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segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O perigo da busca pela autorrealização humana

Por Eliseu Antonio Gomes

Todas as guerras começam com conflitos de interesses. Os principais tipos de guerra são:  guerra nuclear, guerra espacial, guerra civil, guerra de informação, guerra comercial,  guerra psicológica, guerrilha, guerra religiosa.

A guerra mais rápida da história durou 37 minutos. Uma esquadra inglesa decidiu ancorar no porto de Zanzibar, na África, em 1896, para assistir a uma partida de críquete. O sultão de Zanzibar não gostou e mandou que seu único navio atacasse os ingleses. Quando o navio abriu fogo, os ingleses o afundaram rapidamente e ainda destruíram o palácio do sultão, matando quinhentos soldados. Zanzibar se rendeu e o sultão fugiu para a Alemanha. A guerra mais longa da história é a do homem com Deus, que dura desde o pecado no Éden e só terminará no Dia do Juízo Final.

Há três guerras em andamento no mundo espiritual: a guerra entre irmãos ou uns com os outros; a guerra no coração do crente por causa das suas ambições egoístas e a guerra com Deus. Os três inimigos que trabalham para nos afastar de Deus, são: a carne, o mundo e o diabo (Efésios 2.1-3):

1. Carnalidade.
Na vida cristã temos o grande conflito entre o fazer a vontade de Deus ou a nossa. Paulo diz: "Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer" (Gálatas 5.17).
2. Mundanismo
No capítulo 4 e versículo 4, Tiago utiliza o termo feminino "moichalides" (infiéis), que em muitas traduções bíblicas brasileiras é vertido como "adúteros e adúlteras", deste modo ele caracteriza os leitores da carta de povo infiel de Deus. Jesus empregou adjetivo semelhante aos que o rejeitaram (Mateus 12.39; 16.4). 
O Antigo Testamento fornece a explicação para este tipo de tratamento. Deus se união ao povo de Israel ao elegê-lo graciosamente e ao colocá-lo numa relação de aliança consigo. Este relacionamento várias vezes é retratado com figuras matrimoniais (Isaías 54.1-6; Jeremias 2.2). O crente é casado com Cristo, então, não é possível servir a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Quando o crente divide o seu amor a Deus com qualquer outro, comete adultério espiritual (Romanos 7.4; Deuteronômio 5.9; 1 João 2.15).
3. Ação diabólica
O diabo é o grande adversário da igreja e do povo de Deus. Ele vive à procura de oportunidades para gerar confusão e conflito entre os irmãos, encontra espaço de ação quando o crente ao invés de consagrar-se age através da carnalidade.

No coração humano pecador há cobiça, ódio, inveja, egoísmo. A maioria das desavenças e tramas perversas é fruto da ambição, vontade de ver o desejo pessoal realizado. E qual é o objetivo dessa realização? O deleite.  "Deileites" é uma tradução da palavra "hêdonê", cuja conotação é negativa de prazeres pecaminosos e que busca apenas interesses próprios (dela vem a palavra hedonismo). A guerra entre irmãos tem origem no interior da pessoa, acontece quando ela cede à atração que o mundo exerce e quando aceita sugestões diabólicas e dá vazão aos deleites carnais.

Deus não governa pessoas que decidem desfrutar dos prazeres da carne, que são contrários à vontade divina (Tiago 1.14; 2 Timóteo 4.2-3).

Tiago inicia o quarto capítulo com uma pergunta: "De onde procedem guerras e contendas que há entre vós?"  Os termos "guerra" (polomoi) e contenda (machai) indicam polêmicas e discussões verbais violentas. O apóstolo responde qual é a origem da confusão: "sois invejosos e cobiçosos".

A grave consequência  espiritual de viver em guerra é a frustração de orar e não ser atendido. Quando os crentes estão brigando, Deus não responde às suas orações, pois Ele é santo e não aceita relacionar-se com quem é contencioso, portanto, todo crente deve vigiar para não cair na tentação de ser um instrumento de guerra na igreja (Mateus 26.41; Tiago 4.1-3; 5.16).

Tiago, ao escrever sobre a existência de desavenças entre os irmãos, aponta ao problema mas também mostra a solução. Ele informa que através da oração, da Bíblia, do Espírito e pela graça de Deus podemos vencer espiritualmente.

1. Oração: "Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque, aquele que pede, recebe; e, o que busca, encontra; e, ao que bate, abrir-se-lhe-á." - Mateus 7.7-8. O apóstolo lembra o discurso de Jesus no sermão do monte e explica: "Nada tendes porque não pedis" (Tiago 4.2) . Se o crente pede a Deus qualquer coisa em seu nome, está escrito que o Pai Celestial honra este pedido, principalmente se a solicitação for em busca da harmonia entre os irmãos (João 14.13-14; Salmo 122.6-9). 
Os crentes da geração de Tiago tinham uma relação com Deus não segundo a vontade divina, mas a sua própria, pois colocaram na cabeça que as bênçãos do Senhor existiam com o propósito de servir exclusivamente aos seus deleites. O apóstolo foi claro ao descrever a situação deles: "Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus" - Tiago 4.3-4.
2. Leitura Bíblica: "Ou cuidais vós que em vão diz a Escritura..." - Tiago 4.5a. Tiago afirma que aquilo que Bíblia ensina não é vão ou sem razão. O apóstolo Paulo nos diz que ela é a espada do Espírito, instrumento de guerra para ataque e defesa espiritual, nos foi dada por Deus para o nosso aperfeiçoamento e capacitação para toda a boa obra (Efésios 6.17; 2 Timóteo 3.14-17). Portanto, seu conteúdo jamais deve ser desprezado.
3. Espírito Santo: "...o Espírito que em nós habita tem ciúmes?" - Tiago 4.5b. O Senhor habita em nós e se entristece quando pecamos e traímos a Deus (Efésios 4.30). O Espírito garante e sela a nossa redenção, produz o fruto espiritual, nos ilumina, capacita-nos com dons espirituais, nos induz a adorar a Deus, nos liberta do pecado, nos santifica, nos orienta a testificar que somos filhos de Deus, nos ajuda a orar (Efésios 1.13-14; Gálatas 5.22-24; 1 Coríntios 2.12-16; 12.7; Filipenses 3.3; Romanos 8.1-11; 14-17; 26-27). Deus exige fidelidade total em nosso relacionamento com Ele, assim sendo, é importante prezar pelo bom relacionamento com o Santo Espírito.
4. Graça: "Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes" - Tiago 4.6. Tiago reverbera os ensinos do livro de Provérbios, que nos diz que Deus abomina olhos altivos e o coração arrogante (6.17; 16.5): "

Conclusão

Deus concede bênçãos aos seus servos, porém, jamais para que elas sejam desfrutadas de maneira avarenta. Elas devem ser recebidas e compartilhadas (Salmos 37.4; Atos 2.45; 4.35).

O desafio de todo cristão é jamais considerar que o comportamento de satisfação carnal é uma atitude normal. É preciso expor a Palavra de Deus não apenas em discursos mas também em atos, diariamente, no seio familiar e na comunidade. Ainda que haja discordância entre irmãos, o que é normal, nunca pode haver dissimulação e desejo de praticar o mal. Tiago nos ensina que a omissão em fazer o bem, sabendo fazê-lo, é pecado (4.17). Todos nós devemos ser praticantes do bem, que em outras palavras é agir com humildade e valorizando a comunhão entre os irmãos.

A graça que Deus nos dá nos capacita a vencer o pecado e a crescer em santificação, ela é infinita e inesgotável, porém, reservada apenas aos pacificadores e humildes de coração, ou seja, está disponível somente aos que não projetam uma imagem simpática através da falsa modéstia, mas aos que de fato são modestos e praticantes da Palavra (João 1.16; 2 Pedro 3.18).

E.A.G.

Compilações:
Ensinador Cristão, ano 15, nº 59, página 40, 41, julho-setembro de 2014, Rio de Janeiro (CPAD). 
Lições bíblicas - Mestre, Eliezer de Lira e Silva; 3º trimestre de 2014, páginas 70-74, Rio de Janeiro (CPAD).
Revista Exposição Bíblica - Liberdade, Fé e Prática - Gálatas e Tiago; Arival Dias Casimiro; páginas 55 -59; 3ª edição em julho de 2013; Santa Bárbara d'0este/SP (Z 3 Editora Ltda). 
Tiago - Introdução e Comentário, Douglas. J. Moo, páginas 137-139; 1ª edição 1990, reimpressão 2011, São Paulo (Edições Vida Nova).

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