Por Eliseu Antonio Gomes
"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram" - Romanos 5.12.
Lembro-me de uma história que li há algum tempo, que serve para ilustrar o que está exposto em Romanos 5.12. Conta-se que um velho lenhador trabalhava em uma fazenda. Seu trabalho era de rachar toras de madeira para uso da fazenda. Certo dia, enquanto passeava pela fazenda, o proprietário escutou o velho lenhador se lastimar da sorte. Ele dizia: "Adão, Adão, você me paga". Vendo as lamúrias do velho lenhador, o fazendeiro se aproximou e perguntou a razão que o estava levando a se lamentar. Ele então disse ao patrão que Adão era o responsável por aquela situação, pois, se não tivesse pecado, ele não estaria ali. Imediatamente o fazendeiro mandou-o abandonar o seu machado e se dirigir para a casa da fazenda.
Chegando ali, o fazendeiro disse: "A partir desse momento você não precisará mais rachar lenha. Você terá novas atribuições. Seu trabalho agora é ficar na varanda da casa fazendo o serviço de vigilância com o direito de beber limonada na hora que quiser!" O velho lenhador foi às lágrimas. Quando ainda se refazia de suas emoções, o fazendeiro concluiu: Mas o senhor não pode abrir aquela caixa fechada que está em cima do peitoril da casa". O velho lenhador balançou a cabeça afirmativamente. Pensando com seus botões, ele achou suas novas atribuições um presente de Deus.
Os dias passaram e o velho lenhador se regozijava de sua nova situação. Não estava mais trabalhando de sol a sol, mas na sombra da casa da fazenda. Passaram-se duas semanas e ele continuava firme em seu propósito de obedecer ao seu patrão e não tocar na caixa secreta que estava no peitoral da casa. Na terceira semana, veio-lhe a curiosidade de saber o que estava dentro da caixa. Por que ele não poderia tocá-la? Resolveu então tocar levemente na caixa. Foi o suficiente para observar por uma abertura que havia algo dentro da caixa - um pequeno pedaço de papel. Todos os seus instintos vibraram! O que poderia estar escritor nele? Passou então a racionalizar: Por que ele não poderia abrir a caixa e ler o papel? O que havia de mal nisso? Na quarta semana, o velho lenhador não resistiu à tentação e abriu a caixa! Quando retirou o papel, o seu conteúdo dizia: "Velho lenhador, a culpa não foi só de Adão. Volte já para o campo para rachar lenha".
O homem em Adão
A culpa não foi só de Adão. Em parte, a confusão de interpretação de Romanos 5.12 é motivada em torno da expressão grega "eph'hoi pantes hemarton", que aparece no final do versículo. As versões bíblicas não são unânimes na tradução dessa passagem. As controvérsias começaram quando Agostinho (354-430 d.C.), bispo de Hipona, que não era versado em grego bíblico, seguiu a versão latina "in quo", traduzindo erradamente a preposição grega "eph'hoi" (porque) com o sentido de "em quem". Então, a sentença grega "porquanto todos pecaram", no texto de Agostinho ganhou o sentido apenas de "em quem todos pecaram". O equívoco do bispo de Hipona conduziu muitos a acreditarem que os homens estavam maculados pelo pecado de Adão, que o pecado original foi transmitido de geração em geração, e que por isso não mereciam ser salvos.
Agostinho entendia que "nós estávamos em Adão" quando Adão caiu, portanto, o pecado de Adão também é nosso. Esta argumentação de Agostinho é considerada comprometida quando se sabe que a exegese feita por ele partiu de uma tradução equivocada.
Devemos perguntar o que significa "todos os homens pecaram". Não quer dizer, evidentemente, a condenação de uns para o inferno e outros não; nem tampouco a supressão do livre-arbítrio humano. Há vários indicadores nas Escrituras de que as pessoas não são moralmente responsáveis antes de certo ponto, o que às vezes chamamos de "idade de responsabilidade" (Mateus 18.3; 19.14; 2 Samuel 12.23; Isaías 7.15; Jonas 4.11). É evidente que, antes de determinado momento, na vida de todos os seres humanos, não existe a responsabilidade moral, pois não há consciência do certo e do errado.
Uma exegese mais fiel de Romanos 5.12 confirma o conceito da corrupção do pecado e a consequente natureza pecaminosa humana, todavia, não é extremada como Agostinho ensinou. O apóstolo Paulo introduz no assunto um decisivo elemento de liberdade e de responsabilidade, afirmando que a influência de um sobre todos é condicionado pela adesão destes. Portanto, o destino humano é requerido, escolhido.
A ideia de culpar a todos os seres humanos pelo pecado de um ser humano deve ser rejeitada. No versículo 12 de Romanos, de fato, à causalidade de Adão o apóstolo acrescenta a decisão negativa de todos os homens, junta a unidade-universalidade: "por um só homem entrou o pecado no mundo'... ',porquanto todos pecaram". A humanidade se fez solidária com o seu cabeça ao desobedecer ao Criador. Todos pecaram e a cada um é cobrado o seu próprio erro.
O homem em Cristo
Justificação: o ato divino pelo qual o ser humano que crê em Deus passa do estado do pecado ao estado de graça, torna-se digno de receber a vida eterna. Somente pela fé em Cristo e graça do Senhor o homem pode ser justo para com Deus (Jó 4.17; 9.2; 25.4; Habacuque 2.4; Atos 13.39; Romanos 3.24; Tito 3.5-7).
Ora, pode uma doutrina como a da justificação pela fé ter um benefício prático na vida do crente? Há alguma consequência concreta quando o crente ganha consciência de que foi justificado por Deus por intermédio da graça divina mediante a fé em Jesus?
Os teólogos se encantam com a passagem de Romanos 5.11-21 e debatem exatamente sobre como a morte foi transmitida a todos os homens através do pecado de Adão e a vida eterna por intermédio do sacrifício perfeito de Cristo na cruz. Essa questão para Paulo é de ordem prática. A nossa herança racial de Adão é de pecado, morte, alienação. Agora, no entanto, pertencemos a Cristo, o fundador de uma nova raça. Nossa herança nEle é de justiça e vida, através da justificação.
Muitas pessoas sofridas, cheias de condenação na alma e na consciência, chegam às comunidades evangélicas e a fé nesta verdade bíblica (da justificação) rompe e destrói as amarras daqueles que se sentem acuados pelo Acusador. A nova realidade de vida de uma pessoa justificada por Deus permite-lhe conhecer uma das mais ricas e consoladoras doutrinas sobre a condição do ser humano agora justificado por Cristo: a paz com Deus; acesso à graça através da fé; a esperança da glória; alegria durante as tribulações, o derramamento do amor divino no interior do coração; e, o amor de Deus demonstrado a nós através da morte de Cristo (Romanos 5.1-21).
E.A.G.
Compilações:
Ensinador Cristão, ano 17, nº 66, página 38, abril a junho de 2016, Rio de Janeiro (CPAD).
Lições Bíblicas Professor. Maravilhosa Graça - O evangelho de Jesus Cristo revelado na carta aos Romanos, José Gonçalves, página 30, 2º trimestre de 2016, Rio de Janeiro (CPAD)
Maravilhosa Graça - O evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos. José Gonçalves. Páginas 47 a 52; 1ª edição 2016. Rio de Janeiro (CPAD).
Pequena Enciclopédia Bíblica Orlando Boyer, página 314, 30ª impressão 2012, Rio de Janeiro (CPAD).
"Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram" - Romanos 5.12.
Lembro-me de uma história que li há algum tempo, que serve para ilustrar o que está exposto em Romanos 5.12. Conta-se que um velho lenhador trabalhava em uma fazenda. Seu trabalho era de rachar toras de madeira para uso da fazenda. Certo dia, enquanto passeava pela fazenda, o proprietário escutou o velho lenhador se lastimar da sorte. Ele dizia: "Adão, Adão, você me paga". Vendo as lamúrias do velho lenhador, o fazendeiro se aproximou e perguntou a razão que o estava levando a se lamentar. Ele então disse ao patrão que Adão era o responsável por aquela situação, pois, se não tivesse pecado, ele não estaria ali. Imediatamente o fazendeiro mandou-o abandonar o seu machado e se dirigir para a casa da fazenda.
Chegando ali, o fazendeiro disse: "A partir desse momento você não precisará mais rachar lenha. Você terá novas atribuições. Seu trabalho agora é ficar na varanda da casa fazendo o serviço de vigilância com o direito de beber limonada na hora que quiser!" O velho lenhador foi às lágrimas. Quando ainda se refazia de suas emoções, o fazendeiro concluiu: Mas o senhor não pode abrir aquela caixa fechada que está em cima do peitoril da casa". O velho lenhador balançou a cabeça afirmativamente. Pensando com seus botões, ele achou suas novas atribuições um presente de Deus.
Os dias passaram e o velho lenhador se regozijava de sua nova situação. Não estava mais trabalhando de sol a sol, mas na sombra da casa da fazenda. Passaram-se duas semanas e ele continuava firme em seu propósito de obedecer ao seu patrão e não tocar na caixa secreta que estava no peitoral da casa. Na terceira semana, veio-lhe a curiosidade de saber o que estava dentro da caixa. Por que ele não poderia tocá-la? Resolveu então tocar levemente na caixa. Foi o suficiente para observar por uma abertura que havia algo dentro da caixa - um pequeno pedaço de papel. Todos os seus instintos vibraram! O que poderia estar escritor nele? Passou então a racionalizar: Por que ele não poderia abrir a caixa e ler o papel? O que havia de mal nisso? Na quarta semana, o velho lenhador não resistiu à tentação e abriu a caixa! Quando retirou o papel, o seu conteúdo dizia: "Velho lenhador, a culpa não foi só de Adão. Volte já para o campo para rachar lenha".
O homem em Adão
A culpa não foi só de Adão. Em parte, a confusão de interpretação de Romanos 5.12 é motivada em torno da expressão grega "eph'hoi pantes hemarton", que aparece no final do versículo. As versões bíblicas não são unânimes na tradução dessa passagem. As controvérsias começaram quando Agostinho (354-430 d.C.), bispo de Hipona, que não era versado em grego bíblico, seguiu a versão latina "in quo", traduzindo erradamente a preposição grega "eph'hoi" (porque) com o sentido de "em quem". Então, a sentença grega "porquanto todos pecaram", no texto de Agostinho ganhou o sentido apenas de "em quem todos pecaram". O equívoco do bispo de Hipona conduziu muitos a acreditarem que os homens estavam maculados pelo pecado de Adão, que o pecado original foi transmitido de geração em geração, e que por isso não mereciam ser salvos.
Agostinho entendia que "nós estávamos em Adão" quando Adão caiu, portanto, o pecado de Adão também é nosso. Esta argumentação de Agostinho é considerada comprometida quando se sabe que a exegese feita por ele partiu de uma tradução equivocada.
Devemos perguntar o que significa "todos os homens pecaram". Não quer dizer, evidentemente, a condenação de uns para o inferno e outros não; nem tampouco a supressão do livre-arbítrio humano. Há vários indicadores nas Escrituras de que as pessoas não são moralmente responsáveis antes de certo ponto, o que às vezes chamamos de "idade de responsabilidade" (Mateus 18.3; 19.14; 2 Samuel 12.23; Isaías 7.15; Jonas 4.11). É evidente que, antes de determinado momento, na vida de todos os seres humanos, não existe a responsabilidade moral, pois não há consciência do certo e do errado.
Uma exegese mais fiel de Romanos 5.12 confirma o conceito da corrupção do pecado e a consequente natureza pecaminosa humana, todavia, não é extremada como Agostinho ensinou. O apóstolo Paulo introduz no assunto um decisivo elemento de liberdade e de responsabilidade, afirmando que a influência de um sobre todos é condicionado pela adesão destes. Portanto, o destino humano é requerido, escolhido.
A ideia de culpar a todos os seres humanos pelo pecado de um ser humano deve ser rejeitada. No versículo 12 de Romanos, de fato, à causalidade de Adão o apóstolo acrescenta a decisão negativa de todos os homens, junta a unidade-universalidade: "por um só homem entrou o pecado no mundo'... ',porquanto todos pecaram". A humanidade se fez solidária com o seu cabeça ao desobedecer ao Criador. Todos pecaram e a cada um é cobrado o seu próprio erro.
O homem em Cristo
Justificação: o ato divino pelo qual o ser humano que crê em Deus passa do estado do pecado ao estado de graça, torna-se digno de receber a vida eterna. Somente pela fé em Cristo e graça do Senhor o homem pode ser justo para com Deus (Jó 4.17; 9.2; 25.4; Habacuque 2.4; Atos 13.39; Romanos 3.24; Tito 3.5-7).
Ora, pode uma doutrina como a da justificação pela fé ter um benefício prático na vida do crente? Há alguma consequência concreta quando o crente ganha consciência de que foi justificado por Deus por intermédio da graça divina mediante a fé em Jesus?
Os teólogos se encantam com a passagem de Romanos 5.11-21 e debatem exatamente sobre como a morte foi transmitida a todos os homens através do pecado de Adão e a vida eterna por intermédio do sacrifício perfeito de Cristo na cruz. Essa questão para Paulo é de ordem prática. A nossa herança racial de Adão é de pecado, morte, alienação. Agora, no entanto, pertencemos a Cristo, o fundador de uma nova raça. Nossa herança nEle é de justiça e vida, através da justificação.
Muitas pessoas sofridas, cheias de condenação na alma e na consciência, chegam às comunidades evangélicas e a fé nesta verdade bíblica (da justificação) rompe e destrói as amarras daqueles que se sentem acuados pelo Acusador. A nova realidade de vida de uma pessoa justificada por Deus permite-lhe conhecer uma das mais ricas e consoladoras doutrinas sobre a condição do ser humano agora justificado por Cristo: a paz com Deus; acesso à graça através da fé; a esperança da glória; alegria durante as tribulações, o derramamento do amor divino no interior do coração; e, o amor de Deus demonstrado a nós através da morte de Cristo (Romanos 5.1-21).
E.A.G.
Compilações:
Ensinador Cristão, ano 17, nº 66, página 38, abril a junho de 2016, Rio de Janeiro (CPAD).
Lições Bíblicas Professor. Maravilhosa Graça - O evangelho de Jesus Cristo revelado na carta aos Romanos, José Gonçalves, página 30, 2º trimestre de 2016, Rio de Janeiro (CPAD)
Maravilhosa Graça - O evangelho de Jesus Cristo revelado na Carta aos Romanos. José Gonçalves. Páginas 47 a 52; 1ª edição 2016. Rio de Janeiro (CPAD).
Pequena Enciclopédia Bíblica Orlando Boyer, página 314, 30ª impressão 2012, Rio de Janeiro (CPAD).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá!
Obrigado por comparecer ao blog Belverede e interagir comentando. Sua opinião é importante para nós.
Lembramos que a legislação brasileira responsabiliza o blogueiro pelo conteúdo do blog, incluindo os comentários escritos por visitantes. Assim sendo, agradecendo a visita e a interatividade de todos, avisando a todos sobre nossa Política de Moderação de Comentários:
• Não serão publicados comentários em que houver palavreados chulos, xingamentos, frases grosseiras. É permitido o debate educado.
• O Editor do blog Belverede analisa todos os comentários e não publica conteúdos que infringem as leis. São eles: digitações caluniosas; ofensivas, que contenham falsidade ideológica, que ferem a privacidade pessoal ou familiar, e, em determinados casos, os comentários em anonimato.
• O editor do blog Belverede não aceita publicar todos os comentários anônimos. Embora haja aceitação de digitação de comentários anônimos, não significa que o mesmo será publicado. Priorizamos à publicação os identificados. Os anônimos são publicados apenas quando escritos objetivando à preservação do digitador devido o assunto referir-se a ele mesmo, com vista a receber aconselhamento de ordem espiritual, e a abordagem do tema tratado estiver dentro do assunto do artigo em que o comentário tem em vista ser publicado.
• Mais sobre cometários em anonimato. O comentário é de exclusiva responsabilidade de quem o escreve, conforme dispõe o Marco Civil da Internet. A utilização da condição de anonimato, não exime de responsabilidade seu autor, porque a qualquer momento seu IP pode ser levantado judicialmente e a identidade ser exposta de maneira clara.
Ainda, pedimos a gentileza ao Leitor (a) para usar este espaço de comentários escrevendo comentários referentes ao artigo.
Incentivamos aos que pretendem tratar de assunto particular, pedir orientação pessoal/espiritual. a usar o seguinte e-mail de contato: eliseu07redesocial@yahoo.com.br.
Em Cristo,
Eliseu Antonio Gomes