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segunda-feira, 7 de março de 2022

Que Raabe é essa citada no Livro de Jó 9.13 e 26.12?

Há alguma relação entre a Raabe do livro de Jó [9.13; 26.12] e a personagem do livro de Josué 2.1? Como entender essas passagens do texto bíblico?

Sabemos que o livro de Josué está cronologicamente situado após o êxodo do povo hebreu e durante a conquista de Canaã. É quase consensual entre os cristãos ortodoxos que a autoria do livro é o próprio

Josué, que narra fatos dos quais ele fora testemunha ocular, o que dá ainda mais fidedignidade historiográfica ao seu relato. O livro de Jó, porém, tem a sua autoria desconhecida. Há muita especulação no campo acadêmico acerca de quem possa ter sido o autor. Os pareceres giram em torno de Moisés, Salomão, Isaías, Zedequias, Jeremias, Baruque, Esdras, Eliú e do próprio Jó.

No entanto, depreendemos por evidências internas do livro que a história de Jó se passa no período patriarcal. Apontamos algumas razões:

1. Nos é dada a informação de que Jó viveu mais 140 anos depois que Deus lhe restaurou os bens e filhos. Nos primeiros capítulos do livro, nos primeiros capítulos do livro, a Bíblia diz que os filhos de Jó eram crescidos, e por inferência cremos que tinham suas próprias casas e famílias. Portanto, Jó já devia ter uma idade avançada. Desse modo, é provável que Jó  tenha vivido cerca de 200 anos, algo semelhante a Abraão, que viveu 175 anos.

2. Jó tinha sua riqueza contabilizada tendo como base a quantidade de animais que possuía, não em moeda, exatamente como na época patriarcal.

3. Jó era o sacerdote de sua própria família, e sacrificava por ela, ou seja, viveu antes da instituição do sacerdócio levítico.

4. Não há no Livro de Jó nenhuma referência à Lei e nem aos costumes religiosos da época de Moisés.

Isso posto, salientamos que de acordo com os registros cronológicos e históricos, a saída do povo de Israel do Egito ocorre em meados do século XV a.C., e o período dos patriarcas situa-se no século XX a.C., ou seja, há uma distância temporal de aproximadamente meio milênio entre as suas narrativas. 

A Raabe mencionada no Livro de Josué [2.1], que hospedou os espias em sua casa e os escondeu, posteriormente se converteu ao Deus de Israel, e não foi morta na destruição da cidade de Jericó, juntamente com sua família [6.25]. Ela tornou-se progenitora de Davi e de Jesus Cristo, sendo mencionada na genealogia do Salvador [Mateus 1.5]; e viveu séculos depois do contexto do Livro de Jó.

Pontuando essas questões elucidativas, vamos resolver a questão proposta. Essa confusão de "Raabes" ocorre porque algumas versões modernas da Bíblia, como a Nova Almeida Atualizada [NAA], a Almeida Edição Contemporânea [AEC] e a Nova Versão Internacional [NVI], inseriram o nome Raabe em Jó 9.13 e 26.12. Vejamos como são os textos na NVI :

"Deus não refreia a sua ira; até o séquito de Raabe encolheu-se diante dos seus pés" - Jó 9.13.

"Com seu poder agitou violentamente o mar; com sua sabedoria despedaçou Raabe" - Jó 26.12.

O vocábulo "Raabe" no hebraico é "rahab" e tem alguns significados: cavaleiros, ferocidade, largo ou túmulo. A expressão também é usada com referência ao mar ou a um mito do "monstro do mar", que liga a palavra ao Egito como símbolo do orgulho [Salmos 87.4; 89.10; Isaías 30.7; 51.9]. Se lemos os mesmos textos na versão Almeida Revista e Corrigida [ARC], notamos que o termo foi traduzido, fazendo com que o aparente problema com o nome Raabe esteja resolvido:

"Deus não revogará a sua ira; debaixo dele se encurvam os auxiliadores soberbos" [9.13];

"Com a sua força fende o mar e com o seu entendimento abate a sua soberba" [26.12].

Portanto, a Raabe mencionada em Josué é uma personagem literal e histórica, confirmada como tal nos dois Testamentos. Já o vocábulo "Raabe" citado em Jó é uma linguagem figurada que simboliza o Egito e a sua arrogância. 

E.A.G.  

Artigo escrito por Geovane Leite, presbítero da Assembleia de Deus em Barreiras [BA] para o jornal Mensageiro da Paz, ano 91, edição de maio de 2021, página 17 [CPAD].

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