Rio Isère. Lyon - França. |
Reflexão no livro de Jonas sobre os sentimentos que abrigamos e o que Deus espera de cada um de nós como agentes no plano divino da salvação.
Não devemos permitir que o prejulgamento nos impeça de pregar aos perdidos.
"Na verdade reconheço que Deus não fez acepção de pessoas, mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo" - Atos 10.34-35.
Em seu livro, Refúgio Secreto, Corrie Ten Boom relata como começou a viajar e a ministrar depois de sua terrível experiência num campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Um dos seus temas principais era o perdão, e a capacidade de proclamar que perdoara os nazistas dava convicção às suas apresentações. Mas um dia Corrie foi posta à prova. Um senhor se aproximou dela, e, para sua surpresa, ela o reconheceu como sendo um dos guardas do campo. Ele lhe disse que havia aceitado a Cristo, e lhe estendeu a mão. Somente após grande esforço e uma oração foi que Corrie conseguiu estender a mão e tomar a do senhor. A experiência lhe deu um vislumbre do verdadeiro significado do perdão de Deus.
O preconceito é uma feia realidade em toda a sociedade humana, e os cristãos gostam de pensar que superaram essa demonstração emocional tão carnal. Mas o preconceito pode surgir de maneiras muito sutis. O problema de não perdoar é um ângulo do preconceito.
Jonas não podia perdoar os assírios pela maneira cruel que havia tratado o seu povo. Talvez tenha ficado contente aos saber que a capital da Assíria, Nínive, estava sendo marcada para ser destruída por Deus. Quando soube que Deus queria que ele advertisse os ninivitas de sua ruína iminente, correu em direção oposta. Através de Jonas podemos ver a nossa própria necessidade de uma atitude doadora e amorosa.
O arrependimento (Jonas 3.1-10).
Nínive era uma grande cidade, metrópole importante, capital de uma grande potência mundial, com pelo menos 120 mil habitantes. E a dimensão do pecado de Nínive era maior que o seu tamanho físico.
Quando Jonas proclamou que "Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida", a reação foi esmagadora. Desde o rei até o cidadão mais humilde, Nínive se transformou de uma cidade de pecado, poder e maldade, em uma cidade de oração. Houve humilhação perante Deus, o alimento e a água foram proibidos. Em jejum, todos começaram a clamar a Deus.
O preconceito (Jonas 4.1-5).
O capítulo 4 do livro de Jonas começa assim: "Mas desgostou-se Jonas estremamente e ficou irado." Percebemos aqui que a humildade exterior desse profeta não havia atingido seu coração. Jonas preferia morrer a ver a misericórdoa de Deus demonstrada aos inimigos.
Deus é misericordioso e cheio de graça, tardio em irar-se, muito bondoso e pronto a perdoar os que se arrependem. Jonas estava disposto a aceitar essa verdade com relação aos seus próprios defeitos; mas quando a misericórdia divina começou a ser evidente entre os que ele odiava, já não podia aceitá-la e queixava-se.
É comum ao crente permitir que sentimentos semelhantes cresçam dentro de si. Tudo bem quando as pessoas boas se salvam e Deus começa a abençoá-las. Mas talvez não seja tão fácil alegrar-se quando um indivíduo mau, cujas ações causaram muita dor aos outros, busca a Cristo e experimenta a alegria do perdão de Deus.
Romanos 3.23 inclui todos os cristãos com o restante da humanidade quando diz que "todos pecaram". E, quando os crentes lêem Romanos 6.23, que "o salário do pecado é a morte" precisam ser relembrados de sua própria necessidade da misericórdia de Deus.
Deus pôde tocar os corações de uma cidade inteira de pecadores. Esteve mais do que disposto a tratar com o descontentamento de Jonas, foi ao cerne do assunto quando perguntou: "É razoável essa sua ira?" A resposta do profeta não está registrada, não sabemos se tinha esperança de que Nínive fosse destruída, mas há uma forte indicação que ele abrigava tais sentimentos. Jonas saiu fora da cidade, fez uma barraca e sentou-se para esperar "até ver o que aconteceria à cidade". Mal percebia que era ele o centro da atenção de Deus.
O amor de Deus (Jonas 4.6.11).
Três coisas se destacam nestes versículos com relação à experiencia de Jonas: uma aboboreira, um verme e um calmo vento oriental. A frase repetida "Deus mandou" deixa claro o fato de que nenhum deles apareceu por acidente. A aboboreira deu sombra à barraca de Jonas e Jonas perece não haver notado o fato de que ela havia crescido completamente da noite para o dia. Apenas "se alegrou em extremo" por receber sua sombra.
Quando o verme chegou, o gozo do profeta se dissipou rapidamente. A aboboreira desapareu tão rápido como apareceu. Para assegurar que Jonas notasse sua ausência, Deus enviou o vento oriental que não fez nada mais do que aumentar o calor do sol. Então, mais uma vez consumido por seus sentimentos negatovos, Jonas desejou acabar com tudo.
Deus queria que Jonas percebesse que as suas prioridades estavam completamente fora de ordem. A pergunta do Senhor no versículo 9 é expressa da mesma maneira que a pergunta no versículo 4, unindo com contundência os elementos comparativos, que Deus desejava que o profeta fizesse.
Jonas estava disposto a sentir "compaixão" por uma planta perecível, mas encontrava muita dificuldade em compreender a compaixão de Deus por uma cidade inteira! Deus conclamava Jonas a considerar a intregridade moral de suas ações e a abandonar rebeldia que fazia parte de sua natureza.
Quantas vezes uma atitude farisaica se interpõe entre o crente e o plano de Deus.
"É acaso razoável?" Esta é última frase que encontramos de Jonas. Talvez Deus permitisse que a crônica de Jonas terminasse assim para mostrar a maneira pela qual o preconceito pode dominar uma vida. Mas a crônica com relação a Deus se encerra com uma bela declaração de seu amor pelo perdido.
A misericórdia de Deus para com Nínive se sobressai na história como um farol de esperança para o perdido em todos os lugares.
Cego por seu ódio e preconceito contra os ninivitas, Jonas havia esquecido que havia clamado por misericórdia dentro do ventre do grande peixe e obtido a resposta divina que solicitou. Ao ver a necessidade dos perdidos, o cristão precisa lembrar que houve um tempo em que ele também estava em volta do mau cheiro do pecado. Tomemos cuidado, as nossas prioridades não podem estar invertidas como estavam as de Jonas, coisas não são mais valiosas do que pessoas.
O preconceito é um pecado dos mais feios. Quando aplicamos o exemplo de Jonas à igreja, percebemos o quanto Satanás usa o preconceito para impedir o progresso do plano divino da salvação. As palavras de Jesus em João 13.35 não deixam margem para o preconceito. Através da prática do amor os homens demonstram se são ou não discípulos de Cristo.
O amor de Cristo precisa ser expressado em atos genuínos em nossas vidas. Tire um tempo para examinar a sua própria vida à luz do exemplo de Jonas. Precisamos nos examinar perguntando: "Quem eu creio no meu íntimo que não é bom o suficiente para ser salvo?" E passar a orar por elas e tomar medidas corretas para sejam alcançadas com mensagens do amor de Deus.
E.A.G.
Fonte: O Mestre. Páginas 36-38, Março - Agosto de 2004 (Editora Vida). Uso adaptado ao blog.
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