento desenvolvia bastante afetividade, e quando a criança atingia a maioridade o libertava [Gálatas 3.24].

Tal situação foi usada por Paulo para ensinar que os crentes dos idos tempos do Antigo Testamento estavam sujeitos à Lei de Moisés, como as crianças aos seus guardiões. O apóstolo afirma que a Lei cumpriu sua função temporária, e após a chegada da fé em Cristo ela não possui mais domínio sobre ninguém. 

O cristianismo é a única religião na qual não se pode nascer fisicamente. A pessoa que nasce em família hindu, é hindu, não importando ser alguém bom ou ruim. Aquele que é nascido numa comunidade budista, cria-se e permanece budista. O judeu pode não compartilhar a crença dos pais e raramente pôr os pés numa sinagoga, mas é considerado judeu por nascer de família judia. Para alguns, hoje, ser cristão significa nascer em comunidade ou país cristão. Porém, quem pensa dessa maneira está totalmente equivocado. O cristão autêntico é aquele que recebeu a Cristo como Salvador, crê na eficácia do sacrifício de Cristo na cruz, e também o recebeu como Senhor, seu coração está disposto a obedecer os mandamentos de Cristo. 

III - A JUSTIÇA DO REINO DE DEUS

1. Quem é grande no Reino de Deus?

Você é suficientemente bom? Provavelmente, alguma vez em sua vida tenha ouvido a pergunta: "se morresse hoje estará salvo ou condenado à perdição eterna?" Há quem equivocadamente pense que prestar assistência social aos doentes e miseráveis seja um meio de alcançar a salvação, ou que realizar as obras religiosas sirvam de meio para apagar as malfeitorias da vida pecaminosa e dessa maneira ter a garantia da entrada no Céu sem precisar de arrependimento e confissão de pecados. 

O religioso que não crê em Jesus como único mediador entre Deus e os homens a sua religiosidade é vã [1 Timóteo 2.3-6]. Jesus adota a mensagem de João Batista, a saber: a vinda do reino dos céus. A expressão "o Reino dos Céus" significa o governo de Deus em Cristo e por meio de Cristo. Isto foi prometido no Antigo Testamento, está representado na Igreja através de crentes fiéis e será triunfante na segunda vinda de Cristo. 

Para Deus, o seria ser maior ou melhor? Em seu sermão, Jesus orienta os discípulos mostrando que eles devem abandonar o raciocínio pecaminoso deste mundo e viver de acordo com a perspectiva espiritual existente no Reino de Deus. O que Ele quis ensinar? O discípulo que cumpre seu papel como cidadão do Reino de Deus é aquele que segue os mandamentos de Deus e ensina outros a seguir também. Todos que assim procedem serão reconhecidos como os grandes do reino. 

"Aquele, pois, que desrespeitar um destes mandamentos, ainda que dos menores, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado mínimo no Reino dos Céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no Reino dos Céus. Porque eu afirmo que, se a justiça de vocês não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrarão no Reino dos Céus" [Mateus 5.19-20].

2. A justiça do Reino de Deus.

Jesus esperava que seus seguidores obedecessem a Deus de uma forma superior àquela dos fariseus e escribas, uma tarefa aparentemente impossível de ser realizada. A justiça dos líderes da lei mosaica era exclusivamente exterior. Eles observavam muitas regras, oravam, cantavam, jejuavam, liam as Escrituras e frequentavam os cultos nas sinagogas. Mas, trocaram as atitudes interiores corretas pelas aparências externas. 

Os fariseus eram minuciosos e escrupulosos nas suas tentativas de obedecer à Lei de Deus, assim como a centenas de leis tradicionais. Como Jesus podia exigir razoavelmente que seus seguidores tivessem uma justiça superior à deles? Jesus não estava impondo exigências impossíveis aos seus seguidores para que entrassem no Reino dos céus. Ele estava falando a respeito de uma atitude do coração. Os fariseus se contentavam em obedecer externamente às Leis, sem olhar humildemente para Deus com o objetivo de firmar uma imagem pessoal de pessoas justas. Os verdadeiros seguidores de Deus sabem que não podem fazer nada para se tornar suficientemente justos para entrar no Reino dos céus. Jesus disse que a qualidade da nossa justiça deve exceder a dos mestres da lei e dos fariseus, que tinham a aparência de serem piedosos, mas estavam longe do Reino de Deus.

O apóstolo Paulo aborda a condição fracassada do ser humano em conquistar pelas próprias realizações ou por seus próprios méritos, uma posição de justiça diante de Deus [Romanos 1.16-17; 3.21-26]. Mostra que ocorreu um novo alvorecer na história do homem quando Deus destruiu o impasse e ofereceu sua própria justiça como uma dádiva gratuita para ser recebida pela fé. Esta justiça significa a justificação, a santificação e a completa redenção por meio do sacrifício vicário de Jesus Cristo. E assim "se manifestou, sem lei, a justiça de Deus" [Romanos 3.21].

A justiça de Deus se manifesta no crente através da fé. Jesus ensina aos seus discípulos que é preciso ser sal e luz do mundo, isto é, ser uma pessoa que pratique a vontade de Deus e através dessa ação provocar um efeito espiritual positivo sobre as almas que seguem o curso do mundo, colaborando para que as tais conheçam o Salvador e convertam-se de seus caminhos maus.  

CONCLUSÃO

Jesus apresentou um compromisso com o passado, pois Ele não veio destruir a Lei, mas cumpri-la. Enquanto a letra da lei diz respeito à Antiga Aliança, a verdade do Espírito diz respeito a vida em Cristo, que grava a vontade de Deus no coração. Nos faz entender que as bem-aventuranças são a verdadeira felicidade para quem nasceu de novo.


Compilações:
Através da Bíblia Livro por Livro. Mier Pearlman, página 236le Org. "Kingdom Code [Mathew 5.17-48] by Chip Bell. https://bible.org/seriespage/1-good-enough-matthew-517-20.
Bíblia de Estudo Nova Tradução na Linguagem de Hoje. Barueri - SP [Sociedade Bíblica do Brasil].
Comentário Bíblico Atos - Novo Testamento. Graig S. Keener. 1ª Edição Abril 2004, página 547. Belo Horizonte - MG [Editora Atos Ltda].
Comentário Bíblico Beacon - Romanos a 1 e 2 Coríntios. Volume 8, páginas 62 a 65. A Epístola aos Romanos, por William M. Greathous. Bangu, Rio de Janeiro - RJ. Casa Publicadora das Assembleias de Deus [CPAD].
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Volume 1. 2ª impressão 2010. página 39. Bangu, Rio de Janeiro - RJ. Casa Publicadora das Assembleias de Deus [CPAD].
O Sábado, a Lei e a Graça. Abraão de Almeida. 6ª Edição 1996. Bangu, Rio de Janeiro - RJ. Casa Publicadora das Assembleias de Deus [CPAD].

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