"E havia um homem em Maom, que tinha as suas possessões no Carmelo; e era este homem muito poderoso, e tinha três mil ovelhas e mil cabras; e estava tosquiando as suas ovelhas no Carmelo. E era o nome deste homem Nabal, e o nome de sua mulher Abigail; e era a mulher de bom entendimento e formosa; porém o homem era duro, e maligno nas obras, e era da casa de Calebe" - 1 Samuel 25.2-3.
Davi
O momento da tosquia era uma época tradicional de festa em que todos comiam e bebiam em conjunto e de graça, era período quando tradicionalmente se praticava hospitalidade em larga escala às custas do proprietário do rebanho tosquiado. Era um momento de celebração da prosperidade, os vizinhos e amigos eram convidados, os pobres, os excluídos e os mais necessitados eram sempre ajudados (2 Samuel 13.23-24). Assim sendo, Davi enviou dez homens para pedir a ele que lhe enviasse comida, pensava em receber algo em troca por ter protegido os servos do camponês e guardado seus rebanhos no campo, contra beduínos saqueadores e predadores naturais, e ouviu como resposta um "não" e muitos insultos - ele havia se esquecido ou se fez de esquecido quanto ao trato de proteção. Então Davi irou-se e planejou um ataque de 400 guerreiros contra o camponês ingrato, conhecido como Nabal e marchou em sua direção para vingar-se (1 Samuel 25.10, 15-16, 21).
Nabal era homem carmelita. Seu nome significa néscio e mau, talvez um apelido bem aplicado por possuir um comportamento péssimo. Sua pessoa tornou-se o exemplo de israelita áspero, louco, malcomportado, apegado aos bens materiais, insensível às necessidades do próximo, sem consideração pelos semelhantes e irreverente com Deus. Era insensato, negligente, ingrato e rústico (1 Samuel 25.25).
Embora Nabal fosse descendente de Calebe, que junto com Josué entrou na Terra Santa, deixando para trás toda a nação israelita liberta da escravidão do Egito, não existe nada de admirável em seu caráter.
Nabal era habitante de Maom, região próxima ao Monte Carmelo, circunscrita ao Hebrom, a herança de Calebe (Josué 15.13-19). Era rico em rebanhos e manadas, com posses no Carmelo. Seu coração era egoísta, não pretendia compartilhar as riquezas que Deus lhe deu com os necessitados. Ao ouvir a solicitação dos jovens enviados de Davi, agiu insultando e com grande desprezo (1 Samuel 25.2, 10).
Nabal era casado com Abigail e foi salvo por ela. Ele estava se embriagando e em orgia quando sua esposa intercedia por sua vida a Davi. Quando Abgail voltou e encontrou seu marido bêbado, esperou que o efeito da bebida forte passasse, vendo-o sóbrio relatou o que fez em seu favor e fez sabê-lo que havia sido bem-sucedida. Nabal, compreendendo que havia escapado de uma grande tragédia pela bravura feminina de sua mulher, talvez ressentiu-se muito, envergonhou-se por sua mulher ser capaz de contornar a crise que o salvara da morte, e desfaleceu em estado apoplético, quem sabe em consequência do uso demasiado de bebida tenha sofrido um fulminante ataque cardíaco, ou entrado em coma por conta de um derrame cerebral e ficado insconsciente... "Se amorteceu nele o coração e, ficou como pedra, passados dez dias ele morreu" 1 Samuel 25.37 b, 38 (ARA).
Do nome Nabal e suas características tolas, de riqueza e egoísmo, surgiu o termo em português "nababesco".
Diante da emergência da situação, quando havia o risco de provocar a raiva de seu marido sobre ela por contrariar sua decisão, atinou que o maior risco era não fazer nada contra a iminente mortandade que pairava sobre sua casa. Com diplomacia, enviou empregados com as provisões que Davi pediu - pães, trigo, vinho, ovelhas, passas e figos - e foi com eles. Ao encontrar-se com Davi, agiu com responsabilidade, tato, expressou-se com palavras humildes e conseguiu aplacar a fúria contra seu marido. Davi entendeu e ficou impressionado com esta atitude, percebeu que ela era instrumento nas mãos de Deus no momento em que estava prestes a errar por estar com o ânimo exaltado e então logo se arrependeu do mal que planejava fazer contra Nabal. Declara: "Deus me impediu de fazer um grande mal" - 1 Samuel 25.34.
O ponto alto do capítulo são as palavras de Abgail, assumindo a culpa de seu marido Nabal, conseguindo evitar que Davi o matasse sem razão, e se vingasse por motivo pessoal. Com certeza, Abgail reconheceu que Davi era o futuro rei de Israel (1 Samuel 25.24-31). Algum tempo depois Davi seria consagrado rei na região de Hebrom, a região em ela residia (Juízes 1.20; 2 Samuel 2.1-4).
Quando ela foi até ele com presentes, objetivando pedir clemência em favor de Nabal, sua sabedoria, coragem e bela aparência física, suas palavras poéticas e dignidade, chamaram-lhe a atenção e repercutiram positivamente.
Ao saber que Nabal havia morrido, Davi não se alegrou com a morte, reconheceu que Deus evitou que ele cometesse um grande mal e que lutou por ele. E sendo Abgail viúva, Davi quis recebê-la como esposa. E lemos: "E mandou Davi falar a Abigail, para tomá-la por sua mulher.' (...) 'E Abigail se apressou, e se levantou, e montou num jumento com as suas cinco moças que seguiam as suas pisadas; e ela seguiu os mensageiros de Davi, e foi sua mulher" 1 Samuel 25. 39 d, 42.
Ao casar-se com Davi, Abgail prosperou. Ela adquiriu nova posição social e uma rica propriedade. Juntamente com Ainoam, a jezreeelita, compartilhava da vida em Gate. As duas foram capturadas por amalequitas em Ziclague, e Davi as resgatou (1 Samuel 30.18). Foi mãe do segundo filho de Davi (2 Samuel 3.3; 1 Crônicas 3.11).
"A sua vida será atada no feixe dos que vivem" - 1 Samuel 25.29
A linguagem figurada é extraída do costume de amarrar objetos preciosos em feixes para protegê-los do dano. Deus cuida dos seus como nós cuidamos de nossos tesouros.
Abigail, quis dizer que ao Davi desistir de vingar-se de Nabal teria a sua vida guardada junto com a de todos que são do Senhor, dando a entender que ele alcançaria a vida no além, isto é, a imortalidade. A palavra vida em hebraico é 'nephesh" e tem a conotação de alma. E feixe é "tseror", um saquitel, lugar seguro onde são guardadas coisas preciosas e pode ser símbolo do registro do nome no Livro da Vida. Os hebreus costumavam gravar nas lápides de seus mortos a inscrição: Que a sua alma seja guardada no Livro da Vida.
"O sábio de coração será chamado prudente, e a doçura dos lábios aumentará o ensino. O entendimento para aqueles que o possuem, é uma fonte de vida, mas a instrução dos tolos é a sua estultícia. O coração do sábio instrui a sua boca, e aumenta o ensino dos seus lábios. As palavras suaves são favos de mel, doces para a alma, e saúde para os ossos" - Provérbios 16.21-24.
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E.A.G.
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Consultas:
Bíblia Vida Nova, 2ª impressão, 1996 (Edições Vida Nova).
A Bíblia Explicada, 12ª edição, 1997, S. E. McNair (CPAD).
O Novo Dicionário da Bíblia - volumes I e II; 4ª edição, 1981 ( Edições Vida Nova).
Bíblia de Estudo NTLH, 2005 (SBB).
Dicionário Bíblico Universal A. R. Buckland & Lukyn Williams, maio de 2007 (Editora Vida).
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