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domingo, 28 de dezembro de 2014

O impacto da cefaléia

Dor que se manifesta em qualquer parte do segmento encefálico, a cefaléia tem enorme importância nos serviços de saúde e nos investimentos em pesquisas farmacológicas, além de causar grande impacto sobre a qualidade de vida, graças a sua altíssima prevalência.

Segundo a Classificação da Sociedade Internacional de Cefaléia, existem 13 grupos, 56 subgrupos e cerca de 156 tipos de cefaléia. Dentre eles, a enxaqueca, ou migrânea, é a mais importante  cefaléia primária e a mais incapacitante. Atinge 18% das mulheres e 6% dos homens em todo o mundo. O predomínio do sexo feminino aumenta a partir da adolescência, alcançando uma relação de cerca de três pacientes mulheres para cada  com cefaléia entre a terceira e quinta décadas de vida, diferença que diminui um pouco depois dessa faixa etária, mas nunca é eliminada.

A cefaléia é uma condição biológica cerebral, provavelmente uma disfunção da transmissão neurovascular aminérgica e serotoninérgica, geneticamente determinada, que sofre influência de numerosos fatores ambientais. O cérebro da pessoa predisposta a sofrer migrânea exibe sinais de hiperescitabilidade cortical, particularmente no lobo occipital, o que afasta interpretações exclusivamente psicológicas para as queixas.

As crises recorrentes repercutem em absenteísmo, baixo rendimento nos estudos e no trabalho e comprometimento da vida social dos pacientes. Estudos realizados na Escócia apontaram uma perda de dois a oito dias letivos por ano entre as crianças com migrânea. Estudos europeus e brasileiros mostram que os migranosos perdem em média de um a quatro dias por ano de serviço devido às crises. 

Na prática clínica do neurologista, a cefaléia é uma das queixas mais frequentes. Mas um grande contingente de pacientes não procura o especialista da área em questão: os adultos levam suas queixas ao clínico geral, a criança ao pediatra, o idoso ao geriatra e a mulher ao ginecologista. 

Abusos de analgésicos

O hábito de consumir analgésicos sem prescrição ou acompanhamento médico é corriqueiro no Brasil. Quando não é o próprio paciente com cefaléia, ou com outras dores, que repete o uso de um determinado analgésico já experimentado, são os balconistas de farmácias, amigos ou vizinhos que recomendam drogas nas quais confiam. Tentar ajudar uma pessoa a livrar-se da dor, sem apoio médico, pode resultar em formas arriscadas de solidariedade, já que os analgésicos não são tão inofensivos quanto supõem os pacientes. Segundo o alerta do Dr. Getúlio Daré Rabello, responsável pelo Ambulatório de Cefaléia do HC-FMUSP, o uso regular e frequente de analgésicos transforma, ao longo do tempo, a dor que não era constante em sintoma que se manifesta todos os dias.

No início, o paciente não valoriza dor e acaba resolvendo por si mesmo, tomando analgésicos. Não sabe, não tem consciência e nem é alertado que pode sofrer efeitos adversos. Pacientes com dores, ao tentar se automedicar sem combater as causas da dor e sem orientação para o tratamento preventivo, geralmente relatam que seus sintomas evoluíram gradualmente para uma piora, em função da medicação abusiva.

"É construído um círculo vicioso bem conhecido no quadro da automedicação. Ocorre o seguinte: primeiro a dor, depois o uso de analgésico e em seguida a melhora. Depois novamente a dor, mais analgésico e assim por diante", explica o Dr. Abouch Valenty Krymchantowski, diretor do Centro de Avaliação e Tratamento da Dor de Cabeça do Rio de Janeiro.

Esse fenômeno poderia ser resolvido com educação e esclarecimento da população e com o hábito de consultar o médico antes de medicar-se.

Queixas e riscos

Algumas queixas são sugestivas de que algum excesso no uso de analgésicos pode estar ocorrendo. Dores associadas a muita irritabilidade e dores aos despertar podem começar a aparecer quando o paciente desenvolve dependência de um determinado analgésico. É o caso da típica enxaqueca de final de semana, que geralmente melhora com um simples analgésico ou com a ingestão de substâncias que contenham cafeína. Esse tipo de cefaléia é induzido pela retirada de substâncias usadas frequentemente. Durante a semana a pessoa toma seu remédio ou sua dose diária de cafeína pela manhã e se habitua. No final de semana, quando pode dormir até mais tarde, por exemplo, o analgésico é esquecido, e a dor se manifesta.

Os riscos associados aos consumo indiscriminado de analgésicos vão de uma reação alérgica, que em casos graves pode resultar em asfixia mecânica e morte, até nefropatias secundárias, depressão e idiossincrasias incomuns, que resultam em reações inesperadas e que, não sendo diagnosticadas em tempo, também levam ao óbito, informa o Dr. Rabello.

Tratamento

Por serem, em grande parte dos casos, doenças bioquímicas do cérebro, transmitidas  geneticamente, as enxaquecas não podem ser totalmente curadas. Porém, tratamentos corretos e eficientes podem reduzir a incidência, a intensidade e a duração das crises. Se o paciente tem crises de enxaqueca mais de duas vezes por mês, deve ser aconselhado a fazer um tratamento preventivo.

O tratamento das cefaléias primárias (que pode ser abortivo ou profilático) divide-se em farmacológico e não-farmacológico. O tratamento sem o uso de drogas é composto por recomendações de repouso em quarto escuro e relaxamento, Evitar ao máximo a manifestação das crises por meio de terapias menos agressivas é a melhor maneira de garantir, no momento de um tratamento farmacológico necessário, que o paciente tenha boas respostas às substâncias empregadas. 

E.A.G.

Artigo publicado em Belverede de maneira resumida e adaptada.
Fonte: Médico Repórter - edição especial de maio de 2000, revista patrocinada por Merck Sharp & Dohme (Editora Lopso).

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