Antonio Pecci e Toquinho colocaram em versos e música os picos das águas de março. O talento de ambos nos oferece uma poesia ímpar. Eles foram capazes de abordar o caos como se fosse situação de glamour. A madeira exposta em lugar incomum, o caminho intransitável, a pedra atrapalhando o trajeto, o toco ao léu, o sentimento de abandono, o perigo do caco de vidro no chão, regatos escorregadios, o sol entre as nuvens, o projeto da casa e a goteira, as vítimas da catástrofe. Citam as árvores Caingá-candeia, Matita-pereira e Peroba, talvez ilustrando os tombamentos das mesmas pela força do vendaval. Lembram o coaxar barulhento e repetitivo de sapos e das rãs, que saem saltitantes dos seus esconderijos nos matos após a queda dos aguaceiros, quando ao pôr do sol, com o objetivo de namorar.
Mas, essa licença poética de Pecci e Toquinho não suaviza o sofrimento dos seres humanos, que a cada ano que passa se vê em um ecossistema cada vez mais estragado. O meio ambiente é vítima do homem, que busca o progresso em um ritmo acelerado, sem ter olhos fitados no contexto do conjunto, impulsionado por interesse egoísta, sem consideração que a longo prazo ninguém ganha com o que ele faz, todos perdem com este comportamento indisciplinado.
Meteorologistas informam que o volume da chuva que começou por volta de 23 horas de ontem, 10 de fevereiro, é o maior em 27 anos dentro da cidade de São Paulo. Resumidamente, sem rodeios, as cheias em São Paulo não são apenas resultados do aumento no volume das chuvas.
A área metropolitana de São Paulo tem montes e vales em seu relevo. É claro que a superfície em pontos baixos correm maior risco de sofrer alagamentos. A Lei da Gravidade não dorme e nem tira férias. Durante o temporal a área metropolitana mais baixa recebe ao mesmo tempo a água que desce diretamente da diluição das nuvens, recebe a água que rola dos montes que estão em seu entorno, e muitas vezes o refluxo de águas de rios trazidas por tubulações. Não é preciso ser técnico para perceber que quase todos os caminhos de escoamentos estão fechados. O grande nível de água proveniente das chuvas encontra rios subterrâneos, obras arquitetônicas como obstáculos importantes, o lixo descartado de modo irresponsável entupindo bueiros etc.
Não é um erro generalizar agora. Podemos generalizar aqui. A culpa é geral, de todas as autoridades que exerceram o cargo de prefeito. As ruas tomadas de água, os automóveis submersos ou boiando, casas alagadas, residências interditadas, pessoas ilhadas, prejuízos materiais enormes de cidadãos paulistanos. Desabamentos. Afogamentos... Tudo isso é consequência de anos e anos em que houve erro de planejamento quanto à medida que visa ao desenvolvimento racional e humano da nossa São Paulo.
Sem medo de errar, é possível afirmar que o acúmulo de negligências de gestores ao longo do tempo, quanto à infraestrutura da Capital, fez com que as correntezas fluviais não encontrem as saídas naturais.
Ponderemos! A falha de coleta de lixo, a falta de organização no recolhimento de material reciclável, a falta de lixeiras públicas, o asfalto por todos os lados, os desmatamentos sem replantios, os córregos encanados, os cursos de rios Pinheiros e Tietê alterados são sinônimos de projeto urbanístico inteligente? As imagens transmitidas pelos canais de televisão respondem muito bem as perguntas. A resposta para todas essas questões, é: não!
E.A.G.
bom dia!....O paulistano é um povo sofrido!...Mora numa megalópole,sem nenhuma administração!...
ResponderExcluirBoa postagem!
Pois é, Sueli.
ResponderExcluirAs pessoas eleitas para administrar a cidade, sempre foram reativas e não preventivas. Todos sabem que os três primeiros meses do ano são chuvosos, mas não fazem muito para evitar as aflições das provocadas pelas chuvas fortes. Todos os anos se vê enchentes e desmoronamento de barrancos etc. É como a reprise de um filme ruim.
Abraço.